Category Archives: Lésbicas

Casal gay já era realidade há décadas e ex-padre prova com imagens
   26 de agosto de 2019   │     23:25  │  0

Mas, no passado as relações eram um tanto mais complicadas, especialmente entre casais gays.

O amor costuma ser celebrado, escancarado e motivo de orgulho. Não é tão fácil encontrar um parceiro leal para a vida e quando a “tampa da panela” encaixa, os casais costumam gritar ao mundo seu amor. Mas, no passado as relações eram um tanto mais complicadas, especialmente entre casais gays. Os relacionamentos sexuais e o próprio gay – seja homem ou mulher – eram vistos com maus olhos, tidos como pecaminosos, reprimidos por lei e até mesmo motivo de sentença de morte.

Atualmente, o preconceito ainda é forte a ponto de incitar violências graves, até mesmo assassinatos. Apesar disso, há avanços e em muitos países o casamento gay é legal. Nathan Monk, um ex-padre, compilou diversas fotos antigas que mostram casais gays no passado. “Encontrei as fotos na internet através de algumas publicações. Eu as compartilhei porque acho importante lembrar aqueles que vieram antes de nós, aqueles que lutaram e lutaram para viver sua verdadeira vida. Eu acho que é importante lembrar que as pessoas O LGBTQ+ sempre fizeram parte da sociedade e sempre será assim. Essa realidade deve ser aceita com amor e não silenciada e ridicularizada”, destaca.

Embora tenha largado a batina, Nathan continua trabalhando em prol do bem-estar humano. Autor de dois livros, Chasing the Mouse e Chaarity Means Love, que falam sobre pobreza e miséria, o ex-padre viaja para diferentes comunidades aos fins de semana para provocar discussões sobre como é possível solucionar esses problemas.

Ele enfatiza ainda que é fundamental que se reconheça o quanto a população LGBTQ+ sofre discriminação, preconceito e homofobia. “Embora seja algo que todo LGBTQ+ sente, é mais perigoso para aqueles que sofrem com a pobreza e a miséria. Uma pessoa trans que vive nas ruas tem mais probabilidade de ser rejeitada em abrigos e programas de apoio, é mais propensa a sofrer ataques físicos e assédio, juntamente com outros perigos. Temos que continuar contando essas histórias e realidades até que todos tenham um lugar seguro para chamar de lar”, salienta.

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Casal lésbico faz inseminação e dão a luz a gêmeos
   14 de agosto de 2019   │     15:39  │  0

As duas mamães tiveram gêmeos com a ajuda de um programa de reprodução humana do HMIB (Foto: Mariana Oliveira / Instagram)

Não há limites (ou obstáculos!) para o sonho de ser mãe. Com certeza, é isso o que aprendemos com a história de Mariana e Érika Oliveira, um casal homoafetivo que recentemente teve os gêmeos Ana Louise e Noah por meio de um tratamento de reprodução assistida do SUS, o Sistema Único de Saúde.

As duas, naturais de Brasília, sempre souberam que gostariam de ser mães e começaram a pesquisar desde cedo as possibilidades que tinham. “Engravidar era um sonho inicialmente da Érika, então, foi natural para a gente que ela gerasse os bebês”, disse Mariana em entrevista para o Yahoo!.

A busca começou em 2014, quando o casal já estava junto há dois anos e casado no civil. “Mas, como para muitos casais homoafetivos, a fertilização e inseminação são um pouco distantes, porque são processos muito caros”. Atualmente, situações de reprodução assistida podem chegar até R$ 30 mil reais pela rede privada, o que torna o sonho de ter um bebê inviável para muitos.

Mariana explica que as duas até mesmo consideraram a inseminação artificial caseira – quando o processo é feito fora dos hospitais, em casa, com doação direta de sémen e aplicação com a ajuda de kits com o material necessário -, mas desistiu por conta das dúvidas em relação ao registro da criança e o envolvimento do doador no processo.

A resposta, então, veio da melhor forma possível. Durante as pesquisas, Érika descobriu o Programa de Reprodução Humana do HMIB, o Hospital Materno Infantil de Brasília, que é referência no Brasil todo.

O projeto é bastante abrangente e atende tanto mulheres e homens inférteis, quanto casais de mulheres que querem ter filhos. Na época, Érika e Mariana poderiam entrar em duas filas de espera, para a fertilização in vitro e para a inseminação artificial.

Por ser um processo mais rápido, medicamente falando, a fila da inseminação andou mais rápido, e Érika, que preenchia todos os requisitos sem complicações, avançou rápido. “A gente tinha conversado que a genética não era uma coisa muito importante para a gente. Sempre soube que seria mãe, mas sabia que não iria gerar [o bebê]. Ela fazer uma inseminação e [a gravidez] ser com a genética dela nem foi uma questão”, continua.

Processo tranquilo

Há quem pense que fazer qualquer tratamento pelo SUS seja complicado, estressante e, muitas vezes, ineficaz. Porém, Mariana é prova de que é possível ter uma experiência agradável no sistema público de saúde.

“Desde que a gente começou, quando foi no postinho de saúde falar com a ginecologista, ela foi super solícita, já encaminhou a gente para o hospital para fazer todo o processo. Foi bem bacana”, diz ela.

Aqui, claro, entram algumas dificuldades, afinal, apesar de o programa teoricamente cobrir todos os exames e cirurgias que contemplam o processo de inseminação, muitas examinações precisaram ser feitas na rede privada – além do tempo de espera para que o procedimento evoluísse.

Até o momento, a fila tem mais de mil e 200 números na espera para a inseminação, e cinco mil para a fertilização. Ou seja, o chá de cadeira é, mesmo, demorado, mas Mariana diz que vale a pena.

“A gente conheceu outros casais que estavam no mesmo processo que a gente, a gente foi muito bem tratada pela equipe médica… Como é uma equipe de pesquisa, tem muita gente nova, muito médico novo com muito gás, muito receptivo”, diz ela.

No fim das contas, um processo que poderia valer mais de R$ 30 mil acabou saindo por menos de R$ 10 mil. Os únicos gastos que o casal teve foi com o sêmen – que, segundo as normas da ANVISA, tem que ser nacional e adquirido em um laboratório brasileiro – e com os exames que não puderem ser feitos na rede pública.

Falando especificamente da compra do sêmen, Mariana diz que nem isso foi uma grande preocupação para ela e Érika, já que o próprio hospital cuidou da tramitação, e elas ficaram encarregadas de apenas escolherem o doador, pela internet, de um laboratório de São Paulo.

“A gente vem se tornando mãe dia a dia”

Dificuldades sempre existem, ainda mais quando se fala em um casal homoafetivo no Brasil. Mariana diz que percebeu pequenos obstáculos na rotina durante o processo, que, aliás, pouco tinham a ver com a demora do SUS.

“Por exemplo, o cartão do neném vinha com nome de ‘mãe’ e ‘pai’, mas as enfermeiras prontamente já riscavam ‘pai’ e colocavam ‘mãe'”, explica.

A boa notícia, porém, é que essas dificuldades foram mínimas diante da experiência como um todo. Mariana diz que ela e Érika sempre foram tratadas pela equipe médica como duas mães, e Mariana pode, inclusive, estar na sala de parto na hora do nascimento dos bebês. “O parto da Érika foi ótimo, os bebês nasceram supersaudáveis”.

De lá para cá, o momento é de descobertas para as duas – ainda mais com a chegada não de um, mas dois bebês. “A gente vem se tornando mãe dia a dia. É incrível a experiência, é uma coisa que a gente queria muito. A gente sabia que poderiam vir gêmeos, mas, até então, a gente não tinha tornado isso tão real até fazer o ultrassom. Foi assustador nos primeiros cinco minutos, mas depois a gente já comprou a ideia e não se vê mais não sendo mãe de gêmeos”.

Família e amigos receberam os bebês muito bem. Talvez o único ponto de atenção é um que, de acordo com ela, é bastante comum para mães lésbicas. “Às vezes, tem um contratempo aqui ou ali e pergunta e curiosidade o tempo todo, mas a gente tenta levar isso pra um lado de informação”.

“É possível ter uma família homoafetiva não tradicional”

Nessa hora, as redes sociais são grandes aliadas e tanto Mariana, quanto Érika, usam o Instagram para postar fotos da família, além de informações que possam ser úteis para conscientizar as pessoas de que é possível, sim, realizar o sonho de ter filhos em uma relação homossexual.

“É possível duas mulheres terem filhos, mesmo sem tanta grana assim. A gente tenta passar que é possível ter uma família homoafetiva não tradicional – porque a gente nem quer ser tradicional, a gente quer mesmo quebrar os padrões”, afirma . ela, que junto com Érika estão tentando criar as crianças de uma forma livre, sem imposições de gênero.

“A gente queria que as pessoas soubessem que não é tão fácil quanto parece, mas não é tão difícil a ponto de ser impossível. Se a gente conseguiu, muita gente consegue. Sério, todo mundo consegue, porque a gente realmente foi atrás do que queria. Aqui no Brasil, as coisas são realmente muito difíceis, ainda mais com esse governo de agora – provavelmente, vai complicar um pouco mais. Mas a gente está aqui para representar e para resistir, sabe?”, finaliza.

Por: Marcela De Mingo – Yahoo Vida e Estilo

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Ludmilla assume namoro com bailarina
   3 de junho de 2019   │     12:13  │  0

Ludmilla, 24, surpreendeu os fãs ao assumir namoro com Brunna Gonçalves, uma de suas bailarinas.
A assessoria da cantora confirmou à reportagem que as duas estão mantendo um relacionamento, e que Lud teria até escrito uma música para ela, “Espelho”, que integra seu novo DVD “Hello Mundo”.
“É que você me faz bem. Eu quero, muito, muito mais. E só você tem o beijo que me satisfaz. E um jeito de fazer gostoso demais, demais”, diz a música.
Em meados de fevereiro, Brunna já havia publicado uma série de fotos de shows de Ludmilla e feito uma declaração para a cantora.
“Como uma menina de só 23 anos, tem o poder de mudar e tocar na vida de tanta gente ?! Você foi responsável pelas realizações dos meus maiores sonhos.. coisas que eu nunca imaginei viver eu vivi contigo e ainda vivo! Cada dia é uma surpresa, um aprendizado ou até mesmo um puxão de orelha diferente”, escreveu a cantora ba legenda.
Apesar de tratar Ludmilla como “amiga” no texto, ela diz que a ama e que “fico muito feliz em poder estar presente nesse dia, mas feliz ainda por estar ali no palco bem do seu ladinho o tempo inteiro vivendo aquilo contigo, vendo bem de perto sua carinha de feliz”.

 

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Lesbofobia já fez 8 vítimas no Brasil este ano
   12 de janeiro de 2018   │     0:00  │  0

Quando publicamos a triste notícia do assassinato de Anne Micaelly em Brasíliaacreditávamos que se tratava de um primeiro e chocante assassinato de lesbofobia. Mas fomos alertadas pela página Lesbocídio (https://lesbocidio.wordpress.com/) que já se contabilizam 8 assassinatos no 8 de janeiro, isto é, um assassinato por dia. Dedicamos este breve artigo a refletir como chegamos nesta situação e porque o capitalismo é responsável por essas mortes.

Todo começo de ano zeramos o número de LGBTs assassinadas e recomeçamos a contar. Ano passado foram ao menos 277, destes 179 foram pessoas trans segundo a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). Este ano já perdemos Fany, travesti assassinada a tiros em Belém no terceiro dia do ano. Mas uma escandalosa noticia é que foram oito lésbicas assassinadas em casos declaradamente lesbofobicos, mulheres que viviam uma sexualidade por fora da heteronormatividade imposta, isto é, que pelo simples fato de se relacionarem com outras mulheres, a sociedade machista e patriarcal tirou suas vidas.

Hoje uma mistura de medo, ódio e dor toma as mentes e corpos que vivem o luto dessas mulheres que não necessariamente conhecemos, mas que poderiam ser qualquer uma de nós.

Anne, Mayara, Rithynha, Clarice, Arianne, Eliane, Camila foram arrancadas da vida por crimes de ódio que tem culpados concretos: o patriarcado e o capitalismo, cujo perfeito casamento garante a normalidade destas mortes.

Mas muitas vezes que dizemos isso, nos perguntam, mas o que o capitalismo tem a ver com isso?

Primeiro é preciso entender que capitalismo não se trata apenas de uma postura de governo, mas fundamenta-se pelo modo de produção com qual utilizavamos para nossa sobrevivência. Numa sociedade que é dividida em classes sociais, a opressão à sexualidade ou a identidade de gênero, assim como a opressão por questões etniticas, migratórias ou regionais está intrinsicamente ligada à exploração do trabalho e a manutenção do status quo.

Em meio à uma das mais profundas crises deste sistema, que por hora não encontrou nenhuma saída contundente, ao a classe trabalhadora e os grupos oprimidos não proporem uma saída própria que garanta a sua emancipação, os governos e patrões de todo o mundo buscam descarregar nas nossas costas a crise econômica com aprovação de reformas e uma ampla retirada de direitos sociais. O Brasil que passou recentemente por um golpe institucional para garantir os ataques aos trabalhadores e setores oprimidos, tem aumentado a morte de LGBT sendo que já éramos considerado o país que mais mata por ódio as LGBT. Os números passaram de a cada 28 horas, para 26 e depois 23 horas. Ou seja, pelo menos todos os dias um de nós é brutalmente assassinato sem qualquer punição ou inclusive reconhecimento.

Quando falamos das mulheres lésbicas – sejam elas cis ou trans – estamos falando de uma dupla ou tripla opressão que se relacionam de formas muito particulares na sociedade capitalista.

Primeiro que o direito ao corpo sempre nos é negado. Não nos ensinam a conhecer nosso corpo, nosso prazer e nossos desejos. Pelo contrário, aprendemos a servir, a aceitar e a obedecer. Somos incentivadas pela cisnormatividade e heteronormatividade a seguir um padrão de beleza opressor e buscar uma feminilidade muitas vezes agressiva à nos mesmas. Quando buscamos acompanhamento médico, nos dizem que não fazemos sexo, porque parece inconcebível, ainda nos dias de hoje, que mulheres tenham atração sexual por conta própria e pior que possamos desenvolver relações sexuais e afetivas com outras mulheres. Somos as únicas presas pela monogamia, já que sabemos que a instituição do casamento surgiu há milhares de anos atrás junto a propriedade privada e a capacidade das mulheres cis comprovarem visualmente sua maternidade impunha nossa castração sexual para garantir então a paternidade. Em poucas palavras, olhar o mundo com os nossos olhos, é a única forma de entender o quão cruel é o capitalismo e de como este sistema nos reserva miseravelmente um horizonte muito estreito, atrofiando nossos cérebros com o trabalho doméstico e com a retirada da nossas próprias mãos do destino do nosso corpo e do nosso prazer.

Mas então quem está por trás desses assassinatos?

A cada notícia que chega as mídias de um brutal assassinato LGBT, encontramos sempre alguns “erros” irritantes. Primeiro se for uma pessoa trans, fazem questão de mata-lá pela segunda vez expondo seu nome de registro e geralmente buscando justificativas nela própria para seu trágico assassinato. Quando se trata de homens gays buscam dizer o quanto eram promíscuos ou dizer que não se trata de homofobia, mas “suicídio” ou “crime passional”. Mas e quando falamos de mulheres lésbicas? A invisibilidade que tanto ofusca a dramática realidade de violência começa a promover outras marcas. Sempre buscando revitimizar as vitimas.

Em cada um destes casos, há uma guerra silenciosa que nós tentamos travar. Entre estes meios tradicionais querem nos passar a ideia de que são casos isolados, atrocidades ímpares com indivíduos responsáveis, ignorando toda a cadeia de opressão estrutura nesta sociedade patriarcal e capitalista que legitima e reafirma toda a forma de desigualdade e opressão. Querem que nós vejamos como vítimas impotentes e com medo de sermos as próximas.

Ainda assim, hoje não se pode dizer que toda a mídia seja igual. A primeira exibição de um personagem retratando a transição de um homem trans ou o beijo entre duas meninas na Malhação nestes primeiros dias do ano mostra um espaço que a mídia não quer deixar passar por fora do seu controle.

Tudo bem ser LGBT desde que respeitem a moral desta sociedade. Desde que não se questione os pilares da repressão sexual que atinge o conjunto das pessoas, mas que deixam marcas profundas na vida das LGBT.

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Lésbicas encaram tabus e relatam situações constrangedoras durante atendimento ginecológico
   6 de setembro de 2017   │     15:19  │  0

O médico de Thaís* suspeitou que ela estivesse grávida sem antes lhe perguntar sua orientação sexual. Julia* ouviu da ginecologista que ficar com meninas era só uma fase, que logo encontraria um namorado de quem ela gostasse, e que ainda era virgem, apesar de ter uma vida sexual ativa. Algo parecido aconteceu com Carolina* (alguns dos nomes são fictícios a pedido das entrevistadas) quando sua médica insistiu que ela tomasse anticoncepcional antes de uma viagem porque ela poderia começar a gostar de algum menino. O despreparo de alguns profissionais no atendimento a este público tem gerado situações embaraçosas que prejudicam o devido atendimento e a saúde da mulher. Essa é uma das bandeiras da luta contra o preconceito e a violação de direitos que marcam o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, celebrado nesta terça-feira.

Apesar dos exames de rotina do atendimento ginecológico serem os mesmos para todas, há testemunhos de despreparo para lidar com questões específicas vivenciadas por mulheres homossexuais. A proteção contra doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), por exemplo, ainda é um tabu e feita de maneira improvisada. Se a paciente não corresponde ao estereótipo lésbico esperado (cabelo curto e roupas consideradas masculinas, por exemplo), pode ter a orientação sexual questionada. Exames importantes como o Papanicolau, que ajuda a prevenir e a diagnosticar precocemente o câncer de colo do útero, associado à infecção pelo papilomavírus (HPV), por exemplo, são deixados de lado com a justificativa de que a mulher ainda tem hímen e, portanto, é virgem.

O professor do curso de Medicina da UFSC, Alberto Trapani Júnior, que é supervisor da pós-graduação em ginecologia e obstetrícia, concorda que os atendimentos ginecológicos hoje são voltados a pacientes heterossexuais. Isso acontece porque nem na graduação nem na residência os profissionais têm a oportunidade de aprofundar a relação da diversidade sexual com a saúde. Quem quiser se aprofundar no assunto tem que buscar especializações em sexualidade em outros Estados.

— Essas especificidades são menos abordadas do que deveriam. Infelizmente, boa parte dos cursos de Medicina e especializações no Brasil são deficientes na formação mais ampla da sexualidade humana — diz Trapani Júnior.

No consultório, mulheres lésbicas reconhecidas como femininas são percebidas como heterossexuais e podem ter as demandas negligenciadas ou a orientação sexual questionada. A ginecologista de Mariana*, por exemplo, duvidou do fato de ela nunca ter tido relações com homens e a deixou constrangida.

— Ela começou a fazer várias perguntas sobre sexo que me pareceram normais na hora, até ela começar a insistir muito sobre eu não me relacionar com homens. Acho que por ser uma mulher que performa feminilidade e por estar junto da minha namorada, ela duvidou do que eu estava falando. Chegando na hora de ir fazer a coleta para os exames, onde ficamos sozinhas, ela continuou insistindo — desabafa.

O presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de SC, Ricardo Maia Samways, diz que esse tipo de questionamento deve ser feito para que o médico possa dar o atendimento mais adequado, mas deve ser apenas um segmento da consulta.

— É uma mulher e tratamos como saúde da mulher. Mas, no atendimento, temos que ver se ela só tem relação homossexual ou é bi, para poder orientar. Por isso, às vezes a gente insiste nesse tipo de pergunta, não para constranger, mas porque precisa desses detalhes para saber se ela não corre o risco de gravidez indesejada, além de doenças — defende.

Desinformação afasta mulheres homossexuais de clínicas médicas

A ginecologista e obstetra Cássia Soares, especializada em sexualidade humana, dá aula para residentes e busca tocar nessas questões específicas sobre sexualidade. Para a profissional, que atende na Maternidade Carmela Dutra, em Florianópolis, e tem o projeto de criar um ambulatório para mulheres lésbicas, os futuros médicos são preparados para lidar com questões que vêm depois da sexualidade, como gravidez e doenças. Outros pontos importantes ficam carentes de atenção.

— Não se toca nesse assunto que é bastante forte no consultório. Cada vez mais elas nos procuram com queixas relacionadas à sexualidade. O médico às vezes está muito acostumado com as heterossexuais e não sabe mudar o discurso, acaba ignorando a orientação sexual, conduzindo a consulta como se ela fosse hétero e não atendendo a sua real necessidade — avalia a professora.

Métodos improvisados são usados para proteção

A falsa crença de que mulheres que se relacionam apenas com mulheres têm menos chances de transmitirem e serem contaminadas por infecções e doenças também faz com que muitas homossexuais evitem ir ao médico regularmente. Mas lésbicas não estão imunes a infecções por fungos, como candidíase, e bacterianas, nem a doenças como sífilis, hepatite C, o próprio HIV ou qualquer outra transmitida pelo sangue ou mucosas. Sem opções práticas nas farmácias, elas acabam recorrendo a métodos improvisados para se proteger. O assunto ainda gera dúvidas em muitas mulheres, como a coordenadora de marketing digital Paula Chiodo:

— Não tem proteção específica. Existe camisinha feminina, porém não é acessível, não é fácil de colocar e se adaptar. E todas as outras formas de proteção contra DST são métodos adaptáveis, como usar luvas e lubrificante e plástico filme no sexo oral. Dependendo do ginecologista, ele não vai nem dizer isso, vai falar que não existem maneiras — reclama Paula, que já teve atendimento ginecológico negado após ter dito que era lésbica:

— A médica disse que eu poderia sair do consultório dela, que ela não tratava pessoas doentes. Saí de lá sem reação, não sabia o que fazer.

Por: Yasmine Holanda Fiorini

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