Monthly Archives: abril 2021

Ex-soldado revela abuso sexual no Exército da Coreia do Sul
   5 de abril de 2021   │     19:21  │  0

 O sul-coreano Jeram Kang, diz ter sido molestado durante o serviço militar obrigatório na Coreia do Sul.

O país permite que homens gays sirvam ao Exército, mas eles podem ser punidos se praticarem sexo, conforme o artigo 92-6 do Código Penal Militar sul-coreano, que está sendo revisto pela Justiça do país.

Depois que colegas veteranos souberam que Jeram era gay, ele foi vítima de abusos verbais, físicos e sexuais. O ex-soldado chegou a ser encaminhado para a ala psiquiátrica do Exército, onde diz ter sido obrigado a tomar antidepressivos.

Dez anos depois de terminar o serviço militar, Jeram decidiu usar depoimentos escritos a mão por ele e por outros ex-soldados gays em uma exposição, buscando gerar conscientização sobre o problema.

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Pandemia, LGBTfobia e os impactos das negligências do Estado para esta população
   3 de abril de 2021   │     18:29  │  0

Artigo

Por: Andrey Lemos, presidente da União Nacional LGBT, entidade do Conselho Nacional de SaúdeSaúdeean / Jean Falcão e Sá, diretor de comunicação da União Nacional LGBT / Silvinha Cavalleire, conselheira nacional de combate à discriminação de LGBT / Theodoro Rodrigues, poeta e estudante de serviço social.

Nem os analistas políticos, econômicos e sociais mais dedicados puderam antecipar 2020. Vemos o mundo enfrentando transformações em todas as áreas, provocadas por intensos conflitos políticos, aprofundando uma grave crise econômica e uma avassaladora pandemia, a qual, aliada às desigualdades sociais e econômicas, agravou ainda mais a fome, o desemprego, a violência e a precarização das vidas. A população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT+) segue intensamente impactada por este cenário de caos.

O primeiro caso confirmado de Covid-19 no Brasil foi diagnosticado em 26 de fevereiro, em um homem branco de 61 anos, residente na capital paulista, que voltara de uma viagem para a Itália, e a primeira morte confirmada pelo coronavírus aconteceu no Rio de Janeiro, uma mulher de 63 anos, negra e doméstica, um fato bastante simbólico: o vírus é mais letal para quem vive vulnerabilidades.  Até 8 de março de 2021, já são mais de 265 mil óbitos, com perspectivas desanimadoras, potencializadas pela indisposição, ineficiência e incapacidade governamental.

O governo federal se absteve do seu papel de comando central no enfrentamento à crise sanitária Promoveu deliberados e contínuos ataques ao Sistema Único de Saúde (SUS) diante das inúmeras mudanças de ministros, secretários, coordenadores e profissionais, guiadas não por critérios técnicos, mas pela ânsia de submeter a pasta a desmandos de toda ordem e nefastas orientações ideológicas. Defender o SUS nunca foi tão necessário.

Temos hoje mais de 14 milhões de pessoas desempregadas, 22% de aumento de casos de feminicídio, 40% mais casos de assassinatos de pessoas trans. A cesta básica aumenta o preço, ao mesmo tempo em que o auxílio emergencial cai 50% numa conta que só amplia as desigualdades para quem já vive a subalternidade.

Para LGBTs, ficar em casa pode ser um risco de violência

Ficar em casa tornou-se um desafio para mulheres e LGBTs, especialmente travestis e transexuais e outras identidades que sofrem violências intrafamiliares. A medida obrigou mulheres e LGBTs a permanecerem em convivência com seus agressores por um período mais prolongado, não à toa casos de feminicídio e transfeminicídio aumentaram em vários estados brasileiros.

No Estado do Mato Grosso, por exemplo, foram registradas 160 ocorrências de crimes contra LGBTs entre janeiro e agosto de 2020, conforme dados do Grupo Estadual de Combate aos Crimes de Homofobia (GECCH), divulgados pela Secretaria de Estadual de Segurança Pública (SESP-MT).

Se comparado com o mesmo período de 2019 – que teve 77 boletins – o número aumentou em 108%. O fato é que o reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da lgbtfobia como crime de racismo, possibilitou acreditarmos no aumento da procura por equipamentos de segurança para denunciar as violências que sempre existiram.

Além disso, identificamos dificuldades em várias cidades no acesso da população LGBT+ a serviços e procedimentos de saúde, incidimos politicamente junto a gestores e fomentamos o controle social para que a saúde integral da população LGBT+ não fosse prejudicada. Mas sabemos que em muitos lugares a desassistência venceu, e acompanhamos pelas redes sociais muitos casos de depressão, tentativas de suicídio e até novas infecções e condições crônicas.

O movimento social fez o que o governo não conseguiu: protagonizou campanhas de arrecadação de roupas e de alimentos para pessoas cujas vulnerabilidades agravaram com o isolamento social. A confecção e a distribuição de máscaras foi uma oportunidade aproveitada para diminuir os impactos da doença na vida das pessoas e reduzir os efeitos da pandemia.

Ausência de dados sobre LGBTs e Covid-19

De acordo com diagnóstico do Coletivo #VoteLGBT entre 28 de abril a 15 de maio de 2020, houve piora na saúde mental em 42,72% dos mais de 10 mil entrevistados de todo o país como o principal impacto da pandemia para a população LGBT+. Uma parcela ainda maior, 54%, afirmou que precisa de apoio psicológico. As novas regras do convívio social, a solidão e o convívio familiar foram mencionados por 39,23% Dos participantes, 17,62% citaram as dificuldades econômicas como os maiores impactos, por falta de trabalho ou de dinheiro.

Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), divulgados em 2020, a cada uma hora uma pessoa é agredida devido sua orientação sexual ou identidade de gênero. A vida de uma pessoa LGBT+ no Brasil é marcada pela violação dos direitos humanos, por diversas violências sejam elas psicológica, moral, física e para atualizar ainda mais nossos leitores, o Brasil segue liderando o ranking de assassinatos contra essa população.

Sobre a população LGBT+, não encontramos a informação do número exato de adoecimentos e mortes pela Covid-19. A  pesquisa do Coletivo #VoteLGBT, realizada de forma independente, teve participação de 44% das lésbicas; 34% dos gays; 47% dos bissexuais e pansexuais; e 42% das transexuais. Destes, 21,6% do mesmo grupo afirmaram que estão desempregadas. Outros 28% dos entrevistados receberam o diagnóstico prévio de depressão. 97% dos entrevistados consideraram péssima a atuação do governo federal. No Brasil, ser LGBT é um risco de morte. Nossas reivindicações seguem cada vez mais inviabilizadas.

Neste ano de 2021, acreditamos na esperança e na luta para dissipar as angústias e descortinar a felicidade. Em frente ampla, irmanados, irmanadas e irmanades, seguiremos em defesa da democracia, da felicidade, da cidadania. Pela vacina, combatendo racismos, machismos e LGBTfobias. Seguiremos resistindo, avançando rumo à garantia dos direitos de todes, por uma democracia inquebrantável e pela soberania nacional. Esse é o nosso desejo, tão enorme quanto o nosso desejo de liberdade de ser e amar.

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Bahia de todos os sodomitas: roteiro LGBT da antiga Salvador
   2 de abril de 2021   │     20:26  │  0

Por: Luiz Mott –
Luiz Roberto de Barros Mott é um antropólogo, historiador e pesquisador, e um dos mais conhecidos ativistas brasileiros em favor dos direitos civis LGBT. Luiz Mott é uma das figuras mais conhecidas do movimento LGBT e foi considerado um dos gays mais poderosos do mundo em uma lista feita pela revista americana Wink.
O escritor Goethe acertou ao dizer que a homossexualidade é tão antiga quanto a própria humanidade. No caso da Bahia, nossos cronistas e missionários encontraram muitos índios “Tibiras”  e índias  “Çacoaimbeguiras” amantes do mesmo sexo, alguns vivendo uniões estáveis, outros com cabana no mato para receber amantes unissexuais. Uma dezena de colonos portugueses confessaram à Inquisição ter mantido relações homoeróticas na Bahia já nas primeiras décadas de nossa história. O mesmo ocorrendo com africanos escravizados, incluindo nossa primeira travesti, da etnia Manicongo, moradora na Ladeira da Misericórdia.

A rica documentação inquisitorial fornece interessantes detalhes de como era a vida dos “LGBT” na capitania da Bahia antiga. Além de Salvador, há registro de sodomitas de ambos os sexos vivendo em Ilhéus, Santo Amaro de Ipitanga, Cachoeira, São Gonçalo, Matoim, Cotegipe, Passé, Sergipe do Conde e del Rey. Também foram citados como moradia de homossexuais: as Ilhas de Maré e Itaparica, Ponta do Humaitá, Praia Grande, Rio Vermelho, Vila Velha, Itapuã. Dentro das muralhas da urbe soteropolitana, havia gays, lésbicas e até travestis vivendo, paquerando e transando “na Calçada de São Francisco, junto a Cadeia (subsolo da Câmara), atrás do Convento do Carmo, próximo à  ermida da Ajuda, na rua de São Francisco, na Rua Direita, detrás do muro arruinado do Convento de São Bento, na Fonte das Pedras”. Importantes imóveis históricos abrigaram sodomitas na Bahia antiga: as “Casas del Rei, Casas da Relação, Palácio do Governador” (Rio Branco), mas sobretudo as moradias de religiosos, como o Colégio da Companhia de Jesus, os Conventos de São Francisco, de Nossa Senhora do Carmo, dos Beneditinos, o Recolhimento da Misericórdia, a Ermida de Monte Serrat e Quinta dos Lázaros.” A homossexualidade era chamada, com razão, “vício dos clérigos”.

No nosso Dicionário  Biográfico dos Homossexuais da Bahia (1999), resgatamos 202 LGBT pertencentes a todos os estamentos: índios,  escravos, lavradores, comerciantes, militares, muitos padres e estudantes, funcionários públicos, adolescentes, idosos, mulheres e homens casados. Como celebridades praticantes do “abominável e nefando pecado de sodomia”: Diogo Botelho, 8º Governador da Bahia, construtor da Forte de São Marcelo; Câmara Coutinho, 31º Governador da Bahia, assim retratado por seu contemporâneo Gregório de Matos: “o rabo erguido em cortesias mudas, como quem pelo cu tomava ajudas…” e o médico Sabino Álvares (1833), corifeu da Revolta da Sabinada.

Foi na Sé da Bahia e antigo Colégio dos Jesuítas, assim como no Mosteiro de São Bento, dedicado a São Sebastião, ícone gay desde a antiguidade, donde se tem mais registro de incontáveis orgasmos de “fanchonos e somítigos”. Foi na porta da primeira Catedral onde a lésbica mais audaz da história baianense ouviu sua sentença por “namorar outras mulheres”, sendo açoitada pelas ruas da velha Salvador (1591). Já no carnaval (entrudo) de 1638, na Torre desse mesmo templo foram flagrados masturbando-se reciprocamente os estudantes Manoel de Leão e Bartolomeu Ferreira; em 1669, denuncia-se ser “fama constante sem diminuição que o Tesoureiro mor da Sé comete o pecado nefando com muitas e várias pessoas eclesiásticas e seculares”.

Salvador rima com sodomia, não com homofobia!

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Prevenção ao câncer de mama vale também para transexuais
   1 de abril de 2021   │     13:50  │  0

Desconhecimento da sociedade faz pensar que as pessoas trans não fazem parte do alerta ao Outubro Rosa – mas muito pelo contrário.

A gente não para pra refletir, mas as pessoas transexuais e transgêneras também fazem parte do grupo em que a campanha Outubro Rosa tanto visa conscientizar. Os riscos do câncer de mama e de colo do útero vale para todas elas. Aliás, para todo mundo. Independente de gênero ou sexualidade, as doenças oferecem até 95% de chance de cura quando diagnosticadas precocemente.

Fazer o autoexame, realizar consultas periódicas e manter hábitos saudáveis. Essas simples recomendações são, por desconhecimento da sociedade, voltadas mais as mulheres cisgênero – aquelas que se identificam com o gênero designado em nascimento – do que às mulheres transexuais.

“Por causa do uso contínuo de hormônios, já é comprovado cientificamente que as mulheres trans têm cerca de 47 vezes mais chances de desenvolver câncer de mama do que os homens cis, sendo que pra eles é bem raro, cerca de 1% do total dos diagnósticos”, explica Mikaella Lima, coordenadora de políticas públicas LGBT, vinculada à SDHU (Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos) da prefeitura de Campo Grande.

“Todas as pessoas trans deveriam buscar o atendimento médico que possam prolongar suas vidas, a ter mais qualidade e informação”, recomenda Mika.

<img class=”i-amphtml-blurry-placeholder” src=”data:;base64,A ex-Miss Trans de MS, que já tem implante mamário, faz a prática do autoexame (Foto: Arquivo Pessoal)
A ex-Miss Trans de MS, que já tem implante mamário, faz a prática do autoexame (Foto: Arquivo Pessoal)

Desde os 19 anos, Emanuelle Fernandes faz uso de hormônios femininos. Hoje em dia, a ex-Miss Trans de MS já conta com a prótese mamária, 400 ml em ambos os seios.

“Eu já sabia dos riscos atrelados ao uso indiscriminado de hormônio e a possibilidade do câncer de mama, mas no universo transexual isso é muito pouco divulgado e discutido, inclusive entre as próprias trans. Particularmente, sempre fiz os autoexames, e recomendo para minhas amigas”, afirma.

Neste ano, Manu foi surpreendida com a proposta de ser embaixadora de uma campanha de prevenção ao câncer de mama pelo Hospital de Amor (antigo Hospital de Câncer de Barretos), que inclusive conta com uma unidade aqui em Campo Grande.

“É uma forma de eu informar as meninas transexuais sobre a causa, de mostrar a importância da gente ficar atenta ao nosso corpo, aos próprios sinais, e sempre estar em dia com os exames. Pessoas trans também podem ter esse tipo de doença, sim”, comenta.

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Lorenzo é homem trans, e também entende que não pode discuidar de sua saúde (Foto: Arquivo Pessoal)

No Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, Lorenzo Sullivan Macedo já faz hormonioterapia há 1 anos e 8 meses e, por isso, já teve redução das mamas. O sonho dele é fazer a mastectomia masculinizadora, isto é, a cirurgia de retirada das mamas e readequação plástica do peito.

“Eu sempre tive acompanhamento de médicos especializados lá no Ambulatório Transexualizador. Desde o início, eles me alertaram sim que enquanto homens trans eu ainda faço parte do Outubro Rosa, mas confesso não saber que mesmo com a mastectomia feita ainda haveria o risco de câncer”, admite.

Recentemente, Lorenzo vem tendo episódios da chamada descarga mamilar, que é a liberação de secreção pelos seios. Isso não é necessariamente anormal, mas é bom ficar alerta.

“Fiz exames anteriores, mas a liberação acabou parando. Agora que voltou, já marquei um novo ultrassom. Como homem trans, estou bem mais atento e cuido melhor do meu corpo do que quando eu era uma mulher cis. É de extrema importância tudo isso”, disse.

<img class=”i-amphtml-blurry-placeholder” src=”data:;base64,Lorenzo junto de sua namorada (Foto: Arquivo Pessoal)
Lorenzo junto de sua namorada (Foto: Arquivo Pessoal)

Para elxs – A Sub-LGBT/MS (Subsecretaria de Políticas Públicas para a Promoção LGBT) do Governo do Estado juntamente com representantes do Hospital de Amor, promoverão atendimentos gratuitos de saúde para as pessoas transexuais e transgêneras, isso por meio do Centro de Referência em Direitos Humanos de Prevenção e Combate à Homofobia.

“Queremos incluir essas pessoas, fazer com que se sintam confortáveis em buscar o atendimento. Reconhecemos que existe resistência, talvez até um bloqueio, mas estamos preparados para atender qualquer pessoa dentro das suas especificidades. Trabalhar amor e humanização por meio dos exames preventivos e de mamografia”, explica a enfermeira Glauciely do Nascimento Pereira, responsável pela divulgação de educação e saúde do Hospital de Amor.

Para agendamentos, basta entrar em contato no telefone (67) 3316-9183 ou pelo e-mail: [email protected], e ter os documentos – CPF, RG, cartão do SUS e comprovante de residência – em mãos.

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