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Ganhador do Oscar, ‘Moonlight’ é o doloroso drama de um jovem negro e gay
   28 de fevereiro de 2017   │     13:22  │  0

A cerimônia do Oscar, que ocorreu neste ultimo domingo (26), teve um grande favorito: La La Land – Cantando Estações. A produção recebeu 14 indicações e levou 6 estatuetas.

Mas a estatueta de melhor filme do ano foi para Moonlight – Sob a Luz do Luar, em cartaz nos cinemas, considerado por muitos críticos o único filme capaz de derrubar o longa de Chazelle na disputa pela principal estatueta do Oscar.

Com oito indicações ao Oscar e vários prêmios no bolso – incluindo o de Melhor Filme no Independent Spirit Awards, o “Oscar independente”, anunciado neste sábado (25) –Moonlight – Sob a Luz do Luar é um filme inédito no contexto de Hollywood, dolorido e sublime.

 Baseada na peça de teatro Moonlight Black Boys Look Blue, de Tarell Alvin McCraney, a película é dirigida por Barry Jenkins, que também assina o roteiro – e tem traços biográficos de ambos os autores.

A trama acompanha a trajetória do jovem negro Chiron (interpretado por Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhode) em três fases de sua vida. Ele vive numa comunidade no subúrbio de Miami marcada fortemente pela pobreza e pelo tráfico de drogas. O local é o mesmo onde McCraney e Jenkins cresceram nos anos 1980 – ambos com mães viciadas em crack, assim como Chiron.

O filme foi classificado como de cinema gay negro. Esse rótulo, talvez, não dê conta das diferentes nuances relacionadas à masculinidade, homossexualidade e família que a produção explora.

Na primeira parte do filme, Chiron é chamado pelo apelido de Little. Menor e mais frágil da turma, ele vive correndo das agressões e insultos dos colegas. Numa dessas fugas, encontra Juan (Mahershala Ali), um traficante que o acolhe em sua casa e acaba se transformando na figura paterna que lhe falta.

Nesse contexto está presente também a namorada de Juan, Teresa (Janelle Monáe). Enquanto Paula, (Naomi Harris) mãe de Chiron, entra em colapso por conta do crack, é ela quem assume o lugar de leveza e doçura na vida do garoto.

As cenas protagonizadas por Chiron e Juan são as mais tocantes do longa. Há dúvida, poesia, aprendizado e conflito.

Sempre calado, em dado momento da trama, Chiron questiona o casal sobre o que é ser “bicha”. Juan responde: “Bicha’ é uma palavra que as pessoas usam para fazer os gays se sentirem mal”. O menino indaga: “Eu sou bicha?”. Juan responde: “Não. Você pode ser gay, mas não pode deixar ninguém te chamar de bicha”.

O silêncio e o olhar triste de Chiron estão mais presentes na segunda parte, quando ele aparece adolescente, em um cenário ainda mais caótico: Juan morreu, sua mãe piorou e os abusos na escola assumiram requintes de crueldade.

Sem entender seu lugar no mundo, Chiron tem um único amigo, Kevin, com quem tem sonhos eróticos. É com Kevin que Chiron tem uma experiência reveladora. É Kevin que abandona Chiron de forma covarde, em um episódio que marcará a história do protagonista de forma irreversível.

Na terceira parte de Moonlight, Chiron é outro. Aparentemente, não mais vulnerável. É um grande traficante, cheio de músculos, a bordo de um carrão. O olhar, no entanto, é sem brilho como na época em que era chamado de Little.

Um reencontro com Kevin, poucas palavras e mais revelações. O desfecho do filme é surpreendente na medida em que aponta para um rumo plausível e desemboca em um ponto ainda mais nebuloso.

É,  a história de vida de Chiron é uma vida profundamente machucada pelo racismo, homofobia e desigualdade social e o mundo das drogas. Vida esta como a de muitos jovens LGBT, negro e outros que vivem na linha reta da vulnerabilidade social.

Então se você ainda não assistiu vale apena conferir.

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