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Saí Jean mas multiplica o número de LGBTs no Congresso nacional
   6 de fevereiro de 2019   │     12:19  │  0

A desistência de viver no Brasil e se dedicar a política do ex-deputado Jean Wyllys, surpreendeu a muitos.

Progressista, sempre muito ativo nas lutas e defesa dos direitos das minorias, Jean acabou desistindo da vida política após uma série de ameaças contra a sua vida, cuja autoria é investigada e aponta para os mesmos assassinos da vereadora assassinada Marielle Franco: a milícia organizada, aliada de conservadores e que não quer ter seus malfeitos investigados (se explicando aí a morte de Marielle, cujos projetos iam de encontro aos interesses destes criminosos).

A saída de Jean será sentida, uma vez que ele foi o primeiro congressita brasileiro abertamente LGBT a defender os direitos LGBTs.

Jean foi eleito quatro anos como melhor deputado do país e foi considerado em 2015 pela The Economist como uma das 50 personalidades que mais lutam pela diversidade no mundo. No Brasil foi uma das vozes mais ativas e fundamentais em casos como a aprovação do casamento homoafetivo aprovado pelo STF, e também em propostas de lei que o Congresso brasileiro nunca sequer colocou em discussão, como é a Lei João Nery, que ajuda a difícil realidade da população transgênero, garantindo por lei direitos e dignidade a esta parcela ainda tão marginalizada dos brasileiros.

Mesmo com toda relevância de sua presença na Câmara em três mandatos consecutivos, Jean não resistiu à máquina de distribuição de fake news que começou sem que ninguém percebesse com ele como alvo mais de 5 anos atrás, manchou sua reputação pela população com associações de sua imagem à crimes como pedofilia e projetos de lei absurdos que nunca foram propostos atribuídos a sua autoria, e culminaram na eleição do presidente Jair Bolsonaro. Isso, aliado as ameaças de morte pelos mesmos executores de Marielle Franco, fizeram o parlamentar optar pela vida e sanidade, optando por deixar o cargo e indo viver fora do Brasil.


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Entretanto, a saída de Jean e a chegada do conservadorismo à presidência do país e boa parte do Congresso, não significaram uma vitória para os reacionários… Pelo contrário, progressistas mostraram mais do que nunca que resistirão à esta fase tenebrosa.

Em contra-partida, conseguimos pela primeira vez eleger a níveis municipais, estaduais e federais, um número recorde de representantes LGBTs. São vereadores (já eleitos dois anos atrás), vários deputados estaduais, e no caso do Congresso Nacional, dois deputados federais e um senador abertamente LGBTs.

De Jean, que era o único LGBT assumido até o ano passado no Congresso, hoje a comunidade LGBT conta com três representantes. Isso sem considerar o avanço da bancada progressista, com muitos representantes que são heterossexuais e cisgêneros, mas que nem por isso deixam de apoiar a luta da diversidade pela igualdade.

Quem são os representantes abertamente LGBTs do Congresso Nacional:

Mais à centro-direita, tivemos a eleição do deputado federal Marcelo Calero do PPS, que é gay e foi eleito deputado nas eleições de 2018 pelo social-democrata PPS, força que foi oposição aos governos do PT a partir de 2004 e até ao fim do consulado de Dilma Rousseff. Calero, aliás, ganhou notoriedade como ministro da cultura do governo liderado por Michel Temer ao longo de seis meses.

Deputado Marcelo Calero

Ele saiu do cargo após a Era Temer ter seu primeiro grande escândalo, quando o hoje detido Geddel, queria aprovar a construção de um edifício no centro de Salvador em benefício próprio e Calero preferiu se demitir a aprovar a falcatura que resultou na demissão também de Geddel, que acabou sendo preso pela descoberta, não explicada, de 51 milhões de reais [cerca de 12 milhões de euros] num dos seus apartamentos.

Outro representante LGBT eleito de maneira incrível, já que desbancou o concorrente fundamentalista pastor Magno Malta nas eleições ao Senado, foi o senador Fabiano Contarato(REDE), abertamente gay, casado com um homem e pai de Gabriel, quatro anos, recentemente adotado.

Fabiano Contarato e família.

Na campanha, mesmo defendendo bandeiras como a inclusão e os direitos LGBT, Contarato declarou-se cristão praticante, à imagem de Marina Silva, a líder do seu partido, o Rede. Uma vez eleito, lamentou as fake news propagadas contra si e usou expressão bíblica para classificar o seu sucesso – “Davi venceu Golias”.

Já o terceiro representante abertamente LGBT do congresso brasileiro foi o deputado federal pelo PSOL David Miranda.

David Miranda e família.

David Miranda tem 33 anos, foi o primeiro vereador gay do Rio de Janeiro. Em seus 2 anos como vereador aprovou diversos projetos de lei favorecendo a população de baixa renda, aposentados, LGBTs e artistas locais do Rio. Conheça todos aqui.

Antes de entrar para a política, David veio de uma origem bastante humilde, a favela do Jacarezinho. Trabalhou como engraxador de sapatos, faxineiro, distribuidor de panfletos, estafeta e caixa de restaurante enquanto se formava em Comunicação.

Há 13 anos é casado com Glenn Greenwald, o jornalista americano que publicou reportagens no caso “Edward Snowden”, com quem tem dois filhos adotados há dois anos.

Em sua posse dia 01/02 no congresso brasileiro, ele declarou: “Hoje se inicia um novo desafio. Começa a nova legislatura no Congresso Nacional e estarei junto com a combativa bancada do PSOL na luta para defender os direitos do povo brasileiro”.

Vale lembrar também, outro representante abertamente no Distrito Federal. Embora não seja no Congresso Nacional, toda representação é válida. Abertamente gay, Fábio Felix (PSOL) foi eleito deputado distrital.

Fábio Felix

@fabiofelixdf

CONSEGUIMOS! 💜 Obrigada pelos quase 11.000 votos! Graças a vocês chegamos à CLDF! Vai ter mandato de luta e progressista SIM! 💪🏾 Vai ter deputado distrital negro e gay SIM!

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Ele é um assistente social, professor e político brasileiro, eleito à Câmara Legislativa do Distrito Federal pelo Partido Socialismo e Liberdade em 2018. É ativista dos direitos LGBT e dos direitos humanos.

“É uma vitória muito importante para nós. Sou o primeiro deputado distrital eleito pelo PSol e o primeiro deputado da Câmara Legislativa assumidamente LGBTI. Estou muito animado para trabalhar. A nossa atuação será pela igualdade e contra o fundamentalismo, em uma cidade que respeite as diferenças”, declarou o parlamentar em sua eleição.

Fábio Felix afirma que uma das suas primeiras bandeiras será a “criação de uma escola colorida”, mas sem relação com a chamada ideologia de gênero. “Queremos uma escola com todas as cores, que debata a tolerância e o respeito a todos.”

 

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Jean Wyllys desiste do mandato e deixará o país após ameaças de morte
   24 de janeiro de 2019   │     16:16  │  0

Primeiro parlamentar gay a assumir a bandeira LGBT no Congresso, o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) anunciou nesta quinta-feira (24) que vai abrir mão do novo mandato para o qual foi reeleito em outubro e deixar o Brasil. As duas decisões, segundo ele, foram motivadas por ameaças de morte e perseguições que tem sofrido.

“Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração. Axé! ✊”, publicou o deputado em suas redes sociais.

Jean Wyllys reproduziu, na publicação, a entrevista exclusiva que deu à Folha de S.Paulo em que explica os motivos de desistir da vida política e deixar o país para se dedicar à carreira acadêmica. Ele afirma que não pretende voltar a morar no Brasil. O deputado conta que vive sob escola policial desde o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, também do Psol.

“Nunca achei que as ameaças de morte contra mim pudessem acontecer de fato. Então, nunca solicitei escolta. Mas, quando rolou a execução da Marielle, tive noção da gravidade. Além dessas ameaças de morte que vêm desses grupos de sicários, de assassinos de aluguel ligados a milícias, havia uma outra possibilidade: o atentado praticado por pessoas fanáticas religiosas que acreditavam na difamação sistemática que foi feita contra mim”.

Ele ressaltou que, mesmo sob escolta, foi xingado e empurrado várias vezes publicamente. Segundo Jean, também pesou em sua decisão a informação de que familiares de um ex-PM acusado de liderar o Escritório do Crime, uma falange de milicianos, trabalharam no gabinete do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

“Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário”, disse. “O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim”, acrescentou.

O parlamentar baiano afirmou que se sente “quebrado por dentro” devido a notícias falsas disseminadas contra ele no período eleitoral pelo deputado eleito Alexandre Frota (PSL-SP) e outros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que o associavam à pedofilia. Frota foi condenado, em primeira instância, a indenizá-lo em R$ 295 mil, além de prestar serviço comunitário, por dano moral.

“A pena imposta, por exemplo, ao Alexandre Frota não repara o dano que ele produziu ao atribuir a mim um elogio da pedofilia. Eu vi minha reputação ser destruída por mentiras e eu, impotente, sem poder fazer nada. Isso se estendendo à minha família. As pessoas não têm ideia do que é ser alvo disso”, declarou.

Na entrevista à Folha, Jean disse que se ressente da falta de liberdade no Brasil e que sofreu muito para tomar a decisão. “Como é que eu vou viver quatro anos da minha vida dentro de um carro blindado e sob escolta? Quatro anos da minha vida não podendo frequentar os lugares que eu frequento?”, questiona.

“Essa não foi uma decisão fácil e implicou em muita dor, pois estou com isso também abrindo mão da proximidade da minha família, dos meus amigos queridos e das pessoas que gostam de mim e me queriam por perto”, explicou. Jean Wyllys disse que nunca quis virar mártir. “O [ex-presidente do Uruguai] Pepe Mujica, quando soube que eu estava ameaçado de morte, falou para mim: ‘Rapaz, se cuide. Os mártires não são heróis’. E é isso: eu não quero me sacrificar”, declarou.

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