Tag Archives: Sexualidade e Gênero

Um homem que se relaciona com uma mulher trans ou travesti é gay ou hétero?
   13 de janeiro de 2022   │     12:14  │  0

Certo dia, uma amiga me abordou com o pretexto de me apresentar a um de seus amigos como um possível pretendente para mim, vulgo crush. No entanto, havia uma questão: eu sou uma mulher trans e o amigo dela é gay. Onde está o erro de minha amiga?

Na realidade, a resposta para a questão do título deste texto e para o erro de minha amiga é a mesma resposta, e é muito simples. Me parece que coisas óbvias, muitas vezes, são atravessadas e encobertas por construções de ideias conservadoras, as quais nos impedem de acessar com naturalidade o que chamamos de óbvio, tornando o movimento do entendimento algo complexo. Então vamos descomplicar, partindo de um pré-requisito básico para compreender essa questão?

O primeiro passo é entender a diferença entre sexualidade e identidade de gênero. Na sigla LGBT, por exemplo, as três primeiras letras referem-se à sexualidade. No caso de L ou G, diz respeito às pessoas que se interessam sexo-afetivamente por outras pessoas do mesmo gênero que o delas, e B para pessoas que se atraem tanto pelo gênero masculino quanto pelo feminino, ao mesmo tempo.

Apenas a letra T da sigla, trata-se de identidade de gênero, que é quando uma pessoa não se identifica com o gênero compulsório, designado à ela ao nascer e baseado na genitália – a isso chamamos de gênero cisnormativo – e faz o movimento de transição para o outro gênero com o qual ela se compreende; por exemplo: uma pessoa designada socialmente homem ao nascer, pode se identificar ao longo da vida com o universo de performance do feminino, reconhecendo-se mais tarde como uma mulher-trans e vice-versa.

A maioria das pessoas possui uma sexualidade e um gênero com o qual se identifica, portanto, todas as lésbicas tem um gênero e são necessariamente mulheres, assim como toda mulher trans tem pelo menos uma das sexualidades possíveis. Eu sou uma mulher trans heterossexual, por exemplo, e tenho amigas trans que são lésbicas, o fato delas terem se entendido no mundo como mulheres trans não alteraram sua sexualidade, por isso é comum ver mulheres trans com esposas, naturalmente.

Uma vez esclarecido o que chamei de pré-requisito básico, vamos à questão: um homem que se relaciona com uma mulher-trans ou travesti é hétero ou gay? Ele é hétero ou, no mínimo, está tendo um comportamento heterossexual. Ora, a performance de gênero pela qual um homem hétero se interessa é a performance do feminino e essa qualidade é própria de mulheres trans, travestis e de mulheres cis normativas.

Uma questão interessante disso tudo é que alguns homens heterossexuais casados sentem muito prazer em ser penetrados por suas esposas, seja com um dedo, seja com o pênis ou com artigos de sex shop. Esses homens desejam ser penetrados, mas não se interessam e não buscam a performance do masculino para realizá-lo, a imagem e performance que os satisfazem é a do feminino. Portanto se um homem hétero é penetrado por uma mulher trans, travesti, ou por uma mulher cisgênero, ele naturalmente é hétero ou está tendo um comportamento heterossexual. Não haveria problema algum se eles fossem gays, mas não o são. O cerne do problema é sempre o mesmo: o machismo que desemboca na homofobia e na transfobia e que impedem pessoas que se interessam mutuamente de se relacionarem livremente, sem ser alvo de chacota e violência psicológica ou física.

E aí chegamos no erro de minha amiga: querida amiga, mulheres trans podem até se interessar por gays, mas gays não se interessam por mulheres.

* Estou falando em primeira pessoa, portanto no lugar de uma mulher trans, quando digo o termo “homem” no texto, me refiro a homens trans ou cisnormativos, seja ele hetero, bi, assexuado ou gay.

Fonte: Vogue Globo

Foto: By Vasconcellos

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Crianças intersexuais precisam ser operadas ainda bebês? A polêmica discussão nos EUA
   5 de fevereiro de 2020   │     0:00  │  0

Primeira parte da matéria

Primeira parte da matéria

Foi somente aos 41 anos de idade, quando já era casada e mãe de duas filhas adotivas, que a advogada americana Kimberly Zieselman descobriu que era intersexual. Ela lembrava de ter se submetido a uma cirurgia aos 15 anos de idade, após ter sido levada ao médico por seus pais, preocupados porque a menina não ficava menstruada.

Segundo Zieselman, os médicos disseram na época que ela tinha órgãos reprodutivos femininos parcialmente formados e que, sem cirurgia, corria o risco de desenvolver câncer. “Então meus pais foram convencidos a aceitar a cirurgia. O que disseram a eles — e o que eu cresci ouvindo — é que fui submetida a uma histerectomia, à remoção de órgãos femininos”, diz Zieselman à BBC News Brasil.

Quando, décadas depois, ela buscou seu histórico médico, o documento trazia termos como “pseudo-hermafroditismo masculino” e “feminização testicular”. Zieselman então descobriu que, na verdade, tinha uma condição chamada Síndrome de Insensibilidade Androgênica, que afeta a resposta do organismo a hormônios masculinos.

Apesar de ter nascido com um par de cromossomos XY, relacionados ao desenvolvimento de aparência masculina, seu corpo desenvolveu aparência feminina. Mas em vez de ovários e útero, ela tinha testículos internos, e foi isso que a cirurgia, feita em 1982, removeu.

“Eu então comecei terapia de reposição hormonal, e me disseram que eu não deveria falar sobre o assunto, que era privado, que era raro, e que eu era provavelmente a única pessoa no mundo (com essa condição)”, lembra.

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13 anos de Luta pela cidadania LGBTI+ em Teotônio Vilela
   14 de março de 2019   │     21:29  │  0

Para celebrar o Orgulho LGBTI+ a organização da sociedade civil Afinidades GLSTAL realiza, e a prefeitura de Teotônio Vilela apoia, as diversas atividades que acontecem neste fim de semana!

As iniciativas fazem parte do Projeto Afirmando Identidades e fazendo novas escolhas pro-saúde integral de LGBTI+ em Alagoas financiado pela UNESCO e acontecem a partir deste final de semana no município de Teotônio Vilela.
“Concurso escolhe, Miss Gay, Rainha da Parada e Miss Trans”
No sábado (16/03) às 21 horas, o Clube Vilelense receberá as candidatas que farão entrada em trage de glamour. Nessa etapa serão escolhidas as mais votadas pelo jurado que observarão os critérios de beleza, figurino e talento. A noite será dançante animada pelo DJ Jonh!
“Somos família” esse é o nosso slogan !
No domingo (17/03) a 13° Parada do Orgulho LGBT de Teotônio Vilela fará concentração a partir das 15 horas na pç. de eventos da cidade.

O cortejo seguirá com trio elétrico em direção a orla afirmando para a sociedade de que somos milhões de filhos e filhas, pais, mães, parentes e amigos ocupando todos cantos e contribuindo para todas as áreas do conhecimento. Contará com apresentações performáticas as mais diversas e show da Banda musical de Allana Cardoso.
Exposição “Transhow: A arte transgride, o corpo resiste!”
É um show de imagens de uma apresentação artística que aconteceu no Teatro de Arena e objetivou oferecer novos significados através da arte, enfatizando as lutas pela cidadania e os desafios do cotidiano de travestis e transexuais. As imagens são uma homenagem performática ao artista transformista Reinaldo Reis que foi brutalmente assassinado em atendado homofóbico.

As fotos produzidas nesses ensaio, são registros de Laudemi Oliveira do espetáculo artístico Transhow, realizado em homenagem a personagem de Reinaldo (Dryelly Reis). A exposição ficará no Centro Cultural de Teotônio Vilela, durante toda semana, Neste espaço será colocada uma tenda para prestar serviço a população com distribuição de preventivos, material informativo, também haverá exibição de filmes com temática homoafetiva.
SEMINÁRIO LGBT VAI DISCUTIR GENERO E SEXUALIDADE NOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Terça feira (19/03), das 8:30 h às 17h, o auditório da Secretaria Municipal de Saúde de Teotônio recebe o Seminário Gênero e Sexualidade nos Serviços de Saúde que tem por objetivo demostrar que existem demandas especificas de saúde relacionadas a população LGBTi+ e as melhoras que podem ocorrer quando estes usuários são visto de forma integral e atendidos com respeito.
A programação do seminário traz quatro momentos de discursão em forma de palestras e painés com especialistas na área, abordando para construção de um novo cenário na saúde para o acolhimento qualificado, equânime e integral de LGBTI+.
O seminário tem apoio da Prefeitura de Teotônio Vilela, Prefeitura de Campo Alegre, Prefeitura de Pilar, Prefeitura de Junqueiro e Prefeitura de Maceió.

O seminário é gratuito, mas as inscrições estão sendo realizadas e articuladas de forma a garantir a participação de representantes destes municípios.
Informações:
Presidente do Afinidades GLSTAL – Jadson Andrade Fone: 996865317 e-mail: [email protected] e/ou Julio Daniel 991715115 / Marinho 991148884

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Pansexualidade “?!”
   7 de abril de 2017   │     19:05  │  0

Pansexual é um termo que não faz parte dos dicionários de língua portuguesa. O conceito, porém, é usado para qualificar a pessoa que se sente atraída sexualmente por outros indivíduos para além do seu género. Isto significa que um sujeito pansexual pode ter relações românticas com mulheres, homens, transexuais, intersexuais (ou hermafroditas), etc.

Pode-se dizer, por conseguinte, que os pansexuais podem ter vínculos íntimos com qualquer ser humano, uma vez que não dão relevância às condições de género e sexo. A pansexualidade, efectivamente, caracteriza-se pela minimização da importância da sexualidade e o género, algo que diferencia os membros deste grupo relativamente aos indivíduos bissexuais (que podem ter relações com mulheres ou homens, mas reconhecendo a relevância do género).

Muitas vezes, porém, é associada a pansexualidade com a bissexualidade. O qualificativo de pansexual não é muito difundido e a ideia de bissexualidade costuma ser suficiente para fazer referência aos gostos sexuais e românticos do indivíduo em questão.

A legisladora norte-americana Mary González, representante do estado de Texas, é uma das poucas figuras públicas que se autodefinem como pansexuais. Segundo ela, a classificação binária homem/mulher não é importante, uma vez que a identidade de género não é aquilo que “define” a sua atracção por outro ser humano, conforme comentou em declarações publicadas por Huffington Post.

No âmbito da ficção, personagens de series como “Will & Grace” e “Doctor Who” definiram-se como pansexuais.

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O que são pessoas cis e cissexismo ?
   22 de março de 2017   │     0:22  │  0

Artigo

Por: Hailey Kaas – blogueira na área sobre Feminismos, Transfeminismos,Gordofobias, racismos, Bissexualidades/Pansexualidades e Sexualidades não-binárias, Acessibilidades e outros elementos de Justiça Social.

Vivemos em uma sociedade ciscêntrica, cisnormativa. Isso ocorre porque as pessoas cis detém o poder de decisão sobre as pessoas não-cis dentro de vários âmbitos: Médico, Político, Jurídico, Financeiro etc.

Mas quem são as pessoas cis? Utilizei a seguinte definição a priori:

“Uma pessoa cis é uma pessoa na qual o sexo designado ao nascer + sentimento interno/subjetivo de sexo + gênero designado ao nascer + sentimento interno/subjetivo de gênero, estão ‘alinhados’ ou ‘deste mesmo lado’ – o prefixo cis em latim significa “deste lado” (e não do outro), uma pessoa cis pode ser tanto cissexual e cisgênera mas nem sempre, porém em geral ambos.”

Uma pessoa cis é aquela que politicamente mantém um status de privilégio em detrimentos das pessoas trans*, dentro da cisnorma. Ou seja, ela é politicamente vista como “alinhada” dentro de seu corpo e de seu gênero.

Quero evitar dicotomizar aqui sexo e gênero, pois muito embora essas categorias sejam divisíveis para problematização, a ideia que a ciência construiu sobre o sexo é pré-discursiva, ou seja, é como se fosse compulsoriamente uma verdade.

Voltando na definição cis. Eu já havia retificado minha afirmação prévia em outra postagem, na qual elimino a discussão etimológica sobre o prefixo cis, porque não é cabível em uma discussão que se quer puramente política. Não queremos criar uma dicotomia entre pessoas cis e pessoas trans* e sim evidenciar o caráter ilusório da naturalidade da categoria cis.

O alinhamento cis envolve um sentimento interno de congruência entre seu corpo (morfologia) e seu gênero, dentro de uma lógica onde o conjunto de performances é percebido como coerente. Em suma, é a pessoa que foi designada “homem” ou “mulher”, se sente bem com isso e é percebida e tratada socialmente (medicamente, juridicamente, politicamente) como tal.

Mas afinal o que é cissexismo então?

Primeiramente é a desconsideração da existência das pessoas trans* na sociedade. O apagamento de pessoas trans* politicamente por meio da negação das necessidades específicas dessas pessoas. É a proibição de acesso aos banheiros públicos, a exigência de um laudo médico para as pessoas trans* existirem, ou seja, o gênero das pessoas trans* necessita legitimação médica para existir. É a negação de status jurídico impossibilitando a existência civil-social em documentos oficiais.

Porém esses exemplos são mais óbvios, e poderíamos chamá-los simplesmente de transfobia. O cissexismo é mais sutil. Ocorre quando usamos o termo biológico para designar pessoas cis, quando usamos certos discursos e certas expressões que excluem ou invalidam direta ou indiretamente as identidades das pessoas trans*.

Cissexismo será, então, qualquer discriminação baseada em uma ou mais das noções descritas abaixo:

1) Só existe um tipo de morfologia (corpo) e este deve estar alinhado com o gênero designado ao nascer;

2) Só existem dois gêneros (binários: masculino/feminino) e que uma pessoa deve estar alinhada dentro de um desses dois;

3) Uma pessoa trans* tem uma vivência menos ‘verdadeira’, e/ou nunca será ‘verdadeira’ se não fizer modificações em seu corpo para ficar mais próxima de um dos gênero binários;

4) Uma pessoa precisa estar dentro de um desses gêneros binários, porque senão ela não será feliz ou não será aceita;

5) As pessoas que não se encaixam no binário são doentes mentais, tem patologia e precisam se tratar de algum modo para se curar e que essa cura ou será o alinhamento ou o processo transsexualizador;
6) O corpo da pessoa trans* é “bizarro” e ela não pode viver no “entre” (na fronteira);

7) Achar que uma pessoa ‘chama atenção’, ‘dá pinta’, é ‘escandalosa’ e não age como o esperado do alinhamento cis, e por isso ela irá prejudicar a causa LGBT; (Atenção porque esse discurso está bastante difundido no meio LGBT!)

8) Uso de termos ofensivos, mas que muitas pessoas (atenção, LGBT!) não acham ofensivos, ou evocar arbitrariamente (sem a permissão da pessoa) o nome designado ao nascer, a experiência “pregressa” (falar em “antes” e “depois” é cissexista também); termos como ‘transvestir’, ’transformista’, ‘traveco’, ‘transsex’, ‘t-gata’ (sim, ‘t-gata’ é um termo fetichizador cissexista e sexista também, objetificador: atenção pessoas que se identificam como “t-lovers”); uso de termos como crossdress, drag, drag queen/king, quando você não sabe qual é a identidade da pessoa;

9) Designar arbitrariamente a identidade da pessoa. Conhecer alguém e prontamente decidir qual é a ID da pessoa baseada na imagem – visual e/ou performática – (da sua posição cis) que você tem dela. Alinhar pronomes e identidades também é cissexista;

10) Na simples discriminação pela pessoa não ser cis, por ter qualquer comportamento diferente do esperado pelo alinhamento cis. Nesse ponto o sexismo também tem papel importante. Cissexismo e sexismo são faces da mesma moeda;

Em suma, por que nomear as pessoas cis?

Como eu disse mais acima, ser cis é uma condição principalmente política (mas não só). A pessoa que é percebida como cis e mantém status cis em documentos oficiais não é passível de análise patologizante e nem precisa ter seu gênero legitimado. Ora homens são homens, mulheres são mulheres e trans* são trans* correto?

Não. Historicamente, a ciência criou as identidades trans* (e por isso já nasceram marginalizadas), mas não criou nenhum termo para as identidades “naturais”. É por isso que a adoção do termo cis denuncia esse statusnatural. Denotar cis é o mesmo processo político de nomear trans*: nomeia uma experiência e possibilita sua análise critica. Nas produções acadêmicas contemporâneas, tanto das ciências médicas quanto das sociais, a identidade trans* é colocada sempre sob análise, tornando-se compulsoriamente objeto de critica.

A naturalização das identidades cis produz privilégios. Esses privilégios são diretamente percebidos na medida em que, como dito, pessoas cis não precisam ter sua identidade legitimada pela ciência; tampouco estão classificadas como doentes mentais em documentos médicos; não sofrem privações jurídicas de existência em documentos oficiais; não sofrem violência transfóbica e cissexista; não precisam dar explicações sobre suas identidades; não são vistas como pervertidas e nem tem sua sexualidade confundida com seu gênero.

Ao nomearmos @s “normais” possibilitamos o mesmo, e colocamos a categoria cis sob análise, problematizando-a. Buscamos o efeito político de elevar o status de pessoas cis ao mesmo das pessoas trans*: se pessoas trans* são anormais e doentes mentais, pessoas cis também o são, suas identidades também não são “reais”; se pessoas cis são normais e suas identidades naturais, pessoas trans* também são normais e suas identidades tão reais quanto.

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