Category Archives: Homossexualidade

Relacionamento aberto entre casais gays funciona ?
   4 de junho de 2017   │     13:14  │  0

Para os adeptos à prática, amor não se divide, se multiplica.  E engana-se quem pensa que estamos falando do pensamento de uma minoria…

Dizem que poucas coisas na vida são mais complicadas que um relacionamento a dois. Mas, como o ser humano gosta mesmo é de um desafio, resolveu levar a questão a um outro nível: o relacionamento aberto.

Para os adeptos à prática, amor não se divide, se multiplica.  E engana-se quem pensa que estamos falando do pensamento de uma minoria…

A maioria dos casais gays hoje está em um relacionamento aberto!

Sim, você leu bem!

No Brasil eu não sei, mas pelo menos essa é a realidade dos australianos. Uma pesquisa realizada pela Universidade de New South Wales revelou que 32% dos entrevistados vivem esse tipo de união.

O estudo entrevistou 2886 homens que fazem sexo com homens. A diferença é pequena. Os que estão em uma relação monogâmica somam 31%. Na sequência, aparecem os que disseram praticar apenas sexo casual (23%) e os que não estão com a vida sexual ativa (14%).

Talvez pela liberdade sexual ou pela ideia de que dois homens têm necessidades carnais mais afloradas, o fato é que casais gays têm mais propensão a estarem em relacionamentos abertos que em estritamente monogâmicos.

Mas será que é mesmo possível separar amor e sexo?

Definindo as regras

relacionamento-aberto-gayPrimeiro, esclareçamos a definição: ter um relacionamento aberto não significa sair por aí pegando todo mundo de maneira desenfreada, mas sim estar disponível para conhecer, beijar e, quem sabe, até transar com outras pessoas interessantes.

É claro que isso demanda tempo e muita, mas muita conversa. Se você é o tipo de pessoa que não gosta muito de discutir o relacionamento (vale frisar que discutir não quer dizer brigar, mas sim conversar), é melhor pensar duas vezes antes de se aventurar por esse caminho.

Quando, onde e com quem são perguntas mais específicas, que vão depender de cada relação. Vocês podem ficar com outras pessoas apenas quando não estiverem juntos, ou somente quando estiverem juntos.  Podem estabelecer limites geográficos: apenas em casa ou em lugares sem amigos em comum. Podem estabelecer regras: apenas com pessoas desconhecidas, apenas se contar depois para o outro…

As especificidades de cada acordo ficam a critério dos envolvidos. Seja qual for o caso, o que interessa é que não há traição, uma vez que é algo pré definido entre o casal. Um ama o outro, mas desejam ter outras paixões fora do namoro, que supostamente teriam um prazo curto e jamais atrapalhariam a relação. Ok, entendido.

Ou, nem tanto… Se na teoria já parece complicado, na prática é mais difícil ainda!

Por: Verônica Vergara

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A história por trás da bandeira arco-íris, símbolo do orgulho LGBT
   2 de junho de 2017   │     15:51  │  0

Baker nasceu em 2 de junho de 1951 em Chanute, no Estado americano do Kansas.

O criador de um dos principais símbolos da comunidade LGBT – a bandeira arco-íris – morreu aos 65 anos em sua casa em Nova York, nos Estados Unidos, informou a imprensa americana.

Gilbert Baker morreu enquanto dormia. As causas da morte ainda não foram divulgadas.

Mas qual é a história por trás de sua maior criação? E como a bandeira arco-íris se tornou um símbolo da comunidade LGBT?

Baker criou o estandarte, originalmente com oito cores, em 1978, para o Dia de Liberdade Gay de San Francisco, na Califórnia (Estados Unidos).

A bandeira original tinha as seguintes cores, cada uma representando um aspecto diferente da humanidade:

  • Rosa – sexualidade
  • Vermelho – vida
  • Laranja – cura
  • Amarelo – luz do sol
  • Verde – natureza
  • Turquesa – mágica/arte
  • Anil – harmonia/serenidade
  • Violeta – espírito humano

Naquela ocasião, 30 voluntários ajudaram Baker a pintar a mão as duas primeiras bandeiras arco-íris. Elas foram hasteadas para secar no último andar de galeria de um centro da comunidade gay em San Francisco.

Sujos de tinta, eles tiveram de esperar até a noite para lavar suas próprias roupas – já que não podiam lavá-las em lavanderias públicas.

Tempos depois, a bandeira foi reduzida a seis cores, sem o rosa e o anil. O azul também acabaria por substituir o turquesa.

Falando sobre sua criação, Baker disse que queria transmitir a ideia de diversidade e inclusão, usando “algo da natureza para representar que nossa sexualidade é um direito humano”.

Em 2015, o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa, adquiriu a bandeira para a sua coleção de obras, chamando-a de “poderoso marco histórico do design”.

“Decidi que tínhamos de ter uma bandeira, que uma bandeira nos encaixasse em um símbolo, o de que somos pessoas, um tribo”, disse Baker ao museu em uma entrevista.

“E as bandeiras são sobre proclamar poder, então é muito apropriado”, acrescentou na ocasião.

Bandeira arco-írisDireito de imagemREUTERS
Image captionO aniversário de 25 anos da bandeira foi celebrado em 2003

Homenagem

A bandeira arco-íris foi hasteada no centro de San Francisco para homenagear Baker.

Em sua conta no Twitter, o roteirista americano Dustin Lance Black disse: “Os arco-íris choram. Nosso mundo é bem menos colorido sem você, meu amor. Gilbert Baker nos deu a bandeira do arco-íris para nos unir. Nos unirmos de novo”.

O senador pelo Estado da Califórnia Scott Weiner afirmou que o trabalho de Baker “ajudou a definir o movimento LGBT moderno”.

Parada gay em Nova York (2005)Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionBandeira tornou-se símbolo da diversidade e da inclusão

Das Forças Armadas ao design

Baker nasceu em 2 de junho de 1951 em Chanute, no Estado americano do Kansas. Ele cresceu em Parsons, também no mesmo Estado, onde sua avó tinha uma pequena loja de roupas. Seu pai era juiz e sua mãe, professora.

De 1970 a 1972, ele serviu nas Forças Armadas americanas. Quando deixou o Exército, Baker aprendeu a costurar sozinho e usou a habilidade para criar pôsteres para marchas de protesto anti-guerra e a favor dos direitos LGBT.

Foi durante esse período que ele se tornou amigo de Harvey Milk, o primeiro parlamentar abertamente homossexual da história dos Estados Unidos.

Baker criou a bandeira arco-íris em 1978, mas se recusou a registrá-la como sua marca.

Em 1994, ele se mudou para Nova York, onde viveu até sua morte.

Naquele ano, ele criou a maior bandeira do mundo em comemoração ao 25º aniversário da Rebelião de Stonewall – como ficou conhecidas as manifestações da comunidade LGBT contra a invasão da polícia de Nova York ao bar Stonewall Inn, em Manhattan.

Os protestos anteciparam o movimento moderno de libertação gay e a luta dos direitos LGBT nos Estados Unidos.

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Cis, trans, pan, intersexual: entenda os termos de identidade e orientação sexual
   2 de março de 2017   │     1:12  │  0

A primeira coisa a saber é que a identidade de gênero é o modo como a pessoa se sente dentro do corpo com o qual nasceu.

A primeira coisa a saber é que a identidade de gênero é o modo como a pessoa se sente dentro do corpo com o qual nasceu.

O que às vezes causa confusão em quem é menos engajado nas causas de diversidade sexual são os diversos termos utilizados para descrever identidade, orientação e desejo sexuais. E não só entre os trans. Cisgênero, identidade não-binária, intersexualidade: o que significa cada um desses termos? Conversamos com Eric Seger de Camargo, bolsista do Núcleo de Pesquisa sobre Sexualidade e Relações de Gênero (Nupsex) da UFRGS e membro do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat), que nos ajudou a explicar (e entender) as coisas.

Orientação sexual ou com que tipo de pessoa eu gosto de me relacionar

Uma das camadas que constituem a sexualidade de uma pessoa é a sua orientação sexual. É aqui que se trata sobre os desejos e atrações. Quase todo mundo conhece os termos heterossexual (aquele que sente atração pelo gênero oposto) e homossexual (aquele que sente atração pelo mesmo gênero), mas há um espectro muito mais amplo de possibilidades: bissexual é aquele que se sente atraído pelos gêneros masculino e feminino, assexual é aquele que não tem desejo puramente sexual, pansexual é aquele que tem atração por todos os tipos de pessoas.

Mas o que, de fato, é gênero? 

É corriqueiro responder essa pergunta da maneira mais simples: quem tem pênis é do gênero masculino, quem tem vagina é do gênero feminino. Mas, atualmente, defende-se que o termo “identidade de gênero” passe a ser utilizado.

O que define, de fato, é a auto-identificação – resume Seger.

Ou seja, identidade de gênero tem muito mais a ver com a maneira como a pessoa se vê do que com o órgão genital que possui no meio das pernas. A partir daí, se utilizam dois termos: transgênero (pessoa que não se identifica com as características do gênero designado a ela no nascimento) e cisgênero (pessoa que se identifica com as características do gênero designado a ela no nascimento).

Thammy Gretchen, por exemplo: quando nasceu, os médicos disseram “é uma menina”. Ela cresceu e viu que, não, não queria ser uma menina, mas um menino – no conceito mais raso do termo. Gostava de meninas, não queria ter seios, gostava de sair sem camisa, tinha vontade de ter barba. Ou seja, transgênero.

– Muita gente diz que “um homem trans é um homem que nasceu mulher”. Se pensar assim, sempre vai dar legitimidade ao preconceito e ao discurso de que não é natural. Na verdade, foi dito que ela era de um sexo e, quando ela pôde pensar sobre isso, ela viu que não era – explica.

Então é sobre isso a discussão de banheiros masculinos e femininos?

Basicamente, sim. No início do mês, o governo federal garantiu que alunos podem usar os banheiros da escola de acordo com sua identidade de gênero. Independentemente do órgão sexual que têm, os alunos devem ter a permissão de usar o banheiro que mais se aplica à sua identidade de gênero. A nova lei também vale para uniformes escolares que são diferentes para meninas e meninos (distinção que, levando-se em conta tudo que já foi explicado, é pelo menos discutível, mas vá lá).

– Quando se levanta essa discussão, existe uma confusão muito grande entre orientação sexual e identidade de gênero. Parece que vai ter banheiro para gays e banheiro para héteros – diz Seger.

Não é isso. Identidade de gênero não tem nada a ver com orientação sexual. Há quem se identifique com o gênero feminino e se sinta atraída por pessoas que também se identificam com o gênero feminino e pessoas que se identificam com o gênero feminino e, ao contrário, se sentem atraídas por pessoas que se identificam com o gênero masculino – ou seja, identidade de gênero semelhante e orientação sexual totalmente diferente.

Para complicar um pouco mais: identidade não-binária

Entendeu? Então agora vamos para as identidades não-binárias. Falamos delas lá em cima, mas é uma boa hora para retomar. Todas essas identidades de gênero e orientações sexuais abrangem uma boa gama de pessoas. Mas e quem não se identifica com nenhuma delas? Existem as identidades não-binárias, que não se sentem confortáveis em uma divisão entre gênero masculino e gênero feminino. Talvez não se importem com isso, talvez se sintam atraídas por pessoas independentemente de identidade de gênero. O que for. A isso, costuma-se denominar identidade não-binária.

Mas como eu vou saber o que cada pessoa é?

A questão sexual é muito mais complexa do que esse texto de alguns parágrafos. Há especificidades em cada termo, há quem não goste de ser posto em uma caixinha com uma palavra, há os intersexuais (pessoas cuja anatomia não se encaixa no padrão macho/fêmea, o que um dia se chamou hermafrodita) e há quem não se identifique com nenhum desses termos e prefira utilizar outros. Por isso, Eric Seger resume:

– A melhor maneira de saber o que cada pessoa é e como deve se referir a ela é perguntando de que maneira ela se identifica. Simples.

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Assumir ou não a Homossexualidade ?
   6 de dezembro de 2016   │     0:23  │  0

Mesmo não vivendo na época da caça as bruxas, ser gay ainda é sinônimo de algo pejorativo, caricato, transgressor e anormal.

Entre tantas dúvidas e escolhas que devem ser feitas ao longo da vida do ser humano, nada se configura como mais difícil do que assumir a própria sexualidade. Ela está entre as mais polêmicas questões que atordoam os valores da nossa sociedade, principalmente quando não segue os padrões sócio-históricos e biologicamente estabelecidos por ela. É nesse momento que entra a homossexualidade, pois, como se sabe, ela ainda não é encarada com maturidade pela população, na qual prefere segregá-la a ter que entendê-la em sua plenitude. Devido a essa barreira preconceituosa que é criada, muitas pessoas sentem-se incapazes de assumir para a família, amigos e para o resto da sociedade que é gay, por puro temor de ser expulso de casa e do convívio social, do qual é atribuído a nossa educação como crucial para a convivência/sobrevivência com outras pessoas.

Se estivéssemos nos tempos áureos da inquisição, época em que a Igreja Católica regia as normas sociais, com certeza escancarar a homossexualidade não seria uma atitude bem acertada. Entretanto, atualmente os tempos são outros e mesmo com tanta discriminação e intolerância, é inegável os avanços educacionais que a nossa sociedade adquiriu quando nos referimos à homossexualidade. Então onde mora o medo de assumir tal posicionamento frente a outras pessoas? Por que muitos homossexuais ainda preferem viver as escondidas, praticando lascivamente as suas relações sexuais? Do que eles tanto têm medo?

Mesmo não vivendo na época da caça as bruxas, ser gay ainda é sinônimo de algo pejorativo, caricato, transgressor e anormal. Pejorativo, pois para alguns a homossexualidade está intimamente ligada à imoralidade/amoralidade, ou seja, imoral significaria dizer que estão acima da moral e amoral significaria sem moral. Caricatos por que ainda perdura o pensamento limitado de que todo gay é efeminado e com trejeitos femininos, como se todos eles não fugissem a risca nesse sentido. Nesse âmbito eles são vistos como transgressores, pois não se enquadram na realidade pré-moldada pela sociedade da qual fazem parte. E, por fim, anormais, uma vez que realizam práticas das quais não andam em conformidade com a maioria da população.

Por causa desse breve balanço social, aberto a outras inserções, muitos gays não se arriscam a assumir publicamente a sua homossexualidade. O primeiro desafio está em casa. Lá é sem dúvida o pilar de sustentação que manterá o individuo até que ele possa andar com as próprias pernas. Como dizer então para pai e a mãe, pessoas das quais devemos amor e gratidão e que esperam tanto de nós, algo desse tipo? Esse é uma das perguntas que ecoam, atormentando muitos que já passaram por essa situação. Em seguida, vem o restante da sociedade. Como as pessoas vão receber a noticia da minha orientação sexual? E nesse instante um medo incontrolável toma conta de você, dominando sua mente e fazendo-o fraquejar na hora de tomar a decisão final.

Não há uma receita pré-definida, nem tão pouco exemplos a serem copiados. Cada caso é único e cada pessoa sabe dos limites e dos pensamentos dos indivíduos que os cercam. Porém, na maioria das vezes, a posição mais acertada é assumir a sexualidade e aliviar esse peso que martiriza os ombros. De cara, a família deve ser a primeira a saber. Contar para aquele parente que se tem mais intimidade, seja irmão (a), primo (a), cunhado (a) e etc., ajuda, até chegar a uma instância maior: pai e mãe. Estes são os principais obstáculos a serem enfrentados, sobretudo quando não se há um bom diálogo para as questões de ordem sexual em casa. A mãe, que em geral é mais receptível a esses assuntos, deve ser a primeira a ser informada. Ela lhe ajudará a entender esse momento tão complexo da vida e lhe dará o apoio adequado. Já a figura paterna, geralmente enxerga com dificuldade esse assunto, mas, pouco a pouco vai cedendo. Vale lembrar que toda essa metodologia não é estanque e pode variar de família para família, de caso para caso. Apenas acredito que quando a família recebe a noticia de que o filho é homossexual, da boca dele, os transtornos são bem menores do que se outrem falasse.

Caso os seus parentes aceitem ou entendam a sua orientação e/ou identidade de gênero, ótimo. Caso isso não aconteça, não se desespere, pois, dependendo da sua índole, eles lentamente irão se acostumar com a idéia, aprendendo a respeitá-lo. Você só não pode cobrar algo deles do qual infelizmente eles não estão preparados, ainda. Lembre-se que há muito desconhecimento sobre a homossexualidade que resvala nos estereótipos amplamente conhecidos e propagados pela sociedade. Nesse momento o mais sensato é aguardar o tempo que cada família tem de digerir a noticia de ter um filho (a) gay.

Nada na nossa vida é de difícil resolução se não soubermos como dialogar. A homossexualidade é um exemplo crasso disso. Ela pode e deve ser amplamente vivida por qualquer pessoa, desde que se tenha respeito e maturidade. E não importar o seu perfil: machudo, efeminado, Drag Queen, travesti ou qualquer outra ramificação do tipo. O que realmente interessa é a sua plena convicção de felicidade. Se você acredita que viver as escondidas, sem que ninguém saiba da sua orientação sexual, lhe faz bem, então não deixe que ninguém furte isso de você. Mas, se por outro lado, você pensa que a felicidade está em assumir para todos que você é feliz por que é gay, ótimo. Seja qual for a sua escolha, não deixe de assumir antes para si próprio que é homossexual e que isso lhe faz bem, completo e vivo. Não veja a sua homossexualidade como um tormento, um peso. Assumir para si próprio, aceitando-se, facilitará para que outras pessoas lhe aceitem também e lhe vejam com outros olhos. E seja feliz sempre!

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Todos sabem que Santos Dumont era gay, mas ninguém diz, afirma o escritor Arthur Japin
   14 de julho de 2016   │     0:00  │  0

Autor de “O homem com asas”, romance histórico que tem o aviador como personagem, estará nesta quinta na Feria do Livro de Canoas.

O escritor Arthur Japin: feliz em tornar Santos Dumont mais conhecido do público internacional

O escritor Arthur Japin: feliz em tornar Santos Dumont mais conhecido do público internacional

Se há algo em comum entre os romances históricos do escritor holandês Arthur Japin, segundo o próprio, é o fato de tratarem de pessoas que não se enquadram na sociedade e inventam uma forma criativa de “sobreviver”.

O mais recente desses personagens é Santos Dumont (1873 — 1932), o pioneiro brasileiro da aviação retratado no livro O homem com asas (Planeta, 288 páginas, R$ 41,90), cujo lançamento traz Japin à Feira do Livro de Canoas. Nesta quinta, às 19h30min, no Auditório da Praça da Bandeira, Japin conversa com o público ao lado do companheiro, o escritor americano Benjamin Moser, biógrafo de Clarice Lispector e ensaísta. Na entrevista a seguir, o autor defende que Santos Dumont é oficialmente o inventor da aviação — antes dos irmãos Wright — e argumenta que o suicídio do brasileiro esteve ligado à sua decepção com o uso militar do avião na Revolução Constitucionalista de 1932.

Como o senhor se interessou pela vida de Santos Dumont?

Já escrevi nove romances e todos são sobre o mesmo tipo de gente: alguém como Santos Dumont,uma pessoa solitária que não se enquadrava direito na sociedade. Ele era diferente sob muitos aspectos e teve que encontrar um jeito de sobreviver. Estou interessado em pessoas que fazem o impossível. Santos Dumont tinha dificuldade em ficar grudado no chão e de estar entre as pessoas. Ele era muito sensível, diferente, e desenvolveu um jeito de ir para cima.

Há uma controvérsia sobre quem foi o pioneiro da aviação: Santos Dumont ou os irmãos Wright. Qual foi sua conclusão?

Para mim, não há dúvida de que ele foi oficialmente o primeiro. Houve um grande prêmio entregue por um americano à primeira pessoa a voar em uma máquina mais pesada que o ar, e ele ganhou. Apenas depois disso os irmãos Wright disseram que foram os primeiros, mas ninguém os havia visto voar, exceto a irmã. Talvez eles tenham sido os primeiros, mas por muito tempo o mundo viu Santos Dumont oficialmente como o pioneiro. Depois, os irmãos Wright ficaram com essa honra, em parte devido ao próprio Santos Dumont. Com a I Guerra Mundial, ele estava tão decepcionado que o avião estava sendo usado para bombardear e matar, que ele não queria ter algo a ver com aquilo. De certa forma, deixou os irmãos Wright ficarem com a culpa pela invenção. Mas para mim ele é o vencedor.

O senhor é especialista em romances históricos. O que mais admira nesse gênero?

Minha inspiração sempre vem de uma pessoa real. De certa forma, é como se apaixonar: você vê alguém e quer saber tudo sobre ele. Você vê uma pessoa que teve uma vida difícil e questiona: o que aconteceu com você, como você sobreviveu? Responder a essa pergunta é o que me faz querer escrever o livro. Então, é a vida real que me inspira, não a vida ficcional. A parte maravilhosa é que você traz essas pessoas de volta à vida. Aqui na Holanda ninguém sabia quem era Santos Dumont, e agora todos sabem. Você faz as pessoas se lembrarem de alguém que havia sido esquecido. Sempre tento ser fiel aos fatos o máximo possível, mas o que me interessa realmente é a camada emocional além dos fatos: como essa pessoa sobreviveu.

Como você lida com a linha tênue entre fato e ficção? Preenche as lacunas com ficção?

Quando você estuda alguém, há uma voz que começa a emergir de alguma forma. Não importa o quanto se pesquisa um projeto, você nunca encontra tudo. Há sempre grandes lacunas. Nesse ponto, a voz responde quase por si mesma. Eu sei que se trata da minha voz, embasada por tudo que sei, mas é algo que faz parte da história. O aspecto maravilhoso é que, muitas vezes em minha vida de escritor, as pessoas continuaram me enviando materiais mesmo depois que os livros foram publicados, e descobri muito mais sobre o que escrevi. Muitas coisas que essa voz me diz ou que eu inventei correspondiam à verdade. Por outro lado, há muitos fatos reais em que as pessoas não acreditam, pois a vida real frequentemente é mais inacreditável do que a ficção. Às vezes, a verdade é algo que inventei e às vezes é algo tive que esquecer porque as pessoas não acreditariam.

Como foi sua pesquisa sobre a homossexualidade de Dumont, assunto ainda tabu no Brasil?

Fora do Brasil, não é um tabu. Ninguém na Holanda se importa se alguém é gay ou não. Isso é uma coisa muito brasileira. É um tabu aí, eu sei. Uma vez que você olha os materiais, as fotos, as entrevistas, as coisas escritas na época, não há dúvida de que ele era gay. É muito fácil de ver. No Brasil, todos sabem, mas ninguém diz. Não deveria importar. É apenas uma pessoa que ama, fica desapontada e ama de novo. Não há grande diferença. Vai ser interessante ver como as pessoas vão reagir. Sei que alguns não acreditarão que ele era gay. A questão que deveria ser feita é por que essas pessoas têm dificuldade em aceitar.

O suicídio de Santos Dumont estava ligado de alguma forma com a frustração dele com o uso do avião para a guerra?

Não há dúvida sobre isso. Ele estava desapontado, pois desejava a paz mundial. Seu sonho era que todos tivéssemos um pequeno avião do lado de fora de nossas casas, como temos um carro hoje. A ideia era que você pudesse pegar esse pequeno avião ou um balão para encontrar seus vizinhos ou ir aos países vizinhos. Você poderia aterrissar lá e mostrar que é igual a eles e que eles são iguais a você. Se todos entendessem isso, não haveria motivo para ter medo dos vizinhos. Ele realmente achava que isso traria a paz mundial. E, claro, aconteceu exatamente o oposto. Ele estava doente no fim da vida também, mas acredito que a frustração sobre o uso militar do avião (na Revolução Constitucionalista de 1932) deve ter sido uma das razões pelas quais ele decidiu que não queria mais viver.

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