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Vídeo mostra ataque mortal contra a travesti
   12 de agosto de 2015   │     11:02  │  0

Jovem foi espancada por cinco homens em 20 de junho, na zona leste de São Paulo. Dois policiais militares que atiraram contra Laura Vermont também foram presos por mentir à Polícia Civil sobre o caso.

Laura vivia com a família na região de São Miguel Paulista, na zona leste de SP

Laura vivia com a família na região de São Miguel Paulista, na zona leste de SP

Imagens das câmeras de segurança de estabelecimentos comerciais na avenida Nordestina, Vila Nova Curuça, zona leste de São Paulo, obtidas pela site Ponte Jornalismo, gravaram o momento em que a jovem travesti Laura Vermont, 18 anos, foi atacada por cinco homens, na madrugada de 20 de junho.

De acordo com os delegados José Manoel Lopes e Michel Augusto Toricelli, do 32º DP (Itaquera), os responsáveis pela morte de Laura Vermont são Van Basten Bizarrias de Deus, Jefferson Rodrigues Paulo, ambos de 24 anos, Iago Bizarrias de Deus, Wilson de Jesus Marcolino, os dois com 20 anos, e Bruno Rodrigues de Oliveira.

Na quarta-feira (29/07), a Justiça decretou a prisão preventiva (até um possível julgamento) dos cinco envolvidos na morte de Laura Vermont.

Van Basten, Jefferson e Iago já estavam presos temporariamente desde o início deste mês. Wilson é considerado foragido da Justiça; Bruno tem sido monitorado pelos policiais civis do 32º DP e deverá ser preso em breve. A reportagem não conseguiu localizar os advogados dos cinco suspeitos.

As investigações do 32º DP apontaram que Laura Vermont foi agredida a pauladas por Van Basten, isso depois de também ter sido espancada por ele e os outros quatro suspeitos.

Laura foi espancada quando passava perto do grupo de cinco homens e, na versão da polícia, teve um desentendimento com eles. Desde a sua morte, amigos e familiares da jovem travesti acreditam que o ataque contra ela foi motivado por transfobia.

Ainda segundo os investigadores, as primeiras agressões contraLaura na madrugada de 20 de junho começaram quando ela entrou no carro com outra jovem, também travesti, e um homem que a acompanhava.

A amiga e o homem que a acompanhavam brigaram com Laura. As duas travestis foram colocadas para fora do carro pelo homem. Laura teria, segundo sua amiga, usado um estilete para atacá-la enquanto o trio brigava dentro do veículo.

Já ferida, Laura começou a caminhar pela avenida Pires do Rio. Ela continuava a brigar com sua amiga quando um motoboy viu a confusão e teria tirado o estilete da mão de Laura.

Ainda segundo a versão da amiga de Laura à polícia, a jovem teria atravessado a avenida para atacar um casal e puxou os cabelos de uma mulher.

Ao continuar pela avenida, Laura passou na frente da padaria onde os cinco homens bebiam e, após supostamente iniciar uma discussão com eles, foi espancada.

Já desnorteada e ensanguentada, Laura seguiu caminhando, sozinha, enquanto a Polícia Militar foi chamada para socorrê-la.

PMs presos por mentir

Os PMs Ailton de Jesus, 43 anos, e Diego Clemente Mendes, 22, do 39º Batalhão, foram presos em flagrante, na tarde de 20 de junho, após mentir para a Polícia Civil sobre um tiro disparado contra Laura.

Segundo familiares de Laura, a jovem saiu de casa na noite de sexta-feira (19), no bairro do Vila Nova Curuçá, onde vivia com pai, mãe e irmã, para participar de uma festa com amigos na avenida Nordestina, uma das mais movimentadas da periferia da zona leste de São Paulo.

Por volta das 4h do dia 20 de junho, Laura foi vista caminhando desesperada, ensanguentada e desorientada. Avisada sobre a situação da jovem por uma ligação para 190, a Polícia Militar mandou um carro para socorrê-la. Um homem chegou a gravar imagens de Laura no momento de pânico.

Na versão dos PMs, quando eles chegaram à avenida, Laura estava extremamente agitada e, sem que os dois militares percebessem, a jovem travesti assumiu o volante do carro da PM e partiu em alta velocidade, vindo a perder o controle e bater contra o muro de um condomínio poucos metros depois.

“A versão de que minha filha pegou o carro da PM é estranha. Ela não sabia dirigir”, disse o comerciante Jackson de Araújo, pai de Laura.

Inicialmente, o PM Mendes afirmou que chegou a se pendurar no carro da polícia para tentar impedir que Laura fugisse com o carro, foi arrastado e sofreu alguns ferimentos.

Mendes e Ailton disseram também que Laura, após bater o carro da PM contra o muro de um condomínio residencial, desceu do veículo e continuou a correr pela avenida Nordestina, sendo atingida na cabeça por um ônibus, que não parou.

Ainda desnorteada, a travesti seguiu sua tentativa de fuga e bateu novamente a cabeça, desta vez contra um poste. Foi quando ela caiu e ficou à espera de socorro.

Os PMs disseram ter socorrido Laura e a levado para o pronto-socorro do Hospital Municipal Professor Waldomiro de Paula, mas a família da jovem os desmente. “Fomos nós, a família, que levamos minha irmã para o hospital”, disse Rejane Laurentino de Araújo Neves, 32 anos, irmã de Laura.

Pouco tempo depois de chegar ao pronto-socorro, Laura morreu e os PMs foram para o 63º Distrito Policial (Vila Jacuí) relatar à Polícia Civil a versão deles para a morte da jovem. Foi quando apresentaram um relato de 18 linhas sobre o caso.

Cerca de duas horas após o registro do primeiro boletim de ocorrência sobre a morte de Laura, os PMs retornaram ao 63º DP e, desta vez, traziam junto um rapaz de 19 anos, apresentado pelos militares como “testemunha” do caso.

À delegada Ivna Schelble, do 63º DP, o jovem de 19 anos contou que bebia com amigos em um posto de gasolina quando Laura chegou desorientada, ensanguentada e pedindo ajuda. Disse também que, após 20 minutos, um carro da PM chegou à avenida para socorrer Laura e que viu quando a jovem assumiu o controle do veículo, fugindo, sem ser contida pelo PM Mendes, que se pendurou na porta.

Dois detalhes sobre a “testemunha” apresentada pelos PMs chamaram a atenção da delegada e dos investigadores do 63º DP: o jovem fez questão de enfatizar que não havia ouvido nenhum disparo de arma de fogo quando os policiais tentavam impedir Laura de assumir o controle do carro da PM. O rapaz também ficou cerca de meia hora conversando com os dois PMs, perto do 63º DP, sem que a delegada fosse informada se tratar de uma testemunha presencial.

Desconfiados da riqueza de detalhes da versão narrada pela “testemunha” apresentada pelos dois PMs, os policiais civis do 63º DP resolveram ir aos locais por onde Laura passou e encontraram manchas de sangue em locais não citados pelos policiais militares.

Por André Caramante

Fonte: Ponte Direitos Humanos, Justiça e Segurança Pública

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