Os héteros passivos: como entender a identidade sexual e orientação sexual de alguns
   13 de março de 2023   │     0:17  │  0

Para começarmos a falar sobre os héteros passivos, precisamos analisar como o prazer anal é visto em nossa sociedade. Por si só, o ânus já é um tabu. No sexo anal entre os gays, o ativo é visto como o homem, macho, considerado até menos gay, já o passivo é a mulher, o afeminado. Em uma relação heterossexual, a penetração anal dos homens nas parceiras é uma conquista para vangloriar-se, enquanto as mulheres não podem admitir seu prazer para não serem taxadas como vagabundas. Dessa maneira, toda prática sexual que envolve o cu possui um certo preconceito associado.
A verdade é que a região do ânus possui diversas terminações nervosas, as quais são responsáveis pelo prazer anal e transformam o cu (tão mal visto socialmente) em uma zona erógena. Nos homens a situação piora, ou no caso, melhora! Através da penetração anal é possível alcançar a próstata, o suposto ponto G masculino. Essa área, quando estimulada corretamente, pode causar orgasmos mais intensos do que na estimulação genital. Ainda, alguns especialistas afirmam que o orgasmo pela estimulação da próstata pode prevenir e reduzir os sintomas da prostatite, um tipo de infecção na próstata.
Se o ânus é tudo isso, se mulheres sentem prazer no sexo anal, se homens gays sentem prazer no sexo anal, porque então homens héteros não sentiriam prazer no sexo anal? Na realidade muitos sentem e até praticam, mas aí voltamos para os tabus de nossa sociedade. Como o prazer anal está relacionado a feminilidade e principalmente, com a homoafetivade, muitos homens se negam a assumir o tesão que sentem, afinal eles não querem ser vistos como menos homens, como mais fracos. Por isso deixam de aproveitar, ou o fazem sozinhos ou não contam para as outras pessoas que de alguma forma a parceira os estimula analmente.
O que precisa ser esclarecido e transformado em nossa sociedade quanto ao prazer anal está justamente nos seus preconceitos. Um homem que curte que sua parceira enfie o dedo em seu ânus não é gay! A orientação sexual do indivíduo em nada tem a ver com o prazer anal. Como já vimos, é natural do corpo humano, em especial do masculino, o tesão na região do ânus. Agora se esse homem sente prazer, independentemente de ser anal ou não, por outro homem, aí sim estamos falando de um homem gay. Ainda, para provar que o prazer anal não é obrigação dos gays, existem gays que praticam o gouinage, uma forma de sexo sem penetração, como a Lado A já publicou nessa semana. Mesmo sem penetração, eles continuam sendo gays, porque o prazer está direcionado para o mesmo sexo!
“Mas um conhecido meu era casado com uma mulher, gostava de levar fio terra, hoje tá namorando um homem”. Ok, nossa sociedade é muito complexa. Infelizmente nosso preconceito não é somente com o prazer anal. Provavelmente seu conhecido sempre gostou de homens, mas por medo ou qualquer outra razão não teve coragem de se assumir antes. Ou talvez não, talvez seu conhecido seja bi. A questão novamente é que o prazer anal não é regra pra um homem gostar de outro homem.
Todos nós já escutamos uma história de um homem casado com filhos que chegou no pronto-socorro com algum objeto preso no ânus. “Eu tava andando pelado em casa, escorreguei e cai em cima da cenoura”. Sempre um acidente, é claro! Isso acontece justamente pelo tabu do prazer anal. Se nossa sociedade aceitasse a estimulação anal masculina (hétero), provavelmente a mulher dele usaria algum brinquedinho seguro durante o ato sexual.
Podemos citar também os exemplos dos homens casados que procuram travestis. Alguns são gays enrustidos? Talvez. Mas talvez alguns simplesmente curtam serem penetrados e não tem coragem de dizer isso para suas mulheres, afinal eles não querem ser vistos como menos machos. A saída que eles encontram é serem penetrados por uma figura feminina. Então temos uma mulher (travesti) penetrando um homem, e isso não faz ele gay. Vamos pensar que não sabemos que a mulher é travesti e que não sabemos quais as práticas sexuais dos dois. Assim, temos uma mulher e um homem. Mulher e homem formam um casal heterossexual! O prazer anal que ele sente quando ela (travesti) penetra ele não interfere novamente na sexualidade dele.
E vai ter homem que não vai sentir prazer anal nenhum? Pode ser que sim. As vezes nossos preconceitos estão tão arraigados em nós que não conseguimos largá-los facilmente. Pode ser que esse homem até tente, mas não podemos esquecer que nossa cabeça tem grande parte no nosso tesão. Então não adianta a mulher colocar o dedinho com todo carinho e amor se ele não estiver relaxado e tranquilo com aquilo. Se na cabeça dele ele estiver com medo porque vai virar gay, porque a mulher vai vê-lo de outra forma, porque os amigos dele vão descobrir e vão tirar sarro dele, pode ter certeza que ele não vai ter prazer com essa experiência.
O grande problema da nossa sociedade é querer colocar todo mundo em caixinhas diferentes de acordo com o que cada um é ou com o que cada um faz e a partir daí julgar cada caixinha. “Se gosta de fio terra então é gay”, “se é passivo então é gay” “se é gay e só é passivo então é afeminado”. Não. É gay porque é um homem que gosta de outro homem. É passivo porque é penetrado (e pode ser penetrado por homem – aí é gay! – ou por uma mulher – aí é hétero!). É afeminado porque tem trejeitos femininos (aliás, tem muito afeminado por aí mais ativo que gays “machinhos”).
Para resumirmos o que é mais importante: orientação sexual não tem relação com qual parte do seu corpo você sente prazer (boca, pinto, ânus ou qualquer outra), mas para qual gênero (masculino ou feminino) seu tesão está direcionado. Não perca tempo com preconceito bobo. Aproveite, experimente! Explore o seu corpo e se conheça.

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