Monthly Archives: novembro 2014

Denúncias ligadas à homofobia crescem 460% nos últimos quatro anos
   23 de novembro de 2014   │     0:00  │  0

De acordo com dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDHPR), o Disque 100 registrou 1.159 denúncias ligadas a homofobia em 2011, passados quatro anos o número cresceu 460% e até outubro deste ano haviam sido registradas mais de 6,5 mil casos.

André Baliera foi agredido por duas pessoas em 2012 quando voltava a pé para casa

André Baliera foi agredido por duas pessoas em 2012 quando voltava a pé para casa

Os números atuais mostram que um homossexual sofre algum tipo de violência no Brasil a cada hora. A maior parte das vítimas são jovens, que representam 33% do total de ocorrências. Os homens também são o principal alvo, a cada quatro casos, três são contra o sexo masculino. As grandes cidades são o principal cenário para os crimes de homofobia, cerca de 26% dos casos são registrados em metrópoles.
O estudante de Direito da USP, André Baliera, de 29 anos, foi espancado por dois homens em 2012. No caminho de volta para casa, na Rua Henrique Schaumann, zona Oeste da capital paulista, Bruno Porieri e Diego Souza ofenderam André e o agrediram. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, ele afirma que apesar dos esforços, que incluem terapia e acompanhamento médico, ainda não superou o trauma, mas toca a vida da forma mais próxima possível à normalidade.

A coordenadora da área de LGBT da SDHPR, Samanda Freitas, vê com bons olhos o crescimento das denúncias e afirma que o desafio agora é garantir o acompanhamento dos casos. Ela explica que o sistema precisa melhor no que diz respeito ao atendimento aos crimes de homofobia.

A violência contra homossexuais no Brasil atinge níveis alarmantes, segundo a ONG Transgeder Europe, atualmente o país lidera o número de assassinatos de travestis e transexuais. O estudo da ONG mostra que entre janeiro de 2008 e abril de 2013 foram registradas 486 mortes, quatro vezes mais que no México, o segundo país com o maior número registros.

Além da violência física, a SDRPH destaca os casos de violência psicológica, que estão entre os mais registrados em delegacias especializadas em Direitos Humanos. Aproximadamente 76% das denúncias são de homossexuais que sofrem preconceito em ambientes cotidianos, como no trabalho.

Fonte: Estado de São Paulo

Criminalização da homofobia só será discutida em 2015
   22 de novembro de 2014   │     0:00  │  0

O projeto de lei 122, que criminaliza a homofobia, tramita há oito anos no Congresso. Visto por especialistas como principal instrumento para diminuir o número de assassinatos e atos violentos contra homossexuais, a mobilização de grupos religiosos fez o texto parar no Senado. A expectativa dos parlamentares é de que só retorne à pauta em 2015.

Apresentada em 2006 na Câmara dos Deputados, a proposta prevê penas de até 5 anos de prisão para quem cometer atos diretos ou indiretos de discriminação ou preconceito motivado pela orientação sexual. O texto já foi aprovado na Câmara dos Deputados. Após uma grande negociação no Senado, o termo homofobia até foi excluído do texto. A proposta era enquadrar o delito como crime de ódio, com as mesmas regras válidas para o racismo. Mesmo assim, a discussão não avançou.
Morte
Um jovem foi morto a facadas próximo ao Portão 3 do Parque Ibirapuera, na zona sul da capital paulista, na manhã deste domingo (16). Marcos Vinícius Macedo de Souza, de 19 anos, chegou a ser socorrido por policiais militares, mas morreu no hospital.
Uma das suspeitas da polícia civil é que o crime tenha sido motivado por homofobia. Segundo amigos da vítima, Souza era gay. Apesar de ter ido acompanhado ao parque, conhecido ponto de encontro de grupos LGBT, o jovem estava sozinho no momento do crime.
Ele foi encontrado ferido, com um corte no tórax, na Avenida Pedro Álvares Cabral, por volta das 5h30.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), uma testemunha afirmou que encontrou Souza caído no chão e uma aglomeração de pessoas em volta. Ao perceber que o jovem estava ferido, chamou a Polícia Militar.
Os policiais socorreram o jovem, que teria sofrido duas facadas, ainda com vida. Em estado grave, ele foi levado ao Pronto-Socorro do Hospital São Paulo, próximo ao parque, mas não resistiu aos ferimentos. O agressor ainda não foi encontrado, afirma a SSP. O caso foi registrado no 27° Distrito Policial (Campo Belo) mas será investigado pelo 36° DP (Vila Mariana).
A cada hora, um homossexual é agredido 
A cada hora, um homossexual sofre algum tipo de violência no Brasil. Nos últimos quatro anos, o número de denúncias ligadas à homofobia cresceu 460%. Segundo números obtidos pelo Estado, o Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDHPR), registrou 1.159 casos em 2011. Neste ano, em um levantamento até outubro, os episódios de preconceito contra gays, lésbicas, travestis e transexuais já superam a marca de 6 5 mil denúncias.
Os jovens são as principais vítimas dos atos violentos e representam 33% do total das ocorrências. A cada quatro casos de homofobia registrados no Brasil, três são com homens gays. Estudante de Direito na USP, André Baliera, de 29 anos, foi espancado em 2012 por dois homens no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Ele voltava a pé para casa pela Rua Henrique Schaumann quando dois jovens o ofenderam por causa de sua orientação sexual. Depois de uma discussão, acabou agredido pela dupla.
“Nos primeiros dias, não saía de casa. Fui ao psiquiatra, tomei remédios e fiquei seis meses sem passar na frente do posto em que fui agredido”, conta Baliera. Quase dois anos depois, receio e medo ainda estão presentes no dia a dia, assim como o preconceito. “Em junho deste ano, estava com meu namorado assistindo a um filme em Santos e fomos xingados de ‘viados’ dentro do cinema. Chamei a polícia na hora”, disse.
Para a SDHPR, o crescimento das denúncias é um fator positivo para combater a violência homofóbica. A coordenadora da área LGBT, Samanda Freitas, diz que o desafio é apurar os crimes. “Precisamos melhorar o atendimento desses casos e isso passa por um treinamento dos policiais para que identifiquem os crimes de ódio LGBT e investiguem com o mesmo cuidado que as demais ocorrências”, afirmou.
Cerca de 26% dos casos acontecem nas ruas das grandes cidades. Em 2007, a transexual Renata Peron voltava de uma festa com um amigo quando nove rapazes os cercaram na Praça da República, centro da capital paulista. Trinta minutos de violência foram tempo suficiente para chutes, socos, xingamentos, três litros de sangue e um rim perdidos por Renata. “Ninguém foi preso e fica um sentimento de pena. Nem bicho faz essas coisas. Passei seis meses fazendo terapia para entender a razão de ter sido agredida.”
Assassinatos
O filho de Avelino Mendes Fortuna, de 52 anos, não teve a mesma sorte. Ontem fez dois anos que Lucas Fortuna, de 28, morreu assassinado em Santo Agostim, no Grande Recife, em Pernambuco. Jornalista, foi espancado por uma dupla de homens e jogado ainda vivo no mar. Os assassinos foram presos e confessaram o crime por homofobia, mas no inquérito a polícia trata o caso como latrocínio.
Depois da morte, Avelino virou ativista na ONG Mães pela Igualdade, que luta pelo fim da discriminação contra homossexuais e pelo engajamento dos pais LGBTs na vida de seus filhos. “O pai que não sai do armário juntamente com seu filho se torna cúmplice da morte e da agressão dele no futuro”, afirmou. “Um dos nossos objetivos é fazer com que os pais participem, lutem pelos direitos da sua família.”
Preconceito. A discriminação e a violência psicológica, no entanto, estão entre as ocorrências mais comuns registradas na SDHPR e delegacias especializadas em Direitos Humanos. Cerca de 76% dos casos são de homossexuais que sofrem preconceito no trabalho, assédio moral e perseguição. No Maranhão, o professor universitário Glécio Machado Siqueira, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), tem sido alvo de ofensas pelos estudantes de Ciências Agrárias. “Desde o começo do ano, recebo ameaças, injúrias e boicotes das minhas aulas por causa da minha orientação sexual. Entrei em contato com todas as instâncias da universidade e a resposta que recebi foi o silêncio”, reclama.
A Organização dos Advogados do Brasil (OAB) entregou queixa-crime para a UFMA. A reportagem entrou em contato com a universidade, que não se manifestou. “É triste ver que em uma universidade, onde estamos para expandir conhecimentos, acontece essa homofobia velada. A minha tristeza foi convertida em luta pelos direitos humanos. Espero que mais homossexuais tomem coragem para fazer o mesmo.”
Por: Tânia Rego – Agência Brasil

Zumbi dos Palmares era homossexual ?
   21 de novembro de 2014   │     12:00  │  0

Ponto de vista

Por: Luiz Mott – Crônicas de um gay assumido. Rio de Janeiro, Editora Record, 2003, p. 155-160

Quando Mott afirmou que o líder negro Zumbi era gay, os vidros do seu carro foram quebrados e picharam em seu muro a frase “Zumbi vive. Filhos de Zumbi”.

“O apelido era sueca e foi criado por um padre que o chamava de “meu neguinho”

“O apelido era sueca e foi criado por um padre que o chamava de “meu neguinho”

Digo e repito: raramente foi Luiz Mott quem levantou a lebre pela primeira vez de que personagens históricos ou celebridades nacionais eram praticantes do amor que não ousava dizer o nome. Como leio muito, pesquiso sem parar e arquivo tudo o que encontro sobre homossexualidade, ao divulgar que Cássia Eller também gostava do babado, que Mazzaropi era gay, que Collor idem – estou simplesmente repetindo o que outros autores já publicaram em livros, revistas ou jornais ou faz parte de nossa história oral. Ontem mesmo tive uma enorme surpresa ao ler num jornal que um historiador mineiro declarou que Tiradentes também “jogava água fora da bacia” – embora ainda não tenha conhecimento de seus argumentos. Quem tiver alguma pista, me avise!

 Com Zumbi a coisa foi assim: um famoso historiador gaúcho, Décio Freitas, autor de não menos célebre livro sobre o Quilombo de Palmares, declarou a outro historiador, Mario Maestri, especialista em escravismo colonial, que só não escrevia que Zumbi era gay porque tinha medo da reação do movimento negro.

Fiquei com a pulga atrás da orelha, pois nunca tinha imaginado que o herói negro pertencesse ao batalhão dos amantes do mesmo sexo. Comecei a pesquisar as biografias de Zumbi e acumulei 5 pistas que sugerem maior identificação de Zumbi como homossexual do que como heterossexual. Portanto, à indagação: era Zumbi Homossexual? a resposta é: provavelmente sim! Zumbi dos Palmares deve ter praticado “o amor que não ousava dizer o nome”.

Dispomos até agora de cinco pistas que sugerem sua homossexualidade, enquanto não há nenhuma prova definitiva de que o líder quilombola era heterossexual. Desafio qualquer historiador a comprovar, com documentos da época, que o maior herói negro das Américas teve alguma mulher ou filhos. Não passa de mera presunção e miopia sexológica imaginar que o simples fato de ter sido guerreiro valente serviria como prova de que sendo do sexo forte, gostava do sexo frágil. Ledo engano: o maior general da Antigüidade, Alexandre Magno, também foi grande em seu amor pelos rapazes. O famoso “Batalhão dos Amantes de Tebas”, todo ele formado de pederastas, destacou-se por sua inigualável valentia. Frederico o Grande da Prússia e Lawrence da Arábia, entre muitos outros, são exemplos mais recentes de que muitos homossexuais foram notáveis guerreiros. Portanto, não há qualquer incompatibilidade entre Zumbi ter sido guerreiro retado e amante do mesmo sexo.

Insisto: não havendo nenhuma prova da heterossexualidade de Zumbi, apresento aqui quando menos cinco pistas que sugerem que provavelmente Zumbi dos Palmares era“chibungo” (termo de origem angolana, corrente na Bahia atual, sinônimo de homossexual masculino). Tais indícios juntos valem mais do que documento nenhum sobre sua improvável heterossexualidade.

Primeira pista: não há evidência alguma comprobatória que Zumbi teve mulher ou filhos. Para um grande chefe guerreiro, a poligamia era privilégio indispensável. Ganga-Zumba, tio putativo de Zumbi, teve três mulheres, sendo duas negras e uma mulata. Porque Zumbi abriria mão deste cobiçado prêmio, considerando que devido à carência de mulheres, os quilombolas da Serra da Barriga tinham de contentar-se com uma mulher para vários homens? Como informa o historiador negro Joel Rufino, “os brasileiros sempre acreditaram que os negros famosos e ricos devem se casar com brancas”, tanto que autores mais românticos inventaram uma mulher branca para o líder dos Palmares. ”Legenda romântica…” conclui o mesmo autor.

Segunda pista: Zumbi era conhecido por um intrigante apelido: SUECA. Esta informação é confirmada por Clóvis Moura, outro respeitado historiador negro. Segundo o dicionarista Antônio Morais, que viveu em Pernambuco no século seguinte à epopéia palmarina, “sueca” já naquela época tinha o mesmo significado de hoje: “mulher natural da Suécia”. Por que um negão, valoroso guerreiro, seria chamado por nome feminino? Debaixo deste angu tem carne! Nesta mesma época encontramos alguns homossexuais denunciados à Inquisição Portuguesa que também eram chamados por apelidos femininos: “A Galega”, “A Bugia da Alemanha“, inclusive um sodomita negro do Benin que apesar do nome batismal de Antônio, jogava pedra em quem não o chamasse de “Vitória”. “Sueca” é apelido mais adequado para um hétero ou homossexual?

Terceira pista: Zumbi, que ficou coxo num acidente de batalha, descendia dos Jagas de Angola, etnia onde a homossexualidade tinha numerosos adeptos, os famosos “quimbandas”, conforme atestam contemporâneos da guerra dos Palmares, entre eles o Padre Cavazzi e o Capitão Cadornega. Se até em sociedades repressivas e anti-homossexuais o homoerotismo tem batalhões de adeptos, nada mais lógico que também no quilombo de Palmares, onde havia grande falta de mulheres, os “quimbandas” fossem aceitos com naturalidade, como ocorre em muitas comunidades onde há desequilíbrio dos sexos, e que Zumbi também fosse amante de um deles.

Quarta pista: Zumbi, descrito como possuidor de “temperamento suave e habilidades artísticas”, antes de fugir para o mocambo, até os 15 anos, foi criado pelo Vigário de Porto Calvo, Padre Melo, referido como “afeiçoado a seu negrinho”. Ora: nos tempos inquisitoriais a homossexualidade era chamada, com razão, de “vício dos clérigos”, tantos eram os padres envolvidos com as práticas homossexuais. 1/3 dos condenados pela Inquisição pelo pecado de sodomia eram padres. Muitos destes tendo como cúmplices exatamente seus escravos , crias da casa. Os retornos de Zumbi à casa de “seu” padre, depois de tornado quilombola, revelam uma relação profunda que superou as diferenças de raça, classe e idade. “Diz-me com quem andas, que direi quem és…” diz o ditado popular.

Quinta pista: dizem os estudiosos que Zumbi, ao ser preso e executado, a 20 de novembro de l695, foi degolado “sendo castrado e o pênis enfiado dentro da boca”. Macabra coincidência: o Grupo Gay da Bahia dispõe de um volumoso dossier de assassinato de homossexuais brasileiros, onde constam 5 gays, dois em Alagoas, o mesma região onde castraram Zumbi, que foram encontrados mortos exatamente como o chefe quilombola: com o pênis dentro da boca. Uma forma antiga e simbólica de humilhar os “falsos ao corpo” que por não terem usado adequadamente seu falo, tornaram-se merecedores de engoli-lo na hora da morte.

Enquanto não se provar o contrário, com o exigido rigor documental, estas cinco pistas permitem-nos afirmar que o grande Zumbi dos Palmares provavelmente era amante do mesmo sexo. Longe de desmerecer a valentia do maior líder negro do Novo Mundo, tais pistas aumentam-lhe a glória, pois ainda hoje, só cabras muito machos têm a coragem de assumir o amor por outro homem. Baseando nestes fortes indícios, o Movimento Homossexual Brasileiro participou orgulhoso e solidário, ao lado de todos os negros, mestiços e brancos anti-racistas, das comemorações do terceiro centenário da morte de Zumbi (1995) herói negro e provavelmente, depois de Alexandre Magno, o homossexual mais valente de toda História Universal.

Post Scriptum: Por causa deste artigo, publicado em diversos jornais na época daquelas celebrações em 1995 , os muros de minha casa foram pichados e os vidros de meu carro quebrados por alguém que considerou um ultraje um herói negro ser amante do mesmo sexo. Vários líderes negros me condenaram por estar “denegrindo” (sic) a imagem do líder quilombola, outros chegaram a dizer que homossexualismo era coisa de branco e que não existiam gays e lésbicas na África.

Felizmente fui apoiado por grande número de intelectuais e políticos, negros inclusive, que consideraram politicamente incorreta a reação machista e preconceituosa destes negros opondo-se à possibilidade de Zumbi ter sido gay e absolutamente condenável a violência cometida contra mim. Estas reações negativas comprovam o acerto da pesquisa da Data-Folha divulgado no primeiro capítulo deste livro: os negros e afro-descendentes são mais conservadores sexualmente do que o resto dos brasileiros. Conservadorismo ao menos na teoria – e na falação – pois na prática, tenho minhas dúvidas, pois a quantidade e soltura dos gays, lésbicas, travestis e bissexuais negros contradiz a sexofobia e homofobia manifestadas no tricentenário de Zumbi.

Relatório 2014: No Brasil, homofobia matou ao menos 216 em 2014
     │     10:05  │  0

Segundo relatório de entidade LGBT, região com mais registros é Nordeste. Por Carina Bacelar, Rafael Galdo e Michelle Miranda/O Globo RIO

Segundo relatório de entidade LGBT, região com mais registros é Nordeste.
Por Carina Bacelar, Rafael Galdo e Michelle Miranda/O Globo
RIO

RIO — A homofobia, que ainda não é considerada crime no país, provocou pelo menos 216 assassinatos de janeiro até o dia 21 de setembro deste ano, de acordo levantamento do Grupo Gay da Bahia, que, na ausência de informações oficiais sobre uma prática que não é discriminada nos boletins de ocorrência, é referência sobre o tema no país.
Segundo o grupo, em 2013 o número de assassinatos chegou a pelo menos 312 — o que corresponde a uma morte a cada 28 horas. Em 2012, foram no mínimo 338 vítimas, entre travestis, gays e lésbicas. Os números, coletados pelo pesquisador Luiz Mott, da Universidade Federal da Bahia e do Grupo Gay da Bahia, são baseados em registros policiais e notícias, dada a inexistência de estatísticas oficiais.
A região com mais casos é o Nordeste — que concentra 43% — e a capital com mais casos por habitante é Cuiabá, com 0,03 homicídios por mil habitantes . Os gays são os mais atingidos (59%), seguidos por travestis (35%) e lésbicas (4%).
De acordo com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que baseia suas estatísticas em denúncias do Disque 100, foram registradas 337 denúncias relativas à homofobia apenas entre janeiro a abril deste ano, o equivalente a mais de duas por dia. São Paulo é o primeiro disparado, com 97 registros (28% do total), seguido pro Minas, com 31 (9%). Em 2013, foram 1.695 denúncias pelo Disque 100, sendo 745 de janeiro a abril. Em 2012, houve um pico de 3.017 denúncias, quase o triplo de 2011, quando foram registradas 1.159 queixas.
Um relatório da secretaria divulgado em 2013 e relativo a 2012 revela que 9.982 violações de direitos humanos foram cometidas contra 4.851 vítimas LGBT. No levantamento anterior, de 2011, foram 6.809 violações contra 1.713 vítimas. Os dados mostram ainda que, em 47,3% dos casos, os denunciantes não conheciam as vítimas. Mais de 71% das vítimas são do sexo masculino e mais de 61% têm de 15 a 29 anos.
De acordo com o estilista Carlos Tufvesson, militante da causa há 20 anos, a criminalização da homofobia, considerada tema delicado na campanha eleitoral, é uma das principais reivindicações dos militantes da causa LGBT:
— É importante ressaltar que existem gays de direita, de esquerda, negros, brancos. Nunca vai ser possível agradar a todos. Para o cidadão homoafetivo, a causa mais importante não tem sido citada nos debates: nosso pleito principal é igualar o crime de homofobia ao racismo. Hoje em dia é tratado como um crime de agressão normal, enquanto um crime hediondo, de ódio, tem penalidade maior.
“ISONOMIA DE DIREITOS”
De acordo com Luiz Mott, a luta é por ações afirmativas pelo fim dos crimes homofóbicos:
— Os representantes da causa LGBT não querem privilégios, isenção de impostos nem cotas, como tem sido dito. Queremos isonomia de direitos, além da criminalização da homofobia nos moldes do racismo e a equiparação do casamento.
Carlos Magno Fonseca, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, diz que uma das principais reivindicações é que o governo estimule a produção de dados oficiais sobre violações contra gays, o que seria facilitado pela criminalização da homofobia:
— O debate LGBT e o combate à homofobia não podem ser assuntos moral e religioso, têm que ser um assunto político.

Gays brasileiros ainda têm medo de assumir homossexualidade no mundo corporativo
   20 de novembro de 2014   │     0:00  │  0

Maior receio em sair do armário é que orientação sexual impeça seu crescimento profissional

Rio – Os homossexuais brasileiros ainda têm receio de assumir sua orientação sexual no mundo corporativo, com medo de que isso impeça seu crescimento profissional. Recentemente, o executivo-chefe da Apple, Tim Cook, publicou artigo em uma revista norte-americana em que se assume gay. O objetivo, segundo ele, é inspirar outras pessoas a fazer o mesmo, exigindo igualdade de tratamento. A atitude faz perceber, no Brasil, que o sexismo e a discriminação velada — ou muitas vezes explícita — obrigam executivas e executivos de grandes empresas, principalmente aquelas de setores mais tradicionais, a permanecerem no armário.

No artigo, Tim Cook ressalta que a sua posição só foi possível porque a companhia tem uma visão aberta sobre o assunto. “Muitos colegas da Apple sabem que eu sou gay e isso não parece fazer diferença na maneira como eles me tratam. É claro, eu tive muita sorte de trabalhar em uma companhia que ama criatividade e sabe que isso pode florescer quando se abraça as diferenças. Nem todos têm tanta sorte”, escreveu o executivo.

De fato, no universo da moda e das artes, o homossexualismo costuma ser visto com naturalidade. Mas setores mais conservadores têm dificuldade em aceitar profissionais gays em cargos de chefia. Deputado federal pelo Psol-RJ, militante da causa LGBT, Jean Wyllys afirma que mesmo nos Estados Unidos não é comum que altos executivos se assumam.

“Por isso, a declaração de Tim Cook causou tanta repercussão. Muitas vezes a homossexualidade impede que a pessoa progrida na carreira. Existe um acordo tácito, em que não se comenta sobre a sexualidade. Alguns gays têm até casamento de fachada. Se pairar sobre eles qualquer dúvida, é provável que não consigam progredir”, avalia o parlamentar.

Estilista e coordenador da pasta de Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio, Carlos Tufvesson afirma que ainda existe muita discriminação. “Seria utópico não reconhecer que existe preconceito, mais ainda no que se refere à orientação sexual. Crimes de ódio crescem há seis anos no país entre mulheres, negros e LGBTs”, aponta.

Aliás, para Jean Wyllys, o que está por trás da discriminação com os gays no mercado é o mesmo que ainda minimiza as mulheres e impede que elas exerçam cargos de chefia: o machismo. “É uma questão cultural, de dominação masculina. Não há homofobia sem sexismo. Por mais que exista uma luta feminista, esta sociedade ainda empurra as mulheres para papéis que, em tese, são delas. Tarefas que a sociedade atribui como femininas”, explica.

Julio Moreira, diretor sociocultural do Grupo Arco-Íris, acredita que o maior preconceito é com relação à identidade de gênero. “Um gay afeminado e uma lésbica masculinizada vão sofrer muito mais discriminação no local de trabalho do que um homossexual mais discreto. No caso dos travestis e transexuais, a única opção acaba sendo a prostituição, por falta de oportunidades no mercado formal”, exemplifica. Segundo ele, o homossexual acaba sendo encaixado em nichos, como lojas de departamento ou telemarketing, onde não tem oportunidades de crescimento.

Para o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), representante da ala ultraconservadora da Câmara, a orientação sexual não deve ser envolvida com a vida profissional. “Não tem nada a ver. Mas se ele (Tim Cook) está se sentindo feliz assumindo, bom para ele. Só acho que a homossexualidade não deve ser tratada à parte, como se fossem semi-deuses. Minha briga sempre foi contra a cartilha gay, voltada para o público infanto-juvenil”, disse.

Poder público deve interferir a favor das minorias

Apesar dos preconceitos, Carlos Tufvesson acredita que o mundo corporativo está evoluindo. “É importante reconhecer que é cada vez maior o número de empresas onde prevalece a competência e até exercem políticas para redução discriminatória, como Mc Donald’s, HSBC, American Airlines, IBM e Coca-Cola, por exemplo”, diz.

Jean Wyllys concorda: “O ambiente melhorou muito no mundo corporativo. Continua difícil para um chefe se assumir, mas houve um tempo em que o homossexual sequer seria empregado se admitisse que é gay”.

O deputado comenta, no entanto, que algumas empresas multinacionais têm políticas a favor dos direitos dos homossexuais, mas não necessariamente esse direcionamento é cumprido no Brasil. “Muitas vezes o executivo aqui não concorda com esses valores e não pratica”, lamenta.

Para os militantes da causa LGBT, faltam políticas do poder público que defendam os direitos dos gays. “É preciso avançar no sentido de acolher as pessoas nas suas demandas. Isso pode ser feito por meio de incentivos fiscais às empresas e capacitação, tanto dos funcionários, quanto dos empresários”, afirma Julio Moreira.

Tufvesson afirma que a Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio já atua dessa forma. “Qualquer empresa pode solicitar essa capacitação. Ao final do treinamento, o estabelecimento recebe o selo Rio Sem Preconceito. Vale ressaltar que a empresa que discriminar o funcionário por conta de sua orientação sexual ou identidade de gênero pode sofrer sanções previstas pela Lei 2.475/1996”, diz.