Monthly Archives: agosto 2019

Casal lésbico faz inseminação e dão a luz a gêmeos
   14 de agosto de 2019   │     15:39  │  0

As duas mamães tiveram gêmeos com a ajuda de um programa de reprodução humana do HMIB (Foto: Mariana Oliveira / Instagram)

Não há limites (ou obstáculos!) para o sonho de ser mãe. Com certeza, é isso o que aprendemos com a história de Mariana e Érika Oliveira, um casal homoafetivo que recentemente teve os gêmeos Ana Louise e Noah por meio de um tratamento de reprodução assistida do SUS, o Sistema Único de Saúde.

As duas, naturais de Brasília, sempre souberam que gostariam de ser mães e começaram a pesquisar desde cedo as possibilidades que tinham. “Engravidar era um sonho inicialmente da Érika, então, foi natural para a gente que ela gerasse os bebês”, disse Mariana em entrevista para o Yahoo!.

A busca começou em 2014, quando o casal já estava junto há dois anos e casado no civil. “Mas, como para muitos casais homoafetivos, a fertilização e inseminação são um pouco distantes, porque são processos muito caros”. Atualmente, situações de reprodução assistida podem chegar até R$ 30 mil reais pela rede privada, o que torna o sonho de ter um bebê inviável para muitos.

Mariana explica que as duas até mesmo consideraram a inseminação artificial caseira – quando o processo é feito fora dos hospitais, em casa, com doação direta de sémen e aplicação com a ajuda de kits com o material necessário -, mas desistiu por conta das dúvidas em relação ao registro da criança e o envolvimento do doador no processo.

A resposta, então, veio da melhor forma possível. Durante as pesquisas, Érika descobriu o Programa de Reprodução Humana do HMIB, o Hospital Materno Infantil de Brasília, que é referência no Brasil todo.

O projeto é bastante abrangente e atende tanto mulheres e homens inférteis, quanto casais de mulheres que querem ter filhos. Na época, Érika e Mariana poderiam entrar em duas filas de espera, para a fertilização in vitro e para a inseminação artificial.

Por ser um processo mais rápido, medicamente falando, a fila da inseminação andou mais rápido, e Érika, que preenchia todos os requisitos sem complicações, avançou rápido. “A gente tinha conversado que a genética não era uma coisa muito importante para a gente. Sempre soube que seria mãe, mas sabia que não iria gerar [o bebê]. Ela fazer uma inseminação e [a gravidez] ser com a genética dela nem foi uma questão”, continua.

Processo tranquilo

Há quem pense que fazer qualquer tratamento pelo SUS seja complicado, estressante e, muitas vezes, ineficaz. Porém, Mariana é prova de que é possível ter uma experiência agradável no sistema público de saúde.

“Desde que a gente começou, quando foi no postinho de saúde falar com a ginecologista, ela foi super solícita, já encaminhou a gente para o hospital para fazer todo o processo. Foi bem bacana”, diz ela.

Aqui, claro, entram algumas dificuldades, afinal, apesar de o programa teoricamente cobrir todos os exames e cirurgias que contemplam o processo de inseminação, muitas examinações precisaram ser feitas na rede privada – além do tempo de espera para que o procedimento evoluísse.

Até o momento, a fila tem mais de mil e 200 números na espera para a inseminação, e cinco mil para a fertilização. Ou seja, o chá de cadeira é, mesmo, demorado, mas Mariana diz que vale a pena.

“A gente conheceu outros casais que estavam no mesmo processo que a gente, a gente foi muito bem tratada pela equipe médica… Como é uma equipe de pesquisa, tem muita gente nova, muito médico novo com muito gás, muito receptivo”, diz ela.

No fim das contas, um processo que poderia valer mais de R$ 30 mil acabou saindo por menos de R$ 10 mil. Os únicos gastos que o casal teve foi com o sêmen – que, segundo as normas da ANVISA, tem que ser nacional e adquirido em um laboratório brasileiro – e com os exames que não puderem ser feitos na rede pública.

Falando especificamente da compra do sêmen, Mariana diz que nem isso foi uma grande preocupação para ela e Érika, já que o próprio hospital cuidou da tramitação, e elas ficaram encarregadas de apenas escolherem o doador, pela internet, de um laboratório de São Paulo.

“A gente vem se tornando mãe dia a dia”

Dificuldades sempre existem, ainda mais quando se fala em um casal homoafetivo no Brasil. Mariana diz que percebeu pequenos obstáculos na rotina durante o processo, que, aliás, pouco tinham a ver com a demora do SUS.

“Por exemplo, o cartão do neném vinha com nome de ‘mãe’ e ‘pai’, mas as enfermeiras prontamente já riscavam ‘pai’ e colocavam ‘mãe'”, explica.

A boa notícia, porém, é que essas dificuldades foram mínimas diante da experiência como um todo. Mariana diz que ela e Érika sempre foram tratadas pela equipe médica como duas mães, e Mariana pode, inclusive, estar na sala de parto na hora do nascimento dos bebês. “O parto da Érika foi ótimo, os bebês nasceram supersaudáveis”.

De lá para cá, o momento é de descobertas para as duas – ainda mais com a chegada não de um, mas dois bebês. “A gente vem se tornando mãe dia a dia. É incrível a experiência, é uma coisa que a gente queria muito. A gente sabia que poderiam vir gêmeos, mas, até então, a gente não tinha tornado isso tão real até fazer o ultrassom. Foi assustador nos primeiros cinco minutos, mas depois a gente já comprou a ideia e não se vê mais não sendo mãe de gêmeos”.

Família e amigos receberam os bebês muito bem. Talvez o único ponto de atenção é um que, de acordo com ela, é bastante comum para mães lésbicas. “Às vezes, tem um contratempo aqui ou ali e pergunta e curiosidade o tempo todo, mas a gente tenta levar isso pra um lado de informação”.

“É possível ter uma família homoafetiva não tradicional”

Nessa hora, as redes sociais são grandes aliadas e tanto Mariana, quanto Érika, usam o Instagram para postar fotos da família, além de informações que possam ser úteis para conscientizar as pessoas de que é possível, sim, realizar o sonho de ter filhos em uma relação homossexual.

“É possível duas mulheres terem filhos, mesmo sem tanta grana assim. A gente tenta passar que é possível ter uma família homoafetiva não tradicional – porque a gente nem quer ser tradicional, a gente quer mesmo quebrar os padrões”, afirma . ela, que junto com Érika estão tentando criar as crianças de uma forma livre, sem imposições de gênero.

“A gente queria que as pessoas soubessem que não é tão fácil quanto parece, mas não é tão difícil a ponto de ser impossível. Se a gente conseguiu, muita gente consegue. Sério, todo mundo consegue, porque a gente realmente foi atrás do que queria. Aqui no Brasil, as coisas são realmente muito difíceis, ainda mais com esse governo de agora – provavelmente, vai complicar um pouco mais. Mas a gente está aqui para representar e para resistir, sabe?”, finaliza.

Por: Marcela De Mingo – Yahoo Vida e Estilo

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Nota de pesar pela morte do arquiteto e artista plastico Alex Barbosa

Em nome do Grupo Gay de Alagoas – GGAL, entidade percussora na luta em prol da população LGBTI+ alagoana, o presidente , Nildo Correia, se solidariza com a família, amigos, clientes e admiradores do artista plástico e arquiteto alagoano Alex Barbosa, falecido na tarde de hoje, 12 de agosto de 2019.

Neste momento de dor, nos solidarizamos com seus familiares ratificando nosso voto de pesar pela grande perda e agradecimentos à dedicação e trabalho prestado a arte em Alagoas, como também visibilidade da mesma dentro e fora do Estado.

Se o “estado de felicidade” como motivo de pensamento e ação foi essencialmente um fator de conservação e estabilização, a “busca da felicidade” é uma poderosa força desestabilizadora.    Mas com a fórmula da felicidade que eleva o “estar na frente” à categoria de princípio orientador, com indivíduos esmagados por uma “sede de excitação e uma decrescente disposição de se ajustar aos outros, subordinar-se ou abrir mão, “como é possível que dois indivíduos que desejam ser ou se tornar iguais e livres descubram o terreno comum no qual seu amor pode crescer, e é assim que queremos lembrar da passagem de Alex Barbosa por este plano, um ser que viveu a arte na alma.


Maceió, 12 de agosto de 2019

Atenciosamente,

Nildo Correia – Presidente do Grupo Gay de Alagoas

Corrida de salto alto em Madri desafia gravidade e homofobia
   9 de agosto de 2019   │     0:00  │  0

O Orgulho de Madri, uma das maiores celebrações LGBT do mundo, culminará em um desfile no centro da cidade no sábado (6) de julho

Dezenas de homens e algumas mulheres de salto alto correram pelo centro da capital espanhola nesta quinta-feira, desafiando a gravidade, o calor e as tentativas do partido de extrema-direita Vox de restringir suas comemorações do orgulho gay neste ano.

A corrida em Chueca, um bairro do centro de Madri que é acolhedor com gays, atrai competidores até do exterior e é uma das partes mais ansiosamente aguardadas do festival anual da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT).

JUAN MEDINA / REUTERS
Concorrentes participam da corrida anual de salto alto durante as celebrações do Orgulho Gay no bairro de Chueca.

A competição conta com jovens e idosos, atléticos e corpulentos. Cruzar a linha de chegada não é uma tarefa fácil: as regras estipulam que os saltos precisam ter ao menos 10 centímetros de altura — os sapatos são medidos antes da prova.

O Orgulho de Madri, uma das maiores celebrações LGBT do mundo, culminará em um desfile no centro da cidade no sábado.

O ultraconservador Vox, estreante político que conquistou cerca de 10% dos votos na eleição nacional de abril e recentemente permitiu que a centro-direita assumisse a prefeitura de Madri, vem atacando cada vez mais o festival e os direitos LGBT na Espanha.

JUAN MEDINA / REUTERS
Entre as regras da corrida estão saltos com, no mínimo, 10 centímetros. 

Javier Garcia, enfermeiro de 23 anos, quer que a corrida continue no centro de Madri para manter sua visibilidade.

“As pessoas ainda têm que lutar e tornar visíveis certas desigualdades que ainda não estão plenamente resolvidas”, disse ele antes de participar da prova.

Garcia disse estar nervoso por ser a primeira vez que corre no evento de Madri, mas que já participou de um semelhante nas Ilhas Canárias.

O vencedor recebe 350 euros.

Maior centro de apoio LGBT do mundo acaba de ficar maior e melhor
   8 de agosto de 2019   │     0:00  │  0

Centro LGBT de Los Angeles

As obras do novo campus Anita May Rosenstein, no Centro LGBT de Los Angeles, ainda não tinham terminado quando o HuffPost US a visitou. Existiam fitas pedindo cuidado ao caminhar, e trabalhadores em escadas faziam ajustes no teto, mexendo na iluminação, meio como no filme O Show de Truman.

Mas, do lado de dentro do complexo de vidro, um curso de culinária já estava em andamento. Seis estudantes ― três idosos e três jovens ― estavam no nono dia do curso, preparando fricassê de frango sob a supervisão de Janet Crandall, chef executiva do programa de artes culinárias do centro.

“Você deve tirar o frango quando for reduzir o molho”, explicou ela.

“Sim, chef”, responderam os alunos.

Crandall, uma mulher energética com um cabelo loiro e curto, foi contratada em janeiro deste ano. “Estava preparando o conteúdo do curso até a abertura da cozinha, em 7 de abril. Tínhamos recebido o aval da vigilância sanitária na sexta-feira anterior.”

As aulas são ideia de Susan Feniger, autora de livros de receitas e personalidade da TV norte-americana que também é integrante do conselho de administração do centro.

A missão se divide em dois pilares: dar a jovens e idosos uma formação profissionalizante em gastronomia e, em algum momento, servir até 600 refeições por dia no centro, além de produzir a comida que será vendida no café novo campus.

Aqui você é o que quiser.Janet Crandall.

O curso tem duração de 300 horas, ao longo de três meses. “As primeiras 100 horas se concentram em técnicas básicas, incluindo manuseio da faca, corte e preparação de legumes, caldos, grelha e assim por diante”, diz Crandall.

“Aí eles passam para o segundo nível, também de 100 horas, cozinhando em maior escala para os funcionários do centro. Isso inclui fazer os pedidos e receber os ingredientes”, pontua, ao completar que as últimas 100 horas do curso são de trabalho – estagiando em um restaurantes de Los Angeles.

Crandall diz que cada estudante recebe um uniforme com seu nome bordado. “Aqui você é o que quiser”, diz. “É algo tão básico, mas é como eles se identificam. E também é quem eles são quando vão trabalhar no restaurante.”

Todo mundo merece um espaço bonito

A cozinha industrial é o centro físico e quase que espiritual do novo Campus Rosenstein. Depois de mais de uma década de arrecadação de fundos e planejamento, o novo complexo está quase pronto.

São duas alas. Uma delas tem 100 camas e 25 microapartamentos para jovens em situação de risco; a outra terá 98 unidades de baixo custo para idosos, e deve ser entregue no ano que vem. Elas são ligadas pelo “Hall do Orgulho”, uma área comum em que dois dos segmentos mais vulneráveis da comunidade LGBT+ podem se encontrar, se conectar, cozinhar e comer juntos.

O Centro LGBT de Los Angeles já era o maior do gênero do mundo. Agora está ainda maior. “Estamos falando de um projeto de 140 milhões de dólares”, diz Darrel Cummings, um dos diretores do centro e responsável pela arrecadação de fundos, junto com Lorri Jean, a presidente, e o conselho de administração.

Projetado pelos escritórios de arquitetura Leong Leong e Killefer Flamang Architects, o complexo parece tão moderno e simples como a Getty Villa, em Malibu. Ele é elegante e inovador, com tetos verdes e vários pátios internos.

“Quando você pensa em um centro LGBT, pensa: ‘ah, um espaço alugado com banquinhos para você sentar e falar como as coisas são horríveis e como é difícil’”, diz Cummings. “Aqui temos luz natural por toda parte. E para quem é este espaço? Para pessoas de baixa renda ou sem-tetos. Criamos uma estrutura como essa porque acreditamos que essas pessoas a merecem.”

A necessidade existe. O novo campus abriu há apenas um mês e meio e já está ficando cheio. Quando se trata das populações mais vulneráveis da comunidade LGBT, não existe “soft opening”.

Um tsunami branco

Naquela manhã, o centro organizou um almoço no Hall do Orgulho com o tema “Respeite os idosos LGBTQ”. O vereador David Ryu, um dos principais apoiadores, passou para contar uma boa notícia: ele assegurou 450.000 dólares do orçamento da cidade para financiar programas, refeições e mais.

Em 2007, percebendo o inevitável “tsunami branco” dos baby boomers chegando à idade da aposentadoria, o centro pleiteou e recebeu uma doação de 1 milhão de dólares do órgão do governo americano que lida com a população idosa. A ideia era criar um programa piloto para lidar com a questão do ponto de vista da comunidade LGBT.

Segundo um estudo de 2014 da entidade Services and Advocacy for GLBT Elders, os Estados Unidos têm pelo menos 3 milhões de LGBT com mais de 55 anos – e esse número vai dobrar em 20 anos. Essa comunidade inclui sobreviventes do HIV que precisam de cuidados médicos específicos.

Ao mesmo tempo, o centro quer ampliar a oferta de serviços para outro recorte demográfico que precisa de atenção: jovens em situação de risco e sem-teto. Um dado chocante: 40% dos jovens sem-teto de Los Angeles se identificam como LGBT.

“Rapidamente nos demos conta de que, para [atender essas populações], teríamos de pensar num novo espaço – e arrecadar muito dinheiro”, diz Cummings.

“Quando começamos a pensar no espaço, ficamos empolgados com a ideia de jovens que nunca tiveram acesso à história da população LGBT”, afirma ele. “O contato dos mais velhos com a nova geração seria uma experiência interessante.”

Não passou despercebido o fato de o campus ser inaugurado numa época sombria para as pessoas marginalizadas dos Estados Unidos. “Resistir é uma coisa”, diz Cummings, “mas essa é uma conquista. Nossa comunidade se voluntariou e disse: ‘Não acreditamos na fome’”.

Lutando contra o esquecimento

Na parede do Hall do Orgulho há uma linha do tempo detalhada da história do movimento pelos direitos LGBT, incluindo os protestos violentos no café Cooper Do-nuts, em 1959, e a invasão do bar Black Cat Alley, em 1967.

Ambos ocorreram em Los Angeles e, para muitos habitantes da cidade, são eles – e não o levante de Stonewall, em Nova York, há 50 anos ― o início do “verdadeiro” nascimento do movimento gay moderno.

Robert Clement, 94, lembra bem de Stonewall. Ele e seu parceiro, John Noble, estavam morando no bairro onde fica o bar e ouviram a confusão quando voltavam para casa.

“John foi investigar e voltou dizendo que um monte de gays estavam chutando os policiais. Pensei: ‘Acho que isso não me interessa’, disse ele, rindo. “Então continuamos andando.”

Mas Clement, ativista de longa data, não foi um mero observador. Padre ordenado, ele fundou a Igreja do Amado Discípulo em Manhattan, em 1968, a primeira da comunidade LGBT em Nova York. O espaço tornou-se ponto de encontro para organizações pioneiras como a Gay Activists Alliance, bem como a trupe de dança Les Ballet Trocadéro.

 

O isolamento social é tão prejudicial quanto fumar 15 cigarros por dia… O Centro LGBT salvou minha vida.David Epstein

O historiador de cinema Vito Russo era coroinha. Com Noble, Clement celebrou em julho de 1970 a primeira “União Sagrada” na Igreja do Amado Discípulo.

Nos anos 1980, o casal mudou-se para San Diego, para curtir um clima mais ameno. Eles viveram juntos durante 43 anos, até a morte de Noble, em 2003. Clement decidiu então mudar-se para uma cidade maior, onde haveria mais apoio. Ele foi para Los Angeles, mas descobriu que boa parte de suas economias iam para pagar o aluguel de 2.000 dólares.

Felizmente, Clement encontrou um apartamento no Triangle Square, um complexo de apartamentos de baixo custo para idosos, também fundado pelo centro. A equipe o apresentou a David Epstein, 69, que mostrou o espaço para Clement.

“Robert meio que teve um colapso emocional depois da morte do parceiro, então tínhamos isso em comum – a sensação de depressão e ansiedade que nos acompanhou todos estes anos”, diz Epstein. Os dois ficaram amigos.

Epstein também se mudou para Los Angeles em 2003. Como muitos idosos LGBTQ, ele sobreviveu a uma cultura que queria apagá-lo e estava quase sofrendo de transtorno do estresse pós-traumático. “Sou parte da comunidade há 50 anos. Sobrevivi aos anos 1970 e 1980, sobrevivi à praga. Mas, no meio dos anos 1990, duas pessoas próximas de mim morreram, dois amantes, um deles por suicídio”, lembra ele. “Sofri um colapso completo.”

Na época, Epstein morava na cidade de Allentown, na Pensilvânia, perto de um campo de treinamentos de uma milícia de extrema direita. “Sabia que iria morrer se não fizesse algo radical. Então vim para cá. Estava doente a ponto de me suicidar.”

Ele encontrou um apartamento em Silver Lake e se forçou a tomar o ônibus para o centro todos os dias, para jogar bingo e fazer aulas de artes e de ginástica. “Mas principalmente”, diz ele, “porque eu estava me conectando com outras pessoas. O isolamento social é tão prejudicial quanto fumar 15 cigarros por dia… O Centro LGBT salvou minha vida”.

Ativista nos anos 1970, Epstein lembra de participar da primeira reunião de liberação gay aos 21 anos. Em 1973, quando tinha 23 anos, ele participou de uma manifestação hoje célebre, na qual Sylvia Rivera fez um discurso mostrando como o movimento estava deixando de lado os pobres e os trans.

Ele também lembra de ler uma reportagem sobre a marcha que marcou o primeiro ao do levante de Stonewall. “Estou olhando e tem uma foto de um padre… Um padre de batinha… segurando um cartaz. Lembro que o cartaz dizia ‘Gay is Good’ (gay é bom), mas na verdade ele dizia ‘Gays this is your church’ (gays esta é sua igreja).” Anos depois da amizade, Epstein deu-se conta de que “a pessoa na foto era Robert. E todos esses anos depois somos amigos”.

Epstein e Clement esperam dividir um apartamento maior no Triangle Square, porque o aluguel de Epstein aumentou muito. Como tantas outras cidades americanas, Los Angeles vive uma crise profunda de moradia – causada por uma tempestade perfeita de prédios de luxo, aumento de aluguéis e desigualdade econômica. Apesar de o número geral de sem-tetos ter diminuído pela primeira vez em anos em 2018, o total de angelinos de 62 anos ou mais que não têm onde morar aumentou 22%.

“Depois da crise imobiliária de 2008-2009, vários desenvolvedores compraram terras. Estamos vendo o resultado disso agora”, diz Tripp Mills, vice-diretora de serviços para idosos do centro. “[As moradias] de preço acessível estão desaparecendo.”

Some-se a essa estatística a discriminação sofrida por LGBT idosos. Um estudo do Equal Rights Center de 2014 indica que 48% dos gays, lésbicas e bissexuais sofrem discriminação na hora de alugar ou comprar uma casa.

A triste realidade é que muitos idosos LGBT “voltam para o armário” quando vão morar em casas de repouso. Uma pesquisa de 2011 indica que somente 22% dos idosos LGBT se sentiam à vontade para revelar sua sexualidade em casas de repouso.

Apoio para os jovens

Um luminoso de neon na recepção da ala dos jovens diz: “Você é lindo”. Depois da recepção há um longe com TV e várias poltronas confortáveis, mesas e cadeiras. Em meados de maio, o espaço estava cheio de jovens assistindo TV, trabalhando no computador ou conversando.

No primeiro andar, há um abrigo com 40 camas de emergência, sempre ocupadas. O antigo espaço que acolhia jovens tinha 26 camas – também sempre ocupadas.

Criamos uma estrutura linda como essa porque acreditamos que essas pessoas a merecem, afinal são seres humanos.Darrel Cummings

Nos andares de cima fica o programa de transição – quartos para uma, duas ou quatro pessoas, que lembram alojamentos de universidades caras. Duas semanas depois da inauguração, o centro ainda está no processo de preencher as vagas. “Dada nossa população e a fluidez de identidade e expressão de gênero, separar os jovens por gênero não faz sentido”, diz Simon Costello, diretor dos serviços para crianças, jovens e famílias.

A ala também inclui a Ariadne Getty Foundation Youth Academy, que oferece programas para ajudar os jovens a terminar o ensino médio, treinamento vocacional e educação pós-ensino médio. Na porta ao lado fica o serviço que ajuda os jovens a preparar currículos e a praticar entrevistas de emprego. Há também um laboratório de computadores e um estúdio. Até aqui, 100% dos participantes passaram na prova GED, uma alternativa à formação do ensino médio.

A missão é permitir que os jovens caminhem pelas próprias pernas. “Descobrimos que leva tempo até os jovens aprenderem habilidades para toda a vida, que os permitam ter uma vida estável”, diz Costello. “Antes, perguntávamos para eles – desde o primeiro dia – onde eles queriam trabalhar. Muitos deles não tinham ideia do que era possível, muito menos o que queriam fazer. Nosso programa dá aos jovens o tempo e o espaço para trabalhar com nossa equipe com o objetivo de traçar objetivos de educação e carreira, que levem à independência no longo prazo.”

Mais de 40 jovens que eram sem-teto agora estão na universidade. “Nos diziam que o melhor que conseguiríamos era formá-los para trabalhos simples, como balconistas de loja”, diz Costello. “Mas eles estão dispostos a mais que isso. Estão seguros, são alimentados aqui. Temos estágios, empregadores, educação.”

O novo campus do Centro LGBT de Los Angeles lida com várias questões importantes para a população LGBTQ. E faz isso numa escala muito maior que a da igreja de Clement, há 50 anos. Mas ainda se trata do mesmo tipo de ativismo comunitário.

“Se for necessário, você tem de fazer”, diz Clement. “É incrível o que se consegue se você ficar um pouco bravo e incomodado.”

*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês. 

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Coca-cola estampa peça publicitária pró-LGBT e político na Hungria pede boicote à marca
   7 de agosto de 2019   │     12:40  │  0

Em Budapeste, na Hungria, um cartaz, no metrô, estampa dois homens jovens abraçados, visivelmente felizes, dividindo uma garrafa de Coca-Cola. Mais à frente, uma outra peça, da mesma marca, duas mulheres, uma de frente para a outra, figuram compartilhando o mesmo copo. Nos cartazes o slogan: “Zero açúcar, zero preconceito”.
A campanha da Coca-Cola faz parte da promoção de um dos maiores festivais de música da Europa, patrocinado pela multinacional, que ocorrerá na segunda quinzena deste mês de agosto.
Segundo a reportagem, a indignação foi imediata por parte dos partidários do Fidez – União Civil Húngara, partido de extrema-direita, presidido por Viktor Orban, primeiro ministro húngaro.
István Boldog, deputado e vice-presidente do partido, declarou sobre a campanha publicitária que “Enquanto eles (Coca-Cola) não removerem estes cartazes provocantes da Hungria, eu não consumirei mais os seus produtos! E eu peço que todo mundo faça o mesmo!”. O mesmo político, em junho, apelou para o cancelamento da Marcha do Orgulho LGBT com a justificativa de que estava “protegendo as crianças de aberrações sexuais”.
Segundo o jornal francês “La Croix”, os conservadores húngaros acreditam que, com a incitação ao boicote, irão provocar uma mudança de ação da marca ao promover o festival; porém, a empresa já respondeu e manifestou-se oposta às ideias de mudança na peça publicitária.
“Nós pensamos que os heterossexuais, assim como os homossexuais, têm o direito de amar a pessoa que eles quiserem, como desejarem”, reiterou a Coca-Cola.
Ainda de acordo com o “La Croix”, a opinião pública vai de encontro ao posicionamento dos dirigentes do partido conservador.
O primeiro ministro Viktor Orban não se declarou sobre este episódio, mas no último dia 27, discursando em uma universidade local, declarou que “a democracia liberal não é viável se as bases cristãs forem abandonadas”, e que os homossexuais “não podem fazer o que bem entendem”.
Apesar desta forte oposição, o festival Sziget espera receber nesta edição meio milhão de pessoas.

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