Category Archives: Ponto de vista

De quem é a culpa pelo assassinato movido a ódio dentro da estação do metrô?
   28 de dezembro de 2016   │     14:33  │  0

Todos ficaram horrorizados com a brutalidade do crime que matou Luis Carlos Ruas no Domingo de Natal, na estação Pedro II do Metro-SP.

Um crime movido a ódio contra os homossexuais e uma moradora de rua transsexual, justamente a quem Luis foi defender com extrema coragem e com certeza será sempre lembrado por todos lgts.

De quem é a culpa?

Nas redes sociais muitas publicações se apressaram em responsabilizar os funcionários do Metro, da Estação e segurança, dizendo que não havia ninguém para impedir o que aconteceu. Colocando a culpa do ocorrido nos trabalhadores metroviários.

Em primeiro lugar, a culpa é do ódio que existe no país onde a homofobia não é crime. O ódio disseminado por políticos como Malafaia e Bolsonaro, que vivem de privilégios de cotidianamente incentivam a criminalização dos LGBTs, utilizando -se de um falso discurso religioso para ganhar dinheiro com suas igrejas e manipular a população.

Depois, o fato de não ter ninguém na estação, não tem outro motivo, do que já muito denunciado pelos metroviários , que é a política de privatização de Alckmin que está acabando com o quadro de funcionários do Metro. Não é somente em Pedro II que há apenas 3 ou 4 funcionários trabalhando para dar conta de uma estação inteira, mas em todos os lugares.

Nós metroviários somos totalmente solidários aos familiares de Luis e repudiamos esse crime de ódio que aconteceu no Metro, assim como repudiamos a política de privatização de Alckmin que deixa em risco os funcionários e a população!

Fonte: Sindicato dos Metroviários SP

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Ele não curte os afeminados. Isso é gosto ou preconceito?
   3 de dezembro de 2016   │     16:31  │  0

– Você é afeminado? – Sim… – Desculpa, cara, mas gosto dos discretos.

– Você é afeminado?
– Sim…
– Desculpa, cara, mas gosto dos discretos.

Não é roteiro de novela, não é trecho de livro, mas poderia muito bem ser o primeiro diálogo entre dois gays em uma sala de bate-papo. Pelo menos uma vez na vida você já deve ter recebido uma frase como essa, seja do bonitinho do Tinder, do tarado do Grinder, da tia solteirona do Terra ou da “hetera” curiosa do UOL.

E às vezes a conversa nem precisa ir tão longe… Alguns gays já deixam bem claro no nickname ou no perfil o que procuram, para que não haja dúvida: “busco homens de verdade / quero macho autêntico”.

Ok, não tá fácil para ninguém, nem para as pintosas, nem para as parrudas, nem para as masculinas. Todas sofrem, todas querem o cara perfeito, rico, inteligente, gostoso, engraçado, fiel e bem dotado.

Porém, vocês terão que concordar comigo que, não importa quão forte seja a seca, os maiores prejudicados sempre são os afeminados.

Parece até que no universo gay ser afeminado é o mesmo que ser degradante. E, se você se define assim, já é logo descartado: a paquera se apressa em dizer “é que eu não sou afeminado e nem curto”.

O machismo escondido em forma de deboche está presente na fala dos homens gays que ainda consideram que uma pessoa pode ser gay mas…”pra quê desmunhecar?”. Afinal, na cabeça deles, os que mais envergonham a comunidade LGBT são aqueles “com jeito de mulher”.

Homofobia: uma história antiga

E a verdade é que, infelizmente, isso não é uma tendência dos tempos modernos. Bem longe disso. Historicamente, os homens afeminados sempre foram alvo de discriminação.

Nas relações sexuais homoafetivas da Roma Antiga, por volta dos 100 anos a.C, os afeminados – diretamente associados ao homens passivos na relação sexual – eram ridicularizados e relacionados à figura da mulher que, na sociedade romana, tinha um papel insignificante.

Muitos séculos depois, em meados de 1933, campos de concentração nazistas começaram a receber os primeiros presos homossexuais. Marcados inicialmente com a letra A, e mais tarde com um triângulo cor-de-rosa, os novos presos eram vistos como doentes e pervertidos e foram submetidos a procedimentos que prometiam curá-los. Em 7 de junho de 1954, após ser condenado à castração química por sua orientação sexual, o matemático britânico Alan Turing, responsável pela decodificação de códigos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, cometeu suicídio. Quinze anos mais tarde, a polícia de Nova York entrou em confronto com um grupo de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros em um bar nos Estados Unidos, em um episódio emblemático da luta por direitos iguais no mundo todo.

Esses são apenas alguns exemplos das consequências de um dos maiores preconceitos existentes na sociedade: a homofobia.

Diante do triste backgroundhistórico, não seria exagero dizer que reproduzir o mesmo comportamento hoje é um retrocesso e, pior, uma afronta às conquistas da diversidade.

Tanto se lutou – e se continua lutando – para combater a discriminação, a intolerância, a ignorância, e acabamos vendo a mesma homofobia sendo praticada dentro de uma comunidade que deveria somar forças. É lamentável constatar que existe preconceito entre pessoas que lutam pelos mesmos direitos.

E não para por aí: embora mais raro, conheço homens heterossexuais mais femininos. Muitos deles também sofrem um certo preconceito geral, levantando a “lebre” de que possam ser gays. Aliás, até gays duvidam quando um homem é afeminado e diz que não é gay, como se a feminilidade fadasse a pessoa à homossexualidade.

“Se quisesse afeminado, pegava mulher”

Uma coisa é verdade: gosto é gosto e não se discute. Quanto a isso, não há dúvidas.

Ninguém é obrigado a sentir atração por um perfil pelo qual simplesmente não rola química. Uns gostam dos mais altos, outros dos baixinhos. Alguns preferem os mais extrovertidos, outros têm tara mesmo pelo tímidos… Atração é uma questão de gosto que não se pode julgar, cada um tem o seu.

Porém, muitos discursos por aí são bem contraditórios, já que todos os gays são homoafetivos e todos estão no “mesmo barco”.

Já cansei de ouvir: “ eu curto homem, para mim tem que ter corpo e jeito de macho” Ou: “Se fosse para ficar com afeminado, estaria com uma mulher”.

Tudo bem que você prefira um boy mais másculo, tudo bem que não se sinta atraído pelos tipos mais delicados. Está no seu direito. Agora, afeminado ou não, todos ainda são homens, gata. Portanto, comentários desse tipo são, sim, preconceituosos.

E que fique bem claro: ninguém está dizendo aqui que é preconceito não querer relacionar-se com um afeminado. Nada disso. Preconceito mesmo é não tratá-los com respeito. 

Por que o gay afeminado é discriminado?

Basta fazer uma rápida pesquisa em sites de relacionamento e salas de bate-papo gay para constatar que há preferencias por todos os tipos: novos ou idosos, magros, malhados ou gordos, negros ou brancos, machos e discretos. Difícil mesmo é encontrar alguém procurando um gay afeminado.

E por que isso acontece?

Muitas pessoas, erroneamente, associam a imagem do gay afeminado com a bicha louca, invasiva e escandalosa. Para elas, essa liberdade declarada é querer chamar a atenção, levantar bandeira e, de certa forma, afrontar a sociedade.

Além disso, gays afeminados sofrem mais preconceito, inclusive de gays, porque, na cabeça machista de muita gente (alguns homossexuais inclusos), é estranho – ou feio – ver um homem com jeito de mulher.

Nada mais compreensível, já que convivemos com o machismo desde que nascemos. A gente cresce ouvindo termos como “palavra de homem” para fazer uma promessa. Quando mente “você não é homem”. Se você não tem força, te falam “seja homem!”, se chora  “é mulherzinha”, se fala sem firmeza ou não tem a voz grave, te mandam “falar como homem!”.

Outra razão é a necessidade de segredo e discrição.  Afinal, os afeminados podem colocar em risco o anonimato do casal, tão indispensável para alguns boys.

Mal sabem que, sim, existe algo pior do que se trancar no armário: tentar empurrar de volta para lá quem já pôs a cara no sol e tomou banho de purpurina.

Se a liberdade sexual deve ser ampla o suficiente para permitir que um homem decida amar outro homem, por que detalhes secundários como falar grosso ou desmunhecar, ter o cabelo batidinho ou com mechas, usar calça larga ou justa devem ter tanta importância?

Conclusão

Ele não curte os afeminados. Isso é gosto ou preconceito?

Na minha opinião, não sentir atração é gosto. Eu não me sinto atraída por homens muito mais velhos, por exemplo, e não me considero preconceituosa por isso.

Agora, considerá-los inferiores e degradantes já extrapola qualquer limite de bom senso. Onde há falta de respeito, há preconceito. 

Afeminado sim. E com muito orgulho!

Tá e eai? Eu sou afeminado, o que fazer? Forçar uma barra para não parecer afeminado? Simular toda uma linha machinho?

NÃO! Esqueça isso, mana.

Fingir ser algo diferente do que você é naturalmente para ser amado pela família, aceito pelos amigos ou desejado pelo boy é uma ilusão. Afinal, eles não se encantariam por você, e sim por uma pessoa imaginária.

Além disso, tentar parecer ser o que não é cansa, desgasta, entristece. Sem falar que ninguém consegue manter o personagem para sempre, um dia a máscara cai.

Pense comigo: é muito melhor saber que quem gosta de você gosta de verdade… de você. E se o boy quis ficar com você, foi com você e não com aquele seu “eu imaginário”.

Nunca mude o seu jeito nem perca a sua essência por boy nenhum!

Dê pinta, dê pinto, dê o cu. Dê o que você quiser, mas seja você.

“So don’t be afraid to let them show
Your true colors
True colors are beautiful,
Like a rainbow”

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O passivo versátil e o machismo gay
   8 de novembro de 2016   │     0:00  │  0

Esse machismo cultural enraizado causa estranheza quando conhecemos um passivo que é feliz.
O termo “orientação sexual” substitui a expressão “opção sexual”, de escolha consciente virou desejo orientado pelo cérebro.

O termo “orientação sexual” substitui a expressão “opção sexual”, de escolha consciente virou desejo orientado pelo cérebro.

Nunca vi uma pessoa dizer que é passivo versátil com orgulho, a exemplo dos ativos que adoram este título secundário. Ora, ou se é versátil ou não. Não gosto de supor generalizações mas podemos dizer que todo gay gosta de pênis, e que gosta de outro homem, normalmente outro gay… Bem, mas por que tanto medo de assumir a passividade?

Há problemas sérios com muitos gays pseudo ativos. Assim como mulheres que não conseguem o orgasmo, muitos homens não sentem prazer na posição de passivos. Não necessariamente eles não são passivos, mas em muitos casos não se permitem ser. Há um machismo dominante, que joga os passivos para a inferioridade, que reproduz a situação enfrentada pelas mulheres na sociedade. Passivos que tiveram muitos parceiros são “putas”, ativos que tiveram muitos parceiros são “pegadores”. Passivos são “mulherzinha”, como nos bullyings lá da infância, e que mal tem nisso? A mulher não é inferior ao homem, ora… mas para alguns gays criados em ambientes machista, ou seja, quase todos, é sim. #sejoga

Esse machismo cultural enraizado causa estranheza quando conhecemos um passivo que é feliz, se assume como passivo, fala naturalmente sobre o assunto e escacara nossos preconceitos. Se ele for efeminado ainda, choca mais. E quem se choca ainda nos dias de hoje? Todos nós, os caretas que não podemos ver as nossas limitações intelectuais, culturais, mentais, físicas, financeiras ou emocionais superadas nos outros. #recalque

Há um preconceito grande no meio gay contra os passivos e afeminados. Parte por causa da programação preconceituosa que recebemos de nossos pais heterossexuais e da sociedade heteronormativa machista, parte por nossa falta de capacidade de se colocar no lugar do outro. Se uma pessoa assume o que gosta, seja ser passivo, seja ser afeminado, em nada isso nos prejudica, ou mesmo ao movimento, ou mesmo à imagem dos gays. Se um indivíduo é todo o estereótipo que rejeitamos para nós, não quer dizer que nossa individualidade será prejudicada. #acorda

Os afeminados, nem sempre compreendido por passivos sexualmente, são rejeitados pelos “discretos”, que também não são integrados por ativos apenas. Se a gente fala em “opção sexual”, talvez, nem ser ativo ou passivo seja uma escolha consciente, e menos ainda ser discreto ou não. Trata-se de uma construção de auto imagem, que serve muito mais para nossa auto avaliação do que para a avaliação do outro. “Sou feliz assim”, deve dizer essa identidade social. A nossa avaliação do outro deve se pautar por caráter, afinidades e “interesses”. Sim, interesses, pois conheço muito ativo discreto versátil que adora um passivo afeminado versátil, e chega na cama invertem os tais “papéis”. #safada

Eu detesto os rótulos, mas não é possível ignorá-los quando os mesmos são usados para promover a hipocrisia. Tem gente que não gosta do rótulo gay, ou tantos outros, mas enquanto os gays, sobretudo os afeminados, estiverem sendo alvo do fogo amigo ou inimigo, temos que falar assim, rotulando, para mostrar o preconceito pontual e discutir o assunto. #nolabel

O termo “orientação sexual” substitui a expressão “opção sexual”, de escolha consciente virou desejo orientado pelo cérebro, sentir atração involuntária. Há alguns anos o termo “condição sexual” foi proposto, logo foi rejeitado por condição indicar uma “doença” ou “fator anômalo”. Mas quando falamos em gay, ativo, passivo, discreto, afeminado, assumido ou não, podemos perceber que estes rótulos ou situações indicam algo importante para a felicidade, ou seja, não há escolhas, mas fatores importantes para a autorrealização e felicidade individual e ninguém tem nada a ver com isso. #sejafeliz

Parabéns a todos os passivos que são muito mais “machos” (ou não covardes) e assumem o risco de enfrentar o machismo da sociedade, o mesmo que fomenta a homofobia, pois para muitos o homossexual deveria ficar no armário, discreto e caladinho. E tem gay que concorda… pois ao se preocuparem tanto com a auto imagem esqueceram de perceber que são claramente infelizes. E não há nada mais visível e triste do que um ser mal comido.

Por: Alan John

 

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O que esta por trás desta falsa moral e maus costumes ?
   3 de setembro de 2015   │     16:51  │  0

Amanhã, sexta-feira, dia 4 de setembro de 2015, às 9h, na Câmara Municipal de Vereadores de Maceió haverá uma audiência pública para debater o Plano Municipal de Educação, ofuscado quase na sua totalidade pelo destaque atribuído à questão de gênero, diversidade e temas transversais de forma leviana. Os movimentos sociais, sindicais, religiosos, culturais, acadêmicos se mobilizam nessa data, para manifestar seu apoio ao PME e ratificar sua contribuição para a garantia de uma Educação laica, inclusiva e democrática, no Estado de Alagoas.

A sociedade precisa questionar as seguintes questões: Porque religiosos entre outros que se dizem defensores da moral e dos bons costumes se opõem contra um trabalho de denuncia da pedofilia; porque a bancada fundamentalista não quer discutir uma politica de redução da exploração sexual, abuso sexual e violência nas escolas; e mais, quem fortalece financeiramente esta ação; quem esta por trás de tudo isto; e quais são os interesses dessas pessoas.

A defesa da família é a palavra de ordem nas diversas manifestações de setores organizados de igrejas de matriz cristã, contra a inventada “ideologia de gênero” nos Planos de Educação Estadual e Municipais. No estado de Alagoas, há uma movimentação institucionalizada que se diz guardiã “da moral e dos bons costumes das famílias de bem” que, na verdade, buscam confundir a sociedade divulgando cartilhas falsas como material didático imposto pelo governo federal, entre outros materiais que deturpam a realidade. .

É possível rememorar que essa palavra de ordem remete ao nazismo representado por seu máximo líder Hitler, como afirma Rothermere (180-183): “Ele coloca no mais alto pedestal o valor da família, enquanto o comunismo é seu maior inimigo. Ele restabelece os saudáveis preceitos morais e os bons costumes na Alemanha. Ele proíbe livros com conteúdos obscenos assim como representações discutíveis sobre o palco e em filmes”.

Não por menos, preocupadas com a seriedade da celeuma e histeria coletiva das famílias diante das falsas informações, algumas organizações sociais se veem com a responsabilidade de levar uma Representação ao Ministério Público Federal solicitando averiguação acerca de falsidade ideológica, pelas cartilhas, com a logomarca do MEC, divulgadas nas mídias como material didático produzido pelo ministério e de publicização de material pornográfico com imagens de crianças, nas referidas cartilhas. A Polícia Federal abriu inquérito para apuração dos fatos.

Esse é um contexto adverso à aprovação do Plano Decenal de Educação de Maceió 2015-2025, elaborado pela Secretaria Municipal de Educação de forma séria, responsável e comprometida como os eixos norteadores definidos em fóruns legítimos e sob parâmetros legais e acadêmicos.

Envelhecer gay: os desafios de casais que enfrentam duplo preconceito
   23 de março de 2015   │     10:51  │  0

Na era da exaltação da juventude, a chegada da velhice é ainda mais complicada para os casais do mesmo sexo.

Carlos Eduardo e Osmir vivem juntos há 30 anos: mudanças no conceito de família. Foto: Zuleika de Souza/Correio Braziliense/Reprodução

Carlos Eduardo e Osmir vivem juntos há 30 anos: mudanças no conceito de família. Foto: Zuleika de Souza/Correio Braziliense/Reprodução

Com sorte, todos nós envelheceremos. Porém, mesmo esse processo sendo inerente ao ciclo, a passagem entre a idade adulta e a velhice carrega fortes preconceitos em uma sociedade que celebra a juventude como a fase mais importante da vida. Dessa forma, até mesmo expressões de carinho são taxadas, como se aqueles que se amam tivessem apenas alguns anos para expressar esse sentimento.

 O beijo protagonizado esta semana pelas atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg está longe de causar discussões apenas por ter sido entre duas mulheres. Ao demonstrar o afeto carnal entre pessoas idosas — as duas têm 85 anos —, a novela Babillônia trouxe à luz uma discussão que envolve dois preconceitos: a sexualidade e o envelhecer.

“Ao mostrar esse beijo, a novela só tem a colaborar, porque faz com que as pessoas sejam obrigadas a ver aquela relação de outra forma. Isso pode ajudar os casais homossexuais a se tornarem mais aceitos”, garante a profissional de educação física Ida Helena de Oliveira Lara, 51 anos. Ela, que assumiu a homossexualidade aos 23, acredita que se manter fora do armário depois dos 50 é sim um ato político, como define Teresa, personagem de Fernanda Montenegro, em uma das cenas do folhetim.

Ida mantém hoje um relacionamento com uma mulher de 63 anos que saiu do armário há pouco tempo. A educadora diz que é visível o quanto a decisão de não esconder mais a sexualidade fez bem à companheira. “E ela saiu abertamente, assumindo também nosso relacionamento para todos.” Identificar-se socialmente como homossexual, na maioria dos casos, implica em vencer os inimigos internos e reconhecer os de fora.

 Afinal, é partir dos avanços das minorias que os setores majoritários tendem a mostrar descontentamento de forma mais visível. Quando isso se soma à idade, a combinação não é facilmente suportada. “As pessoas mais velhas não correspondem aos ideais estéticos atuais, sendo alvo de apartação e bullying. Eu mesmo, com quase 69, já fui chamado de maricona gagá dentro do movimento”, afirma Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia e professor de antropologia da UFBA.

Mott aponta ser comum que mulheres lésbicas se assumam quando estão mais velhas, por conta das obrigações que ainda são impostas socialmente a elas. “Muitas também demoram por uma homofobia internalizada, de quem viveu a juventude em uma época na qual assumir-se gay era um ato de suicídio social”, explica. Para ele, o beijo entre as personagens da novela representa uma oxigenação nos movimentos de libertação e afirmação. “E também serve para chamar a atenção das autoridades às políticas públicas direcionadas ao público LGBT da terceira idade”, completa.

 Em nota, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) informa que não há registro de denúncias de violência homofóbica contra pessoas idosas no Disque Direitos Humanos, segundo o Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos. E informa que, independentemente da sexualidade, a prioridade da SDH é a garantia e promoção dos direitos fundamentais de toda e qualquer pessoa idosa. O reflexo de uma maior tolerância aos casais homossexuais se reflete, inclusive, na longevidade dos relacionamentos. Osmir Messora Junior, aposentado de 53 anos, mantém uma relação há 30 com o professor universitário Carlos Eduardo dos Santos, 55.

De acordo com ele, a união longeva entre homossexuais era algo bem menos comum na sua juventude, muito por conta do preconceitos que os próprios gays ainda mantinham internamente. “Era mais difícil eles aceitarem a ideia de um casamento porque o preconceito era muito grande. Hoje, vivemos um período de mudanças significativas nesse universo, e isso veio associado à maior tolerância”, acredita. Para Carlos Eduardo, algo fundamental para que eles sejam respeitados, independentemente da idade, é a forma como encaram a própria sexualidade.

 “Hoje, com 55 anos, vejo que o significado de amor é muito mais parceria e união que necessariamente sexo. Não que ele não seja importante. Mas não é disso que você viverá. Em um relacionamento heterossexual ou homossexual, a convivência será do mesmo modo. E a relação de respeito deve existir sempre.” Assim, ao estarem juntos há três décadas — e pais de quatro meninos, adotados em 2013 —, os dois compreendem que são, de certa forma, um exemplo para aqueles que não aceitam famílias formadas por casais homossexuais.

 “Ao longo desses 30 anos, temos feito tudo que é possível para provar que nós estamos juntos porque queremos. Se isso serve como exemplo, por que não? Isso não quer dizer que o nosso relacionamento não teve momentos difíceis, mas sempre achamos que era melhor apostar um no outro”, garante Carlos Eduardo. Seja com atrizes, seja com personagens reais, entender que a sexualidade é algo que não muda com a idade é uma forma de respeitar a si mesmo. Algo que, muitas vezes, não acontece com quem passa dos 50.

 “O preconceito com as pessoas mais velhas no ambiente gay existe. E isso faz até mesmo com que seja difícil para eles levantarem bandeiras. Há muitos casos de gays idosos que voltam para o armário a fim de conseguir um lugar em que serão cuidados nessa fase da vida”, assegura Osmar Rezende, presidente da ONG Libertos. Ele conta, inclusive, casos de travestis que precisam se vestir com roupas masculinas para conseguir vagas em asilos. “Dá para imaginar a dor que é abrir mão da sua liberdade para ter alguém que cuide de você?”, questiona.

Rezende também aponta a questão das políticas públicas como algo necessário para garantir cuidados específicos para homossexuais da terceira idade. “Não adianta apenas sair do gueto. É preciso lutar também por eles.” O professor universitário José Zuchiwschi, 56 anos, diz que a sociedade discrimina qualquer um fora da zona considerada como juventude. “E isso atinge também a comunidade LGBT, principalmente porque o mainstream da cultura gay é direcionado aos mais jovens.” Na opinião dele, que é homossexual, ao colocar duas mulheres para interpretarem um casal homoafetivo mais velho, a novela mostra que é possível vencer a formação educacional, familiar e cultural que estrutura ainda a personalidade de muitas pessoas a não aceitarem a homossexualidade.

 “Mesmo com o preconceito, hoje, há uma pressão bem menor para que os gays mantenham um padrão heteronormativo de comportamento. E isso se deve aos movimentos sociais que trouxeram nova visibilidade. Discutimos mais o preconceito, o que também fez com que as forças conservadoras se movimentassem”, explica.

 “Os mais jovens precisam lembrar daqueles que lutaram nas ruas. Essa bagagem história facilita a vida da juventude. É como se houvesse alguém dizendo: ‘Vocês não estão sozinhos’”, destaca. Além das lutas que preservaram a dignidade dos homossexuais mais velhos, o professor aponta que a expressão da sexualidade nessa fase da vida deve ser sempre celebrada. “Não há mais uma demonstração combativa. Mas é preciso se manter fora do armário porque você demonstra que isso é algo seu e sempre será, tornando o diálogo mais fácil e a solidão menor.”

Fonte: Correio Brasiliense 

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