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A velhice entre iguais: vínculos rompidos, famílias do coração e solidão
   3 de outubro de 2023   │     0:00  │  0

Homossexuais muitas vezes têm relações cortadas em definitivo com pais, irmãos e outros parentes. Amigos podem ajudar a enfrentar as fragilidades impostas pela terceira idade.

Falta, para uma parcela dos homossexuais, um suporte fundamental na velhice – o da família. Muitos romperam em definitivo com pais, irmãos e outros parentes ainda na juventude ou mantiveram relações estremecidas vida afora. No momento de maior fragilidade e necessidade, a solidão originada a partir dos laços de sangue fica clara. É comum que gays e lésbicas construam vínculos alternativos, as chamadas famílias do coração, que se mostram fundamentais com o passar dos anos. Um amigo pode fazer companhia, levar ao médico, acudir com presteza em uma situação de emergência.

Na década de 1980, quando a epidemia de HIV/aids chegou ao Brasil, muitos necessitaram dessa rede de suporte – e tantos outros não resistiram ao contágio, deixando uma lacuna para amigos que deles também dependiam. Uma queixa ainda comum é quanto aos serviços de saúde, públicos ou privados, onde gays e lésbicas idosos não se sentem bem vistos e se constrangem em consultas.

O antropólogo Carlos Eduardo Hennning salienta a relevância da existência de instituições tolerantes com a diversidade sexual na velhice. Idosos homossexuais internados em residenciais geriátricos são forçados, em geral, a abdicar da sexualidade, reprimindo-se para serem aceitos, especialmente em locais ligados a entidades religiosas.

A situação para os heterossexuais não é muito diferente. O pesquisador menciona um caso, ocorrido no Rio Grande do Sul, de um senhor e de uma senhora que se casaram em um asilo e nem assim puderam compartilhar o mesmo quarto.

— Hoje, a velhice ainda é pensada como um momento assexuado. Qualquer velho ou velha é concebido como não tendo uma vida sexual — pontua Henning.

A solidão na velhice se dá para o homem moderno. Os heterossexuais estão todos solitários. Me pergunto: quem, hoje, está tendo a experiência de viver vínculos duradouros, de longa data?

MURILO PEIXOTO DA MOTA

Sociólogo da UFRJ

O professor cita estudos que afirmam que as lésbicas frequentemente têm relações afetivo-sexuais estáveis mais longas do que as dos gays. Muitas vezes, elas trazem para a relação homossexual os filhos de um relacionamento hétero anterior ou têm filhos com a parceira. Assim, Henning explica que a velhice das lésbicas tende a ser menos problemática, frágil e instável do que a dos homens homossexuais.

Murilo Peixoto da Mota, da UFRJ, acredita que a solidão é generalizada na terceira idade, independentemente da orientação sexual.

— A solidão na velhice se dá para o homem moderno. Os heterossexuais estão todos solitários. Me pergunto: quem, hoje, está tendo a experiência de viver vínculos duradouros, de longa data? — provoca Mota. — A velhice está sendo abandonada neste país porque a sociedade valoriza a autonomia e a independência.

Quanto ao futuro, o pesquisador é mais otimista. Para Mota, as novas gerações estão sendo moldadas sob ideias diferentes, o que se refletirá na velhice de décadas adiante. Classificações devem perder a força em um mundo plural, especialmente no que se refere à sexualidade, área em que é difícil colocar etiquetas para definir comportamentos e preferências.

— Nossa sociedade tem necessidade de nomeações. Os héteros hoje sentem necessidade da experiência da diversidade sem se autonomear como homossexuais. Os jovens estão se experimentando sem se autoclassificar. A ideia de que ser gay não está necessariamente ligado à homossexualidade. Tem pessoas alegres, com estilo de vida gay, mas que não são homossexuais. Há muitos bissexuais que não se sentem gays. Aos poucos, essas classificações e identidades vão se quebrando — avalia o sociólogo. — Ainda bem que a sociedade contemporânea está percebendo que a heterossexualidade está desmoronando diante da diversidade.

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População LGBT com mais de 50 anos tem pior acesso à saúde, diz estudo
   31 de maio de 2023   │     14:54  │  0

O trabalho é mais um a apontar disparidades no acesso à saúde para a comunidade

A saúde da população LGBTQIA+ é um campo de estudos em expansão e os achados convergem: são as pessoas que têm pior acesso ao sistema de saúde. Agora, pesquisadores do Hospital Israelita Albert Einstein, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de São Caetano do Sul relatam que a disparidade acompanha esses indivíduos após os 50 anos, seja em instituições públicas ou privadas.

Chamada “Transformando o invisível em visível: disparidades no acesso à saúde em idosos LGBTs”, a pesquisa entrevistou 6.693 pessoas, sendo 1.332 identificadas como LGBTQIA+, grupo onde 53% acreditam que profissionais da saúde não estão preparados para atendê-los.

“O acesso à saúde vai muito além do paciente entrar pela porta do nosso serviço. É necessário um atendimento humanizado, um acolhimento, especialmente, desse grupo que sofre com dupla invisibilidade – por ser LGBTQIA+ e idoso”, afirma Milton Crenitte, geriatra do Einstein e um dos autores do artigo.

Já a população negra LGTBQIA+ tem o pior índice de acesso à saúde, com 41%, enquanto as pessoas brancas da comunidade têm uma pontuação de 29%. Por outro lado, apenas 17% das pessoas cisgêneras (cuja identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído no nascimento) e heterossexuais brancas avaliaram como ruim seu acesso à saúde contra 28% da população cis e hétero negra.

Outro dado que a investigação traz é que 74% das mulheres cisgêneras e heterossexuais disseram ter realizado, ao menos, uma mamografia em sua vida, em oposição a apenas 40% das pessoas LGBTQIA+. O número também é menor em exames de câncer de colo de útero: 73% das mulheres cisgêneras e heterossexuais realizaram os procedimentos, enquanto 39% das pessoas LGBTQIA+ relataram terem feito os exames.

O resultado principal, de acordo com o trabalho publicado em artigo científico na revista Clinics, é a demonstração de que orientação sexual e identidade de gênero são determinantes para um pior acesso aos serviços de saúde no país.

Longa discussão

Este não é o primeiro estudo e, provavelmente, nem o último a analisar a desigualdade que a população LGBTQIA+ sofre em relação ao acesso à saúde. No mês passado, um estudo encomendado pela farmacêutica Sanofi trouxe um cenário semelhante.

No Brasil, grupos minoritários, que incluem a comunidade LGBTQIA+, expressam baixos índices de confiança na prestação de serviços de saúde. Isso é motivado, sobretudo, por experiências negativas no passado. De acordo com o levantamento, 87% da população com deficiência, por exemplo, é capaz de relatar ao menos uma experiência negativa com o atendimento médico, enquanto a comunidade LGBTQIA+ representa 86%.

No que tange a satisfação diante dos serviços prestados, a diferença entre membros da comunidade (77%) e público geral (86%) é de 9%. A lacuna é ainda maior se o paciente pertencer a dois ou mais grupos marginalizados. No caso brasileiro, minorias étnicas figuram nas categorias que se sentem desprezadas pela prestação de serviços de saúde. ‘Não se sentir ouvido’ (37%), ‘ser julgado’ (20%) e ‘estar inseguro’ (19%) são algumas das queixas mais comuns.

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Espetáculo Homens Pink traz relatos de gays idosos
   2 de maio de 2022   │     10:54  │  0

Casal de Idosos gay Ian McKellen e Derek Jacobi protagonistas da série Vicious (Foto: Divulgação) . O espetáculo é uma performance documental solo

Partindo de depoimentos de homens gays idosos e com uma obra que celebra o orgulho da ancestralidade LGBT+ Renato Turnes dirige, escreve e protagoniza Homens Pink. O solo, da Cia La Vaca (SC), estreiou na sexta-feira, 29 de abril, às 21h30, no Sesc Belenzinho.

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Quase 60% dos gays tende a envelhecer solteiro contra 39% das lésbicas
   4 de agosto de 2018   │     21:49  │  0

Uma nova pesquisa da AARP, que entrevisou 1.782 LGBTs adultos, concluiu que a maior parte dos homens gays tende a envelhecer fora de um relacionamento estável, já que, segundo os resultados, cerca de 57% dos homens gays com mais de 45 anos está solteiro.

Os relatórios também constataram que, enquanto isso, apenas 39% das lésbicas acima de 45 anos é solteira. Já entre homens e mulheres bissexuais, a taxa chega a  48%.

“A chance de se envelhecer sem estar casado entre homens gays é notavelmente maior e isso influencia diretamente nas necessidades e tipos de serviços direcionados a este público”, conclui a pesquisa em seus resultados.

Outro dado revelado foi quando perguntados sobre os vínculos afetivos das amizades. Dentre os entrevistados, maior parte dos homens gays também tem maior dificuldade de estabelecer relações duradouras do que as lésbicas, seja entre pessoas LGBTs a héteros, de parentes a amigos.

Este não é o primeiro estudo a constatar estas diferenças. Em 2013, uma pesquisa mostrou que 63% dos homens gays acima de 60 anos vivem fora sem um relacionamento.

Em 2011, um outro estudo realizado pela Stonewall Organization do Reino Unido, descobriu que homens gays e bissexuais acima de 55 anos tem três vezes mais chances de estarem solteiros (40%) do que homens héteros (15%).

Por: Pedro HMC

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Envelhecer gay: os desafios de casais que enfrentam duplo preconceito
   23 de março de 2015   │     10:51  │  0

Na era da exaltação da juventude, a chegada da velhice é ainda mais complicada para os casais do mesmo sexo.

Carlos Eduardo e Osmir vivem juntos há 30 anos: mudanças no conceito de família. Foto: Zuleika de Souza/Correio Braziliense/Reprodução

Carlos Eduardo e Osmir vivem juntos há 30 anos: mudanças no conceito de família. Foto: Zuleika de Souza/Correio Braziliense/Reprodução

Com sorte, todos nós envelheceremos. Porém, mesmo esse processo sendo inerente ao ciclo, a passagem entre a idade adulta e a velhice carrega fortes preconceitos em uma sociedade que celebra a juventude como a fase mais importante da vida. Dessa forma, até mesmo expressões de carinho são taxadas, como se aqueles que se amam tivessem apenas alguns anos para expressar esse sentimento.

 O beijo protagonizado esta semana pelas atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg está longe de causar discussões apenas por ter sido entre duas mulheres. Ao demonstrar o afeto carnal entre pessoas idosas — as duas têm 85 anos —, a novela Babillônia trouxe à luz uma discussão que envolve dois preconceitos: a sexualidade e o envelhecer.

“Ao mostrar esse beijo, a novela só tem a colaborar, porque faz com que as pessoas sejam obrigadas a ver aquela relação de outra forma. Isso pode ajudar os casais homossexuais a se tornarem mais aceitos”, garante a profissional de educação física Ida Helena de Oliveira Lara, 51 anos. Ela, que assumiu a homossexualidade aos 23, acredita que se manter fora do armário depois dos 50 é sim um ato político, como define Teresa, personagem de Fernanda Montenegro, em uma das cenas do folhetim.

Ida mantém hoje um relacionamento com uma mulher de 63 anos que saiu do armário há pouco tempo. A educadora diz que é visível o quanto a decisão de não esconder mais a sexualidade fez bem à companheira. “E ela saiu abertamente, assumindo também nosso relacionamento para todos.” Identificar-se socialmente como homossexual, na maioria dos casos, implica em vencer os inimigos internos e reconhecer os de fora.

 Afinal, é partir dos avanços das minorias que os setores majoritários tendem a mostrar descontentamento de forma mais visível. Quando isso se soma à idade, a combinação não é facilmente suportada. “As pessoas mais velhas não correspondem aos ideais estéticos atuais, sendo alvo de apartação e bullying. Eu mesmo, com quase 69, já fui chamado de maricona gagá dentro do movimento”, afirma Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia e professor de antropologia da UFBA.

Mott aponta ser comum que mulheres lésbicas se assumam quando estão mais velhas, por conta das obrigações que ainda são impostas socialmente a elas. “Muitas também demoram por uma homofobia internalizada, de quem viveu a juventude em uma época na qual assumir-se gay era um ato de suicídio social”, explica. Para ele, o beijo entre as personagens da novela representa uma oxigenação nos movimentos de libertação e afirmação. “E também serve para chamar a atenção das autoridades às políticas públicas direcionadas ao público LGBT da terceira idade”, completa.

 Em nota, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) informa que não há registro de denúncias de violência homofóbica contra pessoas idosas no Disque Direitos Humanos, segundo o Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos. E informa que, independentemente da sexualidade, a prioridade da SDH é a garantia e promoção dos direitos fundamentais de toda e qualquer pessoa idosa. O reflexo de uma maior tolerância aos casais homossexuais se reflete, inclusive, na longevidade dos relacionamentos. Osmir Messora Junior, aposentado de 53 anos, mantém uma relação há 30 com o professor universitário Carlos Eduardo dos Santos, 55.

De acordo com ele, a união longeva entre homossexuais era algo bem menos comum na sua juventude, muito por conta do preconceitos que os próprios gays ainda mantinham internamente. “Era mais difícil eles aceitarem a ideia de um casamento porque o preconceito era muito grande. Hoje, vivemos um período de mudanças significativas nesse universo, e isso veio associado à maior tolerância”, acredita. Para Carlos Eduardo, algo fundamental para que eles sejam respeitados, independentemente da idade, é a forma como encaram a própria sexualidade.

 “Hoje, com 55 anos, vejo que o significado de amor é muito mais parceria e união que necessariamente sexo. Não que ele não seja importante. Mas não é disso que você viverá. Em um relacionamento heterossexual ou homossexual, a convivência será do mesmo modo. E a relação de respeito deve existir sempre.” Assim, ao estarem juntos há três décadas — e pais de quatro meninos, adotados em 2013 —, os dois compreendem que são, de certa forma, um exemplo para aqueles que não aceitam famílias formadas por casais homossexuais.

 “Ao longo desses 30 anos, temos feito tudo que é possível para provar que nós estamos juntos porque queremos. Se isso serve como exemplo, por que não? Isso não quer dizer que o nosso relacionamento não teve momentos difíceis, mas sempre achamos que era melhor apostar um no outro”, garante Carlos Eduardo. Seja com atrizes, seja com personagens reais, entender que a sexualidade é algo que não muda com a idade é uma forma de respeitar a si mesmo. Algo que, muitas vezes, não acontece com quem passa dos 50.

 “O preconceito com as pessoas mais velhas no ambiente gay existe. E isso faz até mesmo com que seja difícil para eles levantarem bandeiras. Há muitos casos de gays idosos que voltam para o armário a fim de conseguir um lugar em que serão cuidados nessa fase da vida”, assegura Osmar Rezende, presidente da ONG Libertos. Ele conta, inclusive, casos de travestis que precisam se vestir com roupas masculinas para conseguir vagas em asilos. “Dá para imaginar a dor que é abrir mão da sua liberdade para ter alguém que cuide de você?”, questiona.

Rezende também aponta a questão das políticas públicas como algo necessário para garantir cuidados específicos para homossexuais da terceira idade. “Não adianta apenas sair do gueto. É preciso lutar também por eles.” O professor universitário José Zuchiwschi, 56 anos, diz que a sociedade discrimina qualquer um fora da zona considerada como juventude. “E isso atinge também a comunidade LGBT, principalmente porque o mainstream da cultura gay é direcionado aos mais jovens.” Na opinião dele, que é homossexual, ao colocar duas mulheres para interpretarem um casal homoafetivo mais velho, a novela mostra que é possível vencer a formação educacional, familiar e cultural que estrutura ainda a personalidade de muitas pessoas a não aceitarem a homossexualidade.

 “Mesmo com o preconceito, hoje, há uma pressão bem menor para que os gays mantenham um padrão heteronormativo de comportamento. E isso se deve aos movimentos sociais que trouxeram nova visibilidade. Discutimos mais o preconceito, o que também fez com que as forças conservadoras se movimentassem”, explica.

 “Os mais jovens precisam lembrar daqueles que lutaram nas ruas. Essa bagagem história facilita a vida da juventude. É como se houvesse alguém dizendo: ‘Vocês não estão sozinhos’”, destaca. Além das lutas que preservaram a dignidade dos homossexuais mais velhos, o professor aponta que a expressão da sexualidade nessa fase da vida deve ser sempre celebrada. “Não há mais uma demonstração combativa. Mas é preciso se manter fora do armário porque você demonstra que isso é algo seu e sempre será, tornando o diálogo mais fácil e a solidão menor.”

Fonte: Correio Brasiliense 

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