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Homem hétero e fio terra: uma discussão que ainda causa choque
   8 de novembro de 2022   │     0:00  │  0

Artigo

Por: Luiza Sahd – jornalista e escritora. Colaborou nas revistas Tpm, Superinteressante, Marie Claire e Playboy falando sobre comportamento, ciência, viagem, amor e sexo. Vive entre São Paulo e Madrid há anos, sem muita certeza sobre onde mora. Em linhas gerais, mora na internet desde 2008.

Assim como a gente deveria fazer na vida real, para falar aqui de toque anal — popularmente evocado como fio terra –, vou tentar fazer a introdução mais cuidadosa e delicada que puder.

Acontece o seguinte: um dos maiores fetiches do pornô mundial é o sexo anal e, sendo eu da mesma espécie que as pessoas com quem eventualmente transo, não entendo como tanta gente (talvez a maioria) acredita que um gênero pode ficar feliz com estímulos anais e o outro não.

Se homem que é homem não gosta de ser tocado na próstata, de duas, uma: ou eles supõem que não existe prazer ali — mas fantasiam com a nossa penetração dolorosa mesmo assim — ou nem pararam para pensar que nossos ânus são idênticos e que, portanto, recebem estímulos com o mesmo prazer ou desprazer. Deve haver, ainda, em algum lugar, os que acham que enfiar dedos em buracos é coisa que só um cara sabe fazer e os que acreditam que a nossa alegria está puramente no privilégio de oferecer esse orifício inusitado para o bel prazer do parceiro. Nesse caso, rir é o melhor remédio.

Antes de tudo, quero falar com minhas amiguinhas, as mulheres, sobre nojo. Na primeira vez que coloquei meu próprio reto pra jogo, além de sentir dor (porque a coisa não foi feita com a perícia que deveria), fiquei tensa o tempo todo com a possibilidade de ter fezes vergonhosamente expostas para a apreciação visual e olfativa do crush. Todo respeito por quem curte cocô, mas nunca foi muito a minha área. Assim sendo, graças ao combo dor + nojo, deixei o assunto pra lá por mais de uma década.

Corta para Madrid, onde descobri que o homem europeu não é moderno só na hora de usar cachecol e alpargata: aqui, os caras não tem lá muito problema em dizer que já beijaram outros e, fora isso, são mais íntimos das próprias próstatas. Com mais frequência do que o brasileiro, eles costumam dar e pedir uma atenção especial na região (você, garota que está lendo este texto: você sabe que tem uma próstata também, certo?).

Muito que bem. Meus primeiros contatos com esse “submundo” foram cheios de temor pelos motivos de sempre. Se já não tenho a melhor relação do mundo com minhas fezes, o que dizer das alheias? Não, obrigada. Até o dia em que recebi um apelo sutil por fio terra vindo de um cara 800% hétero e me perguntei “Não eras tão desconstruída, Luiza? Vai lá!”. E fui mesmo.

Se você achou que essa história teria um desfecho mirabolante, achou errado. A incursão não só foi ótima (muito interessante sentir as contrações de prazer na mão se você nunca penetrou ninguém, recomendo!) como teve um desfecho sem acidentes, inclusive por motivos de lencinho umedecido no criado-mudo. Não, eles não limpam de verdade e a gente tem que lavar tudo bem direitinho depois, mas lenços garantem a continuidade do chamego sem maiores desconfortos até a próxima ida ao banheiro. Tudo assim de simples, sempre e quando você tenha em mente que o que entrou num bumbum não pode entrar numa vagina; as bactérias não combinam e isso aí sempre dá ruim na vagina — esse sim, um órgão de cristal. Tudo pode acontecer numa vagina, por mais cuidado que a gente tenha.

Voltando ao lado B do sexo, o que dizer dessa prática tão trivial que mal conheço e já admiro pacas? Do primeiro teste em diante, pode-se afirmar que virei uma eletricista em série (e que os homens que gostam, amam). Poucas coisas me emocionam mais num encontro do que a ideia de que não estou sendo apenas caçada, dominada ou submetida. É um pouco como se o casal pudesse esmagar a simbologia sinistra do patriarcado usando apenas um dedinho — ou o que achar melhor.

Na manobra do fio terra, não é só a “alternância de poder na cama” que interessa. Se todos os homens hétero percebessem que também existe prazer e poder em ser penetrado, talvez soubessem mais uma série de coisas sobre eles mesmos, os relacionamentos, o universo e tudo mais. Esse assunto não deveria ser um constrangimento; constrangimento deveria ser chegar na gatinha achando de verdade que a emulação de pornô clássico vai proporcionar o prazer digno de berros que as atrizes fingem sentir. Só de espiar de relance um XVídeos convencional, minha vagina tranca de dor.

Ultimamente, me pergunto se é coincidência que homens que curtem ser penetrados sejam mais cuidadosos na hora de penetrar alguém. Sempre. Parece até que esses aprenderam que um corpo é sempre um templo, seja ele do gênero que for. Que não precisa arrombar portas quando você tem a chave e a fechadura. Que o cu deles é idêntico ao meu. Que está tudo bem com querer ou não querer ser penetrado, mas, nesse caso, pelos motivos certos.

 

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“Meu namorado gosta de se vestir de mulher”
   30 de maio de 2014   │     12:00  │  5

Taras, fetiches e fantasias. Na sua opinião, há algo errado nisto ? Veja o depoimento abaixo. 
“Fátima”.  Namoro há um ano e meio e nos damos bem na cama. No mês passado fui fazer uma surpresa de aniversário para o meu namorado e descobri dentro do armário umas roupas novas de mulher, com a etiqueta e tudo. Ao pressioná-lo, ele jurou que não tinha uma amante e acabou confessando que gosta de se vestir de mulher, faz isso desde pequeno. Disse que não é gay e que nunca transou com um homem. Fala que gosta de mulher, que gosta de mim. Foi um choque, não sei em que acreditar. O que eu posso fazer? Ignoro esse “gosto” dele ou devo terminar o namoro? Por favor me ajude, obrigada.”Quando esse segredo vem à tona, a situação geralmente é estressante, conflituosa. Nem todo par entende a prática, porque ela se distancia da representação dos papéis de homem e de mulher: comportamentos, gestos, modos de se vestir, de falar.Mesmo num país como o nosso, onde homens e mulheres se expressam de diferentes formas, ainda há o impacto, o choque com a descoberta. Já é complicado entendermos certos aspectos da nossa sexualidade; do outro, é mais difícil. Estamos carregados de tabus e preconceitos que limitam o nosso entendimento, além da falta de conhecimento.Não é diferente quando o assunto é crossdressing ou CD (abreviação). Crossdressing é um termo usado para definir pessoas que usam roupas e objetos associados ao sexo oposto.O termo é atual, mas a história relata mulheres que se travestiam de homens e o inverso também na Antiguidade, e nas idades Média e Moderna. Porém, é difícil dizer o que era por erotização ou uma forma encontrada para participar de segmentos da sociedade exclusivos ao sexo oposto. A prática como hoje acontece, só apareceu no início do século 20.Para a psicóloga Jaqueline Gomes de Jesus, doutora em psicologia social, crossdresser é um termo “variante de travesti, para se referir a homens heterossexuais, comumente casados, que não buscam reconhecimento e tratamento de gênero (não são transexuais), mas, apesar de viverem diferentes papéis de gênero, tendo prazer ao se vestirem como mulheres, sentem-se como pertencentes ao gênero que lhes foi atribuído ao nascimento e não se consideram travestis.” Ainda revela que “a vivência promove uma satisfação emocional ou sexual.”A “montagem”, geralmente acontece em local privado, com ou sem a aprovação da parceira. Na maioriadas vezes é fora da residência e em clubes próprios para a prática, a fim de manter o segredo, pela culpa, medo ou vergonha.A psicóloga Eliane Chermann Kogut, doutorada no assunto, revela que em sua pesquisa encontrou Cross-dressing, heteros e bissexuais. Mas podem existir homossexuais, porém não é comum.Segundo, a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo, ainda há muito que conhecer sobre o assunto, mas ela diz que o desejo de se “montar” pode se manifestar em qualquer fase da vida do indivíduo, sumir ou permanecer ao longo dela.

Há casais, que tomam a prática como uma ampliação do universo emocional. Algumas esposas passam a compartilhar o guarda-roupas porque entendem que é uma fantasia e a experiência, muitas vezes, é usada para apimentar a vida sexual do casal.

Cara leitora, reuni de forma bem resumida os dados sobre o assunto para que você tenha um melhor entendimento e para que isso auxilie na sua decisão.

Converse mais com ele e, se possível, tenha alguma convivência no mundo dos CDs ou Cross-dressing. Mas, sinta o seu limite. Às vezes queremos ser descoladas e atiradas para o novo, mas ainda não é possível. Avalie suas expectativas e sentimentos. Só assim terá a resposta.

 
Fonte: Revista Dellas

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