Monthly Archives: abril 2014

Conheça a história do trans-homem Leonardo Peçanha
   25 de abril de 2014   │     0:00  │  0

Leonardo Peçanha

“Ter vivido num mundo feminino, me tornou um homem mais aberto a várias questões, não apenas em relação a mulher, mas ao homem também. Se fosse um homem cis, jamais iria pensar como penso hoje, jamais iria olhar as pessoas e digo todas as pessoas com um olhar além, além do padrão, do normativo. Se fosse cis, iria reproduzir todas aquelas coisas, ruins, que um homem cis naturaliza e acha que mulher tem que passar. Não, não sou e nem quero ser esse homem, pq pra mim ser homem não é e não precisa disso pra legitimar a masculinidade. Não precisa oprimir a mulher e nem ninguém para ser e se sentir homem. E também não quero e não tenho a pretensão de perder determinadas coisas que tenho que são femininas, isso não me faz ser menos homem, muito pelo contrário. Até pq pra mim, o gênero não é algo fixo e não acho que identidade de gênero seja algo que de fato determine a masculinidade ou a feminilidade da pessoa, acho que é algo a mais, é além da identidade de gênero. Pra mim não é essa identidade de gênero masculina que diz que eu sou homem, até pq ela tem coisas que para a teoria seria feminina, então, não consigo achar que IG me legitima como homem, mas a construção da minha identidade e apenas da minha identidade sim, essa me dá legitimidade. Pq ninguém é 100% de nada, então essa coisa de IG masculina e feminina pra mim é normatividade, para dizer que se tem que ser apenas de um jeito ou de outro. Mas, eu me construo e venho sendo feliz com a minha identidade, a que eu construí, e não a que a sociedade diz ou a medicina diz que um homem deva ser ou o que é um homem. É apenas a minha identidade e pronto. Quando eu não me permito e sem fazer esforço, a não reproduzir tudo o que essa tal masculinidade compulsória, machista, sexista e opressora que a maioria dos homens cis naturalizam e fazem se dizendo os mais homens do mundo, me sinto um cara ainda mais feliz comigo e com os seres humanos. Neste sentido, eu acredito que na construção da minha identidade, do ser homem que eu sou. Se não eu seria mais um homem reproduzindo tudo o que é de ruim e negativo por aí e que tantos homens fazem e não se dão conta apenas por acharem que “é coisa de homem”. Como se apenas o fato de ser homem desse a esses caras motivo para oprimir e agir de maneira sexista com as mulheres ou com quem quer que seja. Mas afinal o que é exatamente coisa de homem???”

Texto de Leonardo Peçanha – Leonardo Peçanha, 32 anos, professor de Educação Física, Coordenador de Pesquisas Acadêmicas do Ibrat (Instituto Brasileiro de Transmasculinidade) e é do Rio de Janeiro. 1 ano e 9 meses de T, 9 meses de mamoplastia masculinizadora, 2 semanas de histerectomia total.

Finlândia lança selos de tema gay
   24 de abril de 2014   │     0:00  │  0

A partir de Setembro, a Finlândia vai ter um conjunto de selos postais de teor gay, com imagens alusivas à homossexualidade masculina.

Os trabalhos são da autoria de «Tom Of Finland», conhecido internacionalmente como um artista erótico e um ícone gay.

Os selos, que dispensam a típica «lambidela» porque são autocolantes, são considerados pelos correios finlandeses (Posti) como «imagens carregadas de homoerotismo orgulhoso e confiante».

«Os seus desenhos enfáticos de homoerotismo atingiram um estatuto icónico no seu género, tendo influência, por exemplo, na cultura pop e na moda», lê-se no site. «Nos seus trabalhos, Tom of Finland utilizou a ironia própria e o humor típico das subculturas».

Touko Laaksonen, o artista «por trás» de Tom of Finland, produziu cerca de 3.500 desenhos, dos quais dois foram seleccionados pelo artista Timo Berry, que executou os selos.

«O selo retrata uma força vital sensual e o orgulho de se ser o que se é. Isso nunca é demais neste país do Norte», comentou Berry.

No entanto, note-se, a Finlândia não é um país que apoie com particular intensidade a comunidade LGBT. Por exemplo, o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é legal, escreve o HuffingtonPost.

Resta saber se depois do Verão, a caixa de correio de Vladimir Putin vai-se encher ou não de correspondência finlandesa.

Gays das próximas novelas da Globo provocarão polêmica
   23 de abril de 2014   │     0:00  │  0

José Mayer deixará de lado o rótulo de maior pegador da teledramaturgia brasileira para interpretar o cerimonialista enrustido Cláudio.

As vésperas da Parada do Orgulho Gay de São Paulo, no dia 4 de maio, os ativistas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) comemoram o crescimento da visibilidade dos homossexuais no horário nobre da TV. Personagens gays se tornaram presença quase obrigatória nas novelas da Globo. E não será diferente nos próximos dois folhetins das 21h.

No final de julho, Em Família será sucedida por Falso Brilhante. O autor, Aguinaldo Silva, é assumidamente gay e foi militante da causa. Ele participou da criação do primeiro jornal homossexual do Brasil, O Lampião da Esquina, que circulou entre 1978 e 1981, desafiando a censura imposta pela ditadura militar. Para sua nova novela, Aguinaldo criou não um nem dois, mas três personagens gays.

José Mayer deixará de lado o rótulo de maior pegador da teledramaturgia brasileira para interpretar o cerimonialista enrustido Cláudio. Ele é um marido conservador, com dois filhos, que vai se interessar por um homem bem mais jovem, vivido por Klebber Toledo. Loucamente apaixonado, ficará dividido entre se assumir publicamente ou manter o casamento de aparência, numa vida dupla.

Ailton Graça, no ar como o delegado Lopes na série O Caçador, foi escolhido para ser Xana Summer, o animadíssimo dono de um salão de beleza. Suas pupilas serão uma ex-rainha de bateria vivida por Cris Vianna e uma manicure interpretada por Viviane Araújo.

O terceiro gay da trama será o escandaloso colunista de fofocas Teodoro. O papel foi oferecido para Dan Stulbach. Mas o ator ainda não se decidiu. Ney Latorraca é uma opção. Pouco antes de morrer, vítima de enfarto fulminante no último dia 5, José Wilker foi cogitado para o personagem. Apesar da presença de vários homossexuais em sua novela, Aguinaldo Silva já avisou que não haverá beijo gay.

Depois de Falso Brilhante estreará Três Irmãs, título provisório do folhetim de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. Fernanda Montenegro, a Dona Picucha do seriado Doce de Mãe, e Nathalia Timberg, a vovó Bernarda de Amor à Vida, formarão um casal de lésbicas. Elas vivem juntas há várias décadas e decidem se casar. As duas atrizes estão com 84 anos.

Os três autores da novela também são gays. João oficializou a relação com o companheiro em fevereiro. Gilberto assinou a união civil com o decorador Edgard Moura Brasil em março, após 41 anos de relacionamento.

A sequência ininterrupta de personagens gays na principal faixa de audiência da Globo vem de longa data. Em Amor à Vida os gays foram representados por Félix (Mateus Solano), Niko (Thiago Fragoso) e Eron (Marcello Antony). Na novela anterior, Salve Jorge, de Gloria Perez, havia Jô (Thammy Miranda). Avenida Brasil, escrita por João Emanuel Carneiro, apresentou o enrustido Roni (Daniel Rocha) e Sidney (Felipe Titto), irmão de Tessália (Débora Nascimento).

O inesquecível Crodoaldo Valério (Marcelo Serrado) foi o porta-voz dos homossexuais em Fina Estampa, de Aguinaldo Silva. O personagem fez tanto sucesso que gerou um filme. Em Insensato Coração, Gilberto Braga e Ricardo Linhares criaram vários personagens gays. Entre eles, Xicão (Wendel Bendelack), Roni (Leonardo Miggiorin), o casal Hugo (Marco Damigo) e Eduardo (Rodrigo Andrade), e o jovem Gilvan (Miguel Roncato), assassinado por pitboys. Já Passione tinha Arthurzinho (Júlio Andrade), devotado mordomo de Estela (Maitê Proença).

Advogado que lutou contra união gay se rendeu à filha lésbica
   22 de abril de 2014   │     0:00  │  0

O advogado americano Charles Cooper defendeu com vigor, no ano passado, a lei da Califórnia que bania o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Conservador, eleito “Advogado Republicano do Ano”, ele defendia também sua convicção de que casamento só pode existir entre um homem e uma mulher. Porém, em meio à batalha que travava dentro e fora dos tribunais, ele descobriu que sua filha era lésbica, amava outra mulher e queria se casar com ela.

Hoje, ele está fazendo o que pode para celebrar, da melhor forma possível, o casamento da filha. Anunciou que mudou de opinião, com base em sua convicção de que seu amor pela filha, que, na verdade, é filha adotiva, porque já havia nascido quando se casou com sua mãe, vem em primeiro lugar. A outra convicção, ele a abandonou.

A história é contada em um livro da jornalista Jo Becker, no New York Times, a ser lançado em breve. O livro descreve os bastidores de todo o movimento gay e das batalhas judiciais para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No final, a luta resultou em duas decisões da Suprema Corte dos EUA em favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2013.

De acordo com a autora do livro, Cooper lhe contou que, no decorrer do processo, passou a admirar as demandantes, o casal de lésbicas, Kris Perry e Sandy Stier, pela coragem delas de buscar a Justiça para defender o direitos de igualdade dos homossexuais.

A admiração foi retribuída. Em uma declaração sobre o resultado do julgamento favorável a elas, elogiaram o trabalho dedicado de Cooper na defesa da lei, apesar de saber, desde que a Suprema Corte anunciou que aceitaria julgar o caso, que sua filha era lésbica.

Cooper confirmou à autora que continuou trabalhando todos os dias com seus colegas, fazendo pesquisas e atuando na corte, pela preservação da lei, apesar de estar com o coração partido, de acordo com o Washington Post e a agência Associated Press (AP).

Sua equipe enfrentou uma dupla de “inimigos”, unidos por uma causa: derrubar a lei antigay. Os advogados David Boies e Ted Olson, adversários de Cooper, representaram, respectivamente, o democrata Al Gore e o republicano George Bush na disputa judicial, na Suprema Cortes dos EUA, pelas eleições presidenciais de 2000.

A Suprema Corte decidiu contra os clientes de Cooper. Os ministros disseram que os demandantes não tinham legitimidade jurídica para desafiar a decisão do tribunal inferior, segundo a qual a lei da Califórnia era inconstitucional.

Em uma decisão considerada “limitada”, rejeitaram os argumentos de Cooper de que não há direito previsto na Constituição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. E, dessa forma, a decisão sobre permitir ou não a união entre homossexuais deveria ser deixada a cargo de cada estado. Com isso, a Califórnia e diversos outros estados legalizaram o casamento gay.

No final das contas, Cooper perdeu os debates na Suprema Corte e em casa. Ele contou à autora do livro que discutiu, por horas, o caso com a filha Ashley Lininger, apaixonada por uma “jovem mulher” identificada apenas como Casey. Foi uma briga ingrata, porque ele atacou a razão e ela atacou o coração.

“Me rendi, dizendo a ela que o que importava era que eu a amava e ela me amava”, ele contou à jornalista.

Depois que a imprensa revelou a história, Cooper divulgou uma declaração: “Minha família é como muitas outras famílias. Nós nos amamos e nos apoiamos mutuamente. Rezamos, nos alegramos uns pelos outros e lutamos pela felicidade de todos. Minha filha Ashley encontrou a felicidade em seu amor por uma jovem mulher chamada Casey e nossa família e a família de Casey estão ansiosas para celebrar o casamento das duas em algumas semanas”.

Charles Cooper, uma alta autoridade no Departamento de Justiça do governo Reagan, segundo oWashington Post, não foi o único republicano proeminente a trocar, recentemente, suas convicções políticas pelas razões do coração. O ex-vice-presidente Dick Cheney, que tem uma filha lésbica, e o senador Rob Portman, que tem um filho gay, abandonaram a posição ortodoxa do partido pelas mesmas razões.

Por: João Ozorio de Melo

Um farol para os conflitos adolescentes
   16 de abril de 2014   │     0:00  │  0

Para participantes de “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, trunfo do filme é tratar de forma honesta um tema ignorado nas escolas: a orientação sexual dos jovens

Não há chamada no intervalo da novela, ator famoso no elenco ou combo promocional em alguma franquia de fast food. Ainda assim, não será exagero dizer que Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é uma das estreias mais aguardadas do semestre entre os adolescentes brasileiros. Produção independente nacional, o primeiro longa-metragem do jovem diretor Daniel Ribeiro teve 13 de suas 15 sessões de pré-estreias pelo país esgotadas. O filme chega aos cinemas esta quinta, em 33 salas de 17 cidades brasileiras.

Trata-se de um lançamento bastante robusto para os padrões das produtoras que trabalham fora do esquema de distribuição das chamadas “majors” (como Warner, Fox, Disney e, no campo dos nacionais, a Globo Filmes). Para se ter uma ideia, uma das maiores marcas de público desses últimos anos entre os títulos brasileiros independentes pertence a O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho, com quase 100 mil espectadores. Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) fez 120 mil e Cheiro do Ralo (2006) fez 200 mil.
Distribuído pela mesma Vitrine Filmes que banca agora o trabalho de Daniel Ribeiro, o filme de Kleber estreou em 13 salas em janeiro de 2013 (com o boca a boca e a crítica positiva do longa, esse número foi ampliado ao longo das semanas). A previsão agora é de que Hoje Eu Quero Voltar Sozinho chegue próximo ou mesmo ultrapasse em braçadas esse volume de público.
Por trás de todo esse entusiasmo, existem diversos fatores: a qualidade inerente ao filme, uma linguagem bastante simpática ao grande público (incluindo pais), elenco super afinado e a premiada estreia no Festival de Berlim são alguns deles. Mas a força motora que transformou esse projeto em algo muito maior que um longa-metragem atende por um nome: fãs. E uma pequena parte deles está representada no próprio filme que chega agora aos cinemas. Pois todos os 70 figurantes que participam das cenas já eram admiradores desse roteiro há alguns anos.
Responsável por esse elenco de figuração, Zoe Guglielmoni lembra o processo de seleção: “Recebi cerca de 500 emails com fotos e mensagens de todo o tipo. Alguns desesperados queriam vir do outro canto do país. Recebi emails em espanhol. Teve gente que escreveu para dizer que não tinha a idade que buscávamos (entre 16 e 19 anos) mas que estava feliz em saber que haveria um longa baseado no curta”.
O curta que ela menciona é o começo de tudo. Lançado em 2010, é um filme que tem mais de 3 milhões de visualizações no YouTube. Se chama Eu Não Quero Voltar Sozinho e fala sobre esse adolescente cego (Guilherme Lobo) cuja rotina ao lado de sua melhor amiga (Tess Coelho) muda quando surge na escola um novo aluno (Fábio Audi), que termina despertando a sexualidade do protagonista e os ciúmes da menina. Com os mesmos atores, o longa amplia essa história e dá especial atenção a esse núcleo de socialização que é o caminho entre a sala de aula e o pátio do colégio.
“Uma coisa parecida aconteceu comigo recentemente. Minha melhor amiga estava gostando de mim e eu estava gostando do meu melhor amigo, que, claro, gostava dela”. O depoimento é de Matheus Arantes em um dos intervalos de filmagem do longa, em março de 2013. Ele e vários outros figurantes tentavam me explicar por que participar daquele filme era tão importante pra eles.
Em poucos minutos, me contam sobre seus respectivos processos de lidar com a questão da sexualidade em casa e fora dela: “Meus pais me mandaram pra psicóloga, fiz até regressão. Mas hoje entendo que ser gay é uma vírgula no livro de coisas que eu sou”, falava Giovanni Parizi, então com 17 anos. “Escrevi uma carta enorme pra minha avó contando tudo, mas ela terminou aceitando super bem”, lembrava Jonas Carvalho, 16 anos na época. “Tou pouco me fudendo para o que as pessoas vão falar de mim na rua”, afirmava Isabella Pilli, 18 anos.
Faltando aulas, trabalhando durante a madrugada, pegando dois, três ônibus para chegar aos sets de filmagem, eles falavam sem respirar sobre como é ser gay ou mesmo ser heterossexual em ambientes em completo descompasso com seu crescente processo de autoafirmação. Estamos diante de uma geração cada vez mais informada, via redes sociais, sobre seus direitos, e com muito mais acesso a obras e produtos de entretenimento, quase todos eles vindos de fora do Brasil, que os representem afetivamente de alguma forma.
Um ano depois, reencontro alguns deles poucas horas antes da sessão que foi aberta à equipe e convidados. Recém saídos de seus respectivos colégios, eles falam da importância de se ter um filme no Brasil que lide com a sexualidade no sempre confuso ambiente escolar. O discurso é sóbrio e politizado: “Na escola, você não pode obrigar a pessoa a pensar nada, o que eu acho é que não custa nada indicar a forma ética de se pensar. Por exemplo, na aula de sociologia que e gente tinha na escola, o professor falava da mulher e toda a luta delas fizeram por seus direitos. Acho que caberia também começar a falar das pequenas conquistas dos grupos gays na sociedade. Até porque crimes homofóbicos são hoje um dos maiores crimes de ódio no país”, opina Jonas.
Matheus é ainda mais assertivo: “Devia haver sim matérias, ou tópicos dentro de matérias, abordando o assunto de diversas formas. Exemplo: pega uma aula e explica o que significa gênero. Que as coisas não são tão simples como menino e menina. Mas no Brasil, a gente não tem sequer aula pra saber como trabalham os políticos, e vivemos reclamando deles sem saber nem qual é a função de um deputado. Imagina então uma aula sobre gênero!”
Isabella, que graças ao filme está estudando para passar no curso de cinema da FAAP, em São Paulo, lembra que todos os seus professores de escola sempre souberam de sua orientação sexual. “Nunca tive grandes problemas com isso. O único momento em que me senti mal foi quando teve uma peça na escola e, numa cena, uma das mulheres tentaria beijar a outra. E esse meu professor comentou que era um absurdo passar uma cena lésbica numa escola. Fiquei muito ofendida.”
No filme de Daniel Ribeiro, a questão do bullying entre colegas de sala pontua a história em vários momentos. Há um grupo de meninos que, com frequência, faz piadas com a proximidade entre os personagens de Leo, o menino cego, e Gabriel. Matheus, que pertence ao núcleo dos figurantes que estão nesse grupo, sentiu na pele como funciona a dinâmica do ambiente escolar quando nem mesmo os professores são preparados para lidar com a questão.
“Quando eu era representante de classe, ouvi de uma professora que ninguém ali precisava tratar do tema homofobia, porque eles sabiam que naquela escola não tinha nenhum ‘viadinho’. Esses colégios funcionam mais ou menos assim: ‘gays, a gente sabe que eles existem, mas quando aparecerem por aqui a gente vê como faz’. Todo o discurso para não tratar do assunto é sempre igual, justificam com frase como: ‘e se um pai vier bater na minha porta pedindo explicação?’”, diz Matheus.
A maior parte dos meninos e meninas que fazem o importante boca a boca do filme, tanto do longa quanto do curta, são adolescentes que entenderam nesse roteiro um farol emocional para problemas que eles não viam ser espelhados em programas de TV como Malhação, série da Globo que em suas 21 temporadas nunca mostrou um casal adolescente gay.
“O curta me ajudou muito em um momento muito triste pra mim, chorei demais assistindo. Nessa época, eu precisava de coisas que me dissessem que não havia problema nenhum em ser gay. Antes disso, cheguei a passar um ano frequentando a Igreja para tentar ser outra pessoa”, diz Anderson Perez, 19 anos, na fila para assistir a uma das pré-estreias do longa em São Paulo. Para ele, o êxito de Daniel Ribeiro é tratar o tema sem colocar o problema dos personagens em suas orientações sexuais, sem com isso deixar de mostrar nada. “Fui ver aquela versão nova de Confissões de Adolescente no cinema. E uma das meninas tem uma namorada que nunca aparece no filme. Não pode ser assim. A diferença pro filme do Daniel é essa”, completa.
Por: Carol Almeida