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Entidades assinam manifesto em respeito às pessoas LGBT na Copa do Mundo 2014
   10 de junho de 2014   │     13:29  │  0

Manifesto foi puxado pelo Grupo Dignidade de Curitiba e ABGLTAs garantias contidas na Declaração Universal dos Direitos Humanos incluem a igualdade de direitos, a dignidade humana, o direito de cada pessoa à vida, à liberdade, à segurança pessoal, à igual proteção da lei, à igual proteção contra a discriminação, bem como o direito de não ser submetido/a à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

 Apesar disso, os atos homossexuais ainda são ilegais em 76 países, a maioria signatários da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e em cinco deles (Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Mauritânia e Sudão) bem como algumas partes da Nigéria e da Somália, os atos homossexuais são puníveis com pena de morte. Desta forma, os princípios da universalidade e da indivisibilidade dos direitos humanos estão sendo feridos, uma vez que as pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), pelo simples fato de terem uma sexualidade ou identidades de gênero diversas da heteronorma, vêm sendo humilhadas, perseguidas, agredidas e até mortas, sem a proteção e com o aval do Estado.

 Este fenômeno tem sido denominado de “Homofobia de Estado”, isto é, quando por meio da legislação ou de atos de seus governantes ao promoverem a discriminação ou incitarem o ódio, a hostilidade e a reprovação das pessoas LGBT, um Estado assume a postura homofóbica.

 Mesmo quando não há uma política de estado declarada de repressão às pessoas LGBT, muitos países permanecem omissos frente aos crimes de ódio contra as pessoas LGBT, e deixam de criminalizar a homofobia ou criar legislações de proteção, afirmação e/ou igualdade de direitos para a população LGBT. Em nosso país por exemplo, segundo o Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil: ano de 2012, publicado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e baseado em dados do Disque 100/Ligue 180/Ouvidoria do SUS, no ano de 2012 foram reportadas 9.982 violações de direitos humanos de caráter homofóbico relacionadas à população LGBT no Brasil  (27,34 violações por dia em média). Também foram registrados através do monitoramento dos meios de comunicação 310 assassinatos de pessoas LGBT no país por motivos homofóbicos.

 Na Copa do Mundo de 2014, Curitiba será sede dos jogos entre Irã e Nigéria (16 de junho) e Argélia e Rússia (26 de junho). Nesses países, signatários da Declaração Universal dos Direitos Humanos, as pessoas LGBT são perseguidas pelo Estado da seguinte forma:

 Conforme o artigo 338 do Código Penal da Argélia, regulamentado pelo Decreto 66.156, de 8 de junho de 1966, a homossexualidade é crime no país e “Qualquer pessoa culpada de um ato homossexual será submetida a uma pena de prisão entre dois meses e dois anos, além de multa de 500 a 2000 Dinares argelinos”.1

 A República Islâmica do Irã, ou simplesmente Irã, uma teocracia islâmica, por ter suas leis regidas pela Charia, além de criminalizar as relações homoafetivas ainda prevê como penalidade a morte, como regem os artigos 108 e 110 do Código Penal Iraniano. As três últimas execuções, em 2011, foram por enforcamento, porém de acordo com a lei islâmica os homossexuais podem ser perseguidos e condenados à morte por apedrejamento, forca, corte por espada ou ser jogados do alto de um penhasco, cabendo a um juiz da corte islâmica a decisão de como o homossexual deve ser morto. Além dos assassinatos oficiais, perpetrados pelo governo, há ainda os assassinatos praticados pelas próprias famílias das vítimas : o assassino, por estar defendendo a honra de sua família, não sofre qualquer espécie de represália ou punição.

 A República Constitucional da Nigéria, localizada na África Ocidental, assim como o Irã, por ter seu sistema legal regido pela Charia, pune a homossexualidade masculina com a pena capital e para as mulheres aplica-se uma pena de 50 chicotadas em praça pública e seis meses de cárcere. E em algumas regiões da Nigéria que não são regidas pela Lei Islâmica, aplica-se “apenas” uma pena de 14 anos de reclusão.

 A Federação Russa, apesar de ter descriminalizado oficialmente a homossexualidade em 1993, possui uma lei que “proíbe propagandas de orientações sexuais não convencionais”. Esta lei é amplamente utilizada para mascarar a homofobia das instituições públicas, grupos neonazistas e do próprio Governo Russo. Em maio do ano passado, um jovem da cidade de Volgogrado foi espancado, estuprado com uma garrafa de cerveja e em seguida teve o crânio esmagado  – na semana do crime, os suspeitos confessaram o ataque e contaram à polícia local que o ato foi cometido por causa da orientação sexual da vítima. No último semestre, foram encontrados pelo menos 200 vídeos nas redes sociais russas em que grupos neonazistas forjam encontros com jovens gays, humilham-nos diante das câmeras e depois publicam na Internet – os adolescentes são as principais vítimas deste tipo de armadilha e intimidação. Ademais, qualquer tipo de parada ou marcha do Orgulho LGBT é fortemente reprimido pelas forças polícias e os assassinatos são muitos.

 Considerando que a Constituição Federal do Brasil estabelece que:

Art. 4º – A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: (…) II – prevalência dos direitos humanos;

Art. 3º – Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (…) IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade

 Considerando que a Federação Internacional de Futebol (FIFA), organização que promove a Copa do Mundo a ser realizada em 2014 no Brasil, declara ter como missão: “Desenvolver o jogo, sensibilizar o mundo e construir um futuro melhor”, e que para a Federação “construir um futuro melhor” significa que o “futebol não mais é considerado apenas uma modalidade esportiva praticada mundialmente, e sim uma força unificadora cujas virtudes podem fazer uma contribuição importante para a sociedade. Nós [a FIFA]  utilizamos o poder do futebol como uma ferramenta para o desenvolvimento social e humano, fortalecendo o trabalho de dezenas de iniciativas ao redor do mundo para apoiar comunidades locais nas áreas da promoção da paz, saúde, integração social, educação, entre outras.

 Nós, do MOVIMENTO LGBT E ALIADOS/AS, diante da dura realidade de perseguições e de desrespeito às liberdades expostos, não podemos ficar calados(as) e de braços cruzados vendo nossos irmãos e irmãs lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, seres humanos acima de tudo, sendo discriminados(as) e tendo suas vidas ceifadas pelo preconceito e pelas agressões perpetrados pela instituição que deveria assegurar o bem-estar comum, o Estado, assim, exigimos que os países que desrespeitam a Declaração Universal dos Direitos Humanos, bem como outros tratados e convenções de direitos humanos, e criminalizam comportamentos homossexuais, sejam excluídos das competições organizadas pela FIFA. Exigimos a intervenção das Nações Unidas para assegurar o direito primordial à vida e à liberdade das pessoas LGBT que residem nesses países. Exigimos dos parlamentares brasileiros a criação e a aprovação de legislações criminalizando a homofobia e regulamentando as uniões homoafetivas e adoções e exigimos do poder executivo brasileiro à nível municipal, estadual e federal a implementação de políticas de Estado afirmativas em prol da população LGBT.

 No mês de junho de 2014, iremos todos juntos, de  forma democrática e pacífica, marchar pelas ruas de Curitiba a fim de manifestar e fazer ouvir nosso grito de socorro, clamando por justiça, políticas públicas e intervenções de órgãos internacionais, pelo direito à vida e à sua vivência em totalidade, com os direitos primordiais assegurados e o respeito à orientação sexual e à identidade de gênero, como regem os princípios de Yogyakarta que estabelecem “que a legislação internacional de direitos humanos afirma que toda pessoa, não importando sua orientação sexual ou identidade de gênero, tem o direito de desfrutar plenamente de todos os direitos humanos”.

 É imprescindível esclarecer que não compactuamos com atos de violência, balbúrdia ou depredação, bem como não somos contra as seleções ou o povo do Irã, da Nigéria, da Argélia ou da Rússia. A nossa intenção é denunciar a homofobia no mundo e cobrar providências.

 Esperamos, todos e todas, através de nossa luta, ideologia e persistência, conduzir a humanidade rumo a um ideal de respeito à pessoa humana, às liberdades fundamentais do ser humano e um mundo mais justo em que todas as formas de amor e de arranjos familiares são admirados pela beleza de sua essência, o amor.

Assinam este manifesto:  Aliança Paranaense pela Cidadania LGBT, Grupo Dignidade, entidades parceiras e ABGLT e suas filiadas

Preconceito e barreira da mídia são destaques no último dia de debates do I Encontro LGBT em Niterói/RJ
   9 de junho de 2014   │     12:00  │  0

O último dia de debates 1067_capado I Encontro Nacional de Arte e Cultura LGBT, realizado no Centro Petrobrás de Cinema, em Niterói-RJ, teve dois interessantes fóruns temáticos: “Olhares e Reflexões sobre Cultura LGBT” e “Diálogos sobre Mídias, Redes Socais e Comunicação” (Visibilidade, expressões e militância), e contou a participação do deputado federal Jean Wyllys e de Pedro Domingues, Coordenador Geral de Programas e Projetos Culturais da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura. 

O evento, que reuniu militantes da causa LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Trangêneros) de todo o Brasil, teve como aprimeira missão do sábado (07.06), debater o assunto: “Olhares e Reflexões sobre Cultura LGBT”. A mesa formada por Elisa Gargiulo (Banda Dominatrix), Valéria Rocha (Diretora teatral), Sandro Ka (Grupo Somos), César Almeida (Ator e diretor teatral) e Verónica (Atriz/cantora) foi muito elogiada pelos participantes e levantou questões sobre o pequeno número atrações voltadas para o público LGBT, como também, a falta de incentivo do governo para que haja produções direcionadas a este nicho que tem um vasto campo cultural e a necessidade de transformar o produto cultural LGBT em algo atraente para o mercado.

arte da dança, do canto e de interpretar são consideradas pelos militantes da causa gay e trangêneros como instrumentos capazes de difundir em larga escala a cultura LGBT. Segundo a travesti, cantora e atriz, Verônica, essas performances quando bem feitas, cativam qualquer um, mostrando que a sexualidade não pode determinar o talento de uma pessoa. “Mal ou bem, todos que têm uma escolha sexual diferente dos padrões estabelecidos pela sociedade, é um ser humano, um cidadão e que merece respeito”, defendeu a artista. 

Durante a mesa, surgiu a ideia de se criar uma rede de cultura que atravesse todas as regiões do país e todas manifestações artísticas, proposta que se tornou a principal reivindicação do encaminhamento final do evento. 

Já a segunda abordagem do dia ficou por conta do tópico: “Diálogos sobre Mídias, Redes Sociais e Comunicação” (Visibilidade, expressões e militância) discutido não só pelo público, como também, pela mesa composta por Jean Wyllys (deputado federal), Paulo Vespúcio (roteirista do filme: O casamento de Gorete), Roberta Salles (jornalista) e Marcos Rocha (Fábrica de Imagens). Entre várias considerações, os convidados deram ênfase à questão da censura a arte voltada para o LGBT. 

O debate falou sobre o papel dos produtores de mídia na difusão da cultura LGBT; a força que o segmento pode ter na rede, através de sites, blogs e vídeos, que geram um patrimônio cultural de linguagem própria; a falta de oportunidade dos profissionais que se encaixam nesse perfil; e a dificuldade de colocar em pauta, nos principais meios de comunicação, assuntos relacionados à cultura LGBT.

Um dos destaques da roda foi o depoimento do diretor e roteirista Paulo Vespúcio, que afirmou que já teve filmes vetados por serem destinados ao público gay/trangêneros ou mesmo por ter na história casos que contemplassem a causa. Outra consideração feita pelo roteirista do longa “O casamento de Gorete” foi a falta de patrocinadores para as produções. SegundoVespúcio, o empresariado não costuma apoiar a arte ou mesmo eventos que levantem a bandeira LGBT, apontando para esse fato, uma das causas de ter que adaptar as suas produções para que se torne “vendável” as distribuidoras. 

Por fim, o debate de encaminhamento resumiu as discussões de todo o Encontro e redigiu o documento final a ser apresentado ao Ministério da Cultura. Entre os pedidos, está a criação de uma rede de cultura LGBT que coloque os artistas e realizadores em comunicação, além de facilitar o acesso ao governo, e a conquista de mais espaço para a população trans, ainda muito renegada no meio. 

O I Encontro de Arte e Cultura LGBT contou ainda com stands para venda de livros com abordagem a cultura LGBT, além de exposições sobre este universo como: Figurinos In Drag, com curadoria de Almir França e coordenação de Felipe Carvalho. A última noite de discussões foi encerrada com a apresentação da tradicional Escola de Samba Unidos do Viradouro e com a abertura do palco para os artistas presentes ao evento.

Fonte: Ass. de Imprensa da Sec. de Cultura de Niterói

Neymar e Marta participam de campanha contra a homofobia durante a Copa do Mundo
   5 de junho de 2014   │     0:00  │  0

O mundo tem visto diversas iniciativas de tolerância, respeito e inclusão através do esporte nos últimos anos. Desde o beijo no pódio dos Jogos de Inverno de Sochi até o beijo televisionado do jogador de futebol Americano Michael Sam, mais pessoas estão discutindo, apoiando e respeitando ações de visibilidade à comunidade lésbica, gay, bissexual e transgênera.

E não poderia ser diferente na Copa das Copas. Às vésperas do maior mundial que o Brasil já viu, o Youtube lança a campanha#ProudtoPlay. Inspirados em ação semelhante do ano passado, o #ProudToLove, o Youtube resgata o mote: Jogue com orgulho. No canal oficial do Youtube, dezenas de jogadores como Denilson, a equipe do Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos fazem declarações de apoio à causa LGBT no futebol.

Reunindo atletas conhecidos no mundo inteiro, como Neymar, Kobe Bryant e a campeã mundial de futebol feminino, Marta, a campanha diz: não importa quem você ama. O que importa é fazer gols. E finaliza com a mensagem do ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela: “O esporte pode unir pessoas de um jeito que poucas coisas conseguem. O esporte pdoe criar esperança onde antes só havia desespero”.

Iniciativas como essa são importantíssimas para reafirmar a necessidade do fim da descriminação de gênero, sexo ou orientação sexual. É um apelo mundial para um mundo com mais respeito, união e tolerância.

Assista o video: Jogue Com Orgulho: a Copa do Mundo é também a Copa do Orgulho LGBT

 

O que tem por trás da histórica capa da Time com a atriz transexual Laverne Cox
   4 de junho de 2014   │     0:00  │  0

Primeiro, é preciso informar que a Time lamentavelmente cometeu uma falha na edição passada ao ignorar e deixar de fora Laverne na tradicional lista das “100 Pessoas mais influentes de 2014”, apesar de ela ter ficado em quinto lugar na votação online e de ter recebido mais de 91,5% de aprovação do público [veja ao lado]. Depois, é necessário refletir sobre como a atriz trabalha a própria visibi

lidade e conquistou a admiração dos espectadores – pois é, mais de 90% – a ponto de gerar uma onda de protestos e motivar a Time a dar uma CAPA como um autêntico e histórico pedido de desculpas. Aceitas, claro.

Mas por qual motivo Laverne se tornou referência, já que não é a primeira vez que pessoas trans ganham a mídia internacional?

Ao contrário de tantas figuras que bombam por aí e que investem no discurso chapa-branca, de preconceito internalizado, de ignorância ou de pura vaidade e competição, Laverne é exemplo por aliar talento dentro de um projeto de sucesso, ter orgulho de ser quem é e, sobretudo, nutrir coragem para se engajar em uma causa social malvista [e não ignorá-la como a maioria]. É evidente que nenhuma pessoa é obrigada a levantar bandeiras – ninguém é obrigado a nada – mas também é óbvio que já passou da hora de termos uma celebridade à lá Angelina Jolie dentro do universo trans. E não estamos falando de lábios carnudos. Uma artista engajada, corajosa, talentosa, bem humorada, influente, com fôlego e consciente de que faz parte de um grupo historicamente marginalizado e que, por esse motivo, necessita investir em um discurso afiado, inédito, desafiador e transformador. Desde que seu nome começou a se tornar conhecido, Laverne passou a utilizar de sua visibilidade para mudar um pouco a maneira como a mídia e como as pessoas cis entendem as pessoas trans. Ela transcendeu o debate e não se sujeitou a ele. E o melhor: para melhor.
E NO BRASIL?Embora a maioria das personalidades trans brasileiras não demonstra se preocupar realmente com a causa e a mídia não dê o real merecimento, é preciso destacar artistas que, como Claudia Wonder [1955-2011], são importantes nas artes e no processo democrático brasileiro: Maite Schneider, por exemplo, há décadas alia a arte e a militância, bem como Léo Moreira Sá, Laysa Machado, Leonarda Gluck.
Porém, por aqui, o cenário aparenta ser mais delicado. “É curioso esse cenário no Brasil porque a militância não é vista com bons olhos. […]A Angelina Jolie, por exemplo, é reverenciada pelo trabalho de militante, mas aqui ela seria vista como barraqueira. Para mim, essa dificuldade é pior, porque tenho uma vida pública e militante. As pessoas acham que estarei com a Constituição embaixo do braço.”, declarou Maite em recente entrevista ao NLucon.Que o exemplo, discurso e orgulho de Laverne inspirem a imprensa, os leitores e as artistas… Até porque a estratégia de se esconder ou não falar sobre o assunto não é garantia de sucesso, nem de trabalho, nem de importantes mudanças sociais. Só é garantia da histórica perpetuação do preconceito e da falta de oportunidades e visibilidade. Passamos por um PROCESSO histórico. Será que é sonhar muito alto ver Nany People finalmente apresentando um programa de tevê? Que Rogéria tenha muito mais que participações especiais em novelas? Que uma atriz que é trans seja protagonista ou estrele um comercial de pasta de dente?
Por: Neto Lucon – Jornalista

Ser homossexual é um sofrimento, não uma escolha nem um pecado em si
   3 de junho de 2014   │     13:03  │  0

Artigo

Philippe-ArinoPor: Philippe Ariño – Ativista francês nascido em Cholet , em 1981. Professor de espanhol, ele escreveu ensaios e colunas sobre a questão homossexual, sobretudo em relação ao cristianismo. Suas obras controversas experimentado um eco nos debates sobre o projeto de lei de abertura de casamento para casais do mesmo sexo.

 

Blogueiro e participante do universo ativista LGBT, começou-se a falar dele em 2011, quando Phillipe Ariño revelou que havia mudado de vida. Em 2013, ele guiou, em primeira linha, a batalha contra a legalização do “casamento para todos” francês; é autor do livro “L’homosexualité en vérité”, que na França vendeu mais de 10 mil cópias.

Foi ele quem aconselhou Frigide Barjot, ex-porta-voz da “Manif pour tous”, que não falasse de “heterossexualidade“, porque “assim se perde não só a batalha, mas também a guerra”.

Entrevistado por Tempi.it, Ariño explica que, “para salvar o ser humano, é preciso ir à origem do problema. É isso que tentamos fazer nas ruas com os veilleurs” (os “veladores”).

Conte-nos sua história. Como você cresceu?

Eu tinha uma péssima relação com o meu pai e, na adolescência, eu não conseguia fazer amizades masculinas. Depois entendi e reconheci que minhas tendências homossexuais eram sintoma de uma “ferida”: só dessa maneira meu sofrimento começou a diminuir.

Ser homossexual é um sofrimento; não é uma escolha, um pecado ou algo inócuo. Conheço mais de 90 pessoas com pulsões homossexuais que foram estupradas. Agora, o mundo LGBT me odeia porque conto isso, mas eu repito a eles também: a homossexualidade é uma ferida que não se alivia fazendo sexo. Se você não admitir isso, nunca terá paz.

Quando sua forma de entender a homossexualidade mudou?

Em 2011, descobri a beleza da continência. Eu havia começado a reconhecer que alguma coisa não estava bem e voltei à Igreja. Durante uma conferência, falei da minha situação e percebi que me ajudava. E não só isso: explicando o meu drama, consegui ajudar muitas pessoas, incluindo homens e mulheres casados.

Foi difícil?

EU encontrei um caminho, mas há muitos. Outros também conseguem superar estas pulsões; eu descobri que, reconhecendo a minha ferida e oferecendo-a a Cristo e à Igreja, minha condição dolorosa se transforma em uma festa. Ao não praticar a homossexualidade, não estou dizendo “não” às minhas pulsões, mas “sim” a Deus: é um sacrifício para ter o melhor, o máximo, algo que antes eu não tinha. Podemos pensar que o Senhor só nos ama se estivermos bem, mas acontece o contrário: Ele ajuda quem precisa dele e, se você lhe oferece os seus limites, Ele faz grandes coisas.

Por que as relações homossexuais não o faziam feliz?

Ao me relacionar com outros homens ou olhar para eles de maneira possessiva, eu sentia satisfação no momento. Mas estava sozinho e nunca me sentia completo. É então que caímos na ilusão de achar que podemos viver a sexualidade como os outros, mas, na verdade, a sexualidade só pode ser vivida na diferença sexual.

O que mudou concretamente na sua vida?

Antes, eu me sentia sempre inferior aos homens, porque ahomossexualidade é invejosa. Agora, após descobrir que Deus me ama e que sou seu filho, querido e amado, não me sinto inferior a nenhum homem. Assim, depois de muitos anos, descobri a beleza da amizade masculina, que eu não trocaria pelas relações do passado – quando eu fingia estar me realizando.

Pessoas como você, que abandonam seu passado, não são muito queridas pela comunidade LGBT. Como você se relaciona com o universo que frequentava?

Eles me colocaram na lista negra. Ficam me ameaçando e me etiquetam de homofóbico, mas eu não teria sobrevivido junto deles: é um mundo de mentiras, que exteriormente se mostra alegre, mas dentro está cheio de raiva e tristeza. A maioria dos atos homofóbicos e dos insultos contra as pessoas com tendências como as minhas provêm de pessoas que têm feridas como as minhas, que gritam e vociferam porque são frágeis.

Os ativistas podem aplaudir quando você fala, mas você só é visto em suasexualidade, como se fosse um animal ou um indivíduo de série B que precisa ter direitos especiais. É por isso que eu digo que somos os piores inimigos de nós mesmos. Na Igreja, no entanto, encontrei pela primeira vez alguém que me acolheu como pessoa, levando em consideração tudo o que o Philippe é.

Você costuma afirmar que a homossexualidade está se propagando. Por quê?

A identidade é cada vez mais frágil. Propaga-se porque o homem e a mulher, também os que moram juntos, muitas vezes não reconhecem a beleza da diferença e já não se encontram. Não sabem por que se casam, estão juntos mas ao mesmo tempo sozinhos, vivem a relação de maneira egoísta e não entram em comunhão. Só sobra o sentimento, enquanto este durar.

Por que os dois sexos se sentem tão distantes e alheios um do outro?

Penso que, quando se corta o vínculo com Deus, tudo se torna inimigo nosso, e então também surge a desconfiança entre o homem e a mulher. No entanto, as pessoas deveriam se casar para ajudar-se mutuamente a voltar Àquele que as criou: onde o homem não chega, chega a mulher. Do contrário, resta apenas a possessão que divide. E tudo isso prejudica os filhos. Se não partimos dessa consciência, nunca resolveremos o problema. Se jogamos a partida em outros campos, já a perdemos.

A que você se refere?

A ministra francesa de Justiça, Christiane Taubira, mãe da lei sobre o casamento gay, começou dizendo que era preciso distinguir entre casamento heterossexual e homossexual. Isso é uma mentira terminológica que não se ajusta à realidade e que não podemos aceitar. É preciso dizer que a heterossexualidade não existe: existem apenas o homem e a mulher, diferentes e complementares.

Além disso, não se deve excluir do debate a questão homossexual em si mesma. Se ela está se propagando, é responsabilidade de cada um de nós entender o que é e de onde vem, fazendo compreender o que estamos enfrentando. Pelo mesmo motivo, sempre digo que não é suficiente fazer um discurso cujo ponto de partida seja o direito das crianças, mas no qual se omite e tolera com indiferença as relações homossexuais. Só entendendo o sofrimento que deriva disso, e o fato de que se trata de uma amizade ambígua, incapaz de amor, se compreende que o único leito de crescimento para uma criança é a família com pai e mãe.

Inclusive nos casais do mesmo sexo mais estáveis, nos quais se busca o respeito, não há felicidade. Conheço alguns e muitas vezes são precisamente eles que me entendem. Durante uma conferência, um homem que vivia uma união estável há mais de 20 anos, me disse: “Como você tem razão!”. Outros se perguntam: “Mas que vida estamos vivendo?”. Quando a pessoa entende isso, já não pode dizer: “Coitados; vamos deixar que vivam como quiserem” e fazer o papel de “caridosos”, como ocorre hoje.

O que acontecerá com as crianças que crescem nesse novo modelo de “família”?

Se a criança não aprende a beleza da diferença, não será capaz de amar. Uma sociedade que finge exaltar as diferenças, mas depois as trata como uma ameaça, está educando uma geração que não saberá acolher o outro. Vivemos em um mundo que se recusa a encarar a realidade, com suas contradições e limites, como os da sexualidade – vista hoje como um perigo. Esta deformação da realidade humana está conduzindo a um colapso antropológico. E quanto mais avançarmos neste sentido, mais crescerão as formas de solidão, neurose e violência.

O que se pode fazer?

Respeitar a realidade e tentar voltar a entender sua finalidade. No que diz respeito a mim, eu digo que Jesus, sua verdade e a Igreja são o caminho para amar, ser amado e servir.