Category Archives: História de Vida

Paixões e amores proibidos, adrenalina e segredos: o drama de viver casamentos de fachada com mulheres
   10 de junho de 2022   │     14:27  │  0

Paixão, segredo, cumplicidade: alguns gostam de sentir a adrenalina do amor proibido e a liberdade de viver uma história longe do convencional

Décadas atrás, quando os gays da Grã-Bretanha e de outros países ocidentais tinham de enfrentar o ostracismo e viviam sob a ameaça de serem processados, muitos optaram por se casar e esconder sua sexualidade.

Mas mesmo agora, com uma aceitação crescente, alguns continuam optando pelo mesmo caminho.

Nick, que está na casa dos 50 anos, é casado com sua esposa há 30 anos. Ele é gay.

Ele acha que sua mulher suspeitava há muitos anos de sua sexualidade, mas conta que tudo veio à tona quando ele teve um relacionamento com outro homem.

“Ela (esposa) perguntou se eu queria deixá-la, mas eu não queria. Acima de tudo, ela é minha melhor amiga. Então decidimos que continuaríamos juntos como melhores amigos”, diz.

Nick não é seu nome real – muitos amigos e parentes do casal não sabem que ele é gay e ele prefere se manter anônimo para proteger sua esposa.

Ele conta que, desde o começo, o casamento não era completo, com muitas dúvidas sobre se eles haviam feito a coisa certa. Ele sempre teve dúvidas sobre sua orientação sexual, e isso se agravou com o tempo.

Como muitos outros homens nessa situação, Nick se viu vivendo uma vida dupla. Na superfície, ele era um homem em um casamento feliz. Mas ele também tinha o hábito de ver pornografia gay. E conta que há seis anos, acabou se relacionando com um amigo gay quando ambos ficaram bêbados.

Nick conta que sua esposa ficou irritada e desapontada quando ela descobriu, e que, àquela altura, ele não tinha mais como negar que era gay.

“Senti que era a oportunidade ideal para ser honesto e contar para ela sobre algo que ela já suspeitava. Então, concordamos que eu se eu não fizesse mais isso, não tocaríamos no assunto – e quando voltasse a acontecer, iríamos falar sobre isso.”

Nick admite que seria melhor para sua esposa se ele tivesse admitido antes que era gay. Ela lhe disse que estava desapontada porque ele não havia confiado nela.

“Eu ainda me sinto totalmente grato a ela todos os dias por ela ser tão tolerante”, conta.

O casal optou por permanecer junto não por conta das crianças, já que eles não têm filhos, mas, sim, pelos sentimentos que nutrem um pelo outro.

“Está tudo bem com a minha esposa. Tanto que ainda amamos um ao outro e ainda estamos juntos. Mas as coisas poderiam ter sido bem diferentes.”

Apesar de o casal continuar junto, eles agora dormem em quartos separados.

Nick prometeu à mulher que ele não vai mais ter relações sexuais com outros homens – ele diz que deve isso a ela.

Mas será que ele consegue manter sua promessa. “Espero que sim. Essa é minha intenção. Sinto como se não tivesse tido uma opção no passado, como se algo tivesse sido imposto a mim. Agora estou tomando a decisão que me parece acertada, que é manter o celibato.”

Grupo de apoio

Nick participa de um grupo de apoio chamado Gay Married Men (Homens gays casados), que tem sede na cidade britânica de Manchester e foi fundado há 10 anos. Vários homens viajam de outras partes do país para participar das reuniões.

O fundador do grupo, que prefere ser chamado apenas de John, conta que os homens são, em sua maioria, mais velhos, sendo que muitos casaram nos anos 70 e 80, quando a sociedade era mais hostil aos gays.

Mas por que então eles se casaram?

Nick conta que muitos dos participantes participam do grupo justamente para tentarem se entender.

Andy, de 56 anos, dá seu depoimento: “Alguns achavam que estavam apenas passando por uma fase e que logo encontraria uma mulher que o transformaria em uma homem de verdade, como muita gente dizia.”

John, um professor de Manchester que foi casado por sete anos, diz que ele demorou para perceber que era gay. Ele sabia que sua sexualidade era ambígua, mas ele não tinha nem vocabulário para defini-la.

“Eu não sabia como era um homem gay. Na verdade, eu sabia que os gays era afeminados. E eu não me sentia assim. Logo, eu não poderia ser gay, não é?”

‘Não existimos no mundo gay porque somos casados’

Os membros do grupo estão em diferentes estágios. Alguns apenas suspeitam que sejam gays, enquanto outros vivem ou viveram com suas esposas, sendo que algumas delas já se casaram com outros homens.

John agora é casado com um homem que é seu parceiro há 23 anos. Andy está se divorciando de sua mulher após 30 anos de casamento e quatro filhos.

“Eu ainda a amo. Nós somos muitos próximos. Somos melhores amigos – o que pode soar estranho para alguns, mas temos quatro filhos juntos…”

Mas muitos outros continuam casados seja por conta da expectativa de amigos e parentes ou porque eles têm filhos e não querem que a família se separe.

Jonh diz que muitos homens se veem desesperados e sem nenhum apoio – muitos sofrem de depressão severa.

“Já vimos muitos caírem no choro porque eles estavam decepcionados e agora estão aliviados por terem descoberto que há outros homens na mesma situação. Porque isso é parte do problema, nós somos um mito, não existimos”, conta John.

“Não existimos no mundo gay. Estamos no limite do mundo gay porque somos casados. E não existimos também no mundo hétero. Então, somos invisíveis.”

Os membros do grupo dizem que não julgam pessoas como Nick e que a mensagem principal é a de que esses homens não precisam passar por isso sozinhos.

“Há pessoas que estão conseguindo lidar com sua sexualidade e sua família. Eles ainda se relacionam com os filhos, não foram cortados do relacionamento familiar”, conta Nick.

“Eu, definitivamente, estou mais feliz agora – ser honesto com a minha mulher me tirou um peso das costas.”

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Casal gay já era realidade há décadas e ex-padre prova com imagens
   26 de agosto de 2019   │     23:25  │  0

Mas, no passado as relações eram um tanto mais complicadas, especialmente entre casais gays.

O amor costuma ser celebrado, escancarado e motivo de orgulho. Não é tão fácil encontrar um parceiro leal para a vida e quando a “tampa da panela” encaixa, os casais costumam gritar ao mundo seu amor. Mas, no passado as relações eram um tanto mais complicadas, especialmente entre casais gays. Os relacionamentos sexuais e o próprio gay – seja homem ou mulher – eram vistos com maus olhos, tidos como pecaminosos, reprimidos por lei e até mesmo motivo de sentença de morte.

Atualmente, o preconceito ainda é forte a ponto de incitar violências graves, até mesmo assassinatos. Apesar disso, há avanços e em muitos países o casamento gay é legal. Nathan Monk, um ex-padre, compilou diversas fotos antigas que mostram casais gays no passado. “Encontrei as fotos na internet através de algumas publicações. Eu as compartilhei porque acho importante lembrar aqueles que vieram antes de nós, aqueles que lutaram e lutaram para viver sua verdadeira vida. Eu acho que é importante lembrar que as pessoas O LGBTQ+ sempre fizeram parte da sociedade e sempre será assim. Essa realidade deve ser aceita com amor e não silenciada e ridicularizada”, destaca.

Embora tenha largado a batina, Nathan continua trabalhando em prol do bem-estar humano. Autor de dois livros, Chasing the Mouse e Chaarity Means Love, que falam sobre pobreza e miséria, o ex-padre viaja para diferentes comunidades aos fins de semana para provocar discussões sobre como é possível solucionar esses problemas.

Ele enfatiza ainda que é fundamental que se reconheça o quanto a população LGBTQ+ sofre discriminação, preconceito e homofobia. “Embora seja algo que todo LGBTQ+ sente, é mais perigoso para aqueles que sofrem com a pobreza e a miséria. Uma pessoa trans que vive nas ruas tem mais probabilidade de ser rejeitada em abrigos e programas de apoio, é mais propensa a sofrer ataques físicos e assédio, juntamente com outros perigos. Temos que continuar contando essas histórias e realidades até que todos tenham um lugar seguro para chamar de lar”, salienta.

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Casal lésbico faz inseminação e dão a luz a gêmeos
   14 de agosto de 2019   │     15:39  │  0

As duas mamães tiveram gêmeos com a ajuda de um programa de reprodução humana do HMIB (Foto: Mariana Oliveira / Instagram)

Não há limites (ou obstáculos!) para o sonho de ser mãe. Com certeza, é isso o que aprendemos com a história de Mariana e Érika Oliveira, um casal homoafetivo que recentemente teve os gêmeos Ana Louise e Noah por meio de um tratamento de reprodução assistida do SUS, o Sistema Único de Saúde.

As duas, naturais de Brasília, sempre souberam que gostariam de ser mães e começaram a pesquisar desde cedo as possibilidades que tinham. “Engravidar era um sonho inicialmente da Érika, então, foi natural para a gente que ela gerasse os bebês”, disse Mariana em entrevista para o Yahoo!.

A busca começou em 2014, quando o casal já estava junto há dois anos e casado no civil. “Mas, como para muitos casais homoafetivos, a fertilização e inseminação são um pouco distantes, porque são processos muito caros”. Atualmente, situações de reprodução assistida podem chegar até R$ 30 mil reais pela rede privada, o que torna o sonho de ter um bebê inviável para muitos.

Mariana explica que as duas até mesmo consideraram a inseminação artificial caseira – quando o processo é feito fora dos hospitais, em casa, com doação direta de sémen e aplicação com a ajuda de kits com o material necessário -, mas desistiu por conta das dúvidas em relação ao registro da criança e o envolvimento do doador no processo.

A resposta, então, veio da melhor forma possível. Durante as pesquisas, Érika descobriu o Programa de Reprodução Humana do HMIB, o Hospital Materno Infantil de Brasília, que é referência no Brasil todo.

O projeto é bastante abrangente e atende tanto mulheres e homens inférteis, quanto casais de mulheres que querem ter filhos. Na época, Érika e Mariana poderiam entrar em duas filas de espera, para a fertilização in vitro e para a inseminação artificial.

Por ser um processo mais rápido, medicamente falando, a fila da inseminação andou mais rápido, e Érika, que preenchia todos os requisitos sem complicações, avançou rápido. “A gente tinha conversado que a genética não era uma coisa muito importante para a gente. Sempre soube que seria mãe, mas sabia que não iria gerar [o bebê]. Ela fazer uma inseminação e [a gravidez] ser com a genética dela nem foi uma questão”, continua.

Processo tranquilo

Há quem pense que fazer qualquer tratamento pelo SUS seja complicado, estressante e, muitas vezes, ineficaz. Porém, Mariana é prova de que é possível ter uma experiência agradável no sistema público de saúde.

“Desde que a gente começou, quando foi no postinho de saúde falar com a ginecologista, ela foi super solícita, já encaminhou a gente para o hospital para fazer todo o processo. Foi bem bacana”, diz ela.

Aqui, claro, entram algumas dificuldades, afinal, apesar de o programa teoricamente cobrir todos os exames e cirurgias que contemplam o processo de inseminação, muitas examinações precisaram ser feitas na rede privada – além do tempo de espera para que o procedimento evoluísse.

Até o momento, a fila tem mais de mil e 200 números na espera para a inseminação, e cinco mil para a fertilização. Ou seja, o chá de cadeira é, mesmo, demorado, mas Mariana diz que vale a pena.

“A gente conheceu outros casais que estavam no mesmo processo que a gente, a gente foi muito bem tratada pela equipe médica… Como é uma equipe de pesquisa, tem muita gente nova, muito médico novo com muito gás, muito receptivo”, diz ela.

No fim das contas, um processo que poderia valer mais de R$ 30 mil acabou saindo por menos de R$ 10 mil. Os únicos gastos que o casal teve foi com o sêmen – que, segundo as normas da ANVISA, tem que ser nacional e adquirido em um laboratório brasileiro – e com os exames que não puderem ser feitos na rede pública.

Falando especificamente da compra do sêmen, Mariana diz que nem isso foi uma grande preocupação para ela e Érika, já que o próprio hospital cuidou da tramitação, e elas ficaram encarregadas de apenas escolherem o doador, pela internet, de um laboratório de São Paulo.

“A gente vem se tornando mãe dia a dia”

Dificuldades sempre existem, ainda mais quando se fala em um casal homoafetivo no Brasil. Mariana diz que percebeu pequenos obstáculos na rotina durante o processo, que, aliás, pouco tinham a ver com a demora do SUS.

“Por exemplo, o cartão do neném vinha com nome de ‘mãe’ e ‘pai’, mas as enfermeiras prontamente já riscavam ‘pai’ e colocavam ‘mãe'”, explica.

A boa notícia, porém, é que essas dificuldades foram mínimas diante da experiência como um todo. Mariana diz que ela e Érika sempre foram tratadas pela equipe médica como duas mães, e Mariana pode, inclusive, estar na sala de parto na hora do nascimento dos bebês. “O parto da Érika foi ótimo, os bebês nasceram supersaudáveis”.

De lá para cá, o momento é de descobertas para as duas – ainda mais com a chegada não de um, mas dois bebês. “A gente vem se tornando mãe dia a dia. É incrível a experiência, é uma coisa que a gente queria muito. A gente sabia que poderiam vir gêmeos, mas, até então, a gente não tinha tornado isso tão real até fazer o ultrassom. Foi assustador nos primeiros cinco minutos, mas depois a gente já comprou a ideia e não se vê mais não sendo mãe de gêmeos”.

Família e amigos receberam os bebês muito bem. Talvez o único ponto de atenção é um que, de acordo com ela, é bastante comum para mães lésbicas. “Às vezes, tem um contratempo aqui ou ali e pergunta e curiosidade o tempo todo, mas a gente tenta levar isso pra um lado de informação”.

“É possível ter uma família homoafetiva não tradicional”

Nessa hora, as redes sociais são grandes aliadas e tanto Mariana, quanto Érika, usam o Instagram para postar fotos da família, além de informações que possam ser úteis para conscientizar as pessoas de que é possível, sim, realizar o sonho de ter filhos em uma relação homossexual.

“É possível duas mulheres terem filhos, mesmo sem tanta grana assim. A gente tenta passar que é possível ter uma família homoafetiva não tradicional – porque a gente nem quer ser tradicional, a gente quer mesmo quebrar os padrões”, afirma . ela, que junto com Érika estão tentando criar as crianças de uma forma livre, sem imposições de gênero.

“A gente queria que as pessoas soubessem que não é tão fácil quanto parece, mas não é tão difícil a ponto de ser impossível. Se a gente conseguiu, muita gente consegue. Sério, todo mundo consegue, porque a gente realmente foi atrás do que queria. Aqui no Brasil, as coisas são realmente muito difíceis, ainda mais com esse governo de agora – provavelmente, vai complicar um pouco mais. Mas a gente está aqui para representar e para resistir, sabe?”, finaliza.

Por: Marcela De Mingo – Yahoo Vida e Estilo

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Conheça a história de Chandelly Kids, a drag que se monta para divertir crianças com câncer
   8 de fevereiro de 2019   │     8:34  │  0

Aos 24 anos, o jovem Dackson Mikael de Sousa Rodrigues, mostra que já enfrentou preconceitos, superou barreiras e hoje quebra paradigmas. Há quatro anos como Chandelly Kidman, a drag queen decidiu conciliar as performances nos palcos da noite, de eventos, confraternizações, com um projeto social no mínimo louvável. Mikael de Sousa, ou melhor, a Chandelly, anima crianças que fazem tratamento de câncer em um hospital do Piauí.

“É um projeto de realização pessoal, que alimenta o meu ser e me faz mais humano. Particularmente, dos projetos que eu estou ligado, é o que mais gosto porque é um projeto social, diferente de qualquer outro projeto artístico já visto. E não está nem um pouco ligado à arte de ser drag queen, que trabalha na noite, em festas e baladas”, disse.

Chandelly Kidman dedica um dia por mês para visitar crianças no Hospital São Marcos, clínica referência no tratamento de câncer no Piauí.

Durante as apresentações, a drag queen monta uma grande e divertida festa para as crianças. Além disso, pais, mães e profissionais de saúde que acompanham os pequenos no tratamento de saúde, se reúnem numa confraternização onde todos cantam e dançam.

Crianças, pais e profissionais de saúde participam de festa em hospital (Foto: Mikael de Sousa/Arquivo Pessoal)
Crianças, pais e profissionais de saúde participam de festa em hospital (Foto: Mikael de Sousa/Arquivo Pessoal)

“Esse projeto significa muito tanto para mim quanto para as crianças porque isso acaba sendo uma extensão do tratamento que elas fazem no hospital. Era um desejo pessoal e eu não tinha noção do quanto era importante. Estou fazendo parte da vida dessas crianças e de alguma forma ajudo no tratamento. Com o projeto, eu reflito mais sobre o mundo por conta do poder dessa sutiliza”, contou.

A proposta do Chandelly Kids, segundo a mentora, é levar um ar mais festivo a um ambiente de hospital. No espaço onde acontecem as apresentações, a drag queen envolve ainda artistas convidados em um local onde é montada uma decoração temática. Desde que o projeto foi iniciado, já foram 10 apresentações.

“Tem também toda uma questão da quebra de paradigmas. Porque no imaginário das pessoas, o lugar de uma drag queen é na noite. A gente vive em um momento de caos em relação ao preconceito. E acho que quando eu levo uma drag para este ambiente, causa um questionamento político sobre LGBT, sobre gêneros. É preciso refletir”, disse.

A vida pessoal
Poderia ser só mais uma história de quem é homossexual e enfrenta diariamente o preconceito. Mas para o bailarino Mikael de Sousa, que mora no bairro Dirceu, Zona Sudeste de Teresina, tudo não passou de uma prova de vida. Problemas de bulling na escola? “Não sofri muito com isso”, disse ele. O perfil mais popular, engraçado, extrovertido e divertido de ser ajudou Mikael a tirar esse problema de letra.

“Eu não sofri bulling na escola porque sempre coincidia de eu estudar com as mesmas pessoas. E também era muito popular, o mais engraçado, o mais danado e o mais divertido. E isso atraia as pessoas ao meu lado”, contou.

Os conflitos interiores sobre ser ou não homossexual não fizeram parte da vida de Mikael até porque ele considera que esse momento de transição foi natural. O gostar de cores, e coisas do universo feminino como baton, saia, cabelos grandes o atraía.

“O meu maior desafio foi enfrentar a minha família porque eles não me aceitavam como gay, nem como drag queen”, disse.

O processo mais delicado foi assumir para a família que era homossexual. Houve um tempo em que o jovem teve que sair de casa, porque a família não o aceitava.

Mikael de Sousa diz que processo de descoberta sexual acontecer naturalmente (Foto: Mikael de Sousa/Arquivo Pessoal)
Mikael diz que descoberta sexual aconteceu naturalmente (Foto: Mikael de Sousa/Arquivo Pessoal)

“Essa transição da descoberta da minha homossexualidade na adolescência foi bem pesada. Porque na época minha mãe não sabia o que era e não sabia como lidar com isso. E foi um choque. Até porque era algo que eles não tinham conhecimento, sobre a homossexualidade. Tinha várias perguntas que ela não conseguia responder. Ela ficou muito confusa, mas com o tempo tudo se resolveu”, disse.

A carreira
O boom da carreira de Chandelly Kidman teve como ponto de partida a conquista do título de melhor drag do país que recebeu durante um dos concursos mais importantes do movimento artístico: o Brasilian Drag. A conquista veio em 2014 e desde lá Chandelly já se apresentou em festivais de danças e foi convidada para eventos em diversos estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Pará e na terra natal, o Piauí.

“Hoje eu procuro encontrar uma relação entre Mikael e a Chandelly. Mikael é bailarino, que trabalha com a dança contemporânea, dá aulas de danças para crianças e também dá aulas de drag queen. Já a Chandelly tem toda uma áurea de glamour, que entrou em um projeto social e também tem uma ligação muito forte com as crianças, mas os dois são diferentes, mas que podem se fundir e sair uma mistura boa”, disse.

Chandelly Kidman ganhou em 2014 o título de melhor drag queen do Brasil (Foto: Reprodução/Instagram)
Chandelly Kidman ganhou em 2014 o título de melhor drag queen do Brasil (Foto: Reprodução/Instagram)

O ser drag e o movimento LGBT
Drag queen é um personagem criado por artistas performáticos que se travestem ou se fantasiam, usam roupas extravagantes e maquiagens fortes. Normalmente, as apresentações de uma drag queen acontecem na noite em boates, eventos particulares e confraternizações. “Não há associação às questões de gênero e qualquer um pode ser uma drag queen”, disse Mikael.

“As minhas participações no movimento LGBT sempre foram individuais e tímidas. Era uma espécie de militância particular, desvinculada de qualquer grupo. Estudava sobre, debatia, mas sempre de forma individual. Depois que o nome da Chandelly ganhou espaço, foi que eu comecei a militar com os grupos e apoiar de forma mais pública e coletiva a causa”, disse.

 O trabalho de Chandelle é tão conhecido, que a nova série para o seu canal no Youtube e no Facebook, a Netflix contou a história de uma drag queen que anima crianças no hospital do câncer, a série em questão se chama “Os Originais” e conta histórias de pessoas comuns que fazem coisas extraordinárias.

A história de Dackson Mikael de Sousa que dá vida a Chandelly Kidman, drag queen de Teresina-PI já foi contada em programas de TV e Jornais, orgulhando as pessoas da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) e amantes da arte drag.

O episódio que foi ao ar ontem (19) já tem recebido críticas de pessoas homofóbicas, mas a produção ficou incrível, contando a história da Drag Queen e mostrando a realidade de sua vida. Uma das partes mais importantes é quando ela aparece voltando do hospital ainda montada no ônibus lotado e os olhares das pessoas, que não sabem de onde ela veio ou o que ela faz, apenas julgando o jovem vestido de drag queen.

O convite para que participasse da produção veio através do Instagram, todos os trajes usados no vídeo foram produzidos por ela e o namorado em seu novo ateliê. A Chandelly já ganhou o concurso Brazilian Drag e esse ano apareceu no programa da Eliana no SBT pelo sucesso de seu vídeo dançando Beyoncé em uma praça enquanto chovia.

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Centenas de homossexuais morreram pelas altas voltagens dos choques, de fome e de dor, no manicômio de Barbacena
   22 de abril de 2018   │     23:12  │  0

Homossexuais, prostitutas, negros, jovens rebeldes, pessoas tímidas, alcólatras e mendigos eram internados a força por serem incômodos para a sociedade.

Um dos maiores horrores da nossa história aconteceu em Minas, em Barbacena. Pouco conhecido hoje, o hospício de Barbacena foi cenário de horror, dor e morte, local comparado aos piores campos de Concentração Nazista. As pessoas, eram enviadas para Barbacena em vagões de carga, amontoados, como os Nazistas faziam com os Judeus quando os enviavam para seus Campos de Concentração.

Dai a semelhança.Nesse hospício foram mortos 60 mil pessoas durante seu funcionamento, uma média de 16 por dia. Foi constatado que a maioria dos que lá foram internados, não eram loucos, eram pessoas normais. Foram parar no hospício pela maldade humana. Eram…

Meninas que perderam a virgindade, bem como mulheres solteiras que engravidavam eram internadas pelas famílias para esconderem a “vergonha”;

Homossexuais, prostitutas, negros, jovens rebeldes, pessoas tímidas, alcólatras e mendigos eram internados a força por serem incômodos para a sociedade;

Gente rica e poderosa internavam lá seus adversários políticos e quem os prejudicasse;

Maridos, para ficarem com as amantes, internavam suas esposas. Ou internavam as amantes que lhes davam problemas.

Internados, acabavam ficando loucos de verdade. Viviam num ambiente de solidão, humilhações e sofrimentos constantes. Andavam nus, bebiam água de esgoto. Comiam fezes, bebiam urina e eram constantemente submetidos a altas descargas de energias elétricas. Muitos viviam acorrentados pelos pés e mãos ou mesmo trancados em jaulas, como animais, sem sequer sair para tomar sol. Os choques no hospício eram tão altos que até derrubava os muros das casas. Ao longe se ouvia gritos de dor e de socorro, mas ninguém fazia nada.

Quem era levado para o Hospício de Barbacena nunca mais voltava. Morriam pelas altas voltagens dos choques, de fome, de frio, por doenças causadas pela falta de higiene e de dor, muita dor. As familias dos que lá morriam eram informadas(quando eram informadas) da morte dos parentes internados meses depois, por carta ou telegrama. Nem tinham notícias de onde foram sepultados ou o que fizeram com os restos mortais dos que lá morriam.

Hoje o Hospício foi desativado. Virou museu que conta a história da loucura. A dor, os gritos, choques, choros e mortes ficaram no passado e na alma de Minas e do Brasil. Era um hospício do Governo e escolheram Barbacena para sediá-lo. Nesse local, milhares de pessoas, em sua maioria, foram internadas a força, vindas de todos os lugares de Minas e do Brasil. Uma mancha vergonhosa na história de Minas e de nosso país e um ar de assombro em perceber como o ser humano por ser tão mal a ponto de cometer e permitir tanta desumanidade, tanta maldade para com seu próximo.Essa é uma história triste, história essa que muitos não querem que venha a tona, que seja discutida e que seja mostrada.

Holocausto brasileiro: 60 mil morreram em manicômio
“Milhares de mulheres e homens sujos, de cabelos desgrenhados e corpos esquálidos cercaram os jornalistas. (…) Os homens vestiam uniformes esfarrapados, tinham as cabeças raspadas e pés descalços. Muitos, porém, estavam nus. Luiz Alfredo viu um deles se agachar e beber água do esgoto que jorrava sobre o pátio. Nas banheiras coletivas havia fezes e urina no lugar de água. Ainda no pátio, ele presenciou o momento em que carnes eram cortadas no chão. O cheiro era detestável, assim como o ambiente, pois os urubus espreitavam a todo instante”.

A situação acima foi presenciada pelo fotógrafo Luiz Alfredo da extinta revista O Cruzeiro em 1961 e está descrita no livro-reportagem Holocausto Brasileiro, da editora Geração Editorial, que acaba de chegar às livrarias de todo o País. Ainda que tenha semelhanças com um campo de concentração nazista, o caso aconteceu em um manicômio na cidade de Barbacena, Minas Gerais, onde ocorreu um genocídio de pelo menos 60 mil pessoas entre 1903 e 1980. 
Apesar de ser uma história recente, o fato de um episódio tão macabro permanecer desconhecido pela maioria dos brasileiros inspirou a jornalista Daniela Arbex. “Eu me perguntei: como minha geração não sabe nada sobre isso?”. A obra conta a história do maior hospício do Brasil, que ficou conhecido como Colônia e leva este nome por ter abrigado atos de crueldade parecidos com os que aconteceram na Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial. 
“Dei esse nome primeiro porque foi um extermínio em massa. Depois porque os pacientes também eram enviados em vagões de carga (ao manicômio). Quando eles chegavam, os homens tinham a cabeça raspada, eram despidos e depois uniformizados”, explica a autora. Daniela não foi a única a comparar Colônia ao holocausto. No auge dos fatos, em 1979, o psiquiatra italiano Franco Basaglia visitou o hospício com a intenção de tentar reverter o que ocorria no local. “Estive hoje num campo de concentração nazista. Em nenhum lugar do mundo presenciei uma tragédia como essa”, disse na ocasião.A Colônia foi inaugurada em 1903 e continua aberta até hoje, mas o período de maior barbárie aconteceu entre 1930 e 1980, quando pessoas eram internadas sem terem sintomas de loucura ou insanidade. Segundo o livro-reportagem, cerca de 70% das pessoas não tinham diagnóstico de doença mental. “Foi o momento mais dramático. A partir de 1930, os critérios médicos desapareceram. Em 1969, com a ditadura, o caso foi blindado. Não gosto de chamar assim, mas (entre 1930 e 1980) foi um período negro. Foi criado para atender pessoas com deficiência mental, mas acabou sendo usado para colocar pessoas indesejadas socialmente, como gays, negros, prostitutas, alcoólatras”, contou. 

Internação e sobrevivência 

Daniela contou ainda que a ordem para internação das pessoas na Colônia vinha dos mais influentes da sociedade na época. “Quem decidia é quem tinha mais poder. Teve pessoas que foram enviadas pela canetada de delegados, coronéis, maridos que queriam se livrar da mulher para viver com a amante. Não tinha critério médico nenhum. Tem documento que mostra que o motivo da internação de uma menina de 23 anos foi tristeza”, criticou. 
Ao chegarem ao manicômio, os internados tinham uma rotina “desumana”. Eles dormiam juntos em salas grandes sem cama. Todos tinham que se deitar sobre o chão do cômodo, que era coberto apenas por capim. Acordavam por volta das 5h da manhã e eram enviados para os pátios, onde ficavam até 19h, todos os dias. “Barbacena é uma cidade muita fria. Até hoje tem temperatura muito baixa para os padrões brasileiros. Pessoas eram mantidas nuas nos pátios em total ociosidade. Pensa bem que condição sub-humana”, disse a jornalista. 
Além disso, a alimentação na Colônia era precária, o que causou a desnutrição e, consequentemente, o desenvolvimento de doenças em vários dos “pacientes”. “Eles tinham uma alimentação muito pobre, de pouca qualidade nutritiva. Muitas pessoas passavam fome. Tem histórias de gente que em momento de desespero comeu ratos ou pombas vivas. (…) As pessoas acabavam tendo sede e bebiam urina ou esgoto porque tinha fossas no pátio. Não tinha nenhuma privacidade. Até 1979 era assim, faziam xixi e coco na frente de todo mundo”, explicou.
O fato dos homens, mulheres e até crianças ficarem pelados o tempo todo criava um clima de promiscuidade no manicômio. Há relatos de mulheres que foram estupradas por funcionário. “Consegui depoimentos nesse sentido de (estupro e abuso sexual), mas não consegui provar. Tem um caso de uma mulher que disse ter engravidado de um funcionário. Certo é que havia uma promiscuidade incrível. As pessoas eram mantidas nuas, dormindo juntas nessas condições. Crianças eram mantidas no meio dos adultos”, lamentou.
Além das condições insalubres, o hospício chegou a ter 5.000 pessoas ao mesmo tempo, enquanto a capacidade original era para 200 pacientes. Nesses períodos de maior lotação, 16 pessoas morriam todos os dias. “Não era uma coisa determinada, não existia uma ordem (para matar). As coisas foram se banalizando. Um funcionário via que outro fazia tal coisa com o paciente e repetia. As pessoas deixaram as coisas acontecerem. Não tinha essa coisa de vamos fazer com essa finalidade. Era exatamente por omissão”, comentou.
Venda de corpos 
Mas a morte dava lucro. A autora do livro conta que encontrou registros de venda de 1.853 corpos, entre 1969 e 1980, para faculdades de medicina. “O que a gente não sabia e conseguimos descobrir, com a ajuda da coordenação do Museu da Loucura, foi que 1.853 corpos foram vendidos para 17 faculdades de medicina do País. O preço médio era de 50 cruzeiros. Dá um total de R$ 600 mil reais, se atualizarmos a moeda. Tem documento da venda de corpos. De janeiro a junho de um determinado ano, por exemplo, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) recebeu 67 peças, como eles mencionavam os corpos”, afirma. 
Depois de algum tempo, o mercado deixou de comprar tantos cadáveres. Os funcionários passaram, então, a decompor os corpos dos mortos com ácido no pátio da Colônia, diante dos próprios pacientes, para comercializar também as ossadas.
O caos estabelecido na Colônia foi descoberto pela revista O Cruzeiro, que publicou em 1961 uma reportagem de denúncia de José Franco e Luiz Alfredo, entrevistado por Daniela Arbex no livro. A autora conta que, na época, houve comoção em torno do caso, mas as condições continuaram as mesmas no hospício. “Na época, o (ex-presidente) Jânio Quadros estava no poder. Ele falou que ia mandar dinheiro para a Colônia, falaram que ia fazer acontecer e nada. Não foi feito nenhum tipo de intervenção que fizessem os absurdos cessarem. De 1961 até 1979, a situação continuou tão grave quanto”, explica.
As “atrocidades” no hospício só começaram a diminuir quando a reforma psiquiátrica ganhou fôlego em Minas Gerais, em 1979. Hoje, o manicômio é mantido pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG) e conta com 160 pacientes do período em que o local parecia mais um “campo de concentração”. Ninguém nunca foi punido pelo genocídio.
FONTE: IG

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