Monthly Archives: novembro 2012

O suicídio entre adolescentes homossexuais
   26 de novembro de 2012   │     12:42  │  3

Fonte: Revista Galileu

Pesquisa norte-americana mostra que adolescentes gays são cinco vezes mais propensos a tentar suicídio do que os heterossexuais; ambiente influencia

A Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, realizou um estudo sobre a relação entre a opção sexual e o suicídio entre jovens. Os resultados motraram os homossexuais têm mais probabilidade de praticar o ato. Além disso, a pesquisa concluiu que o local de convívio social também exerce bastante influência – ambientes mais abertos à homossexualidade apresentam menos casos de suicídio.
Cerca de 32.000 jovens anônimos participaram do estudo. Os dados analisados pela equipe são provenientes de uma pesquisa anual realizada pelo estado do Oregon, a Oregon Healthy Teens Survey. Os particpantes são alunos de escola púbica entre 13 e 17 anos. Com base nas respostas dos jovens, a pesquisa concluiu que a probabilidade de um homossexual cometer suicídio é cinco vezes maior do que um jovem heterossexual.

Porém, o ambiente em que o jovem convive pode fazer muita diferença. Os adolescentes que vivem e estudam em locais que aceitam melhor gays e lésbicas têm 25% menos probabilidade de tentar suicídio do que os ambientes mais repressores.
Estudos anteriores apontam que o suicídio é a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 24 anos nos Estados Unidos. “Este estudo sugere como podemos reduzir as tentativas de suicídio entre gays, lésbicas e bissexuais. Mostra também que a criação de um ambiente escolar bom para os homossexuais pode levar a melhores resultados na saúde de todos os jovens”, declarou o psicólogo Mark L. Hatzenbuehler, responsável pela pesquisa, ao Eurek Alert.

No Brasil, por causa do forte preconceito social em torno do homo afetividade, uma porcentagem relevante de jovens se suicida. São três mortes por dia.  Cerca de   mais de 160 gays, lésbicas, bissexuais e travestis são mortos todos os anos no país, praticamente 01 a cada três dias.

Ao anunciar sua homossexualidade, mais de 50% dos adolescentes receberam uma reação negativa da família. Destes, 66% afirmaram sofrer violência verbal e até física. Mais de 50% dos adolescentes gays afirmaram abusar de substâncias nocivas (cigarros, álcool e drogas) para amenizar esse tipo de mal-estar.

as taxas de suicídio são significativamente maiores entre a população jovem LBGT. Na realidade, a questão já se transformou em um sério problema de saúde pública.  É necessário aumentar as medidas de combate à homofobia, já que há provas do maior número de suicídios entre jovens lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, do que na população jovem em geral.

Com dados precisos descobriu-se que os jovens LBGTs assumem cada vez mais cedo sua sexualidade, e enfrentam também mais rapidamente a intimidação homofóbica. Nem é preciso ressaltar que se tornou imprescindível  medidas  para o apoio psicológico e social da juventude homossexual.

O Grupo E-jovem apontam para uma taxa anual de suicídios entre os adolescentes LBGTs brasileiros superior a mil, o que ultrapassa também a média internacional. Vale repetir: são mais de mil adolescentes em um total de 10.000 suicídios – por ano – registrados em nosso país.

Portanto, no Brasil, por causa do forte preconceito social em torno do homoafetividade, uma porcentagem relevante de jovens se suicida. São três mortes por dia.

Para John Hinckle e Kees Van Haeringen professores da Universidade de Gent, embasados em uma pesquisa revelou-se que cerca de 5,9% dos rapazes heterossexuais jovens haviam tentado o suicídio, comparados com os 12,4% dos inquiridos homo e bissexuais masculinos. As percentagens correspondentes para as moças foram 5,4% para as jovens heterossexuais e de 25% para as jovens homo ou bissexuais.

Segundo a organização Lambda Education revelou que a Itália possui uma dura realidade: 46% dos inquiridos haviam sido vítimas de atos de discriminação, 37% haviam sofrido atos de violência, 40% pensaram no suicídio e 13% declararam ter tentado o suicídio.

Informações nesse sentido têm sido confirmadas por outros estudos na Suíça, na Noruega, no Canadá e nos Estados Unidos.  A juventude gay e lésbica vive numa sociedade hostil, que a discrimina quer em atitudes, quer comportamentos e que nega até mesmo a sua existência.

Atração pelo mesmo sexo, como primeira experiência, a escuta de comentários homofóbicos, a hostilização verbal e ataques físicos ou a diminuição do rendimento escolar  são situações que podem levar o jovem à depressão, à baixa autoestima, ao ódio contra si próprio, à frustação, à confusão sobre o que fazer, a níveis altos de stress por manter o “segredo”, ao isolamento e a pensamentos sobre a morte. (Mott, 2004, Pesquisa GGB – Grupo Gay da Bahia).

A família é o porto seguro para todo o indivíduo, principalmente no período inicial da vida, mas que nem sempre está preparada para a  novidade, de que o seu filho é gay ou a sua filha é lésbica. Provocando muitos conflitos e trazendo choque e crise. O que se mostra na realidade é que a juventude gay e lésbica é um dos grupos mais vulneráveis e desprotegidos na sociedade.

Para, William Weld, governador republicano de Massachussetts a sociedade não pode permitir que  jovens LBGT tirem sua própria vida  induzidos pelo preconceito, hostilidade e maus tratos. Podemos sim, dar o primeiro passo no sentido de terminar com o suicídio dos jovens gays criando uma atmosfera de dignidade e respeito por estas pessoas jovens nas nossas escolas.

Espera se que o 50º aniversário do Conselho da Europa, estabelecido no nosso continente para defender e promover os direitos fundamentais, traga a esta instituição a coragem de liderar o caminho para o progresso e para a total cidadania, para todos os europeus, sem discriminação baseada na orientação sexual.

Conforme Luiz Mott (2004), pesquisador e especialistas em violência contra homossexuais do Brasil, responsável pelo arquivo de registros de assassinatos do Grupo Gay da Bahia (GGB), nos revela, o número de mortes cresce a cada contagem: cerca de 160 gays, lésbicas, bissexuais e travestis são mortos todos os anos no país, praticamente um a cada três dias.

Imagine então o relato do grupo E-Jovem a respeito do suicídio de jovens contabilizando uma taxa de mais de 1000 jovens por ano que se matam por preconceito, uma média de três por dia. Ou seja, se somarmos estes números ao apresentado pelo GGB, temos a trágica marca de 10 jovens gays perdendo a vida a cada três dias.

Essa realidade infelizmente, não ocorre só no Brasil. Por todo o mundo, adolescentes e jovens homossexuais são contabilizados como baixas dessa.

Ao anunciar sua homossexualidade, mais de 50% dos adolescentes receberam uma reação negativa da família. Destes, 66% afirmaram sofrer violência verbal e até física. Mais de 50% dos adolescentes gays afirmaram abusar de substâncias nocivas (cigarros, álcool e drogas) para amenizar esse tipo de mal-estar.

Em conclusão a esse a esse assunto, o que se pode perceber, é que: em todo o mundo as vítimas da homofobia, têm um ponto em comum: são em sua maioria do sexo masculino, numa proporção que chega a 6 pra 1. Pesquisa feita pela UNESCO sobre homofobia nas escolas parece apontar para uma explicação: meninos tem muito mais preconceito contra a homossexualidade de outros meninos do que as meninas – e também são muito mais propensos a agredirem seus colegas homossexuais, até mesmo como demonstração de masculinidade, num rito de passagem machista e sexista, que valoriza a discriminação.

Para Aquino (2007), os fatores sociais são em geral visos como os que criam os ambientes psicológicos e biológicos. Os fatores sociais são em geral vistos como os que criam os ambientes nos quais os fatores psicológicos predispõem a pessoa ao suicídio.

Ela nasceu menino, ele nasceu menina e são um casal feliz
   24 de novembro de 2012   │     11:39  │  0

Filha de militar, Katie Hill era Lucas. Na infância, Arin Andrews era Esmeralda

Por Diogo Carvalho

Katie Hill, 18, viveu os primeiros anos de sua vida como Lucas, filho de um coronel da Marinha. Seu namorado, Arin Andrews, 16, nasceu Esmeralda e, durante a infância, se destacava como bailarina. Na época, a jovem chegou a ganhar vários concursos de beleza. Ambos lutaram contra a sexualidade durante a infância e hoje vivem um relacionamento um tanto quanto incomum.

Katie conta que sempre se sentiu como uma menina presa no corpo de um garoto, Arin disse ter vivido o oposto. Os adolescentes se conheceram quando ambos se preparavam para uma cirurgia de readequação sexual, durante tratamento em Tulsa, Oklahoma, e imediatamente se apaixonaram. “Nós somos perfeitos um para o outro porque ambos crescemos com os mesmos problemas”, conta Katie, que desenvolveu seios por meio de hormônios femininos. “Estamos tão convincentes como menino e menina que ninguém percebe que não somos”, acrescenta a jovem.

Arin disse que sabia que ele era um menino no corpo de uma menina desde o seu primeiro dia na escola, pois ele não se sentia confuso na hora de escolher com quem andar: se com os meninos ou com as meninas. “As coisas femininas não me interessavam. Fui chamada de lésbica desde criança, mas eu não me sentia assim”, relata. Os pais dos jovens tiveram problemas em aceitar o gênero dos filhos, mas agora os apoiam firmemente.

Opus Gay lança campanha contra violência doméstica entre casais homossexuais em Portugal
   23 de novembro de 2012   │     0:00  │  0

Em Portugal, não se sabe ao certo quantas são as vítimas de violência doméstica em casais homossexuais. Mas o silêncio das estatísticas não abafa as queixas da população LGBT: falam em discriminação por parte das forças de segurança e das casas de acolhimento destinadas aos gays e lésbicas que, ainda hoje, sofrem em silêncio.

Aos olhos das estatísticas oficiais, o fenómeno não existe: no relatório da Direcção-Geral da Administração Interna de 2009 sobre a violência doméstica, não há qualquer referência à violência praticada em casais homossexuais. É por isso impossível quantificar o fenómeno em território nacional, admitem as organizações de defesa dos direitos da população LGBT.

Mas, se para as autoridades centrais, o fenómeno permanece ainda nas sombras, também no seio da comunidade homossexual o desconhecimento é grande: “acho que as pessoas não estão alerta e, mesmo dentro da comunidade LGBT, o fenómeno não é muito falado, muito discutido”, admite Miguel Pinto da associação ILGA.

Pode até ser invisível, mas o problema não é novo, garante o presidente da Opus Gay, António Serzedelo: “mesmo antes de as uniões de facto estarem legisladas para os casais, já havia casais homossexuais a viver há muitos anos juntos e, portanto, também já havia nalguns desses casais violência doméstica”. Mas, tal como junto dos casais heterossexuais, o problema foi silenciado durante muito tempo.

A chantagem da vítima homossexual

Seja entre casais homossexuais ou heterossexuais, os quadros de violência doméstica são idênticos: afinal, explica António Serzedelo, “os genes desta violência são os mesmos: são relações de domínio, são relações de poder”.

Mas, apesar das semelhanças, a verdade é que numa relação entre pessoas do mesmo sexo, a vítima de violência doméstica pode ser submetida a um procresso designado como “outing”, um tipo de chantagem que não existe numa relação heterossexual: “um dos membros do casal pode ameaçar o outro, por exemplo, de revelar a orientação sexual junto da família, junto dos colegas de emprego”, explica Miguel Pinto (na imagem).

As particularidades deste tipo de violência exigem, de resto, que o acompanhamento da vítima seja adequado à sua orientação sexual – algo que, neste momento, está a falhar junto das forças de segurança e das instituições de acolhimento, admitem o dirigente da ILGA.

Vítimas por duas vezes

Quando a denúncia de um crime de violência doméstica é feita junto das forças de segurança, a vítima homossexual é muitas vezes alvo de uma “vitimização secundária”, garante Miguel Pinto.

“Ao chegarem a uma esquadra, são por exemplo gozados pelo polícia, pelo agente ou pela pessoa que estiver de serviço”, explica: “[a vítima] não pode ouvir comentários que sejam desagradáveis e as pessoas devem saber que a violência doméstica entre pessoas do mesmo sexo também é violência doméstica”.

António Serzedelo (na imagem) admite até que, em diferentes regiões do país, a discriminação da vítima possa atingir diferentes proporções: “Uma coisa são as forças policiais em centros urbanos e cosmopolitas como é Lisboa, Porto… Outra coisa são as Guardas Nacionais Republicanas ou as policiais em pequenas povoações ou pequenas cidades do interior ou da província”.

E também nas casas de abrigo, onde a vítima pode ser acolhida temporariamente, gays e lésbicas podem ser alvos de discriminação: “as instituições de acolhimento não estão preparadas para acolher pessoas homossexuais ou então, pelo menos, as pessoas homossexuais não se sentem confortáveis de recorrer às instituições de apoio, porque muitas delas são de cariz religioso e as pessoas sentem-se mal acolhidas”, explica Miguel Pinto, admitindo não haver uma “igualdade de tratamento” em relação à vítima heterossexual.

Fonte: Ass. de Imprensa Opus Gay

Mapa da Violência Doméstica em Portugal

http://noticias.sapo.pt/especial/violencia_domestica/infografias/2011/02/17/teste/index.html

Opus Gay lança campanha contra violência doméstica entre casais homossexuais em Portugal
     │     0:00  │  0

Em Portugal, não se sabe ao certo quantas são as vítimas de violência doméstica em casais homossexuais. Mas o silêncio das estatísticas não abafa as queixas da população LGBT: falam em discriminação por parte das forças de segurança e das casas de acolhimento destinadas aos gays e lésbicas que, ainda hoje, sofrem em silêncio.

Aos olhos das estatísticas oficiais, o fenómeno não existe: no relatório da Direcção-Geral da Administração Interna de 2009 sobre a violência doméstica, não há qualquer referência à violência praticada em casais homossexuais. É por isso impossível quantificar o fenómeno em território nacional, admitem as organizações de defesa dos direitos da população LGBT.

Mas, se para as autoridades centrais, o fenómeno permanece ainda nas sombras, também no seio da comunidade homossexual o desconhecimento é grande: “acho que as pessoas não estão alerta e, mesmo dentro da comunidade LGBT, o fenómeno não é muito falado, muito discutido”, admite Miguel Pinto da associação ILGA.

Pode até ser invisível, mas o problema não é novo, garante o presidente da Opus Gay, António Serzedelo: “mesmo antes de as uniões de facto estarem legisladas para os casais, já havia casais homossexuais a viver há muitos anos juntos e, portanto, também já havia nalguns desses casais violência doméstica”. Mas, tal como junto dos casais heterossexuais, o problema foi silenciado durante muito tempo.

A chantagem da vítima homossexual

Seja entre casais homossexuais ou heterossexuais, os quadros de violência doméstica são idênticos: afinal, explica António Serzedelo, “os genes desta violência são os mesmos: são relações de domínio, são relações de poder”.

Mas, apesar das semelhanças, a verdade é que numa relação entre pessoas do mesmo sexo, a vítima de violência doméstica pode ser submetida a um procresso designado como “outing”, um tipo de chantagem que não existe numa relação heterossexual: “um dos membros do casal pode ameaçar o outro, por exemplo, de revelar a orientação sexual junto da família, junto dos colegas de emprego”, explica Miguel Pinto (na imagem).

As particularidades deste tipo de violência exigem, de resto, que o acompanhamento da vítima seja adequado à sua orientação sexual – algo que, neste momento, está a falhar junto das forças de segurança e das instituições de acolhimento, admitem o dirigente da ILGA.

Vítimas por duas vezes

Quando a denúncia de um crime de violência doméstica é feita junto das forças de segurança, a vítima homossexual é muitas vezes alvo de uma “vitimização secundária”, garante Miguel Pinto.

“Ao chegarem a uma esquadra, são por exemplo gozados pelo polícia, pelo agente ou pela pessoa que estiver de serviço”, explica: “[a vítima] não pode ouvir comentários que sejam desagradáveis e as pessoas devem saber que a violência doméstica entre pessoas do mesmo sexo também é violência doméstica”.

António Serzedelo (na imagem) admite até que, em diferentes regiões do país, a discriminação da vítima possa atingir diferentes proporções: “Uma coisa são as forças policiais em centros urbanos e cosmopolitas como é Lisboa, Porto… Outra coisa são as Guardas Nacionais Republicanas ou as policiais em pequenas povoações ou pequenas cidades do interior ou da província”.

E também nas casas de abrigo, onde a vítima pode ser acolhida temporariamente, gays e lésbicas podem ser alvos de discriminação: “as instituições de acolhimento não estão preparadas para acolher pessoas homossexuais ou então, pelo menos, as pessoas homossexuais não se sentem confortáveis de recorrer às instituições de apoio, porque muitas delas são de cariz religioso e as pessoas sentem-se mal acolhidas”, explica Miguel Pinto, admitindo não haver uma “igualdade de tratamento” em relação à vítima heterossexual.

Fonte: Ass. de Imprensa Opus Gay

Mapa da Violência Doméstica em Portugal

http://noticias.sapo.pt/especial/violencia_domestica/infografias/2011/02/17/teste/index.html

Maitê Vs Montenegro em “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant”
   22 de novembro de 2012   │     12:48  │  0

Pode acreditar, já se passaram 30 anos desde que Renata Sorrah e Fernanda Montenegro subiram ao palco para a primeira apresentação da histórica montagem de ‘As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant’, baseada na obra do dramaturgo e cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder (1945-1982) e dirigida por Celso Antunes, em 1982.

Para marcar o aniversário do espetáculo e os 30 anos de morte do autor, Maitê Proença  viverá a protagonista da obra, uma estilista que tem um caso com uma aspirante a modelo, interpretada por Gisele Batista,  em uma sessão de leitura interpretativa do livro, dentro da programação da 20ª edição do Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, pioneiro na divulgação da produção artística homoafetiva.

Além da dupla de protagonistas, também estão no elenco Alexia Dechamps, Karen Coelho, Selma Lopes e Stela Celano, todas dirigidas por Lucianno Maza, que também aparece na ficha técnica do espetáculo como idealizador do projeto. A apresentação vai rolar no dia 29 de novembro, às 21h, no auditório do Centro Cultural Cândido Mendes, em Ipanema, e, o melhor de tudo, a entrada será gratuita. Mas para garantir seu espaço na plateia é preciso chegar cedo: as senhas-ingresso serão distribuídas uma hora antes do início da leitura.

Revivendo a história em filme

A inexistência de um homem em cena, a não ser na pintura mitológica de Nicolas Poussin (que retrata Midas e Baco e enfeita o ambiente), com expresso interesse em dissecar modulações de comportamentos femininos, logo facilita a comparação: o cineasta bávaro Rainer Werner Fassbinder poderia muito bem ter bebido, ao criar o longa As lágrimas amargas de Petra von Kant, do universo do alto especialista das personagens femininas George Cukor (célebre pelo sessentista Minha bela dama e por As mulheres, de 1939). Facilidade, entretanto, não é palavra que combina com o mais proficiente dos autores de cinema alemão, que, morto há quase 30 anos, parece coexistir com os colegas, ainda bem vivos, Werner Herzog e Wim Wenders. Adaptação de um texto teatral de autoria própria, As lágrimas amargas de Petra von Kant, que finalmente saiu em DVD, comprova a longevidade da obra.

Referência com mais sentido, ao decifrar o filme de 1972, estaria em alinhá-lo com Douglas Sirk (pelo preciosismo imagético e pela, no caso dele, comedida pitada de melodrama). “Nós apegamos mais à importância do prazer do que à fidelidade”, conta a protagonista (Margit Carstensen), em torno da relação falida com o ex-marido, logo de partida. A impiedosa passagem do tempo, ainda mais sublinhada no desfecho (em que Petra não celebra o aniversário) e uma percepção tardia de valores pessoais deturpados (daí, parte do paralelo com a ganância estéril de Midas) trarão consequências para tal hedonismo.

Numa vida confortável, Petra, que é dona do prestígio de ser uma renomada estilista, vive de um glamour oco e se alimenta da sádica dominação exercida sobre Marlene (Irm Hermann), tratada como uma subserviente. Saído da experiência de fundar um movimento batizado de Antiteatro (na companhia de atores como Kurt Raab e Hanna Schygulla), o diretor alemão, cooptado para o audiovisual, na turbulência dos anos de 1968, oferece um espetáculo muito próximo daquele proposto pelo dramaturgo Henrik Ibsen, na inesgotável mesquinhez da personagem-título Hedda Gabler.

Transbordante e irado, o discurso se distancia do compromisso social mantido por Fassbinder com o compatriota Bertold Brecht. Manipuladora, Petra (já encenada magistralmente nos palcos nacionais por Fernanda Montenegro) parece atrair para o covil do quarto (o único espaço cênico, por sinal) criaturas da própria laia, à exceção da filha e da mãe dela, essa desavisada da “peculiaridade” de ter gerado uma descendente lésbica.

Em posição de comando e de pretensa superioridade, lânguida, Petra cria, em torno de si, uma atmosfera de desfile: sem os desdobramentos de uma real interação, convivem com ela, a amiga Sidonie (Katrin Shaake), madura e plena de dissimulação, e Karen (Hanna Schygulla), dona de uma beleza demoníaca e a postos para se render ao “aprendizado do prazer feminino” propalado por Petra. Sobrevivente de série de experiências fúnebres, Karin sinaliza certa redenção para von Kant.

Manequins animados Diretor de fotografia talhado pela arte de Fassbinder, Michael Ballhaus (que depois se estabeleceu na trupe de Martin Scorsese) sabe tirar proveito de um plano estático — no qual, em cena, meros manequins parecem duelar com a anima reinante — e afirmativo para a tensão enervante aliada à violência mais psicológica defendida pelo mestre germânico.
É interessante notar que o filme foi lançado em clima culminante para a esfera pessoal de Fassbinder, recém-divorciado de uma mulher (mesmo sendo, assumidamente, homossexual). Inusitada, com direito a Smoke gets in your eyes (The Platters) e The Walker Brothers, além de contemplar Verdi, a trilha sonora acirra a capacidade de desnortear, no provocativo filme em que o texto chega a exaltar a existência de “negros de feição europeia”.

Sem a postura aguerrida, protuberante em filmes de temática gay como O direito do mais forte (1975) e Querelle (1982), o diretor — que viria a morrer por overdose de cocaína, aos 37 anos, uma década depois — deixa entrever uma certa afetação e uma dose de perturbação histérica (injetada nas personagens), no filme que se revela um ensaio sobre a dissolução do amor. No universo da disciplinada Marlene, uma aparente redoma defende e dá chão para a controladora Petra, que enuncia: “Se você compreende alguém, não há porque ter pena dessa pessoa”.

Com homenagem direta ao clássico A malvada (de Joseph Mankiewicz), o cineasta reveste a protagonista de mimetismo (até físico), num recurso que evidencia a fase crítica (e interna) do desmoronar da condição extremamente cartesiana à qual sempre se pegou. Uma realidade de privação, definitivamente, ameaça a desesperançada protagonista, pronta para rever certezas rudes como a de que “as pessoas são duras e brutais —, todo mundo pode ser substituído”. Com habilidade, o diretor desestabiliza tais certezas.