Homens solteiros, homoafetivos e trans buscam a fertilização in vitro
   11 de setembro de 2023   │     14:25  │  0

Quando se fala em reprodução assistida, vontade de ter filhos, a sociedade sempre pensa primeiro nas mulheres. São elas que, em 90 e muitos porcento dos casos, buscam as primeiras informações sobre a medicina reprodutiva, procuram as clínicas de reprodução assistida e decidem pela gravidez.

É fato que em grande parte dos casos clínicos atendidos a participação do homem no processo de fertilização de um casal heterossexual ainda é pequena, do ponto de vista do suporte emocional à mulher. Os homens demonstram pouca curiosidade sobre o processo em si.

Quando aceitam fazer o tratamento, a mulher geralmente já apresentou as informações detalhadas de cada etapa do processo, fez toda a pesquisa, a clínica já está escolhida. Mas, nesta véspera de Dia dos Pais, acredito ser oportuno falar sobre esse tema, que vem ganhando contornos diferentes nas novas formações de núcleos familiares da atualidade.

Nos últimos tempos, muitos homens têm deixado o machismo e a vergonha de lado em busca de informações sobre os tipos de procedimentos da fertilização in vitro (FIV) e há um aumento real, em torno de 20%, na procura de casais homoafetivos pelos procedimentos para realizarem o sonho de ter filhos.

Essa mudança ocorre no mundo todo e indica para nós, médicos, um avanço também das sociedades quando o assunto é bem-estar, busca pela construção familiar e pela felicidade dos indivíduos.

Para os homens solteiros, casais homoafetivos masculinos e transgêneros que querem se tornar pais, a alternativa mais viável é via barriga solidária – cientificamente chamada de gestação de substituição, doação temporária do útero ou cessão temporária do útero.

Nesses casos, uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) estabelece que as doadoras temporárias de útero devem pertencer à família de um dos parceiros, com parentesco de até quarto grau: mães, irmãs, filhas, tias, sobrinhas, primas e avós podem contribuir para a realização do sonho da pessoa ou do casal. No caso de não haver ninguém na família em condição de engravidar, é possível fazer um requerimento ao CRM para que uma terceira pessoa empreste o útero.

Para obter o óvulo, o homem solteiro e o casal homoafetivo masculino deverão  encontrar uma doadora anônima através de  na grande maioria dos casos,  banco de ovulos. No caso do casal, eles precisarão resolver qual dos dois pais fornecerá o sêmen para a fecundação, definir os detalhes da doação dos óvulos e encontrar uma mulher para ceder temporariamente o útero. No caso do transgênero, ele deverá buscar um sêmen de doador anônimo(banco de semen) ou conhecido para fazer a fecundação.

Os homens solteiros, homoafetivos e trans não devem desistir do sonho da paternidade antes de conhecer as possibilidades que a medicina reprodutiva oferece. São tratamentos seguros, individuais e que respeitam as escolhas de cada um. Para encarar um processo de fertilização, eles, assim como as mulheres, precisam passar por exames de saúde para checar se têm algum problema com a fertilidade.

Um dos mais básicos é o espermograma, que permite ao (à) médico(a) avaliar os parâmetros seminais do homem. São necessárias duas amostras com intervalo entre 30 e 60 dias. Os principais critérios observados e avaliados através do exame são o volume de sêmen; número de espermatozoides; a concentração  e a movimentação (motilidade) e a forma (morfologia) dos espermatozoides; e também se há algum tipo de inflamação. Podem ser solicitados também o exame de doppler dos testículos e a dosagem dos hormônios: FSH, LH, TSH, T4 livre, prolactina, SDHEA, DHEA, SHBG, testosterona total e livre.

A muitos olhos, essas situações parecem hipotéticas, mas na realidade têm ocorrido com cada vez mais frequência nas clínicas de reprodução assistida. A pluralidade das formações familiares deve ser respeitada, afinal, nossa Constituição prevê o direito à família, seja ela em qual base de formação se der.

Por: Marcos Sampaio – Médico ginecologista, especialista em reprodução assistida e diretor-fundador da Clínica Origen BH 

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