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Sônia Sissy Kelly, a transexual que sobreviveu a ditadura
   15 de fevereiro de 2018   │     18:53  │  0

Nascida nos anos 60, Sônia Sissy Kelly enfrentou a violência do regime militar, viveu por anos na Europa, contraiu HIV e hoje luta pela visibilidade trans na Terceira Idade

Por: Isabela Alves

O Brasil é o país com o maior número de assassinatos contra membros da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), no mundo. Só em 2017, foram 445 homicídios motivados pelo ódio a LGBTs. O dado é de um levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB), segundo o qual o número de assassinatos do tipo cresceu 30% em 2017, em relação ao ano anterior. O grupo acredita, ainda, que o número real pode ser maior, já que muitas pessoas LGBTs não têm seu nome social e identidade de gênero garantidos no atestado de óbito.

A violência contra essa população não é uma novidade no Brasil. Na época da Ditadura Militar, por exemplo, essas pessoas foram alvo de perseguições, censura e chegavam até a ser internadas em hospitais psiquiátricos. Tudo isso porque representavam uma “ameaça à ordem moral e à família tradicional brasileira”.

Os relatos das pessoas LGBTs que sobreviveram a essa época são impressionantes e mostram o quanto a intolerância às diferenças no Brasil é algo forte. Sônia Sissy Kelly é um exemplo disso. Ela é uma mulher transgênero que viveu na época da Ditadura Militar e sofreu diversas violações de direitos por ter assumido sua identidade. Atualmente ela continua lutando pelos direitos de transexuais e travestis, e pela sua sobrevivência.

Apoio familiar e transição de gênero

Nascida em 6 de abril de 1956, no estado do Espírito Santo, Sônia veio de uma família humilde de agricultores. Filha de pai analfabeto e mãe semianalfabeta, ela é a quinta filha de uma família de 13 irmãos. Não teve oportunidade de estudar além da quarta série, porque precisou trabalhar no campo para ajudar com o sustento da família.

Apesar de ter nascido em uma época extremamente conservadora, sua família sempre a aceitou e lhe deu apoio. “Os pais são os últimos a saber da orientação sexual do seu filho e, quando sabem, eles procuram negar por medo de que essa sexualidade não seja bem recebida pelas pessoas. No entanto, eu acredito que as pessoas LGBTs que têm apoio da família têm muito mais coragem de enfrentar a sociedade”, conta.

Imagens de Sônia aos 17, 22 e 27 anos de idade

Sônia iniciou a sua transição na adolescência, aos 17 anos. Por não ter acesso a muitas informações na época, ela não compreendia as mudanças que estavam ocorrendo em sua mente e seu corpo. Eu não tinha consciência do que era uma transexualidade, não sabia nada sobre questões de gênero e o mundo LGBT. Eu saí de casa como Idelci Lopes e fui buscar o meu eu, a minha Sônia Sissy Kelly que eu nem conhecia ainda”.

Ainda muito jovem, se mudou para a praia de Carapebus, uma serra boêmia no litoral de Vitória (ES), e lá encontrou pessoas com as quais se identificava. Algumas já estavam com suas transições completas e outras estavam na fase de transição, assim como ela.

“Até aquele momento eu nunca tinha tirado minha sobrancelha, não tinha nem furado a orelha… Sim, eu escolhi ser uma mulher transexual e sabia que só poderia estar completamente realizada sendo mulher. Essa transição não foi feita da noite para o dia, foi construída. Eu moldei o meu corpo, a minha mente e a minha alma”, explica.

Prostituição e Ditadura Militar

As mulheres transexuais e travestis enfrentam desafios diários nas suas vidas e um deles é a inclusão no mercado de trabalho. Muitas pessoas acreditam que a população de transexuais e travestis esteja ligada a profissões sexuais, mas, na realidade, muitas vão para essa vida porque esta é a única alternativa que lhes resta.

Por falta de políticas públicas que deem apoio a elas, essas pessoas acabam excluídas, marginalizadas. Sônia sentiu essas dificuldades e acabou seguindo o caminho da prostituição para sobreviver. “Nós temos pessoas sim que são profissionais do sexo, mas porque foram obrigadas a cair nessa profissão”.

Na época em que começou a sua transição, em 1974, o Brasil estava passando pela Ditadura Militar, regime autoritário que colocou em prática a censura, perseguição política, a supressão de direitos e a repressão, e Sônia sofreu na pele a crueldade e os abusos dos policiais.

Chegou a ser internada quatro vezes, foi transferida de cidade, e sofreu diversas torturas em um sanatório, com eletrochoques, por conta de suas vestes e penteados. Qualquer manifestação de sexualidade fora do padrão cis normativo era considerada doença mental. “A segurança pública nos violentava demais e tirava todos os nossos direitos, inclusive de ser quem éramos”, relembra Sônia.

Homossexualidade no Brasil e na Europa

Sônia no seu tratamento contra o HIV

Em 1984, resolveu se mudar para a Europa e ficou lá durante sete anos. Nesse tempo, ela morou em vários países, como Espanha, França, Itália, Suíça, Alemanha e Portugal. “Não vamos dizer que o Brasil é o único país que viola os direitos das pessoas LGBTs, mas os países da Europa estão bem mais evoluídos para lidar com as questões de gênero, sexualidade e até mesmo as pessoas em situação de rua”, explica.

Em 1991, quando vivia em Portugal, descobriu ter o vírus HIV e decidiu voltar para o Brasil. Assim, ela começou a trabalhar em prol de questões como prevenção, conscientização e redução de danos do HIV/AIDS“Na descoberta do HIV, eu tive que voltar para o Brasil para refletir minhas ações, e recomeçar minha vida junto da espiritualidade maior e junto do ativismo social”, conta.

Ativismo

Chegando no Brasil, Sônia se juntou à Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS, em Belo Horizonte (MG), e também trabalhou no Gapa (Grupo de Apoio à Prevenção da Aids). Já em 2008, fundou a Associação do Núcleo de Apoio e Valorização à Vida de Travestis, Transexuais e Transgêneros do DF e Entorno (Anav Trans) e também iniciou seu ativismo social dentro da população em situação de rua pela Pastoral da Rua, Fórum da População de Rua e no Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para População em Situação de Rua (CIAMP Rua).

“Minha maior bandeira de luta é pelo direito do nome social garantido, acolhimento institucional e pelo reconhecimento das identidades de gênero das mulheres travestis e transexuais. Já tivemos avanços, estamos no caminho certo e um dia vamos chegar lá”, comenta.

No Brasil, para conseguir mudar o nome e o sexo no RG, é preciso apresentar um laudo de um psicólogo e de um psiquiatra atestando que a pessoa “sofre de transexualismo”, termo do Catálogo Internacional de Doenças, e todo esse processo pode durar cerca de um ano.

“Nós, mulheres transexuais e travestis, morremos com requintes de crueldade, mas ainda somos reconhecidas por parte da polícia/imprensa como homens. A diferença entre a Ditadura Militar e os dias atuais é que hoje podemos ser protagonistas das nossas próprias histórias. Somos cada vez mais empoderadas para lutar pelos direitos como saúde, educação de qualidade e por mais oportunidades no mercado de trabalho”, afirma Sônia.

Terceira Idade

Agora que está na terceira idade, com 61 anos, Sônia continua lutando para ter seus direitos garantidos, já que muitas vezes nessa fase da vida as políticas públicas não dão suporte a essa população e muitas sofrem com a invisibilidade social. “Quando a gente entra na terceira idade, começa a perceber nossas mudanças perante o espelho e para as travestis e transexuais essas mudanças são ainda piores”.

Por conta das mudanças corporais, Sônia conta que muitas travestis e transexuais perdem o cabelo, os pelos no corpo e o silicone pode chegar a ficar destruído. “A gente como profissional do sexo já não consegue se manter e muitas das vezes a gente tem até a vida sexual ativa, mas as pessoas discriminam essa sexualidade na terceira idade”, explica.

Sônia na Ocupação Carolina Maria de Jesus, MG

Depois de ficar dois meses esperando por acolhimento em um espaço feminino em um asilo e não ter conseguido, Sônia foi morar na Ocupação Carolina Maria de Jesus, em Minas Gerais. A ativista é aposentada desde 1991, porém por conta dos gastos com seus remédios e alimentação, ela se mudou para a ocupação e está lutando por uma moradia fixa.

Pessoas interessadas em ajudar a Ocupação Carolina Maria de Jesus podem doar alimentos no endereço Av. Afonso Pena, número 2300, Belo Horizonte – MG.

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A história por trás da bandeira arco-íris, símbolo do orgulho LGBT
   2 de junho de 2017   │     15:51  │  0

Baker nasceu em 2 de junho de 1951 em Chanute, no Estado americano do Kansas.

O criador de um dos principais símbolos da comunidade LGBT – a bandeira arco-íris – morreu aos 65 anos em sua casa em Nova York, nos Estados Unidos, informou a imprensa americana.

Gilbert Baker morreu enquanto dormia. As causas da morte ainda não foram divulgadas.

Mas qual é a história por trás de sua maior criação? E como a bandeira arco-íris se tornou um símbolo da comunidade LGBT?

Baker criou o estandarte, originalmente com oito cores, em 1978, para o Dia de Liberdade Gay de San Francisco, na Califórnia (Estados Unidos).

A bandeira original tinha as seguintes cores, cada uma representando um aspecto diferente da humanidade:

  • Rosa – sexualidade
  • Vermelho – vida
  • Laranja – cura
  • Amarelo – luz do sol
  • Verde – natureza
  • Turquesa – mágica/arte
  • Anil – harmonia/serenidade
  • Violeta – espírito humano

Naquela ocasião, 30 voluntários ajudaram Baker a pintar a mão as duas primeiras bandeiras arco-íris. Elas foram hasteadas para secar no último andar de galeria de um centro da comunidade gay em San Francisco.

Sujos de tinta, eles tiveram de esperar até a noite para lavar suas próprias roupas – já que não podiam lavá-las em lavanderias públicas.

Tempos depois, a bandeira foi reduzida a seis cores, sem o rosa e o anil. O azul também acabaria por substituir o turquesa.

Falando sobre sua criação, Baker disse que queria transmitir a ideia de diversidade e inclusão, usando “algo da natureza para representar que nossa sexualidade é um direito humano”.

Em 2015, o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa, adquiriu a bandeira para a sua coleção de obras, chamando-a de “poderoso marco histórico do design”.

“Decidi que tínhamos de ter uma bandeira, que uma bandeira nos encaixasse em um símbolo, o de que somos pessoas, um tribo”, disse Baker ao museu em uma entrevista.

“E as bandeiras são sobre proclamar poder, então é muito apropriado”, acrescentou na ocasião.

Bandeira arco-írisDireito de imagemREUTERS
Image captionO aniversário de 25 anos da bandeira foi celebrado em 2003

Homenagem

A bandeira arco-íris foi hasteada no centro de San Francisco para homenagear Baker.

Em sua conta no Twitter, o roteirista americano Dustin Lance Black disse: “Os arco-íris choram. Nosso mundo é bem menos colorido sem você, meu amor. Gilbert Baker nos deu a bandeira do arco-íris para nos unir. Nos unirmos de novo”.

O senador pelo Estado da Califórnia Scott Weiner afirmou que o trabalho de Baker “ajudou a definir o movimento LGBT moderno”.

Parada gay em Nova York (2005)Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionBandeira tornou-se símbolo da diversidade e da inclusão

Das Forças Armadas ao design

Baker nasceu em 2 de junho de 1951 em Chanute, no Estado americano do Kansas. Ele cresceu em Parsons, também no mesmo Estado, onde sua avó tinha uma pequena loja de roupas. Seu pai era juiz e sua mãe, professora.

De 1970 a 1972, ele serviu nas Forças Armadas americanas. Quando deixou o Exército, Baker aprendeu a costurar sozinho e usou a habilidade para criar pôsteres para marchas de protesto anti-guerra e a favor dos direitos LGBT.

Foi durante esse período que ele se tornou amigo de Harvey Milk, o primeiro parlamentar abertamente homossexual da história dos Estados Unidos.

Baker criou a bandeira arco-íris em 1978, mas se recusou a registrá-la como sua marca.

Em 1994, ele se mudou para Nova York, onde viveu até sua morte.

Naquele ano, ele criou a maior bandeira do mundo em comemoração ao 25º aniversário da Rebelião de Stonewall – como ficou conhecidas as manifestações da comunidade LGBT contra a invasão da polícia de Nova York ao bar Stonewall Inn, em Manhattan.

Os protestos anteciparam o movimento moderno de libertação gay e a luta dos direitos LGBT nos Estados Unidos.

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O adeus a Cláudia Oliveira, agente de prevenção que batalhou pela dignidade das travestis e pessoas com HIV/aids
   20 de junho de 2016   │     16:36  │  0

Morreu neste sábado (18), em São Paulo, a agente de prevenção Cláudia Oliveira, aos 51 anos, em decorrência de um tromboembolismo pulmonar. Ativista de direitos humanos, Cláudia sempre batalhou pela inclusão e dignidade das travestis e pessoas vivendo com HIV/aids.

Cláudia nasceu e passou sua infância no Rio de Janeiro. Formada como técnica de enfermagem, trabalhou no Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo, em 1999. Desde 2005, era agente de prevenção, no SAE Lapa, pelo Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo.

“A Cláudia sempre teve coragem de viver com doçura e solidariedade. Nunca entrou em histórias do mal. Ela sempre semeou cidadania e promovia as pessoas”, conta Nair Brito, ativista e uma das fundadoras do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP).

Segundo Maria Clara Gianna, coordenadora do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, antes de atuar no CRT-SP, Cláudia desempenhava um trabalho de atenção mútua na Casa de Apoio Brenda Lee, que acolhe o público GLBTT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) portadores de HIV/aids.

“Meu primeiro contato com ela tem mais de 17 anos. Eu admirava muito o carinho e força que ela tinha para ajudar as pessoas. Ela era o vínculo entre a Casa de Apoio Brenda Lee, onde era voluntária e o CRT-SP. Ela se preocupava muito em melhorar as condições de vida da população de travestis e transexuais. Sempre convivemos de uma maneira bem próxima, o diálogo sempre foi muito aberto. Ela foi uma grande militante e pessoa maravilhosa. Tinha uma postura admirável. Agora, fará muita falta”, diz Maria Clara.

“Cláudia foi uma lutadora que semeou cidadania. Sempre acolhendo, auxiliando e espalhando amor. Tivemos uma relação próxima e compartilhamos bons e alegres momentos. Eu, particularmente, tenho muita gratidão e carinho por ela, que deve ter sido recebida com muito amor e respeito por Deus. Foi o que nos deixou por aqui: exemplos de amor e respeito”, afirma Roseli Tardelli, diretora desta Agência

O enterro será realizado neste domingo (19), no Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, localizado na Av. João Marcelino Branco, S/N, na zona norte de São Paulo.

 

Redação da Agência de Notícias da Aids

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Biografia de Lou Reed fala de tratamento de choque e homossexualidade
   8 de junho de 2016   │     0:00  │  0

No livro, o autor Victor Bockris narra a personalidade do cantor e compositor nova-iorquino que esteve à frente do Velvet Underground, banda que revolucionou o rock nos anos 60

Recentemente lançada no Brasil pela editora Aleph numa versão atualizada, a biografia “Transformer – A História Completa de Lou Reed” – publicada originalmente em 1994, quando Lou tinha 52 anos -, promete reacender a chama em torno de um dos artistas mais emblemáticos e controversos da história da música, morto em outubro de 2013, aos 71 anos.

O título é uma referência ao clássico disco de 1972, seu maior sucesso fonográfico produzido por David Bowie e o guitarrista Mick Ronson. “Lou Reed foi a pessoa mais doce, charmosa, inteligente, articulada e engraçada que conheci em Nova York no início dos anos 70. Ele também podia ser o inverso. Drogas e álcool tiveram muito a ver com essas mudanças”, disse em entrevista ao Metrópoles o autor Lou Ree.

Nascido na Inglaterra e criado nos Estaod Unidos, Bockris fala com a propriedade de quem vivenciou de perto a cena junkie e hedonista nova-iorquina da época. Também autor nos anos 80 da biografia sobre o Velvet Underground, ele fazia parte da trupe do artista plástico Andy Warhol, no mítico estúdio da Factory, e trombava com as criaturas mais bizarras, insanas e criativas do mundo das artes. Lou Reed foi uma delas.

“Todos os meus livros têm dois aspectos em comum: eles se dedicam a grandes oradores, pessoas que passaram suas vidas construindo por meio da arte da poesia, das canções e entrevistas”, comentou Bockris, também autor das biografias do escritor beat, William Burroughs, dos roqueiros Patti Smith e John Cale, além do dândi Andy Warhol, os dois últimos parceiros de Lou nos anos seminais do Velvet. “Andy Warhol foi o grande líder e professor daquele futuro”, observou.

Registro envolvente e às vezes pessimista de uma trajetória marcada por conflitos pessoais, mergulhos quase suicidas no vício e polêmicas profissionais, “Transformer” também surge como uma espécie de radiografia sem filtro de uma carreira cheia de metamorfoses criativas e revoluções musicais. Judeu criado no Brooklyn, Nova York, Lou sonhou um dia em ser como Bob Dylan, mas driblou a hipócrita sociedade do seu tempo saltando para o lado selvagem da vida para se tornar uma espécie de Baudelaire da Música, com letras apologéticas sobre prostituição, travestis, universo gay, drogas e sexo. Ele rompeu barreiras, mas pagou um preço alto por isso.

Os tratamentos de eletrochoques a que foi submetido pelos pais na adolescência era uma tentativa frustrada de reprimir dois dos maiores pesadelos para uma família suburbana na década de 1950: a homossexualidade e o sonho de se tornar um rock star.

“Os horríveis tratamentos de choques pelo qual Lou Reed passou, no assustador Creedmore Mental Hospital, foram a primeira coisa que ele me contou quando o entrevistei em 1974, logo após o lançamento de “Rock ‘n’ Roll Animal”, lembrou o autor Victor Bockris, referindo-se ao visceral álbum ao vivo do artista, lançado em 1975. “Em outras palavras, era parte de sua imagem. Ele desafiou o status quo, o valor da obra de Lou Reed é como um teste decisivo da moral do seu tempo”, emendou.

Reflexos brasilienses
Foi o produtor e músico britânico Brian Eno quem fez a piada, numa entrevista nos anos 80. “O primeiro álbum do Velvet Underground vendeu poucas cópias, mas todos que compraram o disco montaram uma banda”. E deve ter sido mesmo. Em Brasília, por exemplo, no início dos anos 90, um jovem entre os seus 16 e 17 anos, se deixaria enfeitiçar pela psicodelia selvagem do famoso disco da banana. “Acho que o Velvet Underground é uma das bandas que me fizeram perceber o lado mais alternativo do rock, do proto punk, o wild side”, recorda Lucq Albano, líder e letrista do Suíte Super Luxo, importante grupo de rock alternativo da cidade. “Enfim, se há uma teogonia do rock, certamente o VU constela”, resume.

Vocalista da banda brasiliense Judas, o paulistano Adalberto Rabelo Filho não tem certeza se a primeira vez que deparou com o universo denso, sujo e iconoclasta das letras de Lou Reed foi por meio da voz de Michael Stipe, do R.E.M. – via “Dead Letter Office”, o raro álbum B- Side da banda de 1987 que continha três regravações de sucessos do Velvet: “There She Goes Again”, “Femme Fatale” e “Pale Blue Eyes” –, ou por conta da hedonista, “Venus in Furs”. Mas de uma coisa ele não esquece. O dia em que comprou o primeiro disco solo do ídolo, o clássico “New York”, lançado em 1989.

“Provavelmente foi lá na Modern Sound, em Copacabana. Não sei se por sorte ou sina, a casa da minha avó ficava em frente à loja, na Barata Ribeiro”, busca na memória o artista, confessando influência total do Velvet e seu mentor em sua formação como roqueiro. “Não só pela questão da iconoclastia e no confrontamento de valores, mas também pela qualidade e diversidade dos assuntos abordados nas letras. Ele não era de suavizar nada, doesse a quem doesse”, observa.

Para a jornalista e ensaísta Ellen Willis (1941 – 2006), Lou Reed cruzou a década de 70 deixando sua marca em todos os desenvolvimentos significante do rock ‘n’ roll, escreveu ela, fazendo alusão ao flerte do artista com o glam rock e o movimento punk, do qual é considerado padrinho. Para o músico Adalberto Rabelo Filho, passados 50 anos desde quando trilhou longa jornada noite adentro, no submundo vulgar da vida, o artista continua mais atual do que nunca.

“Infelizmente não tocamos músicas dele nos shows. Mas era uma boa. Acho que “There is No Time” (do álbum “New York”) teria ressonância nos dias de hoje”, provoca.

 

Leia a conversa de Victor Bockris com o Metrópoles:

Lou Reed e John Cale, seu grande parceiro nos anos de criação no Velvet Undergroud – “Lou Reed foi influenciado por várias pessoas em diferentes fases da sua vida. Acredito que John Cale foi a maior influência sobre as músicas de Lou Reed e os dois discos do VU que gravaram juntos (“The Velvet Underground and Nico – 1967 e “White Light & White Heat” – 1968). Antes de Cale, Lou estava escrevendo canções populares urbanas. Cale as transformou em sinfonias psicodélicas para uma época.”

Andy Warhol e o Velvet Underground – “Eu acredito que Andy Warhol teve também forte influência sobre a banda, em particular, no seu primeiro álbum, que ele realmente produziu. Warhol era a maior força na tomada do registro no estúdio. O apoio de sua presença e sua insistência para que o álbum fosse gravado cru em sua linguagem é um testemunho do poder de suas visões naquele mágico ano de 1966.”

O legado de Lou Ree – “Ele desafiou o status quo. Todos os artistas fazem. (…) Lou era um fabulista, era o seu trabalho tirar alguma coisa de suas experiências e transformá-la em parte de sua mitologia. Artistas não são pessoas perfeitas e Lou tinha muitas falhas. Um dos maiores paradoxos sobre sua carreira é que ela foi construída com o sucesso de excelentes escritores que escreveram de modo inteligente sobre ele durante quarenta anos de sua vida.”

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Conheça a história de Malva, a travesti mais velha do mundo 
   23 de maio de 2016   │     14:42  │  0

De origem chilena com 17 anos de idade, cruzou a Cordilheira dos Andes a pé até chegar  a Argentina, enfrentando a perseguição das travestis e transexuais praticada por vários governos.

Malva era chilena e faleceu em julho do ano passadona, aos 99 anos.

Malva era chilena e faleceu em julho do ano passado aos 99 anos.

Pesquisando sobre as políticas das mulheres T no mundo na atualidade sem querer me esbarro com essa vovózinha T, essa lindeza o nome dela é Malva a travesti mais velha do mundo, ela foi colunista no suplemento do jornal Página/12,  que pertence a equipe de O Weave, a primeira revista trans na América Latina. Sem saber usar computador, ela escrevia tudo em um caderno e em seguida em uma maquina de datilografia.

Minhas mãos estão cansadas mais “Minhas idéias, meus pensamentos estão muito coordenados. Coordeno bem”. dizia sempre Malva.
Malva sempre soube de sua identidade de gênero, era algo genético que não haveria como escapar, cruzou a Cordilheira do Andes a pé para encontrar a liberdade sexual, foi presa varias vezes pelos governos peronistas, pois não se encaixava no sistema moral, trabalhou como garçom, chefe de cozinha, nos melhores restaurantes de Buenos Aires, já mais assumida foi costureira e figurinista de grandes estrelas do teatro de revista em Corrientes, e pasmem a linda até viajou para cá no Rio de Janeiro onde trabalhou montando os figurinos de escolas de samba. 
Ela adora conversar, tanto que às vezes preferia ficar em silêncio por dias. Quando saia para comprar pão ou tomar o ônibus, as pessoas a chamavam de avó, relatava com muito orgulho.  
Ela dizia que “hoje é tudo maravilhoso, a presidente Cristina Kirchner, me deu o que eu sempre queria na minha vida , a Liberdade, tive o prazer de entrar na Casa Rosada como uma travesti, e a nossa presidente fez a lei de forma igual, isso nunca havia acontecido desde inicio da história desse país’. disse ela em lágrimas durante uma entrevista. 

Infelizmente Malva faleceu em julho do ano passado (2015), aos 99 anos, Malva, chilena que aos 17 anos cruzou a Cordilheira dos Andes para viver na Argentina em busca de liberdade. Ela manteve-se bem humorada em seus últimos dias de vida.

Enfim chegou ao final a vida de Malva, uma referência a mim, que como um cidadão que luta e defende a cidadania das Travesti, tenho na história dela, algo que gostaria que fosse semelhante na trajetória de vida também travestis e Transexuais, ter o direito de viver por muitos anos, morrer por idade e não em consequência da falta de direitos que a população de Travestis e Transexuais sofrem no Brasil e em muitas partes do mundo, principalmente nos países da America Latina.

A sua saúde se agravou durante a temporada de inverno, na casa de repouso na qual escolheu para viver voluntariamente. Malva estava sentindo muita solidão e a falta de familiares e amigos. “Como é triste relatar essa parte da história de Malva” As dores se tornaram mais fortes pelos sinais do tempo. Malva estava internada, em consequência de uma pneumonia, em um quarto da ala masculina, onde sua identidade de gênero não foi respeitada, o hospital alegou que o motivo foi que Malva não alterou a sua documentação para o gênero feminino, mas essa situação foi revertida a pedido de Carina Sama, que trabalhou com ela no documentário sobre a sua vida e que na época estava em fase de produção.

Malva em vida fez a doação de seu corpo à Faculdade de Medicina da UBA, para ser utilizado para fins científicos.

Sua voz e imagem agora permanecem para o Mundo T como uma testemunha e exemplo para a Luta das Travestis e Transexuais, na inclusão na sociedade e democracia.

Até um dia Malva, exemplo para tod@s Nós!

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