Opinião da Igreja se divide ao decidir sobre o tema homossexualidade
   27 de outubro de 2014   │     0:00  │  0

O Sínodo dos Bispos terminou no domingo (19), no Vaticano, com a beatificação do papa Paulo VI. Durante duas semanas, cerca de 200 bispos do mundo inteiro se reuniram para discutir sobre as famílias contemporâneas. Do encontro, foi aprovado um documento com um texto que vai servir de base para a próxima reunião, em outubro de 2015. Os pontos mais polêmicos não conseguiram um consenso: a comunhão aos divorciados e os homossexuais.

Não se pode falar de fratura entre conservadores e os liberais da igreja. Hoje existem duas correntes: os padres doutrinais fechados na teologia e os pastorais abertos ao rebanho. O fato de tocar em temas como divórcio e homossexualidade, assuntos tabus, já é considerado como uma evolução. Estes temas não foram banidos, eles serão discutidos no Sínodo de 2015. Agora o papa vai refletir sobre o que aconteceu nestas últimas duas semanas de reuniões e vai tomar uma decisão.

O texto que vai servir de base para o próximo encontro contém 62 itens e todos foram aprovados pela maioria dos 183 bispos participantes, mas, para obter o consenso, era preciso contar com dois terços do grupo. Os únicos temas que não alcançaram o consenso foram a comunhão dos divorciados e matrimônio de homossexuais. Estes temas fazem parte da família contemporânea, principalmente no Ocidente, mas é preciso considerar que em muitos países da África, Ásia e Oriente Médio ainda existem barreiras contra o divórcio e os homossexuais.

Racha geopolítico entre os bispos

A Igreja Católica não é como as Nações Unidas que votam em blocos de países. Na Alemanha e nos Estados Unidos, por exemplo, existem bispos conservadores e outros que defendem reformas. Neste Sínodo alguns bispos africanos se apoiaram nos conservadores alemães, enquanto os reformadores da Alemanha se uniram aos latino-americanos. Portanto, não é um racha geopolítico bilateral, e sim um entendimento transversal.

Segundo o papa Francisco, a Igreja não está acima dos fieis, como intermediária entre o céu e a terra, e nem esperando a chegada do rebanho. Para ele, a Igreja tem que estar ao lado, como pastor que vai até os fiéis. Ele é um jesuíta que propõe a Igreja pastoral. A Igreja Católica, de cultura milenar, tende a defender a tradição, mas, ao longo da história, se reformou. Reformas que estremeceram os muros do Vaticano.

A beatificação de Paulo VI, neste domingo, no Vaticano, não foi casual. Assim como a canonização de João 23, em abril deste ano. Ambos realizaram o Concilio Vaticano II, que reformou a Igreja nos anos 60. Francisco quer aplicar estas reformas, entre elas o princípio da colegialidade, no qual os bispos participam das decisões da Cúria, o governo da Igreja. Este Sínodo foi a aplicação da colegialidade. Para reformar a Igreja, é preciso consultar os bispos.

Papel de Francisco

A decisão do papa de publicar os textos com os debates não agradou muitos bispos. Francisco prefere a transparência, enquanto outros acham que os problemas da Igreja devem ser discutidos só dentro do Vaticano. Segundo alguns cardeais, esta estratégia de comunicação mostrou falhas porque deu a sensação de confusão, concentrando a atenção da mídia internacional só nos temas como a comunhão dos divorciados e homossexuais.

Francisco conta com grande popularidade entre os fiéis, mas o risco é que passe a imagem de um papa reformador e de uma Igreja resistente. Como se fosse um pontificado que não consegue converter os próprios bispos.

Fonte: Correspondente da RFI em Roma, Gina Marques.

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