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O complexo envelhecer das travestis
   12 de agosto de 2023   │     19:03  │  0

“Há padrões estabelecidos que respondem a uma determinada forma de organização econômica e social. O que nos importa é saber qual é o impacto que as normas de gênero têm sobre as travestis que atravessam a vida e atingem a velhice”, esta é a frase que abre a finalização da Dissertação de Mestrado (PUC/SP) “Travestis envelhecem?” de Pedro Paulo Sammarco Antunes.

Refletindo sobre a afirmação do autor, é fundamental que lembremos que sempre estivemos e sempre estaremos submetidos a regras de conduta, independente de nossa condição sexual. É claro, que para “alguns” ou “muitos”, os padrões estabelecidos podem se tornar cruéis e até desumanos.

Para Antunes, “Seus corpos foram apropriados pelos saberes religiosos, jurídicos e científicos determinando como eles deveriam se comportar. Ao invés de viver o que pode um corpo, são pressionadas a viver o que “deve” um corpo (…)”.

Mas será que apenas as travestis vivem de imposições, julgamentos e deveres alheios? Se perguntarmos a qualquer pessoa o quanto ela se sente invadida, vigiada, restrita a um determinado espaço, a resposta será, com certeza, surpreendente. Não queremos dizer com isso que, para certos grupos, a vida é pior ou melhor que para outros, apenas diferente, o que exige, talvez, mais consciência e aceitação sobre sua própria condição.

“Desde pequenas, começam a perceber que não estão em um bom encontro em relação ao que é estabelecido. (…) exclusão da travesti já começa na família, justamente por não se adequarem as regras sociais. Podem até mesmo sofrer violência por parte de seus familiares”, afirma Antunes.

Todo ponto fora da curva foge ao esperado, ao padrão pré-estabelecido daquilo que julgamos

“correto e aceitável”. Não há como evitar essa reação geral. Talvez a família seja a primeira a se defrontar com uma “condição diferente”, a primeira a julgar, a primeira a condenar e a primeira a representar os muitos carrascos que surgirão pela vida afora, numa trajetória marcada por constantes enfrentamentos, sucessos e derrotas.

Na escala do envelhecimento, “o próximo desafio vem na escola”, alerta Antunes. E os “diferentes” aparecem como imensos transgressores: “O nome social que elas desejam usar combinado com a aparência são ele­mentos para que sejam rechaçadas na escola, tanto pelos colegas como professores e demais funcionários. Muitas relatam que por causa disso, não conseguem terminar os estudos”.

Não ter as mesmas oportunidades dos ditos seres “padronizados”, é a mais ultrajante forma de punição; covarde e desrespeitosa. Mas como evitar que tal exclusão não ocorra? É como lutar contra um batalhão de Titãs?

No filme “Ma vie em rose” de 1997, um menino bastante retraído decide se vestir apenas como menina, causando um grande furor na pequena cidade onde mora. Sua família deve então viver com a possibilidade de que ele seja “gay” ou “diferente” e deve superar todos os transtornos que a situação gera, na escola, na família e no social.

Antunes continua a trajetória: “Ao mesmo tempo, saem de casa ou são expulsas, encontrando nas travestis mais velhas a referência para construir seu modo próprio de ser. Travestis mais experientes terão um papel importante na vida das mais novas. Ajudarão a construir os novos corpos, estilos de vestir e formas de ser das novas travestis”.

“A condição de seres patológicos que são colocadas facilita que a sociedade não as veja como humanas e sim como seres abjetas. Em sua maioria, são consideradas aberrações, sujeitas a tratamento, punição ou até mesmo extermínio. Desde cedo seu drama como não humanas já começa e se arrasta até quando conseguirem sobreviver”.

Viver pode ser considerada uma tarefa das mais complexas, mas para esses “seres” julgados e constantemente ameaçados, ousamos afirmar que a luta é das mais sangrentas e corajosas. Para quem assistiu ao fantástico “Albert Nobbs”, na majestosa e, ao mesmo tempo, sincera e discreta interpretação de Glenn Close, entende o verdadeiro significado do termo “ser abjeto”.

Mas há que sobreviver, mesmo enfrentando Monstros “Humanos”, Titãs e afins. Antunes explica: “As que conseguiram driblar os riscos inerentes ao con­texto existencial de marginalidade, precisam adotar estratégias. Para isso, seguem um estilo próprio de exis­tir. Não há como generalizar sua forma de lidar com as adversidades da vida. Cada uma terá seu jeito próprio. Além de ter sobrevivido, chegar à velhice é também sinônimo de referência, exemplo e alerta para as mais jovens”.

A experiência adquirida através das “mais velhas” serve como uma espécie de guia para a vida. A isso acrescenta-se a forma individual que cada uma vê, compreende e enfrenta as adversidades impostas pelo meio e por ela mesma. O resultado será próprio, sofrido e em muitos ou alguns casos, vitorioso.

Travestis de hoje, de ontem…

Numa reflexão sobre o que foi ser uma travesti antes e o que significa e representa ser uma travesti hoje, Antunes recorre à história: “Ser travesti na atualidade não é o mesmo que ter sido travesti antes da década de 1960. Se um homem saísse na rua vestido de mulher, geralmente era preso. Não havia hormônios nem silicone. Porém, mesmo assim, muitas podiam ser travestis durante os bailes de carnaval. Outras se tornavam artistas, o que possibilitava que pudessem ser mais travestis em um contexto de artes cênicas. As prostituições eram veladas e sutis, conforme acompanhamos nos relatos de vida de duas de nossas entrevistadas”.

“Após as revoluções sexuais ocorridas no final do século XX no mundo, os conceitos de família e gênero sofreram profundas transformações. A travesti passou a ter mais espaço. Saiu da clandestinidade e começou a se prostituir nas ruas dos grandes centros urbanos. Assim como os jogadores de futebol, muitas saíram de contextos socioeconômicos mais humildes. Como prostitutas, galgaram espaço nos grandes centros até chegarem ao exterior. Lá, precisavam ganhar muito dinheiro em curto espaço de tempo, para que pudessem ter um futuro”.

“Quando não pudessem mais viver do corpo, já seriam consideradas velhas. Para as travestis o conceito de velhice está vinculado ao trabalho que desempenham como prostitutas. Enquanto trabalham são úteis, produtivas e, portanto jovens”.

Quantas vezes ainda teremos que pensar em produtividade relacionada a juventude? Ou viver sob a tirania da juventude eterna?

Será que estamos próximos de uma condição diferente da que vivemos atualmente? Será possível, um dia, nos vermos como iguais, como pontos próximos da curva da vida?

“Conhecer suas trajetórias de vida possibilita identifi­car quais são os pontos mais críticos onde não há qualquer amparo existencial. Elas são grandes improvisadoras, visto que não são reconhecidas como pessoas humanas. Precisam inventar suas vidas de forma original. Como não “existem” perante a lei, estão sujeitas a todo tipo de violência e aniquilamento. Quem as defenderá?”

 

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As múltiplas discriminações na vida de pessoas homossexuais com deficiência
   27 de março de 2021   │     10:00  │  0

Artigo

Por: Ana Raquel Périco Mangili é brasileira, tem 26 anos e reside em Barra Bonita/SP. Nasceu prematura, aos sete meses de gestação e, como consequência, adquiriu Distonia generalizada, Disfonia e deficiência auditiva. Pós-graduada (Especialista) em Linguagem, Cultura e Mídia na Unesp de Bauru/SP (2019).

Os homossexuais, bissexuais e transexuais com deficiência

Quando se fala em manifestações violentas de intolerâncias e preconceitos no Brasil, rapidamente a homofobia e a transfobia costumam ser citadas. A cada 25 horas, uma pessoa LGBT é assassinada no país, segundo dados de 2016 coletados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB). E a média de vida das pessoas transexuais é metade da média de vida dos demais brasileiros: 35 anos, de acordo com o site SenadoNotícias.

Os LGBT também estão longe de serem minorias numéricas. Entre os jovens brasileiros de 24 a 35 anos, 27,9% deles são homossexuais ou bissexuais, segundo pesquisa feita pela PUC-RS em 2015 e divulgada inclusive no programa Fantástico, da Rede Globo. Esta é uma porcentagem ainda maior se comparada com a das pessoas com deficiência, que representam 23,9% dos brasileiros.

Então, quando estas duas categorias se interseccionam em um mesmo indivíduo, como fica a questão da visibilidade de suas vivências? Apesar da grande representatividade numérica dos LGBT e das pessoas com deficiência, a intersecção de tais segmentos sociais ainda segue extremamente invisibilizada e, não raro, também é alvo de discriminações.

Sophia Rodovalho dos Santos Rodrigues, psicóloga clínica e ambulatorial, explica que assumir a homoafetividade, ainda hoje em dia, é motivo de sofrimento, preocupação e de muito julgamento. “Para o indivíduo com deficiência, isto não é diferente. Ao contrário, este, em muitos momentos, pode ser ‘julgado’ como deficiente inclusive em sua orientação sexual, como se, por apresentar uma deficiência, acabasse por sobrar a ele o que a sociedade considera como os piores tipos relacionamentos: os homossexuais. Muita gente ainda tende a considerar como doença a questão da homossexualidade”, diz.

Walleria Suri Zafalon, 41 anos, aposentada e estudante universitária, moradora de Presidente Prudente/SP, possui retinose pigmentar (uma doença degenerativa da visão) e é mulher transexual. Ativista dos direitos da comunidade LGBT, ela conta sobre as múltiplas dificuldades que enfrentou quando iniciou o processo de transição de gênero, aos 35 anos.

“Não aguentava mais fingir ser um homem só para assegurar minha aceitação na sociedade. Demorei 30 anos para tomar essa decisão. Pois desde os cinco anos já tinha consciência de ser uma menina. Mas, quando resolvi me revelar, isso aconteceu de uma forma muito intensa. Fui demitida da empresa onde trabalhava, onde tinha um bom cargo e bom salário. Perdi grandes amigos de longos anos de convivência. Tive que deixar o apartamento onde morei por 10 anos, pois o imóvel era de um tio que também morava comigo e, durante minhas transformações, pediu para que eu procurasse outra moradia. Como eu não era aceita em pensões femininas, tive que ir morar em uma república masculina. Também fui obrigada a interromper, na época, o curso universitário que frequentava, porque sem trabalho não consegui manter os custos das mensalidades. Acho que o fato de eu ser deficiente visual me resguardou de muitos atos mais agressivos. Provavelmente as pessoas sentiam mais pena do que repulsa. Pois a bengala branca que uso me protege da imagem de promiscuidade com a qual sempre somos rotuladas. No entanto, na academia em que eu frequentava, era impedida de utilizar o vestiário feminino e tinha que trocar de roupas no masculino, ficando de lingerie na frente de um monte de homens”.

Diéfani Favareto Piovezan, que participou da segunda parte desta grande reportagem, além de ser mulher com deficiência física e auditiva causadas pela Síndrome de Brown Vialetto Van Laere, também é lésbica e já vivenciou uma situação de discriminação pela sua orientação sexual quando tinha apenas 14 anos. “Morei por um tempo nos EUA e, um dia, perdi o ônibus para ir pra casa e estava sem dinheiro para pegar táxi. Como meu amigo morava perto da escola, perguntei se podia ficar na casa dele até minha mãe chegar. Ele disse que não, porque o pai dele não me queria lá. Aí perguntei para outra amiga que era vizinha dele, e ela disse que o pai dele tinha contado para a mãe dela que eu era lésbica, e que ela também não me queria lá. Fiquei 40 minutos na neve e no vento por causa disso, até minha mãe chegar para me buscar”, relembra.

Léo Paulino Barbosa, 47 anos, vendedor, estudante de Direito, militante de direitos humanos da causa de pessoas transexuais e travestis, morador de Santo André/SP, surdo de um ouvido e com dificuldades de locomoção devido a um acidente de trânsito, é um homem transexual e relata que, em relação à busca por emprego, passa por preconceitos tanto por ser pessoa com deficiência quanto por ser transexual. “A frase que mais ouvi em quase 20 anos da minha vida foi ‘Nós não contratamos pessoas como você’. Isso foi me quebrando por dentro… Em relação à deficiência, quase sempre eles alegam que as funções para que o cargo seja exercido demandam agilidade e tempo em pé, ou muitas caminhadas longas. Eu sempre tento explicar que algumas coisas podem ser adequadas às minhas necessidades e que podemos desenvolver um trabalho mais efetivo com algumas atribuições nas quais eu posso ser melhor aproveitado. O problema é que eles já tem um perfil de quem vai ocupar aquela vaga e, claro, não é o de uma pessoa com deficiência”.

Já para Ivone Gomes de Oliveira, 49 anos, autora do Blog Gata de Rodas, moradora de São Paulo, cadeirante devido à poliomielite e mulher bissexual, os preconceitos tiveram início dentro de casa. “Quando era mais nova, uma vez pedi dinheiro para o meu pai para comprar um par de sapatos e ele me respondeu: ‘Sapato para quê, se você não anda?’. A minha mãe, ao perceber que fiquei arrasada com isso, dias depois comprou o sapato que eu queria. Mas também teve um paquerinha, nos tempos do antigo ginásio, que quando ele estava com os amigos dele, simplesmente fingia que não me conhecia. Um dia, perguntei porque ele me fazia aquilo, e ele me respondeu friamente: ‘Eu tenho vergonha de você!’. E, para piorar, minha mãe, quando ficou sabendo disso, ainda me disse: ‘Você não dá conta nem de você mesma e ainda vai arranjar namorado!’. Depois desse episódio, eu me fechei para o amor e demorou para eu voltar a acreditar que alguém pudesse realmente gostar de mim”, conta.

Situação semelhante em relação à aceitação familiar, mas agora no que diz respeito à orientação sexual, ocorreu com Lucas de Abreu Maia, 32 anos, jornalista doutorando em Ciência Política na Universidade da Califórnia, morador de La Jolla/EUA, cego de nascença e homem gay. Sua mãe foi a última de seus familiares a aceitar a sua homossexualidade.

“Meus amigos sempre agiram com total naturalidade. Minha mãe, surpreendentemente, demorou uns dois anos para aceitar. Isso foi muito difícil para mim, pois eu esperava que ela fosse me apoiar de cara. De início, ela se recusava a achar que eu fosse gay. Acreditava que era só uma fase. Obviamente não era. Com o tempo, contudo, ela passou a aceitar, tentou se aproximar dos meus namorados e, mais importante, uns dois meses antes de morrer, me disse: ‘Aprendi que meu filho é honesto, inteligente, trabalhador e gay, e eu tenho orgulho de todas essas características nele’. Eu e minha mãe sempre tivemos uma relação visceralmente próxima. Ouvir isso foi muito importante”, relata.

Para Leandra Du Art, 22 anos, fotógrafa, midialivrista, artivista, escritora e colunista na Mídia Ninja, moradora de Passos/MG, que tem uma síndrome rara chamada Artrogripose (que afeta o desenvolvimento dos ossos) e é mulher transexual, é comum se deparar com discursos de ódio. “Lógico que os ataques de ódio ainda existem e são vivos, latentes, porém, não permito me dar por atacada. O autoconhecimento sobre meu corpo, de se entender como um corpo com deficiência, se deu graças ao descobrimento da minha sexualidade. Quando entendi que meu corpo podia ser visto como belo e desejado, dei o start para começar a valorizar o reflexo que via no espelho e enfrentar o preconceito das pessoas”, explica.

Os entrevistados desta matéria também refletiram sobre a questão da pouca representatividade e da dupla exclusão que sua categoria interseccional costuma enfrentar. Walleria detalhou a situação muito bem com suas palavras. “Tanto as pessoas LGBT+ quanto os indivíduos com deficiência são entendidos como seres humanos fora do padrão da normalidade. O deficiente é repreendido e excluído pela sociedade achar que ele não tem capacidade. E o LGBT é repreendido e excluído igualmente por não ter legitimidade”.

Lucas e Diéfani acreditam que a representatividade do segmento LGBT já é um pouco maior que a dos indivíduos com deficiência. “Separadamente, vejo muito mais representatividade nos EUA do que aqui. E mesmo aqui no Brasil, quando tem, é mais comum que seja da pessoa LGBT do que da com deficiência”, diz Diéfani. Lucas  reforça esse posicionamento. “Infelizmente, como somos pouquíssimos LGBT’s com deficiência, somos quase invisíveis. A maior parte das pessoas encara o indivíduo com deficiência como um assexuado. Na mídia, a pessoa com deficiência é claramente subrepresentada. Quase toda novela atualmente tem um personagem gay, mas quantas novelas têm um personagem com deficiência?”.

Já Ivone dá exemplos que também se alinham com as falas acima. “Esta luta das pessoas com deficiência, porém, ainda se encontra em estágio embrionário. Basta observar que, enquanto na comunidade LGBTQIA cada categoria luta por sua letra, a pessoa com deficiência ainda luta para ser reconhecida como homem e mulher, por exemplo, ao observar que a grande dos banheiros acessíveis é unissex”.

Leandra ainda lembra que o próprio tema da sexualidade é tabu, principalmente quando se encontra com a categoria deficiência. “Nada se fala em relação à sexualidade da pessoa com deficiência em vista de outras grandes pautas deste público. Falar de sexualidade, no geral, ainda é um tabu muito grande, quem dirá discutir então o direito de gozar de uma pessoa que é colocada em um pedestal de glória e pena, não é mesmo? Hoje em dia, há alguns nomes fortes que levam a pauta da sexualidade de pessoas com deficiência adiante, sem duvida nenhuma, e é só ao se falar mais do assunto é que vamos fazer com que as pessoas com deficiência sejam libertas deste estigma”, pondera.

Mas, comparando a aceitação das pessoas com deficiência dentro e fora das comunidades interseccionais, Léo acredita que o ambiente LGBT é um pouco mais acolhedor. “Ainda estamos longe de um movimento que entenda as necessidades de pessoas com deficiência. Mas isso é reflexo da sociedade em que vivemos. Não tenho certeza quanto a avanços expressivos fora da militância, mas o que eu posso garantir é que dentro do movimento LGBT+ há um respeito e acolhimento maior do que dentro da sociedade cisgênera e heterossexual, onde já me derrubaram duas vezes no metrô, onde já me negaram lugar no trem e ainda me disseram ‘Não vou sair, vem me tirar daqui se tu for homem’”.

Walleria contrapõe esta visão ao afirmar o contrário. “Vejo que as minorias excluídas também podem ser muito capazes de excluir quem lhe são diferentes. Já participei de muitos grupos de pessoas com deficiência visual e participo ainda hoje de grupos de pessoas trans e pessoas LGBT. Os indivíduos com deficiência não me veem como mulher por eu ser trans, da mesma forma que o restante da sociedade. E as pessoas LGBT não me veem com capacidade por eu ser deficiente visual, da mesma forma”, conclui.

Os queer, intersexuais e assexuais com deficiência

Enquanto lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, apesar da árdua luta diária contra o preconceito, já possuem pelo menos um certo reconhecimento de sua existência na sociedade, outras categorias da comunidade LGBTQIA são ainda mais invisibilizadas, até mesmo dentro do próprio segmento. A palavra queer, por exemplo, serve para designar, de forma geral, os indivíduos que não são heterossexuais ou que não seguem o binarismo de gênero (masculino/feminino), podendo se referir a qualquer orientação ou identidade dentro da categoria LGBTQIA.

Já a intersexualidade é um termo utilizado para se referir a um conjunto de variações corporais e/ou genéticas que fazem com que uma pessoa não se encaixe nas definições biológicas padrões de masculino ou feminino. Pessoas intersexuais podem nascer com órgãos e/ou cromossomos sexuais híbridos, e as estatísticas sobre este segmento populacional variam entre 0,018% a 1,7% da população mundial.

Os intersexuais enfrentam discursos de patologização e correções cirúrgicas semelhantes às vivenciadas pelas pessoas com deficiência. Com o diferencial de que, na maioria dos casos, a adequação sexual cirúrgica é meramente estética e compulsória, feita quando a pessoa é recém-nascida e ainda não tem condições de decidir se quer ou não passar por tal procedimento. O resultado então é que, muitas vezes, tais pessoas são forçadas a se adequarem a um gênero com o qual não se identificam.

Além disso, também pode haver implicações legais apenas pelo fato do individuo ser intersexual. Thais Emilia de Campos, pedagoga habilitada em Educação Especial pela UNESP, psicopedagoga formada pela UNORP, Mestre e Doutoranda em Educação pela UNESP, só conseguiu registrar o seu filho Jacob no cartório dois meses após o nascimento dele, pois os órgãos públicos exigiam que se definisse o sexo do bebê. Sem este registro ao nascer, os indivíduos intersexuais ficam sem direitos básicos, como o acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS). Thais chegou a ouvir dos médicos, ainda quando estava grávida, a sugestão de que abortasse a criança, devido também a outras complicações de saúde que o bebê teria.

“Ativistas intersexuais no Brasil e em todo o mundo buscam, através da visibilidade e do descontentamento com as intervenções cirúrgicas e as adequações com hormonização obrigatória, denunciarem a situação de violação dos Direitos Humanos, da integridade física e do princípio da autonomia, relatando suas histórias de vidas e as mutilações sofridas em seus corpos”, desabafa Thais, que tem uma campanha no Facebook para arrecadar recursos para o tratamento de Jacob, pois o bebê possui cardiopatia congênita grave e Síndrome de Noonan.

Amiel Modesto Vieira, sociólogo Mestre em Ciências Humanas e Sociais, e Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva, em associação com UFRJ, UERJ, UFF e FIOCRUZ, também é uma pessoa intersexual e com deficiência (pé torto congênito e insensibilidade a andrógenos). Ele comenta sobre a exclusão e o preconceito histórico contra os intersexuais.

“No passado, nas feiras de curiosidades, corpos intersexos eram exibidos como monstros. Hoje, somos vistos como ‘monstros corrígiveis’, pois estamos no meio social, mas nossos corpos não são aceitos como são e precisam ser adequados. Esta é a interfobia, que cala nossos corpos com segredo e silêncio durante a vida e não permite à sociedade nos conhecer. Nossa existência é a prova de que a resistência é possível, necessária e eficaz”, defende.

E os assexuais? Ao contrário da visão comum que algumas pessoas têm sobre esta orientação, na verdade a assexualidade é um termo que designa um amplo espectro de orientações sexuais e/ou românticas baseadas na gradual ausência de atração física. Isto é, assexuais não são apenas os indivíduos que nunca fazem sexo ou que não possuem interesses amorosos: há diversas subcategorias na assexualidade, como por exemplo, a demissexualidade, que representa as pessoas que conseguem sentir desejo sexual somente após um vínculo afetivo. E também as pessoas assexuais podem estabelecer relacionamentos românticos com outros indivíduos do sexo oposto ou do mesmo sexo, dependendo de sua orientação romântica.

No Brasil, cerca de 7,7% das mulheres e 2,5% dos homens relataram não sentir interesse sexual, segundo pesquisa do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) da USP.  Elisabete Regina de Oliveira, doutora em Sociologia da Educação e considerada a principal pesquisadora sobre assexualidade no país, explica que é muito comum a confusão feita entre assexualidade e transtornos hormonais.

“A assexualidade não é um transtorno, é uma forma de viver e ver o mundo. Muitas pessoas que eu entrevistei na minha pesquisa fizeram exames de dosagem hormonal, mas não foi constatada nenhuma deficiência hormonal. Porém, mesmo que assim fosse, se a pessoa já nasceu e cresceu com alguma deficiência hormonal e por isso não sente atração sexual, nunca vai sentir falta e isso não será um problema para ela. Portanto, cabe somente a tal pessoa a interpretação desse desinteresse por sexo e de que modo isso será parte de sua construção identitária. Se ela interpretar como problema, vai buscar ajuda; se para ela está bem assim, não há por que ser infeliz por causa disso”.

Mas, e quando o indivíduo, além de ser assexual, também tem uma deficiência (de natureza física, sensorial ou intelectual)? As pessoas com deficiência e com outras orientações sexuais lutam justamente pelo direito de manifestação de sua sexualidade e contra o estereótipo da assexualidade compulsória, então há um silenciamento muito grande em relação aos indivíduos com deficiência e que são realmente assexuais.

Vinícius Feres Laud, 20 anos, estudante, morador de Taubaté/SP, que possui escoliose e é demissexual heteroromântico, conta sobre algumas situações de preconceito pelas quais já passou, tanto pelo fato de ter uma deficiência quanto o de ser assexual.

“Tenho uma avó que tem uma superproteção enorme comigo, e várias vezes me trata como um inválido. Demora muito também para eu sentir alguma vontade de ficar com uma mulher, e isso foge da realidade das pessoas à minha volta. Sempre amigos me forçavam a ficar com alguém que eu não tinha nenhuma confiança e afeto, e quando eu recusava, me excluíam de muitas socializações. Diversidade é algo que ainda assusta as pessoas, há um medo de ser mal visto por conviver com alguém diferente. A luta contra a segregação é uma faca de dois gumes, pois temos que dar a ‘cara a tapa’ para mostrar que existimos, mas também aguentar os discursos de ódio como consequência”, reflete, reflete.

* Créditos das fotografias: Tassio Lopes (quinta imagem) e arquivo pessoal dos entrevistados (demais fotografias).

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Garoto de 9 anos comete suicídio após assumir homossexualidade e sofrer bullying
   28 de agosto de 2018   │     16:41  │  0

DENVER — A americana Leia Pierce está tentando transformar o luto pelo suicídio do filho em um alerta contra o bullying e a homofobia nas escolas. Jamel Myles, de 9 anos, tirou a própria vida na última quinta-feira, dia 23. Segundo a mãe, a atitude desesperada foi resultado de abusos e intimidações que ele sofreu de colegas da Escola Fundamental Joe Shoemaker, em Denver, nos EUA, após Jamel se declarar gay.

Em entrevista ao jornal “Denver Post”, a mãe relatou que, durante as férias de verão, o menino disse a ela pela primeira vez que era homossexual.

— Ele parecia tão assustado quando me contou. Ele disse: “mamãe, eu sou gay”. Eu pensei que ele estava brincando, então olhei para trás, porque estava dirigindo, e ele estava tão assustado. E eu disse: “e eu continuo amando você” — contou Leia, acrescentando que o filho queria muito contar para seus colegas da escola. — Ele foi para a escola e disse que iria contar para as pessoas que era gay porque estava muito orgulhoso.

As aulas começaram na segunda-feira. Quatro dias depois, Jamel foi encontrado morto em casa.

— Quatro dias foi tudo o que durou na escola. Eu nem consigo imaginar o que disseram para ele — lamentou Leia. — Meu filho contou para a minha filha mais velha que as crianças da escola disseram a ele para se matar. É tão triste que ele não tenha me procurado.

Escola cria espaço para discutir situação

O Distrito Escolar do Condado de Denver instalou uma comissão de conselheiros para os estudantes da escola de Jamel. Cartas foram enviadas aos pais na sexta-feira, lamentando a morte de Jamel, “uma perda inesperada para a nossa comunidade escolar”, e aconselhando as famílias a ficarem atentas a sinais de estresse nas crianças.

“Nosso objetivo é ajudar vocês a contarem a notícia aos seus filhos da forma mais apropriada possível, com todo o apoio necessário. Então, sintam-se à vontade para nos procurar para saberem como lidar com a situação”, diz a carta.

Em entrevista à BBC, Will Jones, porta-voz do distrito, afirmou que os professores da Escola Fundamental Joe Shoemaker “estão criando um espaço para os estudantes compartilharem como estão se sentindo e processarem suas emoções”. Professores do 4º e do 5º ano se reunirão com as famílias individualmente:

— Nossa prioridade é cobrir todas as questões envolvidas neste caso, para manter todos os estudantes seguros e revisar de forma justa e completa os fatos envolvidos nesta trágica perda.

Apesar da dor, a mãe do menino tenta alertar as famílias sobre as consequências do bullying. Ela também cobra responsabilização dos pais daquelas crianças que praticam bullying contra outras.

— Nós, pais, devemos ter responsabilidade pelo bullying — afirmou Leia. — Eu acho que os pais devem ser punidos porque, obviamente, eles estão ensinando as crianças a agirem assim ou estão tratando-as dessa forma.

Especialista pede que pais não deixem assunto ‘só em casa’

Para a psicóloga Sally Carvalho, especialista em clínica infantil pela PUC-Rio, não basta que uma criança homossexual tenha aceitação e apoio dentro da própria família. Ela precisa, também, se sentir aceita pelos grupos sociais nos quais está inserida — e a escola é, em geral, o principal deles. Por isso, além de dar suporte, é importante que qualquer família nessa situação informe a escola e discuta esse assunto com diretores, professores e psicólogos.

— No caso de Jamel, quando ele disse “mãe, eu sou gay”, ele estava dizendo ” mãe, eu sou gay, o que eu faço?”. Era um pedido de orientação, de ajuda. Ele teve como resposta que é amado pela família, o que é muito importante, mas não costuma bastar. Ele também tinha a necessidade de ser aceito pelo grupo, ainda mais em se tratando de uma criança. A mãe, por não ser orientada sobre como lidar com o assunto, não falou sobre essa questão com a escola e com os responsáveis por outros ambientes que o filho pudesse frequentar. Ela pode ter subestimado a situação. A família deveria, ao tomar conhecimento, ir à escola e, junto à coordenadora e ao psicólogo, falar para a turma. Isso contribuiria para que o menino fosse mais protegido contra o bullying — afirma Sally.

A poucos dias do início da campanha Setembro Amarelo, dedicado à prevenção ao suicídio, a psicóloga ressalta que é importante falar sobre o assunto. Só assim é possível, segundo ela, evitar que mais pessoas — inclusive crianças — cheguem ao extremo. Sally defende o fim do tabu em torno do suicídio.

— A sociedade tem que ficar mais aberta a discutir isso. Tratar como tabu ou como vergonha é ruim — pontua ela.

Sexualidade pode ser percebida ainda na fase infantil

Quanto à descoberta da sexualidade ainda na infância, Sally também explica que esse entendimento ocorre em fases diferentes da vida para cada indivíduo. Alguns compreendem sua própria sexualidade ainda bem crianças, enquanto outros só vão articular isso mais tarde. Isso vale, claro, para hétero ou homossexuais.

— Pode ser que uma criança com 7 anos já perceba como é a própria sexualidade. Isso nada tem de anormal. Já outras pessoas podem racionalizar isso só uma década depois. Só que, se essa sexualidade não for o que a sociedade como um todo espera da pessoa, o que é o caso dos homossexuais, pode haver um conflito interno. Isso é gerado por um sentimento de exclusão do grupo — destaca ela.

Acesse aqui o site do Centro de Valorização da Vida (CVV) para buscar apoio emocional. O telefone do CVV é 188.

 

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Estereótipos que todo (ou quase todo) gay passa
   22 de abril de 2018   │     17:24  │  0

Por : André Sobreiro

 Falou que é gay, os estereótipos aparecem. É inevitável isso acontecer. Ou melhor, não é não. Primeiro que a maior parte dessas questões são preconceituosas. Segundo que, mesmo que sejam verdade, o que as pessoas têm a ver com isso?

Pensando nisso, lancei a questão no Facebook para os meus amigos querendo saber quais são os estereótipos que eles mais ouvem e selecionei aqueles que não me encaixo mesmo.

1. Você dá o cu? Como é? Dói? — Vai me comer? Vai dar para mim? Sério, em que interfere essa pergunta na vida das pessoas? Tem quem adore dar. Tem quem adore comer. Tem quem adore dar e comer. Tem que não adore nem dar e nem comer. E segue todo mundo sendo gay, sabia? A gente é bem mais que enfiar (ou ser enfiado) uma coisa em um buraco.

2. Nossa? Não parece! — E o que é parecer ser gay? Aliás, essa é das que mais odeio. Se dizem que não pareço, trato de fazer parecer. Sou gay sim, diacho.

3. Não é “homem de verdade”/Ele não é gay, é homem. — Cara, sou homem sim. E sou gay também. Ser homem é só gostar de mulher? Que coisa mais limitada.

4. Mulherzinha — No final é a mesma coisa do “homem de verdade”. Não gente. Sou homem mesmo. Se não fosse, diria, pode sossegar.

5. Que desperdício! — Essa costuma vir de mulheres. Moças, nunca mais repitam isso. Mesmo. Desperdício por? A gente não é celibatário, é gay. E mesmo que fosse celibatário, sexo não é tudo na vida não. Vida pode — e deve! — ser aproveitada com tantas outras coisas.

6. Isso por que não ficou com nenhuma mulher/comigo — Olha, longe de mim me gabar, mas fiquei sim, viu? Várias. E foi legal. Bem legal. Só não é a minha mesmo. Gosto de meninos por gostar, não tem nada a ver com você. É comigo mesmo a questão.

7. Pode ser gay, mas não precisa desmunhecar/ser afeminado — Olha, primeiro que nem todo mundo desmunheca. Segundo que: qual a graça da vida se você precisa viver se reprimindo/tentando se adequar a um padrão que não é seu? Quer desmunhecar? Desmunheca muito!

8. Sempre quis ter um amigo gay/ Como você não sabe de moda e maquiagem? — Tem gay cabeleireiro? Tem. E tem engenheiro, jornalista, pedreiro, desempregado. E gay legal, gay chata, gay intragável. Gay não é tudo igual não.

9. Você se veste de mulher/usa calcinha/salto alto? — HAHAHAHAHA Essa eu dou risada. Sério, quem me vê andando sabe a resposta. Eu de salto seria pior que um pato manco. E o resto, não uso não. Nada contra quem usa (eu admiro, inclusive) mas a ideia de ter todo esse trabalho/desconforto já me desanima. Quem sabe se fosse mais fácil e confortável?

10. Tenho um amigo gay, vou te apresentar! — Essa eu vivi na pele. E como não tinha nada a perder, decidi conhecer. Tirando ser gay (e gente boa!), nossas semelhanças acabam aí. Gay não é binário (mas essa eu admito, me rende risadas boas até hoje!).

11. Gay é livre, né? Não tem esse negócio de relacionamento sério e putaria! — Aqui eu poderia escrever um tratado! Relacionamento sério e putaria podem andar juntos sim. E você não é livre no seu relacionamento? Olha, denuncia para polícia que isso é sequestro. Ninguém manda na gente não.

12. Por isso não sobra homem para a gente — Na verdade a culpa é sua. Não vem colocar nas minhas costas seus fracassos não.

13. Você é mais homem que muito homem por ter se assumido — Obrigado. Muito obrigado por reconhecer que sou homem. Mas não é por isso não. Eu me assumir não deveria ser um problema para mim. O errado é quem tem preconceito. Ou você merece estrelinha por se assumir hétero?

14. Estou ficando com um cara que (insira qualquer coisa que foge ao padrão machista. Será que ele pode ser gay? — Poder ele pode. Basta estar vivo para poder. Mas eu sou gay, não vidente. Pergunta para ele. Quem tem relacionamento com ele é você, não eu.

15. Você brincava de boneca quando era criança? — Olha, brincava sim. Com as Barbies da minha prima. E meus G.I. Joe. E ursinhos carinhosos. E He-Man. Mas isso influencia? Então acho que sou bi!

Dito tudo isso, mas vamos deixar uma coisa bem clara: você se encaixa em algum deles? Sem problemas, miga! A diversidade é maravilhosa.

Com a ajuda dos lindos Alexandre Malchik, Bernardo Costa, Bia Poiani, Brunno Fróes, Bruno Frika, Charles Nisz, Dan Artimos, Eduardo Gardini, Erica Chaves, Flávia Bortolini, Graciliano Marques, Gui Lagrotta, Marcio Salles, Mateus Leão, Rony Lins Tolentino, Thiago Oller de Castro, Thiago Pires Manolio, Tiago de Pinho, Victor Gouvêa e Vinícius Grego.

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Transexual é vítima de atentado na Bahia e fica tetraplégica
   5 de maio de 2017   │     1:33  │  0

Bárbara Trindade, 22 anos, foi atingida por dois tiros e está internada em estado grave

A Bahia registrou mais um caso de violência contra transexuais. A militante do PSOL, da cidade de Presidente Dutra, no Centro Norte baiano, Bárbara Trindade, 22 anos, foi vítima de uma tentativa de homicídio no dia 3 de abril.

De acordo com Rubi Santos, que integra o movimento LGBTQI, graças a influência do principal suspeito na cidade de ter cometido o crime contra Bárbara, o caso permaneceu oculto por quase um mês. “O crime foi abafado porque a família do suspeito é influente em Presidente Dutra. Quando o coletivo e o PSOL ficaram sabendo, entramos em contato com a vítima para apurar o que houve”, disse Rubi em entrevista ao CORREIO.

O principal suspeito de ter atirado em Bárbara é Domingo Mendes, morador do município com quem a transexual mantinha um relacionamento. Familiares disseram que após os boatos do envolvimento sexual terem repercutido entre os moradores da cidade e nas redes sociais, Mendes convidou Babi, como é conhecida a vítima, para um encontro próximo a Câmara de Vereadores da cidade e atirou duas vezes contra ela. As balas atingiram o maxilar e a coluna vertebral da transexual. Mendes está preso na Delegacia de Presidente Dutra, mas já deu entrada em um pedido de habeas corpus.

Estado grave

Babi está internada na semi UTI do Hospital Regional de Irecê, em estado grave, aguardando a realização de uma cirurgia para retirar a bala que ficou alojada nas costas. Em contato com o CORREIO nesta terça-feira (2), Rubi, que acompanha Bárbara na unidade de saúde, informou que Babi está com uma leve infecção hospitalar e precisou ser traqueostomizada.

No momento, ela está sem nenhuma movimentação do pescoço para baixo, mas após a cirurgia deverá recuperar os movimentos dos braços. O procedimento deverá ser feito em um hospital em Salvador. “Estamos aguardando ela melhorar da infecção e surgir uma vaga para poder fazer a transferência para a capital”, disse Rubi.

A família de Bárbara e o coletivo LGBTQI começou uma campanha de arrecadação de fundos e mantimentos para auxiliar no tratamento da transexual. Segundo Rubi, a família de Bárbara é muito carente e precisa de todo o apoio possível.

“Estamos arrecadando fraldas geriátricas, outros mantimentos e dinheiro para ajudar a família no transporte para Salvador”, disse. As doações em dinheiro podem ser feitas na Agência: 0780; Operação: 013; Conta: 00074700-2; em nome de Renata Silva Ferreira; Banco: Caixa Econômica Federal

Ação no Ministério Público

O PSOL irá entrar com uma ação no Ministério Público e na Procuradoria Geral para solicitar, em caráter de urgência, as medidas jurídicas cabíveis. De acordo com o presidente estadual do partido, Ronaldo Santos, a tentativa de homicídio que ocorreu com Babi representa mais um crime de homofobia.

“Infelizmente, esse não é um caso isolado! Todos os dias centenas de companheiras sofrem ataques físicos, psicolóicos e emocionais. O PSOL vai judicializar o fato para que Domingo Mendes seja punido de acordo com a Legislação em vigor no país!”, garante.

Segundo um levantamento do Grupo Gay da Bahia, em 2016 houve um aumento de 22% no número de mortes de travestis e transexuais no Brasil, em relação ao ano de 2015. Na Bahia, foram registradas nove mortes.

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