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A história por trás da bandeira arco-íris, símbolo do orgulho LGBT
   2 de junho de 2017   │     15:51  │  0

Baker nasceu em 2 de junho de 1951 em Chanute, no Estado americano do Kansas.

O criador de um dos principais símbolos da comunidade LGBT – a bandeira arco-íris – morreu aos 65 anos em sua casa em Nova York, nos Estados Unidos, informou a imprensa americana.

Gilbert Baker morreu enquanto dormia. As causas da morte ainda não foram divulgadas.

Mas qual é a história por trás de sua maior criação? E como a bandeira arco-íris se tornou um símbolo da comunidade LGBT?

Baker criou o estandarte, originalmente com oito cores, em 1978, para o Dia de Liberdade Gay de San Francisco, na Califórnia (Estados Unidos).

A bandeira original tinha as seguintes cores, cada uma representando um aspecto diferente da humanidade:

  • Rosa – sexualidade
  • Vermelho – vida
  • Laranja – cura
  • Amarelo – luz do sol
  • Verde – natureza
  • Turquesa – mágica/arte
  • Anil – harmonia/serenidade
  • Violeta – espírito humano

Naquela ocasião, 30 voluntários ajudaram Baker a pintar a mão as duas primeiras bandeiras arco-íris. Elas foram hasteadas para secar no último andar de galeria de um centro da comunidade gay em San Francisco.

Sujos de tinta, eles tiveram de esperar até a noite para lavar suas próprias roupas – já que não podiam lavá-las em lavanderias públicas.

Tempos depois, a bandeira foi reduzida a seis cores, sem o rosa e o anil. O azul também acabaria por substituir o turquesa.

Falando sobre sua criação, Baker disse que queria transmitir a ideia de diversidade e inclusão, usando “algo da natureza para representar que nossa sexualidade é um direito humano”.

Em 2015, o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa, adquiriu a bandeira para a sua coleção de obras, chamando-a de “poderoso marco histórico do design”.

“Decidi que tínhamos de ter uma bandeira, que uma bandeira nos encaixasse em um símbolo, o de que somos pessoas, um tribo”, disse Baker ao museu em uma entrevista.

“E as bandeiras são sobre proclamar poder, então é muito apropriado”, acrescentou na ocasião.

Bandeira arco-írisDireito de imagemREUTERS
Image captionO aniversário de 25 anos da bandeira foi celebrado em 2003

Homenagem

A bandeira arco-íris foi hasteada no centro de San Francisco para homenagear Baker.

Em sua conta no Twitter, o roteirista americano Dustin Lance Black disse: “Os arco-íris choram. Nosso mundo é bem menos colorido sem você, meu amor. Gilbert Baker nos deu a bandeira do arco-íris para nos unir. Nos unirmos de novo”.

O senador pelo Estado da Califórnia Scott Weiner afirmou que o trabalho de Baker “ajudou a definir o movimento LGBT moderno”.

Parada gay em Nova York (2005)Direito de imagemGETTY IMAGES
Image captionBandeira tornou-se símbolo da diversidade e da inclusão

Das Forças Armadas ao design

Baker nasceu em 2 de junho de 1951 em Chanute, no Estado americano do Kansas. Ele cresceu em Parsons, também no mesmo Estado, onde sua avó tinha uma pequena loja de roupas. Seu pai era juiz e sua mãe, professora.

De 1970 a 1972, ele serviu nas Forças Armadas americanas. Quando deixou o Exército, Baker aprendeu a costurar sozinho e usou a habilidade para criar pôsteres para marchas de protesto anti-guerra e a favor dos direitos LGBT.

Foi durante esse período que ele se tornou amigo de Harvey Milk, o primeiro parlamentar abertamente homossexual da história dos Estados Unidos.

Baker criou a bandeira arco-íris em 1978, mas se recusou a registrá-la como sua marca.

Em 1994, ele se mudou para Nova York, onde viveu até sua morte.

Naquele ano, ele criou a maior bandeira do mundo em comemoração ao 25º aniversário da Rebelião de Stonewall – como ficou conhecidas as manifestações da comunidade LGBT contra a invasão da polícia de Nova York ao bar Stonewall Inn, em Manhattan.

Os protestos anteciparam o movimento moderno de libertação gay e a luta dos direitos LGBT nos Estados Unidos.

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História de Gay Talese sobre espionagem sexual num motel tem caso similar em Goiânia
   3 de maio de 2016   │     0:00  │  0

Um dos maiores repórteres americanos, adepto do novo jornalismo, conta, em reportagem e livro, a história de um empresário que espionava clientes mantendo relações sexuais.

Gay Talese, um dos expoentes do novo jornalismo, é adepto da tese de que a realidade é mais ampla do que imaginamos e escarafuncha assuntos por décadas

Gay Talese, um dos expoentes do novo jornalismo, é adepto da tese de que a realidade é mais ampla do que imaginamos e escarafuncha assuntos por décadas

No início da década de 1980, o repórter Marco Antônio da Silva Lemos — hoje desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios —, publicou uma reportagem que alcançou ampla repercussão: funcionários de um motel entre Goiânia e Aparecida de Goiânia estavam espionando clientes que mantinham relações sexuais. Segundo a denúncia, havia um “espelho com fundo falso” que permitia ver o que acontecia numa das suítes.

O motel era propriedade de dois sócios, L. S. e I. A. A Casa do Amor, obviamente com nome em francês para ficar mais chique e up to date, tornou-se um local a se evitar. Mesmo outros motéis foram abandonados, provisoriamente, pelos clientes. Um dos sócios, que era político, apareceu na redação do jornal “Diário da Manhã” e contestou a informação de que seus funcionários ou eles próprios espionavam clientes. Ouvido pelo Jornal Opção, Marco Antônio disse que, apesar da denúncia, não houve nenhuma investigação séria a respeito. A única coisa certa é que os funcionários deixaram de sentir prazer com o prazer dos outros.

Em seguida, espalharam, não se sabe quem, uma série de boatos. Um deles dizia que havia até gravações de cenas calientes nas quais os “modelos” eram frequentadores de motéis goianos. Nunca se provou nada a respeito. Mas falou-se nisso durante algum tempo. Talvez tenha sido um prenúncio das atuais lendas urbanas. Mas a história da Casa do Amor é, tudo indica, verdadeira.

No domingo, 24, a reportagem “O dono de motel que espionou a vida sexual de seus hóspedes por décadas”, de Ana Pais, da BBC, relata uma história parecida com a de Goiânia. No início de 1980, o repórter Gay Talese, um dos cultores do novo jornalismo ou jornalismo literário, recebeu uma correspondência em que um empresário americano informava que havia adquirido um hotel, na cidade de Aurora, no Colorado, com o objetivo de “satisfazer suas tendências voyeuristas”.

O empresário havia instalado “grelhas de ventilação falsa no teto de vários dos 21 quartos para poder espiar os hóspedes enquanto estes mantinham relações sexuais”. Como Gay Talese estava no auge, apontado como um dos principais contadores de histórias do jornalismo americano, o homem queria narrar o caso dos anos em que espionara homens e mulheres transando. Chegou a convidar o jornalista para observar casais mantendo relações sexuais. De uma curiosidade infinda pelos segredos mais recônditos dos homens, o repórter aceitou o convite e observou “um casal fazendo sexo oral sem pedir permissão”.

Livro de Gay Talese sai em julho, mas já pode ser encomendado nos sites da Livraria Cultura e da Amazon. É a história de um voyeur num motel dos Estados Unidos

[Gay Talese é autor de um livro estupendo sobre a máfia ítalo-americana. Para obter informações, tornou-se amigo de um mafioso, frequentou sua casa e conviveu com sua família. O objetivo era entender a organização criminosa por dentro e entender como viviam os chefões, para além de preconceitos ou do jornalismo meramente policial. O resultado, exposto no livro “Honra Teu Pai” (Companhia das Letras, 512 páginas, tradução de Donaldson M. Garschagen), é jornalismo de primeira linha e, pode-se dizer, um trabalho antropológico irrepreensível. Os mais heterodoxos poderão chamá-lo de “antropologia participante”. Chegaram a criticá-lo, sobretudo pela amizade com o clã mafioso Bonanno. A excelência do livro — muito superior ao romance “O Poderoso Chefão” (o que salva a obra, paradoxalmente, é o excelente filme de Francis Ford Coppola), de Mario Puzo — silenciou seus críticos.

Homem elegante, que usa ternos refinados e não abdica de um bom chapéu, Gay Talese aprecia mergulhar profundamente nos assuntos que investiga. Pessoas famosas, “esgotadas” pela imprensa, não lhe chama a atenção. No Brasil quem lhe interessa é a cantora Simone, que tem “uma voz muito interessante” e “estilo”.

Ao pesquisar sobre o motel americano, ficou sabendo de um assassinato, mas decidiu não denunciá-lo. Ao perceber que um de seus hóspedes traficava drogas, Gerald Foos esperou que saísse, entrou no quarto, roubou as drogas e as destruiu. Pouco depois, o homem, culpando a namorada pelo desaparecimento das drogas, estrangulou-a.

O que Gerald Foos fez? Anotou a história, detalhe por detalhe, mas não denunciou o homem à polícia. Porque, tendo roubado as drogas, poderia também ser indiciado. Ao ler as anotações do empresário, Gay Talese decidiu não entregá-lo às autoridades. “Passei algumas noites sem dormir, me perguntando se deveria entregar Foos. Mas pensei que já era tarde demais para salvar a namorada do traficante”, escreveu o repórter no texto publicado na “New Yorker”.

Criticado, ao revelar a história na revista, na edição de 11 de abril deste ano, disse à BBC Mundo: “Tenho 84 anos e sou jornalista há quase 65. Não acho que tenha de me defender”. Sua reportagem, “O Motel do Voyeurista”, provocou sensação e questionamento. Um livro detalhando a história, com o mesmo título, será publicado em julho. “The Voyeur’s Motel” (Grove Atlantic, 240 páginas) já pode ser encomendado nos sites da Amazon (R$ 56,55) e da Livraria Cultura (R$ 57,29).

Céu e inferno

Por que Gay Talese esperou 36 anos para contar a história em reportagem e livro? Porque não trabalha com fontes anônimas. Enquanto Gerald Foos, o dono do motel e voyeur, não autorizou-o a contar a história mencionando seu nome, com todas as informações, o repórter atilado esqueceu suas múltiplas anotações no fundo de uma gaveta.

Gerald Foos adquiriu o motel em 1969 e, com o apoio de sua mulher, Donna, começou a espionar os hóspedes. “Quando um casal atraente chegava, Foos e a mulher colocavam os dois em um dos quartos com as grelhas no teto. Foos e Donna então subiam para a parte de cima para poder espiar o casal.”

O empresário registrou as histórias de 1969 a 1995, “quando vendeu” o motel. Nas conversas com Gay Talese, Gerald Foos admitiu que é voyeurista, mas o repórter descobriu ao menos um deslize. Ele disse que começou a espionagem sexual em 1966, mas só comprou o motel em 1969. Suas anotações dão conta de encontros entre chefes e suas secretárias e relatos de sexo grupal (sobre a vida sexual pouco ortodoxa dos americanos, Gay Talese escreveu “A Mulher do Próximo”. A movimentada vida sexual dos goianienses, inclusive num frequentadíssimo clube de swing, com pessoas das classes alta e média, ainda não mereceu registro equivalente).

Em 2013, com os crimes prescritos, Gerald Foos finalmente deu autorização para Gay Talese publicar a história e revelar seu nome. O repórter recuperou as anotações, as suas e as do empresário, e publicou o artigo na “New Yorker”. “Esperei 30 anos para conseguir que me liberasse o uso de seu nome. Se não tivesse conseguido, nunca teria escrito ‘O Motel do Voyeurista’”, afirma o jornalista e escritor.

Porém, se a história consagra ainda mais Gay Talese — Sam Mendes será diretor do filme baseado na história do livro —, deixou Gerald Foos em maus-lençóis. Logo após a publicação do texto na revista, começou a ser ameaçado de morte e algumas pessoas jogaram ovos na porta de sua casa. Ele teve de chamar a polícia para protegê-lo.

A polícia de Aurora disse à BBC que não há registros policiais a respeito de Gerald Foos e de sua mulher. Questionado pela BBC sobre a credibilidade do empresário como “fonte jornalística”, Gay Talese afirma que é uma “estupidez” discutir o assunto. Sugeriu à repórter que lesse o livro e não apenas a reportagem, que contém “10% da história”.

Embora sempre cortês, Gay Talese explicitou que prefere responder perguntas “sérias e críticas”. “Pelo menos você não estaria me questionando por uma pequena parte. Quero ser questionado pelo todo.”

Jornalistas tendem a não entender, ou não querer compreender, o que está dizendo Gay Talese. Em geral, nós pensamos que ao reportar um fato, quase sempre às pressas, estamos publicando a realidade na sua inteireza. Na verdade, estamos fazendo um breve recorte na realidade, eliminando suas arestas, e tornando o assunto palatável para os leitores. Mas as contradições da realidade, sua amplitude, geralmente ficam de fora da maioria das reportagens. Gay Talese faz uma espécie de “jornalismo da lentidão”, escarafunchando os fatos por longo tempo, maturando suas ideias a respeito, e só quando percebe que tem clareza e domínio amplo sobre o tema é que escreve suas reportagens, que, na prática, são ensaios.

Uma curiosidade: num de seus livros, “Vida de Escritor” (Companhia das Letras, 512 páginas, tradução de Donaldson M. Garschagen), o jornalista conta que, ao visitar a Itália, quando o chamaram de “Talese”, nem olhou, pois pensou que não era com ele. Descobriu que, no país de Dante e de don Corleone, não se pronuncia “Talise”, como nos Estados Unidos, e sim “Talese”.
Gay Talese está falando de hotel ou motel? O texto da BBC opta por motel — então deixei assim.

Fonte: Jornal Opção

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