São pessoas que lutam todos os dias por reconhecimento em uma sociedade que mal as percebe. Ou que, quando as percebe, as estigmatiza e oprime.
“Minhas história começou na maternidade, os médicos disseram à minha mãe que eu tinha a genitália subdesenvolvida, não parecia masculina nem feminina”, conta Lia (nome alterado), em entrevista à “BBC”. Naquela época, os médicos perguntaram à sua mãe qual sexo ela achava que tinha dado à luz. A mãe decidiu registrá-la como menina e assim Lia cresceu. Até quando foi levada a um médico pouco antes de começar a frequentar a escola.
“Você está sã? Você tem um menino”, disse o médico. Outros profissionais da área atestaram o mesmo e, assim, a mãe de Lia alterou toda sua documentação para que ela se tornasse um menino, outro erro. Quando retornou à escola, Lia, que já era conhecida por alguns colegas como menina, passou a ser apresentada como menino. Imagine uma situação dessas na escola?
A garota teve que trocar de colégio, mas o bullying a perseguiu pelo resto da vida.
Quando ela tinha 16 anos, acordou com a cama suja de sangue. Sem entender nada, foi levada ao médico e examinada por um ultrassom. “Tem um útero aqui”, gritou o médico.
“Foi assim que descobri que tinha genitália feminina — que era um menino que começou a menstruar. Naquela época, queria que eles removessem o que estava dentro do meu corpo, o que eu não podia ver. No entanto, os médicos nos convenceram de que era melhor deixar os órgãos internos, porque eles estavam funcionando perfeitamente e poderiam ser úteis no futuro.”
“Então, passei por quatro cirurgias ao longo de alguns anos e me tornei uma menina. Agora, tenho dois filhos — um menino e uma menina.”
Lia já se casou quatro vezes ao longo da vida e se prepara para o quinto casamento. Ao longo de sua trajetória, conheceu homens e mulheres, mas se sentia atraída por mulheres.
Agora, ela está com um homem transgênero.
“Quem sabe minha vida teria sido completamente diferente, se os médicos não tivessem nos convencido a fazer o que não deveríamos. Talvez eu não tivesse tido essa longa busca pela minha identidade, quatro casamentos, problemas com filhos”, diz.
Se não houver risco à vida, decisão sobre redesignação deve ser feita somente na fase adulta
Ativistas da luta dos intersexuais não são a favor de que uma cirurgia de redesignação sexual seja feita ainda na infância. Isso porque a decisão sobre o gênero, nesse caso, caberia aos responsáveis legais da criança e não a ela mesma. Eles alertam sobre a necessidade dessa decisão acontecer somente na fase adulto, quando o intersexual já pode falar por si e por seu corpo.
Julia Sydorova, uma pediatra ouvida pela “BBC”, explica que a decisão para levar a criança a uma mesa de cirurgia deve ser tomada pelos pais apenas se o adiamento da operação implique em risco de vida para ela.
“É necessário distinguir a cirurgia quando a vida da criança está ameaçada, e a chamada cirurgia estética. Esta última é realizada na maioria das vezes em bebês: sua genitália externa tem uma aparência típica.”
por: Redação Hypeness