Monthly Archives: outubro 2012

Trajetória de árbitro gay é contada em livro
   30 de outubro de 2012   │     23:50  │  0

O uniforme cor-de-rosa e os trejeitos acrobáticos nos campos de futebol transformaram Margarida num dos árbitros mais conhecidos do Brasil. Agora, o ex-juiz Clésio Moreira dos Santos, 48 anos, é um dos candidatos do PR a vereador em Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis.

Eles não tinham vergonha de desmunhecar, empinar o corpo ou correr como gazelas dentro das quatro linhas. Homossexuais assumidos, Jorge Emiliano dos Santos, o Margarida, Walter Senra, o Bianca, e Paulino Rodrigues da Silva, o Borboleta, roubaram a cena no fim dos anos 80 e início dos 90 ao inaugurar a arbitragem gay no futebol.
Com muito profissionalismo, o trio de amigos superou preconceitos, driblou a violência e ficou conhecido pela irreverência e o apito honesto. Uma história que será eternizada no livro ‘Parada Dura, Memórias de um Juiz Gay do Futebol Carioca’, escrito pelos jornalistas Anna Davies e Carlos Nobre, que será lançado no primeiro trimestre do ano que vem.
A obra conta a trajetória do cearense Paulino desde os 16 anos, quando ele trocou a Caponga, interior do Ceará, pelo Rio, onde se tornou árbitro de futebol e advogado trabalhista, até a coroação como Rainha das Quengas. O livro aborda também a amizade de um trio de amigos ligado pelo futebol.
“Conheci primeiro o Margarida, que foi meu bandeira em um jogo. Daí nasceu uma grande amizade. Depois conheci o Bianca e também ficamos muito amigos. Foi o Margarida que revelou a nossa homossexualidade em um entrevista ao ‘Jornal dos Sports’. Na época, eu era juiz classista do tribunal e queria processá-lo de qualquer jeito”, conta às gargalhadas Borboleta para em seguida cair em lágrimas ao lembrar da perda dos amigos. Margarida morreu em 95 e Bianca, em 2002.
“Foi muito doloroso, a gente fazia tudo junto (Borboleta começa a chorar). Se a gente fosse apitar no mesmo dia o encontro era certo. Cada um levava o seu garoto e não faltava provocação: ‘Bandida, cuidado, o meu não, hem!’”. Quem ouve Borboleta falar com naturalidade sobre a sua opção sexual não imagina o longo sofrimento que passou para se aceitar. Foram vários relacionamentos difíceis com mulheres até ele sair do armário, graças à mãozinha de um pai de santo. “Um amigo me levou a um pai de santo português. Ele fez um trabalho. Dormi, deitei para o santo e depois ele jogou búzios e me disse: ‘Não adianta você procurar uma mulher. Não vai dar certo. Daqui para a frente você vai procurar um namorado’”. A sentença soou como decreto e Paulino passou a correr atrás de sua felicidade.Por Marcia Vieira

A “saída de armário” do seu filho não precisa ser traumática
   28 de outubro de 2012   │     21:23  │  0

A sociedade tenta abrir mais sua mente e os debates avançam, mas ainda é complicado tratar de homossexualidade em casa, tanto para pais e mães quanto para filhos.

Pesquisas já afirmaram que os primeiros “sinais” de sexualidade despontam em futuros jovens gays logo aos três anos de idade. Mesmo que esse número seja exagerado, há um ponto na adolescência em que a propensão parece difícil de esconder, mas nem todas as famílias jogam abertamente as cartas na mesa. O que fazer?

Revelar a homossexualidade de maneira abrupta pode ser perigoso: uma pesquisa conduzida por uma instituição de direitos humanos da Califórnia (EUA) aponta que adolescentes gays têm maiores taxas de depressão, alcoolismo e até suicídio em comparação com os heterossexuais da mesma faixa etária.

A raiz destes problemas parece ser o estresse que ele ou ela vive antes de se revelar, assolado pelo dilema entre manter segredo ou não. Depois da revelação, muitas vezes o medo do adolescente se confirma: ele de fato acaba hostilizado pelos colegas, muito mais do que quando não assumia abertamente.

Mesmo assim, a pesquisa concluiu que os piores problemas psicológicos estão mesmo naqueles jovens que prendem a certeza de que são gays dentro de si mesmos. O indicado, portanto, é assumir. A questão é como fazer isso de maneira saudável.

Preparando o terreno

Não é de hoje que orientadoras familiares do mundo inteiro recomendam esse elemento essencial: é preciso haver diálogo entre pais e filhos. Se a família não conversa sobre o assunto, o adolescente nunca vai ter ideia de qual seria a reação dos pais na clássica conversa do “tenho que contar uma coisa para vocês”.

O pai e a mãe precisam entender que não adianta fechar os olhos para sinais que às vezes se manifestam desde antes dos dez anos. Diante dessa constatação, o recomendado é que os pais mostrem, por exemplos e palavras, que não têm problemas com a homossexualidade na família. Isso ao longo de meses, talvez anos, sempre de forma indireta.

O objetivo é deixar o jovem pouco a pouco mais seguro, até que resolva abrir o jogo por si mesmo. Altamente desaconselhável é perder a paciência e um belo dia chegar com uma abordagem de choque do tipo “afinal, você vai sair do armário ou não”? Em suma, é preciso criar um ambiente confortável para a revelação do filho.

A pesquisa californiana constatou que a idade em que os jovens assumem abertamente a homossexualidade está caindo. Há pouco mais de uma década, a idade média para a revelação era por volta de vinte anos. Agora, esta linha está pouco acima dos quinze.

Já as complicadas consequências pós-revelação ainda são um desafio social a ser combatido por todos.

Artigo: Perseguição aos gays
   26 de outubro de 2012   │     12:37  │  0

Por: Mario Vargas Llosa – Escritor peruano, foi o vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2010, nascido em 1936, o novelista e ensaísta é considerado um dos maiores nomes da literatura em língua espanhola, entre suas principais obras estão “A Casa Verde”, “Lituma nos Andes” e “A Cidade e os Cachorros”.

Na noite de 3 de março, quatro neonazistas chilenos, liderados por um valentão chamado Pato Core, encontraram caído nas cercanias do Parque Borja, em Santiago, o jovem Daniel Zamudio, ativista homossexual de 24 anos que trabalhava como vendedor numa loja de roupas. Durante seis horas, enquanto bebiam e pilheriavam, os quatro se dedicaram a dar pontapés e socos no jovem homossexual, golpeá-lo com pedras e marcar suásticas no seu peito e costas com o gargalo de uma garrafa. Ao amanhecer, ele foi levado a um hospital, onde agonizou por 25 dias antes de morrer em decorrência dos traumatismos.

O crime causou uma vivo impacto na opinião pública chilena e sul-americana. Multiplicaram-se as condenações à discriminação e ao ódio contra as minorias sexuais, profundamente enraizados em toda América Latina. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, exigiu pena exemplar e pediu que se acelere a aprovação de um projeto de lei contra a discriminação, que vegeta no Parlamento chileno há sete anos, parado nas comissões por temor dos parlamentares conservadores de que a lei, se aprovada, abra caminho para o casamento entre gays.

Esperemos que a imolação de Daniel Zamudio sirva para trazer à luz a trágica condição dos homossexuais, lésbicas e transexuais nos países latino-americanos onde, sem uma única exceção, são objeto de escárnio, repressão, marginalizados, perseguidos e alvo de campanhas de descrédito que, no geral, contam com o apoio declarado e entusiasmado da maioria da opinião pública.

Nesse caso, o mais fácil e mais hipócrita é atribuir a morte do jovem apenas a quatro canalhas pobres diabos que se denominam neonazistas e, provavelmente, nem sabem o que é isso. Eles não são mais do que a guarda avançada mais crua de uma cultura antiga que apresenta o gay ou a lésbica como pessoas doentes ou depravadas que devem ser mantidas à distância dos seres normais, pois corrompem o corpo social saudável, induzindo-o a pecar e a se desintegrar moral e fisicamente em práticas perversas e nefandas.

Esta noção do homossexualismo é ensinada nas escolas, difundida no seio das famílias, pregada nos púlpitos, divulgada pelos meios de comunicação, aparece nos discursos de políticos, nos programas de rádio e televisão e nas comédias teatrais onde os homossexuais são sempre personagens grotescos, anômalos, ridículos e perigosos, merecedores do desprezo e da rejeição dos seres decentes, normais e comuns. O gay é sempre “o outro”, o que nos constrange, assusta e fascina ao mesmo tempo, como o olhar da cobra assassina para o passarinho inocente.

Num tal contexto, o surpreendente não é que se cometam atos abomináveis como o sacrifício de Zamudio, mas o fato de que sejam tão pouco frequentes, ou talvez seja mais correto dizer tão pouco conhecidos, pois os crimes provocados pela homofobia que vêm a público são só uma pequena parte dos que realmente são praticados. Em muitos casos, as próprias famílias das vítimas preferem colocar um véu de silêncio sobre eles para evitar a desonra e a vergonha.

Tenho comigo, por exemplo, um relatório preparado pelo Movimento Homossexual de Lima, que me foi enviado pelo seu presidente, Giovanny Romero Infante. De acordo com uma pesquisa realizada entre 2006 e 2010, foram assassinadas no Peru 249 pessoas por “sua orientação sexual e identidade de gênero”, ou seja, uma a cada semana. Entre os casos mais horripilantes está o de Yefri Peña, que teve o rosto e o corpo desfigurado com um pedaço de vidro por cinco “machões”, os policiais se negaram a socorrê-la por ser travesti e os médicos de um hospital não quiseram atendê-la por considerá-la um “foco infeccioso” que se poderia transmitir aos que estavam em torno.

Os casos extremos são atrozes, mas o mais terrível para uma lésbica, gay ou transexual em países como Peru ou Chile não são casos mais excepcionais como esse, mas é a sua vida quotidiana condenada à insegurança, ao medo, a percepção constante de ser considerado perverso, anormal, um monstro.

Ter de viver na dissimulação, com o temor constante de ser descoberto e estigmatizado pelos pais, parentes, amigos e todo um círculo social preconceituoso que ataca furiosamente o gay como se ele tivesse uma doença contagiosa. Quantos jovens atormentados por esta censura social foram levados ao suicídio ou sofreram traumas que arruinaram suas vidas? Somente no círculo de amigos meus tenho conhecimento de muitos exemplos que não foram denunciados na imprensa nem apareceram nos programas sociais dos reformadores e progressistas.

Porque, no que se refere à homofobia, a esquerda e a direita confundem-se como uma única entidade devastada pelo preconceito e a estupidez. Não só a Igreja Católica e as seitas evangélicas repudiam o homossexual e opõem-se obstinadamente ao matrimônio de gays. Os dois movimentos subversivos que nos anos 80 iniciaram a rebelião armada para instalar o comunismo no Peru, o Sendero Luminoso e o MRTA – Movimento Revolucionário Tupac Amaru – executavam os homossexuais de maneira sistemática nos povoados que controlavam para libertar a sociedade de semelhante praga.

Libertar a América Latina dessa tara ancestral que são o machismo e a homofobia – as duas faces da mesma moeda – será demorado e difícil, e provavelmente o caminho até essa libertação estará repleto de muitas outras vítimas semelhantes ao desventurado Daniel Zamudio. O tema não é político, mas religioso e cultural. Fomos acostumados desde tempos imemoriais à ideia de que existe uma ortodoxia sexual da qual apenas os pervertidos, os loucos e enfermos se afastam e vimos transmitindo esse absurdo monstruoso para nossos filhos, netos e bisnetos, auxiliados pelos dogmas da religião, os códigos morais e os hábitos instaurados. Temos medo do sexo e nos custa aceitar que, neste incerto domínio, há opções e variantes que devam ser aceitas como manifestações da diversidade humana. Nesse aspecto da condição de homens e mulheres deve reinar a liberdade, permitindo que na vida sexual cada um escolha sua conduta e vocação sem outra limitação senão o respeito e a aquiescência do próximo.

Minorias começam a aceitar que uma lésbica ou um gay são pessoas tão normais como um heterossexual e, portanto, devem ter os mesmos direitos – como contrair matrimônio e adotar filhos -, mas ainda hesitam em lutar em favor das minorias sexuais porque sabem que, para vencer, é necessário mover montanhas, lutar contra um peso morto que nasce na rejeição primitiva do “outro”, daquele que é diferente, pela cor de sua pele, seus hábitos, sua língua e suas crenças, que é a fonte que nutre as guerras, os genocídios e os holocaustos que enchem a história da humanidade de sangue e de cadáveres.

Sem dúvida, avançamos muito na luta contra o racismo, mas não o extirpamos totalmente. Hoje, pelo menos, sabemos que não se deve discriminar ninguém e é de mau gosto alguém se proclamar racista. Mas nada disso existe no que se refere a gays, lésbicas e transexuais. Quanto a eles, podemos desprezar e maltratar impunemente. Eles são a demonstração mais reveladora de quão distante boa parte do mundo ainda está da verdadeira civilização.

 

ABGLT denuncia ameças de morte que 15 lideranças LGBT vem sofrendo
   25 de outubro de 2012   │     14:44  │  0

Estava acostumado a receber ligações, mas eram só homofóbicas, nunca com ameaça de morte e requintes de crueldade.” Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABLGT). Violência Quinze ativistas gays são ameaçados de morte em Curitiba Ligações e mensagens anônimas intimidam integrantes do movimento LGBT da capital. Comitiva nacional pede investigação 24/10/2012 | 21:33 | Ellen Miecoanski Pelo menos 15 ativistas do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) de Curitiba estão recebendo ameaças de morte desde setembro. A denúncia foi feita à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e à Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Paraná (Seju). Uma comitiva de Brasília esteve na capital paranaense entre domingo (21) e segunda-feira (22) para prestar solidariedade ao grupo. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABLGT), Toni Reis, as ameaças são feitas de telefones públicos para os celulares e números residenciais e comerciais dos ativistas, além de chegarem por e-mail. Ele próprio recebeu duas ameaças de morte no começo deste mês. “Eu estava acostumado a receber ligações, mas eram só homofóbicas, xingando, nunca com ameaça de morte e com requintes de crueldade.

Então comentei com as pessoas e comecei a descobrir várias ligações para outros militantes também.” O que fazer diante de ameaças a recomendação para que quem está sofrendo ameaças ou discriminação é que denuncie o fato para o serviço Disque 100, registre o boletim de ocorrência na delegacia e encaminhe uma cópia do BO para os representantes dos ativistas ameaçados: o próprio Toni Reis ([email protected]) e para Márcio Marins ([email protected]), presidente do Dom da Terra e um dos ameaçados. Reis conta que o conteúdo das mensagens é bastante forte, principalmente para as lésbicas, e que duvida que seja uma pessoa só fazendo as ameaças.

“O número de ligações é grande e eles pesquisam as nossas vidas, falam das nossas características. Sabem da gente e de coisas que não colocamos na internet. No grupo tem casais com filhos e eles ameaçam as crianças, sabem onde estudam e tudo. Estão todos muito abalados”, fala o presidente.

Na equipe que veio de Brasília para acompanhar o caso estão a coordenadora-geral da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, Irina Bacci, o coordenador-geral do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Igo Martini, e mais três integrantes da equipe técnica do programa de proteção. Eles ouviram os 15 ameaçados na segunda-feira e depois iniciaram as audiências com as autoridades, entre elas Maria Tereza Uille Gomes, da Seju, e responsáveis pela segurança pública no estado. Entre as propostas, o LGBT ouviu a promessa da criação de um comitê interinstitucional, encabeçado pela Seju, mas composto de várias secretarias e ativistas dos direitos humanos, para acompanhar as ameaças e a violência homofóbica no Paraná. Para quem já sofreu ameaças ou discriminação devido sua orientação sexual ou identidade de gênero, será criado um Centro de Referência com atendimento multidisciplinar.

De acordo com Toni Reis, além dessas decisões, as denúncias serão encaminhadas para o governo do estado, Ministério Público e Polícia Federal, para investigação e proteção ao grupo.

Um pedido de audiência Pública será enviado para a Assembleia Legislativa para discussão sobre as ameaças e a homofobia enfrentada no estado. “É muito bacana por parte do governo estadual e federal o amparo e a indicação para continuarmos nosso trabalho.

Não estamos num país sem lei, mas num Estado de Direito. Todas as denúncias estão sendo registradas e serão juntadas ao MP. Se é para intimidação é verdadeiro, eles conseguiram, porque as pessoas estão abaladas. Mas isso causa mais indignação e dá mais força de continuar. Serviu para nos fortalecer e unir como grupo”, fala Reis.

O que fazer diante de ameaças a recomendação para que quem está sofrendo ameaças ou discriminação é que denuncie o fato para o serviço Disque 100, registre o boletim de ocorrência na delegacia e encaminhe uma cópia do BO para os representantes dos ativistas ameaçados: o próprio Toni Reis ([email protected]) e para Márcio Marins ([email protected]), presidente do Dom da Terra e um dos ameaçados.

Na gaveta “Projeto que tenta combater a homofobia segue congelado no Congresso”
   23 de outubro de 2012   │     13:03  │  0

A homofobia domina os debates na disputa pelo comando da maior cidade do Brasil e uma das maiores do mundo. Em São Paulo desde o início do segundo turno da eleição disputada por Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB), o assunto é o kit educativo feito pelo Ministério da Educação com o objetivo de combater o preconceito contra os homossexuais e que acabou tendo sua distribuição vetada por pressão da bancada evangélica no Congresso Nacional. Não é a primeira vez que essa discussão vem à tona em momentos de disputa eleitoral. Em 2010, o Projeto de Lei Complementar 22/2006, que penaliza qualquer tipo de discriminação ou preconceito em função da raça, cor, etnia, religião, gênero e também orientação sexual, foi um dos temas da campanha pela Presidência da República. O então candidato José Serra prometeu vetar o texto, Marina Silva, que disputava pelo PV, se posicionou contra a proposta e Dilma Rousseff (PT) garantiu que sancionaria o projeto desde que não violasse “a liberdade de crença, culto e expressão”.

Dilma acabou eleita presidente, mas não teve ainda que se posicionar sobre o texto do PLC 122. É que o projeto se arrasta desde 2001 no Congresso Nacional, dando gás ao discurso contra a população gay e deixando o país atrás no ranking das 58 nações que já aprovaram leis garantindo o combate à homofobia e os direitos da comunidade LGBT. Pressão não faltam, contudo, para que ele saia do papel. A mais recente veio da Agência das Nações Unidas de Luta contra a Aids (UNAIDS) e de outras entidades nacionais de defesa dos direitos humanos e cidadania também ligadas a Organização das Nações Unidas (ONU) que divulgaram carta pedindo prioridade ao governo federal para o enfrentamento da violência e da discriminação por orientação sexual e identidade.

O documento, que pede ainda o empenho da presidente Dilma para a aprovação do PLC122, cita o aumento da violência contra homossexuais no Brasil e “as lacunas da legislação brasileira com vistas a tipificar a violência contra a população LGBT”. Segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia, em 2001, 278 pessoas foram mortas por causa de sua orientação sexual. Até outubro deste ano, foram registrados 254 homicídios que tiveram como causa a homofobia. Segundo balanço da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, no ano passado foram notificadas 6.809 violações de direito dos homossexuais.

Para Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), a maior da América Latina, com 237 organizações filiadas, a oposição de setores fundamentalistas tem impedido a discussão sobre o PLC 122 e deixado em segundo plano a promoção dos direitos e da cidadania da comunidade homossexual. Para dificultar a tramitação, a relatora do PLC 122 no Senado, Marta Suplicy (PT-SP), virou ministra da Cultura e seu suplente é o vereador de São Paulo, Antônio Carlos Rodrigues (PR), tido como um político conservador. Para evitar retrocesso na discussão do PLC122, iniciada em 2001, na Câmara dos Deputados, a pressão é para que a relatoria da matéria seja transferida para a senadora Lídice da Mata (PSB-BA), ativista dos direitos da comunidade gay. Setores conservadores articulam para que o projeto seja relatado por Magno Malta (PR-ES), ex-delegado e integrante da bancada evangélica.

Vontade política 

Para o coordenador nacional do grupo setorial LGBT do PT, Julian Rodrigues, o Brasil está maduro para avançar no reconhecimento dos direitos da população. “Falta vontade política para contrariar uma minoria barulhenta, que não respeita a laicidade do estado e faz plataforma política com um discurso que nega os direitos LGBT”, acusou. Segundo ele, a tramitação do PLC 122 é obstruída por esses setores fundamentalistas que usam de um discurso religioso para reforçar preconceitos. “Com vontade política do governo federal, uma posição clara da presidenta Dilma orientando a base governista, é possível avançar. Sem isso, fica difícil”, opina o ativista, que divulgou em 2011 uma carta cobrando postura mais firme de Dilma sobre o assunto.