Monthly Archives: novembro 2022

Janaína Dutra, primeira travesti advogada do Brasil, é homenageada pelo Google
   30 de novembro de 2022   │     16:46  │  0

A ativista social cearense Janaína Dutra, que lutou em defesa da causa LGBTQIA+, foi homenageada nesta terça-feira (30) pelo Google. Usuários que acessam a página inicial do buscador veem uma imagem de Janaína e uma referência ao 61º aniversário dela.

Para a diretora da Rede Trans Brasil e ex-coordenadora do Centro de Referência LGBT Janaína Dutra de Fortaleza, Dediane Souza, “Janaína Dutra é uma grande referência do movimento pelos direitos humanos no Brasil” e deixou um grande legado para toda a população.

Janaína nasceu em Canindé, no interior do Ceará, em 30 de novembro, e morreu em decorrência de um câncer de pulmão, em Fortaleza, em 2004. Ela foi a primeira travesti do país a obter uma carteira profissional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Segundo o Mídia Bixa, publicação especializada em assunto LGBTQIA+, Janaína passou a auxiliar pessoas com HIV positivo ainda na década de 1980.

Ela também participou da fundação do Grupo de Apoio Asa Branca (Grab), coletivo cearense mais antigo de apoio à comunidade; foi fundadora da Associação de Travestis e Mulheres Transexuais do Ceará (Atrac) e presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

Em 2010, o roteirista Wagner de Almeida lançou o filme Janaína Dutra, uma Dama de Ferro, que narra a trajetória da ativista social.

Centro de Referência LGBT

Janaína Dutra também dá nome ao Centro de Referência LGBT do município de Fortaleza. Fundada em 2011, a unidade concede serviços de proteção e defesa da população LGBT que está em situação de violência e outras violações/omissões de direitos em decorrência da sua orientação sexual e/ou identidade de gênero.

Os serviços são ofertados na Rua Guilherme Rocha, 1469, no Bairro Jacarecanga, em Fortaleza. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, entre 8h e 12h e 13h e 17h. Cidadãos também podem contatar os serviços pelo telefone (85) 3452-2047.

‘Grande ativista pelos direitos humanos do Brasil’

De acordo com a diretora da Rede Trans Brasil e ex-coordenadora do Centro de Referência LGBT Janaína Dutra, Dediane Souza, a travesti foi uma das maiores referências na luta pela conquista de direitos humanos da população LGBTQIA+ em todo o País.

“Janaína Dutra é uma grande referência do movimento pelos direitos humanos no Brasil. A gente precisa dar a dimensão que ela tem não só como uma ativista travesti, que ocupou algumas funções super importantes desse ativismo localmente aqui no Ceará, como também nacionalmente”, diz.

Na visão de Dediane, Janaína atuou “em um momento onde pouco se fazia esse debate sobre identidade de gênero, sobre direito a nome social, sobre retificação de prenome, sobre direitos civis à população de travestis e transexuais”. Segundo ela, a advogada deixou um “grande legado” para todo o País.

Janaína Dutra foi a primeira travesti a se formar em Direito e a receber a carteira da OAB em todo o Brasil. — Foto: Reprodução
Janaína Dutra foi a primeira travesti a se formar em Direito e a receber a carteira da OAB em todo o Brasil. — Foto: Reprodução

“Ela dá nome a espaços importantes de luta, de resistência, de afeto, mas também está nas nossas memórias, no nosso cotidiano, como uma grande ativista que sempre foi. Ela não morre, seu legado está em cada uma de nós, assim como nas próximas que virão. Janaína é luta, é ativismo, é afeto, completa.

Para a artista e coordenadora Geral da Atrac, Yara Canta, a comunidade atualmente ainda luta por questões colocadas pela advogada naquela época. “Ela esteve nesse local, nessa luta em uma época que era extremamente mais difícil. A gente ainda continua lutando por coisas que ela já lutava na época. Sem duvidas porque ela também abriu as portas para que hoje a gente possa continuar lutando”, considera.

Janaína também teve uma importância muito grande a nível nacional na luta contra a LGBTfobia”, afirma Yara. “Quando a gente fala de mulheres trans, travestis, sempre chega no assunto do mercado de trabalho informal, no acesso à educação, e Janaína ter se formado em Direito, ter sua carteira da OAB do Brasil, tudo isso foi histórico, significativo e muito importante”, avalia.

 

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10 sinais de que seu marido é gay
   25 de novembro de 2022   │     19:29  │  0

Há todo tipo de coisa escrita no Google a esse respeito, algumas são verdade e outras são apenas preconceito.

OUTRA BOBAGEM DE QUEM NÃO ENTENDE NADA DE VIDEOGAME OU DE PSICOLOGIA. PODE SER MESMO QUE A MAIORIA DOS GAYS ESCOLHA A TEMPESTADE PARA JOGAR, MAS ISSO NÃO QUER DIZER QUE TODO HOMEM QUE ESCOLHE A TEMPESTADE SEJA GAY. O QUE EU SEI É QUE MESMO AS PERSONAGENS FEMININAS DOS VIDEOGAMES NÃO FORAM NECESSARIAMENTE FEITAS PARA QUE MULHERES JOGUEM, JÁ QUE A QUANTIDADE DE MULHERES GAMERS AINDA É PEQUENA. EM JOGOS DE LUTA MAIS AINDA. SE O CARA ESCOLHE A TEMPESTADE, MUITAS VEZES PODE SER POR CAUSA DO PODER QUE AQUELA PERSONAGEM TEM NO JOGO. ASSIM COMO MUITAS MENINAS QUE GOSTAM DE JOGAR VIDEOGAME USAM PERSONAGENS MASCULINOS PELO MESMO MOTIVO E NÃO NECESSARIAMENTE PORQUE SÃO LÉSBICAS.

8 – Elogios
Ouça como ele elogia você. Ele diz que você está bonita ou que sua jaqueta combina com seu jeans skinny e que você deveria completar o look com botas diamante e um esmalte rosa? Gays é que têm um conhecimento de moda excessivamente apurado. Desconfie…

É… ACHO QUE NÃO TEM MUITO O QUE FALAR DESSA…

9 – Seu perfil nas redes sociais
O MySpace dele é cheio de homens que ele não conhece? Ele tem um perfil secreto online? Redes sociais são frequentemente os lugares onde gays no armário ficam soltinhos e autênticos. Então eles podem oferecer um monte de pistas sobre quem ele realmente é. É mais revelador ainda se os “amigos” dele tiverem fotos muito sexy.

ESSA TAMBÉM É INFALÍVEL. REDES SOCIAIS DIZEM MUITO SOBRE UMA PESSOA.

10 – Ele odeia gays…
Se ele mostrar um ódio fora do comum contra gays… Esta é uma clássica reação de quem quer evitar que as pessoas desconfie de sua sexualidade. Os maiores homofóbicos são homossexuais enrustidos. No entanto, há homens que realmente não suportam gays, o que também é sinal de problema.

ESSA É A MAIS CLÁSSICA DE TODAS. QUEM SE INCOMODA DEMAIS É PORQUE QUER NEGAR A SI MESMO. MAS COMO O TEXTO DIZ, NEM TODO HOMOFÓBICO É GAY. ALGUNS SÃO APENAS IGNORANTES MESMO

Agora, pra fechar. Já pensou em vez de perguntar pro Google perguntar pra ele mesmo? Nunca com uma intenção revanchista, de usar isso contra ele porque ele estava te magoando de propósito. Não é o caso. Nem tudo gira em torno de você. Ele pode estar passando por um dos momentos mais difíceis de sua vida (assim como você, claro) e deve estar precisando mais de amor e compreensão que outra coisa. Não, não você não tem que aceitar conviver com isso, mas você tem que tentar entendê-lo e conduzir o caminho para que as coisas saiam da forma menos dolorosa possível para ambos. E se existe amor, fica mais fácil.

E não venha dizer que você foi enganada. Se você está desconfiada, é porque ele deu motivos, especialmente na cama. Como diz uma amigo: “Se um cara não parece gay, ele pode até ser, mas se ele parece, ele é.”

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Centro de acolhimento LGBTQIA+ alagoano cria ferramenta para captação de custeio de suas ações pontuais
   23 de novembro de 2022   │     12:15  │  0

Espera-se que os recursos recebidos possam ajudar a desenvolver as atividades do CAERR

Espera-se que os recursos recebidos possam ajudar a desenvolver as atividades do CAERR

Tendo em vista que as políticas públicas vigentes no estado de Alagoas não reparam a violência e vulnerabilidades sofridas por essa população, sobretudo quanto analisadas em conjunto com outros marcadores sociais, o Centro de Acolhimento Ezequias Rocha Rego – CAERR, primeiro e único destinado a prestação de acolhimento fisico e assistencia social, destinada a população de lésbicas, gays, travestis, transexuais, intersexuais e mais em Alagoas, criou mais uma ferramenta de captação de custeio das ações desenvolvidas.

Espera-se que os recursos recebidos possam ajudar a desenvolver as atividades do CAERR nos seguintes eixos: assistência social, direitos humanos, saúde, educação, esporte e lazer, cultura e arte, assim contribuindo para que o CAERR atue nas dimensões sócio-histórico-político-culturais de pessoas LGBTQIA+ em Maceió.

Isto significa dizer que os resultados esperados pelo CAERR se situam na contramão de necropolíticas da população LGBTQIA+ em Maceió, e são imbricadas no fortalecimento da rede de apoio para pessoas LGBTQIA+ na capital alagoana, em especial, no acolhimento, valorização, incentivo e potencialização de pessoas LGBTQIA+, na manutenção do Centro de acolhimento, nas atividades desenvolvidas junto a movimentos sociopolíticos LGBTQIA+, na parceria com empresas privadas, secretarias de saúde, e em ações com a sociedade alagoana. Visto que diversos estudos científicos apontam para as realidades subalternas que interseccionam as vivências de pessoas e grupos LGBTQIA+ em Maceió, espera-se, ainda, que o mapeamento dos equipamentos sociais, na região circunvizinha ao CAERR, promova o fortalecimento da rede de apoio e assistência a pessoas LGBTQIA+, na efetivação de encaminhamentos des usuaries que estão abrigades no CAERR para as referidas instituições de saúde, educação, assistência social, dentre outras. Além disso, espera-se que os suportes jurídico-educacionais e artísticos possam iniciar um movimento de autonomia com o público LGBTQIA+ alagoano em vulnerabilidades, promovendo ações de incentivo a estudos e capacitações para inserção no mercado de trabalho, a aproximação e desenvolvimento das potencialidades artísticas, atuando em relação aos índices de desemprego de pessoas LGBTQIA+, de evasão escolar e de acesso à justiça, na garantia de direitos.

Objetivo alcansado futuramente, o CAERR também pretende utilizar o apoio no investimento de recursos materiais que permitam realizar esse trabalho pioneiro em Maceió, visto que o projeto busca, através da instituição, oferecer não só um suporte que dispõe de recursos humanos, mas também de um suporte ao espaço físico que Já acolhe e traz segurança e apoio à esse público já tão marginalizado.

Então Vocë que busca ajudar e contribuir com ferramentas afirmativas de transformações sociais na vide pessoas LGBTQIA+, nos a jude a fortalecer o CAERR, doando em nossa vaquinha que você acessa através do link abaixo, ou atraves de nossa conta ou pix descrito a seguir também.

DADOS BANCÁRIO:

Instituição: 403
Banco Cora SCD
Agência: 0001
Conta: 1789771-2
Nome do beneficiário: Centro de Acolhimento Ezequias Rocha Rego – CAERR

PIX – CNPJ: 44.752.195/0001-00

Duvidas e informações poderão ser tiradas através de nosso tel/Whatsapp *82 98158-3098* ou através do inbox de nossas redes sociais Instagram ou twitter @caerr_alagoas

*LINK DA VAQUINHA*

https://benfeitoria.com/projeto/centro-de-acolhimento-para-a-comunidade-lgbtqia-e-hivaids-em-vunerabilidade-130e

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Ataque a tiros em boate LGBT nos EUA deixa cinco mortos e 18 feridos
   21 de novembro de 2022   │     12:04  │  0

Um ataque a tiros em uma boate LGBT na madrugada deste sábado (19), no Estado do Colorado, nos Estados Unidos, deixou pelo menos cinco mortos e 18 feridos.

De acordo com agências internacionais, citando fontes oficiais, o autor dos disparos chegou a ser ferido. A polícia americana investiga a motivação do crime.

O clube, localizado em Colorado Springs, divulgou um comunicado nas redes sociais classificando o crime como um “ataque de ódio”.

O governador do Colorado, Jared Polis, que se tornou o primeiro homem abertamente gay a ser eleito governador nos Estados Unidos, se manifestou sobre o crime. “O Colorado está com nossa comunidade LGBT e todos os afetados por esta tragédia”, disse.

O ataque

Os policiais receberam uma primeira chamada de emergência sobre um atirador em ação às 23h57 (19h57 pelo horário de Brasília) de sábado, disseram eles.

O suspeito foi encontrado dentro do clube. Duas armas de fogo foram encontradas no local, e acredita-se que o agressor tenha usado um rifle longo.

A polícia ainda não tem um motivo para o tiroteio, mas disse que vai investigar se foi um crime de ódio e se mais de uma pessoa estava envolvida.

Um porta-voz do Corpo de Bombeiros disse que as vítimas foram transportadas para hospitais muito rapidamente, devido ao treinamento para tais eventos.

O FBI, serviço interno de inteligência norte-americano, nas proximidades de Denver disse que está ajudando a polícia local com relação ao incidente.

<img class="i-amphtml-blurry-placeholder" src="data:;base64,Duas pessoas lamentado as mortes no local do ataque

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,Pessoas lamentaram as mortes no local do ataque

O chefe de polícia Adrian Vasquez agradeceu aos dois frequentadores do clube que intervieram para deter o atirador.

‘Heróis’

“Evidências iniciais e entrevistas indicam que o suspeito entrou no Club Q e imediatamente começou a atirar nas pessoas dentro do clube”, disse Vasquez em entrevista coletiva no domingo.

“Enquanto o suspeito estava dentro do clube, pelo menos duas pessoas heroicas confrontaram e lutaram com o suspeito e conseguiram impedir que ele continuasse a matar e ferir outras pessoas. Devemos a eles uma grande dívida de agradecimento.”

Uma declaração na página do Club Q no Facebook agradeceu “as reações rápidas de clientes heróicos que subjugaram o atirador e encerraram esse ataque de ódio”.

O clube estava organizando uma festa e planejava realizar um evento de performance no domingo à noite para celebrar o Dia da Lembrança dos Transgêneros.

Corpos no chão

Joshua Thurman, 34, estava no clube no momento do tiroteio.

A princípio, ele pensou que os tiros faziam parte da música, disse ele ao Colorado Sun, mas depois correu para se abrigar no vestiário do clube.

“Quando saí, havia corpos no chão, vidros quebrados, copos quebrados, pessoas chorando”, disse ele.

“Não havia nada impedindo aquele homem de vir nos matar. Por que isso tinha que acontecer? Por quê? Por que as pessoas tinham que perder suas vidas?”

<img class="i-amphtml-blurry-placeholder" src="data:;base64,Joshua Thurman seca seus olhos em lágrimas

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,Joshua Thurman se escondeu no vestiário durante o tiroteio

Thurman, que mora perto do clube, disse que o espaço era uma parte importante da comunidade gay local. Ele acredita que conhece uma pessoa que foi morta.

O prefeito de Colorado Springs, John Suthers, classificou o evento como uma tragédia.

“Somos uma comunidade forte que mostrou resiliência diante do ódio e da violência no passado, e faremos isso novamente”, disse ele.

Em 2015, três pessoas morreram e nove ficaram feridas em um tiroteio em uma clínica de planejamento familiar em Colorado Springs.

O estado do Colorado já registrou outros tiroteios em massa, inclusive em um supermercado em Boulder em 2021, nos quais dez pessoas foram mortas.

O governador do Colorado Jared Polis, que é gay, elogiou os “indivíduos corajosos que barraram o atirador, provavelmente salvando vidas no processo”.

“O Colorado está com nossa comunidade LGTBQ e todos os afetados por essa tragédia enquanto choramos”, escreveu ele no Facebook.

A boate Club Q em Colorado Springs

CRÉDITO,GOOGLE STREET VIEW

Legenda da foto,A boate Club Q em Colorado Springs

A página do Club Q no Facebook foi inundada com comentários e condolências de todo o mundo.

Uma pessoa escreveu que o clube foi “como um lar” para ela por muitos anos, e ela ficou “absolutamente arrasada” com a notícia.

“Conheci tantas pessoas ótimas, literalmente conheci meu marido lá, então tem um lugar muito especial no meu coração. Todos sempre foram muito receptivos e gentis ao longo dos anos”, escreveu.

“Estou arrasado com esta notícia”, acrescentou outro comentarista.

“O Club Q tem sido o coração da nossa comunidade por tanto tempo e estou devastado e com raiva por isso ter acontecido.”

Em 2016, 49 pessoas foram mortas e mais de 50 ficaram feridas em um tiroteio no clube gay Pulse em Orlando, Flórida. À época, foi o tiroteio em massa mais mortal da história dos EUA.

 

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Deus tem AIDS
   18 de novembro de 2022   │     15:21  │  0

  “Deus tem AIDS”, de Fábio Leal e Gustavo Vinagre,  é um documentário bastante pessoal que apresenta entrevistas com sete artistas e um médico, todos eles vivendo com o vírus HIV, em narrativas que apresentam suas perspectivas sobre as imagens e as representações do HIV na atualidade.

Em exibição na mostra competitiva do 29º Festival MixBrasil, o documentário traz um olhar mais moderno sobre o HIV, conectando subjetividades e questões íntimas com arte, performance e perspectivas de futuro.

Diferente de “Carta Para Além dos Muros”, excelente documentário de André Canto, a perspectiva de “Deus tem AIDS” não é fazer uma historicidade do HIV/AIDS ou ser uma narrativa informativa.   Para Leal e Vinagre, importam muito mais as questões íntimas que cada personagem traz em suas narrativas pessoais, com olhares múltiplos e interessantes sobre o que é se viver com HIV num país como o Brasil nesse momento – quando se considera o cenário de instabilidade política do governo Bolsonaro e todos os seus cortes em relação as políticas públicas de combate à epidemia da AIDS.

“Deus tem AIDS” já tem um título que, por si só, é uma afirmação. Uma leitura apressada pode pensar no título como “polêmico”, “ousado”, porém essas afirmações dizem mais sobre o leitor do que sobre o título em si. Seria chocante um título que dissesse “Deus tem Diabetes”? Provavelmente não. Entendem-se os estigmas entorno do HIV/AIDS e todo o imagético que se criou sobre as pessoas que vivem com HIV: promíscuas, pecadoras, erráticas. Nesse sentido, o filme de Leal e Vinagre é provocativo e múltiplo, seus personagens divergem em seus olhares e apresentam complexidade para um tema que parece parado no tempo, com discussões estagnadas em olhares datados.

Os entrevistados vão trazer questões fundamentais para a discussão do HIV/AIDS neste tempo: qual é a cara de quem vive com HIV? A quem se destinam as políticas públicas de prevenção ao HIV/AIDS? Quem são as pessoas que ainda morrem de AIDS? A quem interessa ignorar essa discussão?

“Deus tem AIDS” consegue tangenciar temas como a ainda alta mortandade de pessoas por AIDS no Brasil mesmo com o tratamento gratuito e universal; bem como os atravessamentos do tema, isto é, como ele impacta a vida de homens e mulheres negros e de pessoas trans.

É interessantíssimo que todos esses pontos são debatidos a partir de experiências artísticas, transformações pessoais e experiências corpóreas que colocam em xeque estigmas, preconceitos e expectativas – essencialmente as expectativas de pessoas soronegativas. E para isso o filme também não tem medo de ser incômodo ou desconfortável, como por exemplo na filmagem detalhada de uma performance que envolve o sangue HIV + de um dos personagens. Essa ousadia não será surpresa para quem já acompanha o trabalho dos diretores, como os longas de Gustavo Vinagre, vide “A Rosa Azul de Novalis” (2018) e o recente “Desaprender a Dormir” (2021), porém pode surpreender os desavisados.

No final das contas, o grande trunfo do filme é ser um documentário extremamente político e forte em um ano como 2021, mas ainda assim ser surpreendemente subjetivo e íntimo, adentrando caminhos que tocam o espectador e auxiliam nesse olhar mais delicado e dedicado ao outro. As diferenças entre os personagens mostrados trazem esse olhar sobre o quanto ignoramos as pessoas que vivem com HIV e como esse tema parece ainda perdido em narrativas sobre mortes nos anos 80 e 90, ignorando aqueles que vivem e morrem no agora. Com suas ousadias e sua interessante montagem, “Deus tem AIDS” precisa ser visto, revisto e pensado em suas múltiplas perspectivas. Não perca!

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