Monthly Archives: novembro 2014

Homossexualidade masculina pode estar ligada à genética, diz estudo
   19 de novembro de 2014   │     13:52  │  2

Pesquisa americana avaliou DNA de 800 irmãos homossexuais.
Cientistas afirmam, porém, que resultados ainda não são conclusivos.

Julio Cabrera e seu irmão, Mauricio, estavam entre os quase 800 irmãos gays que participaram do estudo; os dois estão convencidos da origem genética da homossexualidade (Foto: AP Photo/M. Spencer Green, File )

Julio Cabrera e seu irmão, Mauricio, estavam entre os quase 800 irmãos gays que participaram do estudo; os dois estão convencidos da origem genética da homossexualidade (Foto: AP Photo/M. Spencer Green, File )

Um grande estudo de irmãos gays sugere que os genes podem influenciar as chances de um homem ser homossexual, mas os resultados ainda não são fortes o suficiente para provar a teoria.

Alguns cientistas acreditam que vários genes podem estar ligados à orientação sexual. Pesquisadores que lideraram um novo estudo que avaliou quase 800 irmãos gays dizem que os resultados corroboram evidências anteriores que apontavam para os genes do cromossomo X.

Eles também descobriram evidências da influência de um ou mais genes de outro cromossomo: o cromossomo 8. Mas o estudo não identifica qual das centenas de genes localizados em cada uma dessas duas regiões podem estar envolvidos.

Estudos menores buscando fatores genéticos ligados à homossexualidade trazem resultados inconclusivos.

A nova pesquisa “não é prova, mas é uma boa indicação” de que genes dos dois cromossomos têm alguma influência sobre a orientação sexual, diz o médico Alan Sanders, principal autor da pesquisa. Ele estuda genética comportamental na Universidade NorthShore, no Estado de Illinois, nos Estados Unidos.

Dados estatisticamente fracos

Especialistas que não estavam envolvidos no estudo foram mais céticos. Neil Risch, especialista em genética da Universidade da Califórnia, em São Francisco, disse que as informações são muito fracas do ponto de vista estatístico para demonstrar qualquer conexão genética. Risch esteve envolvido em um estudo menor que não encontrou ligações entre homossexualidade masculina e o cromossomo X.

O médico Robert Green, especialista em genética de Harvard, afirmou que o novo estudo é “intrigante, mas de forma alguma conclusivo”.

O trabalho foi publicado nesta segunda feira (17) na revista científica “Psychological Medicine” e foi financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH).

Os pesquisadores dizem que encontraram ligações com a homossexualidade masculina em uma porção do cromossomo X e no cromossomo 8 com base em análises de material genético presente em amostras de sangue e de saliva dos participantes.

O médico Chad Zawitz, participante do estudo, observa que o estudo é um “passo gigante” para responder a perguntas científicas sobre a homossexualidade e para ajudar a reduzir o estigma que os gays comumente enfrentam. Ser gay “é mais ou menos como ter uma certa cor de olho ou cor de pele – é apenas quem você é”, diz Zawiz. “A maioria dos heterossexuais que eu conheço não escolheram ser heterosexuais. É intrigante para mim por que as pessoas não entendem.”

Fonte: Site G1

GGB exige que Fidel Castro peça perdão pela perseguição aos homossexuais em Cuba
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Em 1959 ao tomar o poder em Cuba, Fidel Castro (foto) declarou que “um homossexual não pode ser  um revolucionário”.

O Grupo Gay da Bahia, a mais antiga ONG/Homossexual da América Latina, exige que o  ditador Fidel Castro, antes de morrer, reconheça e peça perdão, pelos graves erros da revolução cubana, responsável pela desmoralização, perseguição, prisão em campos de concentração com trabalho forçado, tortura, expulsão e morte  de milhares de gays,  travestis e lésbicas em Cuba.

Data de 1971 a infeliz resolução do Primeiro Congresso Nacional de Educação e Cultura de Cuba onde se decretou que “os desvios homossexuais representam uma patologia anti-social, não admitindo de forma alguma suas manifestações, nem sua propagação, estabelecendo como medidas  preventivas o afastamento de reconhecidos homossexuais artistas e intelectuais do convívio com a juventude, impedindo gays, lésbicas e travestis de representarem artisticamente Cuba em festivais no exterior.” Foram então estabelecidas penas severas para “depravados reincidentes e elementos anti-sociais incorrigíveis”.
Em 1959 ao tomar o poder em Cuba, Fidel declarou que “um homossexual não pode ser  um revolucionário”. Em 1965 Fidel e Che Guevara criam as  Unidades Militares de Ajuda à Produção, acampamentos de trabalho agrícola em regime militar, com cercas de 4 metros de arame farpado, onde os homossexuais e outros “marginais” realizavam trabalho forçado nos canaviais, com até 16 horas de trabalho forçado, em condições desumanas  muito semelhantes aos campos de concentração nazistas. Inúmeros artistas e escritores homossexuais foram perseguidos nesta ocasião: Virgílio Piñera, Lezama Lima, Gallagas, Anton Arrulat, Ana Maria Simo, inclusive o poeta norte-americano Alien Ginsberg, expulso por ter divulgado que era rumor permanente em Cuba e no exterior, que o irmão de Fidel, Raul Castro, era homossexual enrustido. Outro jornalista gay a ser perseguido foi Allen Young, que de garoto propaganda da revolução cubana, tornou-se persona non grata ao denunciar a crueldade da homofobia nesta ilha. Este norte-americano esteve no Brasil e ficou célebre ao recusar cumprimentar o então presidente Castelo Branco.
Em 1980, segundo informes oficiais, 1700 “homossexuais incorrigíveis” de Cuba foram deportados para os Estados Unidos, embora organizações de direitos humanos calculem que ultrapassaram 10 mil gays e travestis expulsos de seu país. No início da crise da Aids, Cuba foi denunciada internacionalmente pela criação de rigorosas  prisões para “sidosos”, (doentes de aids), em sua maior parte, homossexuais.
Segundo o Presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira, “Fidel Castro tem um dívida histórica a ser resgatada com a humanidade: deve assumir que errou gravemente em tornar Cuba um inferno para os homossexuais e transexuais, causando muita dor, sofrimento, estigmatização e morte de milhares de amantes do mesmo sexo.”
Em recente entrevista ao jornal mexicano La Jornada, a própria sobrinha de Fidel Castro, Mariela Castro, sexóloga responsável pelo Centro Nacional de Educação Sexual de Cuba (Cenesex), reconheceu que “a homofobia oficial desenvolvida pelo regime cubano nas últimas décadas foi um erro.” O premiado filme Morango e Chocolate, de Reinaldo Arenas, mostra realisticamente a crueldade deste “erro” capitaneado por El Comandante Fidel; Arenas, vítima desta repressão, suicidou-se em 1990 aos 47 anos.
Como parte desta denúncia, nos meados de março próximo, o Grupo Gay da Bahia realizará em Salvador uma exposição de fotos e depoimentos, documentando a homofobia em Cuba. Segundo o Prof. Luiz Mott, decano do Movimento Homossexual Brasileiro, “dispomos de duas dezenas de cartas de gays cubanos, recebidas nos últimos 30 anos, todos buscando avidamente um companheiro no Brasil para fugir do inferno que ainda hoje representa ser gay num país que não aprendeu a lição de Che Guevara: “Hay que endurecer, sem perder jamais a ternura”. Consta que o  próprio Guevara, ao encontrar na Biblioteca da Embaixada Cubana em Argel, a obra Teatro Completo de Virgilio Piñera, homossexual assumido, jogou o livro na parede, dizendo: “como vocês têm na nossa embaixada o livro de um ‘pajaro maricon’!”  o sinônimo cubano para veado.

Por: Assessoria de Imprensa – Grupo Gay da Bahia

Professor gay ganha 45 dias de licença após adotar 4 filhos
   18 de novembro de 2014   │     12:00  │  0

Ele obteve mesmo direito dado a mães; licença de pais é de apenas 5 dias.
Casal não precisou ir à Justiça; meninos de 2, 4, 6 e 8 anos são irmãos.

Um professor do curso de enfermagem da Universidade de Brasília (UnB) conseguiu, após dez meses de espera, o direito a licença-adotante de 45 dias para os quatro filhos, todos irmãos, que adotou com o marido no final de 2013. O benefício, que por lei é de cinco dias para pais e de 45 dias para mães, foi o primeiro a ser concedido a um homem servidor público federal sem que houvesse a necessidade de se acionar a Justiça. A decisão saiu no final de outubro.

Juntos há quase 30 anos, Carlos Eduardo Santos, de 54 anos, e o aposentado Osmir Messora Júnior, de 53, iniciaram o longo processo de adoção há dez anos, quando ainda viviam em São Paulo. À época, a relação do casal não era reconhecida pelo Estado e, por isso, Messora tentou sozinho entrar para o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), uma ferramenta que reúne dados das varas de infância e da juventude de todo o país. O processo, no entanto, não teve final feliz: mesmo já sendo chamado de “pai” pela criança que pretendia adotar, ele teve o direito à paternidade negado pela Justiça.

“Ficamos muito mal, o processo foi muito longo e terminou mal. Cheguei até a ficar em depressão, precisei fazer tratamento”, lembra Messora. “Resolvemos dar um tempo então, porque ficamos muito passados pelo processo, travados. Você não se abre.”

Quando o casal se mudou para Brasília, há dois anos, precisou enfrentar novamente o longo trâmite burocrático para ser aprovado para o CNA: processo de visitas e entrevistas com assistentes sociais e psicólogos, pesquisa socioeconômica do casal e até um curso preparatório.

“Foi durante o curso que a gente teve a certeza e se abriu mais para a ideia de adotar um grupo de irmãos, porque tínhamos preferência por uma criança de até dois anos. Mas no curso perdemos o preconceito, a crença que todo mundo tem de que crianças mais velhas já vêm com personalidade formada, que é muito difícil modificar”, diz o professor.

“Nos decidimos por três irmãos, meninos ou meninas, de até oito anos, que é o que mais tem disponível”, afirma Messora. “Essa coisa de bebezinho não existe, a fila é muito grande, existem poucas crianças.”

Em dezembro, dez minutos após entrarem oficialmente para o cadastro nacional, o casal recebeu a ligação pela qual esperou por dez anos.

Os meninos
O primeiro contato de Messora e Santos com os meninos de 3, 5 e 7 anos foi por telefone. Eles viviam em Pernambuco e estavam havia dois anos no abrigo, após serem tomados dos pais pelo Estado por negligência.

Quando partiram para Caruaru para conhecer as crianças, foram surpreendidos com a notícia de que as crianças tinham um irmão recém-nascido.

“Eles disseram que não éramos obrigados a ficar com ele e que inclusive não podíamos trazer ele junto com os outros, por ser um processo de adoção diferente”, disse o aposentado. “Mas nem precisamos pensar muito. Eles são irmãos. Na mesma hora falamos que sim.”

Messora conta que os irmãos já sabiam que teriam uma família “diferente”, com dois pais. “Ele [Felipe, de 7 anos] olhava para a gente, mas acho que não conseguia entender. Então a gente teve que explicar. Mostramos para ele o vídeo do nosso casamento, o álbum do casamento na união civil, da cerimônia tradicional com juiz de paz, familiares. Aí eles entenderam e tiraram um pouco aquela coisa errada, aquela ideia que faziam dos homossexuais”, diz Santos.

“Perguntamos ao mais velho se ele via algum problema nisso. Já tínhamos conversado por telefone com eles antes, e ele voltou a dizer que não, que entendia”, lembra o professor.

Em menos de 15 dias, o casal embarcou com os filhos com destino à nova casa deles. O processo de adoção de Vinicius ainda levaria outros cinco meses.

Adaptação
Com a chegada dos três irmãos, o professor universitário teve direito a cinco dias de licença para passar com os filhos. “Tive que voltar ao trabalho e as crianças ficaram basicamente com o Osmir. Tentamos minimizar o problema, mas ficamos um tempo numa situação difícil”, lembra o professor. “Naquela época eu era coordenador do curso, ficava muito tempo na faculdade e eles ficavam juntos comigo, chegaram a me acompanhar em reuniões. A gente dava lápis de cera, bolacha, banana, e dizia: ‘Vamos fazer um piquenique hoje’ e juntos eles se distraíam.”

A concessão da licença para as crianças levou mais do que o casal imaginava. “O processo ficou dois meses circulando dentro da UnB, um mês dentro do MEC [Ministério da Educação] e depois foi para o Ministério do Planejamento, que também deu parecer favorável.”

Quando finalmente buscou Vinicius, em maio deste ano, o professor conseguiu tirar férias de 45 dias. “Senti a grande diferença e a necessidade de todas as pessoas que adotam de terem esse espaço com a criança, porque minha relação com ele foi totalmente diferente dos demais, por ter mais proximidade e por ter criado um vínculo mais rápido”, conta Santos. “Esse tempo foi fundamental.”

“Acho que é um direito conquistado. O que é bacana nessa história toda é a jurisprudência, já que agora outras pessoas não precisarão mais passar por esse interstício”, disse.

Meninos na primeira festa de aniversario comemorada em família (Foto: Osmir Messora/Reprodução)Meninos na primeira festa de aniversario
comemorada em família
(Foto: Osmir Messora/Reprodução)

Final feliz
Passado quase um ano da adoção, os pais dizem que nem se lembram mais como era viver sem as crianças. Atualmente, a família vive em um espaçoso apartamento na Colina da UnB, na Asa Norte. Os meninos dormem em beliches no mesmo quarto, decorado com imagens temáticas de super-heróis. As crianças frequentam a escola, fazem aulinhas de futebol e aos poucos vão conhecendo novos alimentos, já que no abrigo alimentavam-se apenas de arroz, feijão e carne.

“É uma coisa supergratificante. Adotar um grupo de irmãos é muito melhor porque eles se ajudam. É diferente, eles têm um elo de ligação entre eles. Eles dormem todos no mesmo quarto, a gente não quis separar. Quando chegaram, eles já se sentiram meio amparados. Não é uma relação solitária do eu sozinho com aquela pessoa estranha. Tem todo um contexto histórico deles, que eles já se adaptam”, conta Messora.

Chamado pelos filhos de “pai Carlos”, o professor se emociona ao falar da vida familiar. “Ser pai é uma realização pessoal. É poder transferir culturalmente, socialmente seus valores, fazer com que eles entendam seu próprio histórico de vida e como é bom ser honesto, como é bom construir sua vida pautada em valores. A gente espera deles exatamente isso: que consigam ser felizes da forma como quiserem, da forma como almejam, dentro desses princípios de honestidade, ética, de valores, e que possam ter uma formação religiosa, acadêmica, e que possam ser pessoas felizes e, tal como nós, realizar os sonhos deles. É o principal”, diz.

“Passado o tempo, a gente nem sente mais que eles não vieram do nosso seio familiar ou que eles nao estiveram inserido desde sempre”, afirma.

Adoção no DF
Pais que pretendem adotar crianças esperam até um ano e meio para conseguir vagas no curso de habilitação, que é a primeira etapa da adoção. De acordo com a Vara da Infância e da Juventude, faltam profissionais e estrutura para realizar os cursos. São apenas dez psicólogos e três assistentes sociais para preparar as cerca de 150 famílias que já deram entrada no processo de adoção. São 2,3 milhões de habitantes para uma única vara da infância cível, segundo o órgão.

Professor gay ganha 45 dias de licença após adotar 4 filhos
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Ele obteve mesmo direito dado a mães; licença de pais é de apenas 5 dias.
Casal não precisou ir à Justiça; meninos de 2, 4, 6 e 8 anos são irmãos.

Um professor do curso de enfermagem da Universidade de Brasília (UnB) conseguiu, após dez meses de espera, o direito a licença-adotante de 45 dias para os quatro filhos, todos irmãos, que adotou com o marido no final de 2013. O benefício, que por lei é de cinco dias para pais e de 45 dias para mães, foi o primeiro a ser concedido a um homem servidor público federal sem que houvesse a necessidade de se acionar a Justiça. A decisão saiu no final de outubro.

Juntos há quase 30 anos, Carlos Eduardo Santos, de 54 anos, e o aposentado Osmir Messora Júnior, de 53, iniciaram o longo processo de adoção há dez anos, quando ainda viviam em São Paulo. À época, a relação do casal não era reconhecida pelo Estado e, por isso, Messora tentou sozinho entrar para o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), uma ferramenta que reúne dados das varas de infância e da juventude de todo o país. O processo, no entanto, não teve final feliz: mesmo já sendo chamado de “pai” pela criança que pretendia adotar, ele teve o direito à paternidade negado pela Justiça.

“Ficamos muito mal, o processo foi muito longo e terminou mal. Cheguei até a ficar em depressão, precisei fazer tratamento”, lembra Messora. “Resolvemos dar um tempo então, porque ficamos muito passados pelo processo, travados. Você não se abre.”

Quando o casal se mudou para Brasília, há dois anos, precisou enfrentar novamente o longo trâmite burocrático para ser aprovado para o CNA: processo de visitas e entrevistas com assistentes sociais e psicólogos, pesquisa socioeconômica do casal e até um curso preparatório.

“Foi durante o curso que a gente teve a certeza e se abriu mais para a ideia de adotar um grupo de irmãos, porque tínhamos preferência por uma criança de até dois anos. Mas no curso perdemos o preconceito, a crença que todo mundo tem de que crianças mais velhas já vêm com personalidade formada, que é muito difícil modificar”, diz o professor.

“Nos decidimos por três irmãos, meninos ou meninas, de até oito anos, que é o que mais tem disponível”, afirma Messora. “Essa coisa de bebezinho não existe, a fila é muito grande, existem poucas crianças.”

Em dezembro, dez minutos após entrarem oficialmente para o cadastro nacional, o casal recebeu a ligação pela qual esperou por dez anos.

Os meninos
O primeiro contato de Messora e Santos com os meninos de 3, 5 e 7 anos foi por telefone. Eles viviam em Pernambuco e estavam havia dois anos no abrigo, após serem tomados dos pais pelo Estado por negligência.

Quando partiram para Caruaru para conhecer as crianças, foram surpreendidos com a notícia de que as crianças tinham um irmão recém-nascido.

“Eles disseram que não éramos obrigados a ficar com ele e que inclusive não podíamos trazer ele junto com os outros, por ser um processo de adoção diferente”, disse o aposentado. “Mas nem precisamos pensar muito. Eles são irmãos. Na mesma hora falamos que sim.”

Messora conta que os irmãos já sabiam que teriam uma família “diferente”, com dois pais. “Ele [Felipe, de 7 anos] olhava para a gente, mas acho que não conseguia entender. Então a gente teve que explicar. Mostramos para ele o vídeo do nosso casamento, o álbum do casamento na união civil, da cerimônia tradicional com juiz de paz, familiares. Aí eles entenderam e tiraram um pouco aquela coisa errada, aquela ideia que faziam dos homossexuais”, diz Santos.

“Perguntamos ao mais velho se ele via algum problema nisso. Já tínhamos conversado por telefone com eles antes, e ele voltou a dizer que não, que entendia”, lembra o professor.

Em menos de 15 dias, o casal embarcou com os filhos com destino à nova casa deles. O processo de adoção de Vinicius ainda levaria outros cinco meses.

Adaptação
Com a chegada dos três irmãos, o professor universitário teve direito a cinco dias de licença para passar com os filhos. “Tive que voltar ao trabalho e as crianças ficaram basicamente com o Osmir. Tentamos minimizar o problema, mas ficamos um tempo numa situação difícil”, lembra o professor. “Naquela época eu era coordenador do curso, ficava muito tempo na faculdade e eles ficavam juntos comigo, chegaram a me acompanhar em reuniões. A gente dava lápis de cera, bolacha, banana, e dizia: ‘Vamos fazer um piquenique hoje’ e juntos eles se distraíam.”

A concessão da licença para as crianças levou mais do que o casal imaginava. “O processo ficou dois meses circulando dentro da UnB, um mês dentro do MEC [Ministério da Educação] e depois foi para o Ministério do Planejamento, que também deu parecer favorável.”

Quando finalmente buscou Vinicius, em maio deste ano, o professor conseguiu tirar férias de 45 dias. “Senti a grande diferença e a necessidade de todas as pessoas que adotam de terem esse espaço com a criança, porque minha relação com ele foi totalmente diferente dos demais, por ter mais proximidade e por ter criado um vínculo mais rápido”, conta Santos. “Esse tempo foi fundamental.”

“Acho que é um direito conquistado. O que é bacana nessa história toda é a jurisprudência, já que agora outras pessoas não precisarão mais passar por esse interstício”, disse.

Meninos na primeira festa de aniversario comemorada em família (Foto: Osmir Messora/Reprodução)Meninos na primeira festa de aniversario
comemorada em família
(Foto: Osmir Messora/Reprodução)

Final feliz
Passado quase um ano da adoção, os pais dizem que nem se lembram mais como era viver sem as crianças. Atualmente, a família vive em um espaçoso apartamento na Colina da UnB, na Asa Norte. Os meninos dormem em beliches no mesmo quarto, decorado com imagens temáticas de super-heróis. As crianças frequentam a escola, fazem aulinhas de futebol e aos poucos vão conhecendo novos alimentos, já que no abrigo alimentavam-se apenas de arroz, feijão e carne.

“É uma coisa supergratificante. Adotar um grupo de irmãos é muito melhor porque eles se ajudam. É diferente, eles têm um elo de ligação entre eles. Eles dormem todos no mesmo quarto, a gente não quis separar. Quando chegaram, eles já se sentiram meio amparados. Não é uma relação solitária do eu sozinho com aquela pessoa estranha. Tem todo um contexto histórico deles, que eles já se adaptam”, conta Messora.

Chamado pelos filhos de “pai Carlos”, o professor se emociona ao falar da vida familiar. “Ser pai é uma realização pessoal. É poder transferir culturalmente, socialmente seus valores, fazer com que eles entendam seu próprio histórico de vida e como é bom ser honesto, como é bom construir sua vida pautada em valores. A gente espera deles exatamente isso: que consigam ser felizes da forma como quiserem, da forma como almejam, dentro desses princípios de honestidade, ética, de valores, e que possam ter uma formação religiosa, acadêmica, e que possam ser pessoas felizes e, tal como nós, realizar os sonhos deles. É o principal”, diz.

“Passado o tempo, a gente nem sente mais que eles não vieram do nosso seio familiar ou que eles nao estiveram inserido desde sempre”, afirma.

Adoção no DF
Pais que pretendem adotar crianças esperam até um ano e meio para conseguir vagas no curso de habilitação, que é a primeira etapa da adoção. De acordo com a Vara da Infância e da Juventude, faltam profissionais e estrutura para realizar os cursos. São apenas dez psicólogos e três assistentes sociais para preparar as cerca de 150 famílias que já deram entrada no processo de adoção. São 2,3 milhões de habitantes para uma única vara da infância cível, segundo o órgão.

Fundamentalismo religioso: pecado e crime
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Ponto de Vista

Por: Luiz Mott – Formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP) e possui doutorado em Antropologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nos anos 70, recebeu o título de Cidadão Honorário de Salvador. Já em 2006, recebeu o título de cidadão baiano pela Assembleia Legislativa do Estado da BahiaFundador do Grupo Gay da Bahia (GGB) e decano do movimento LGBT no Brasil, o antropólogo Luiz Mott é o único homossexual brasileiro, a aparecer na lista dos gays mais influentes do planeta pela revista holandesa ‘Wink’ e por sua versão internacional, ‘Mate’.

Fundamentalismo engloba todos os movimentos religiosos de cunho ultra conservador e intolerante, que consideram  fundamental a interpretação literal das escrituras sagradas e obediência cega às leis divinas. Enquanto os fundamentalistas evangélicos crescem vertiginosamente na América Latina, o fundamentalismo islâmico tem cada vez mais adeptos fanáticos no Oriente e África. O crente fundamentalista brasileiro acredita cegamente na Bíblia, como se Javé tivesse escrito cada versículo com sua própria mão, embora siga seletivamente aquelas passagens que mais adéquam a sua ideologia. Por exemplo, o filho de Deus mandou oferecer a outra face quando agredido, mas tal ditame não é seguido à risca, sendo interpretado como alegoria, parábola. Mas como ovelhas acríticas, condenam cegamente o amor entre pessoas do mesmo sexo e o divórcio. Não há lógica, nem na teologia nem na ética, para usar mitologias contraditórias para justificar discriminações – sobretudo quando o Mestre do divino amor deu repetidos exemplos de tolerância à diversidade de gênero, sexual, racial, de classe.

O fundamentalista, ao usar textos que considera sagrados, como justificativa para condenar condutas humanas com as quais não concorda, é duplamente culpado: comete pecado cabeludo e grave crime. Pecado porque usa o santo nome de Deus em vão, já que os mais competentes doutores em teologia e exegese garantem que basear-se em alguns versículos bíblicos para condenar a homoafetividade é tão irracional e injusto como a suposta condenação de Noé à raça negra, ambos preconceitos propagados pelo deputado e pastor Feliciano. Fundamentalistas cristãos se tornam criminosos quando invadem terreiros de candomblé, destroem imagens em igrejas católicas ou estimulam com suas pregações a violência homofóbica. Ou quando o mais votado deputado baiano, ex-gay e hoje pastor corifeu da homofobia, diz que a seca de São Paulo é castigo divino à parada gay: impeachment contra o autor de blasfêmia tão maluca e  criminosa!