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O que é mulher cisgênero?
   23 de julho de 2021   │     20:44  │  0

Em sua reta final, Salve-se Quem Puder será a primeira novela a exibir um beijo entre um homem transexual e uma mulher cisgênero. Os protagonistas desta cena serão Bernardo de Assis, ator trans que interpreta Catatau, e Juliana Alves, que vive Renatinha. Porém, muitos telespectadores ainda não entendem o que significa ser uma mulher cisgênero (ou “cis”, na versão abreviada).

De acordo com o grupo Aliança LGBTI, cisgênero é uma pessoa –homem ou mulher– que se identifica com os aspectos do gênero atribuído ao nascer. Isso engloba as pessoas que não são transgênero (transexuais, travestis ou não-binárias, por exemplo).

O prefixo “cis-” é usado porque é o oposto do “trans-“, e também é empregado no início de palavras para designar algo que está “ao mesmo lado”.

Outra confusão comum é entre identidade de gênero e orientação sexual, que não têm relação. Uma mulher cisgênero não é, necessariamente, heterossexual. Um homem ser transgênero não o torna homossexual.

Transfobia

Na trama de Daniel Ortiz, o casal formado entre Catatau e Renatinha parecia improvável. Isto porque, no início da novela, a secretária insistia em chamar o estagiário pelo pronome feminino e não respeitava a identidade de gênero do colega.

A atitude da personagem de Juliana Alves nada mais é do que um exemplo de transfobia, preconceito que não se limita à ficção. Bernardo de Assis chegou a sofrer ataques contra sua identidade de gênero justamente por interpretar o personagem na novela. Após dar uma entrevista sobre Catatau, foi intimidado e ameaçado de morte em suas redes sociais.

Na semana final de Salve-se Quem Puder, Renatinha, que passou a novela inteira apaixonada por Rafael (Bruno Ferrari), desenvolverá um carinho especial pelo colega. Ela chegará a defender Catatau de mais ataques transfóbicos, dessa vez de Tammy (Lívia Inhudes) e Isaac (Conrado Caputo).

O romance dos dois, então, vai deslanchar com um beijaço em público, cena que vai ao ar no capítulo de 14 de julho. Na semana seguinte, Salve-se Quem Puder será substituída pela reprise de Pega Pega, novela exibida em 2017.

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O que é uma pessoa cisgênero?
   23 de março de 2021   │     10:30  │  0

Nunca se ouviu falar tanto em gênero. Do fim das distinções binárias homem-mulher às transformações comportamentais e de relacionamentos, o termo tem motivado polêmicas e debates. A transgeneridade é um dos temas que estiveram em alta em 2019, com destaque em novela, filmes e séries. O interesse pelo tema foi tanto que alavancou também outro conceito em expansão: a cisgeneridade. Mas o que define uma pessoa cisgênero?

O termo cisgeneridade indica uma pessoa que tem anatomia, sexo e biologia alinhados com o gênero ao qual se identifica, explica o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do ambulatório transdisciplinar de identidade de gênero e orientação sexual do Instituto de Psiquiatria do HC (Hospital das Clínicas) de São Paulo.

“A identidade de gênero é completamente subjetiva e começa a se manifestar por volta dos três ou quatro anos de idade. É a noção que cada um de nós tem de ser homem, ser mulher ou ser transgênero”, afirma o médico.

Segundo ele, cisgeneridade tem a ver com essa compatibilidade entre o sexo biológico e sua identificação como pessoa. Nasci macho, me sinto homem, ou nasci fêmea, me reconheço como mulher. O oposto do que ocorre com a pessoa transgênero (transexual ou travesti), que se identifica com o gênero oposto.

Cisgênero e hétero são a mesma coisa?

Nas atuais discussões sobre gênero e sexualidade pipocam conceitos, teorias, interpretações diversas e, sobretudo, divergências e dúvidas. No meio desse vespeiro, é um desafio cada vez maior não errar ou não se confundir ao falar sobre tantos termos, nomenclaturas e siglas.

Uma confusão comum é pensar que cisgeneridade e heterosexualidade são a mesma coisa. Não são. Conforme observa o psiquiatra Saadeh, se identificar como uma pessoa cisgênero não implica necessariamente ser hétero.

Ou seja, uma pessoa cisgênero pode ser gay, bi, pan, assexual ou hétero. “Orientação sexual não tem relação com identidade de gênero. Elas se desenvolvem em paralelo, são conceitos distintos”, ressalta o médico. Por exemplo: um homem pode ter nascido com os órgãos sexuais masculinos, se identificar como homem, mas ter desejo sexual por outro homem, num perfil cisgênero homossexual.

As pessoas cisgênero representam 99% da população mundial, segundo dados da Associação Psiquiátrica Americana. O termo vem da química orgânica, onde está relacionado com a posição dos átomos, cis (padrão), trans (o que muda). As palavras têm origem no latim, cis em português é “da parte de cá” e trans “em frente de”.

Na avaliação do especialista, a exposição maior de pessoas trans na mídia popularizou o debate sobre gênero e trouxe para as rodas de conversa também a cisgeneridade. Mais pessoas atualmente estão interessadas em entender o que está em discussão. E, na opinião do médico, isso é bom, porque pode ajudar a desfazer preconceitos.

“Na realidade, os termos cis e trans não opõem orientação e identidade de gênero, simplesmente separam em conceitos, as pessoas é que vivem essa oposição”, observa Saadeh. Para ele, o desenvolvimento da ciência vem quebrando paradigmas e derrubando velhas verdades absolutas. Ele cita como exemplo o papel da anatomia, que não é mais vista como determinante. “As pessoas hoje estão querendo romper com essas caixinhas definidoras.”

Futuro unissex?

Há lugares onde a igualdade entre masculino e feminino já é uma realidade. Suécia, Finlândia e Noruega adotaram o pronome pessoal neutro “hem”. Seria o fim do gênero?, questiona a psicanalista e blogueira de Universa Regina Navarro em seu livro “Novas Formas de Amar” (editora Planeta). “Um futuro unissex pode e deve ser apoiado pela linguagem, porém o mais importante é o conteúdo transmitido”, defende a autora.

“Falar de um modo neutro altera positivamente a mensagem para aqueles (principalmente as crianças) que não devem temer as diferenças étnicas, sociais e culturais”, escreve Navarro.

Há por exemplo quem critique o binário “cisgênero-transgênero” porque agrupa lésbicas, gays ou bissexuais em oposição às pessoas transexuais. Para o psiquiatra Alexandre Saadeh, “os termos ainda são necessários e devem ser usados”. Mas recomenda cuidado com a banalização das nomenclaturas, porque, segundo ele, isso pode levar a uma simplificação exagerada.

Por: Carlos Minuano

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Cis, trans, pan, intersexual: entenda os termos de identidade e orientação sexual
   2 de março de 2017   │     1:12  │  0

A primeira coisa a saber é que a identidade de gênero é o modo como a pessoa se sente dentro do corpo com o qual nasceu.

A primeira coisa a saber é que a identidade de gênero é o modo como a pessoa se sente dentro do corpo com o qual nasceu.

O que às vezes causa confusão em quem é menos engajado nas causas de diversidade sexual são os diversos termos utilizados para descrever identidade, orientação e desejo sexuais. E não só entre os trans. Cisgênero, identidade não-binária, intersexualidade: o que significa cada um desses termos? Conversamos com Eric Seger de Camargo, bolsista do Núcleo de Pesquisa sobre Sexualidade e Relações de Gênero (Nupsex) da UFRGS e membro do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat), que nos ajudou a explicar (e entender) as coisas.

Orientação sexual ou com que tipo de pessoa eu gosto de me relacionar

Uma das camadas que constituem a sexualidade de uma pessoa é a sua orientação sexual. É aqui que se trata sobre os desejos e atrações. Quase todo mundo conhece os termos heterossexual (aquele que sente atração pelo gênero oposto) e homossexual (aquele que sente atração pelo mesmo gênero), mas há um espectro muito mais amplo de possibilidades: bissexual é aquele que se sente atraído pelos gêneros masculino e feminino, assexual é aquele que não tem desejo puramente sexual, pansexual é aquele que tem atração por todos os tipos de pessoas.

Mas o que, de fato, é gênero? 

É corriqueiro responder essa pergunta da maneira mais simples: quem tem pênis é do gênero masculino, quem tem vagina é do gênero feminino. Mas, atualmente, defende-se que o termo “identidade de gênero” passe a ser utilizado.

O que define, de fato, é a auto-identificação – resume Seger.

Ou seja, identidade de gênero tem muito mais a ver com a maneira como a pessoa se vê do que com o órgão genital que possui no meio das pernas. A partir daí, se utilizam dois termos: transgênero (pessoa que não se identifica com as características do gênero designado a ela no nascimento) e cisgênero (pessoa que se identifica com as características do gênero designado a ela no nascimento).

Thammy Gretchen, por exemplo: quando nasceu, os médicos disseram “é uma menina”. Ela cresceu e viu que, não, não queria ser uma menina, mas um menino – no conceito mais raso do termo. Gostava de meninas, não queria ter seios, gostava de sair sem camisa, tinha vontade de ter barba. Ou seja, transgênero.

– Muita gente diz que “um homem trans é um homem que nasceu mulher”. Se pensar assim, sempre vai dar legitimidade ao preconceito e ao discurso de que não é natural. Na verdade, foi dito que ela era de um sexo e, quando ela pôde pensar sobre isso, ela viu que não era – explica.

Então é sobre isso a discussão de banheiros masculinos e femininos?

Basicamente, sim. No início do mês, o governo federal garantiu que alunos podem usar os banheiros da escola de acordo com sua identidade de gênero. Independentemente do órgão sexual que têm, os alunos devem ter a permissão de usar o banheiro que mais se aplica à sua identidade de gênero. A nova lei também vale para uniformes escolares que são diferentes para meninas e meninos (distinção que, levando-se em conta tudo que já foi explicado, é pelo menos discutível, mas vá lá).

– Quando se levanta essa discussão, existe uma confusão muito grande entre orientação sexual e identidade de gênero. Parece que vai ter banheiro para gays e banheiro para héteros – diz Seger.

Não é isso. Identidade de gênero não tem nada a ver com orientação sexual. Há quem se identifique com o gênero feminino e se sinta atraída por pessoas que também se identificam com o gênero feminino e pessoas que se identificam com o gênero feminino e, ao contrário, se sentem atraídas por pessoas que se identificam com o gênero masculino – ou seja, identidade de gênero semelhante e orientação sexual totalmente diferente.

Para complicar um pouco mais: identidade não-binária

Entendeu? Então agora vamos para as identidades não-binárias. Falamos delas lá em cima, mas é uma boa hora para retomar. Todas essas identidades de gênero e orientações sexuais abrangem uma boa gama de pessoas. Mas e quem não se identifica com nenhuma delas? Existem as identidades não-binárias, que não se sentem confortáveis em uma divisão entre gênero masculino e gênero feminino. Talvez não se importem com isso, talvez se sintam atraídas por pessoas independentemente de identidade de gênero. O que for. A isso, costuma-se denominar identidade não-binária.

Mas como eu vou saber o que cada pessoa é?

A questão sexual é muito mais complexa do que esse texto de alguns parágrafos. Há especificidades em cada termo, há quem não goste de ser posto em uma caixinha com uma palavra, há os intersexuais (pessoas cuja anatomia não se encaixa no padrão macho/fêmea, o que um dia se chamou hermafrodita) e há quem não se identifique com nenhum desses termos e prefira utilizar outros. Por isso, Eric Seger resume:

– A melhor maneira de saber o que cada pessoa é e como deve se referir a ela é perguntando de que maneira ela se identifica. Simples.

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Cis, Trans, Travesti: o que significa?
   5 de julho de 2016   │     0:00  │  0

Esqueçam o dicionário, as roupas e a anatomia para falarem de identidade de gênero.

 Pouco interessa se o dicionário diz que travesti é homem que usa roupas femininas, ou que travesti é substantivo masculino e assim devem ser tratadas.

 O dicionário não é dono da identidade das pessoas, outrossim, trata-se apenas de um registro do léxico em determinado momento histórico. O dicionário precisa ao longo do tempo ser atualizado para conter os novos usos das palavras, seus reusos, seus usos, seus desusos e as novas palavras.

 Se a gente for estudar um pouco sociolinguística, descobriremos que nem a gramática normativa e nem o dicionário são donos da língua, que é um organismo vivo, em constante mutação. A língua pertence aos seus falantes e não a um instantâneo escrito.

Não é o dicionário que vai ditar para as travestis quem elas são e como devem ser tratadas, mas seu inverso, é o coletivo de travestis que dizem quem são, como querem ser tratadas e o dicionário é que precisa ser modificado para conter isso. E se não está contendo, vamos nos perguntar quem é que detem o poder hegemônico acadêmico nesse país que está escrevendo e normatizando dicionários.

 Pois bem, eu sou mulher independente de qualquer roupa que eu coloque, assim como se dá com a mulher cis. Se uma mulher cis passar a usar terno e gravata e sapatos Vulcabrás, ela continua sendo mulher.

 Cis é prefixo latino, abreviação para cisgênero, significa ‘do mesmo lado’. A pessoa cis é aquela que reivindica ter o mesmo gênero que o que lhe registraram quando ela nasceu.

 Sendo assim, a mulher cis é aquela pessoa que nasceu e foi registrada mulher e se reivindica mulher. O homem cis é aquela pessoa que nasceu e foi registrado homem e se reivindica homem. Veja que em nenhum momento eu falei sobre genital, sobre anatomia ou sobre roupas. Há pessoas intersexos que nascem com as duas gônadas, são registradas por exemplo homens e podem se reconhecer homens, logo, um homem cis; ainda que intersexo. Dado que nem a cisgeneridade e tampouco a transgeneridade, transexualidade e travestilidade são da ordem da morfo-anatomia.

 Ao passo que a pessoa trans é aquela que se reivindica com um gênero diferente do que lhe registraram – há também quem diga que nesse grupo abarca-se as pessoas com papel de gênero divergente do imposto de acordo com sua identidade de gênero. Trans também é prefixo do latim e significa ‘além de’, também é usado por muitas pessoas como abreviação para transexual e por outras para transgênero.

 A mulher trans ou transexual é aquela pessoa que nasceu e foi registrada homem porém se reconhece mulher. Apenas isso. Veja que não tem nada a ver com cirurgias e roupas. Ninguém vira mulher trans quando se cirurgia, pois cirurgia não muda identidade das pessoas. Não aparece fada madrinha terminada a anestesia geral e muda minha identidade.

 Minha identidade de gênero não está instalada no meu genital. Aliás, se gênero estivesse instalado no genital das pessoas, quando um homem cis tivesse seu pênis amputado em um acidente, ou por conta de diabetes ou câncer, ele deixaria de ser homem.

 O gênero que reafirmamos ser o nosso, diz respeito a uma certeza advinda de processos mentais, logo e mais precisamente, estamos falando do cérebro.

 Inclusive por que, no Brasil, para se submeter a uma cirurgia de mudança de genital, é preciso antes passar por rigoroso processo multidisciplinar por no mínimo 2 anos, com no final doutos especialistas cisgêneros que nunca viveram a transexualidade mas dizem saber sobre transexualidade melhor que eu que sou trans, atestando se eu sou ou não mulher transexual.

 Se eles não atestarem que sou mulher transexual, não tenho direito à cirurgia. Então perceba que para ter direito à cirurgia, antes eu provo que sou mulher transexual. Inclusive há mulheres trans que nem podem se cirurgiar, por conta de problemas de saúde por exemplo, outras que não conseguem, já que não tem o exorbitante valor das cirurgias à mão e outras que não querem.

 Pois bem, no caso das travestis, não estamos falando de roupas também. A travesti de terno e gravata continua sendo travesti, pois não são as roupas que possuem identidade de gênero.

 E as travestis geralmente vão dizer que não são nem homens e nem mulheres, mas um terceiro gênero, um não gênero, uma mistura de ambos os gêneros: homem e mulher, ou simplesmente travesti. Mas o papel de gênero das travestis continua sendo feminino, ou seja, elas geralmente vão continuar se apresentando e querendo ser tratadas no feminino, ou de acordo com aquilo que a sociedade considera feminino. O que não é uma regra escrita na pedra, pois em se tratando de identidades humanas, nada é fixo.

 Não importa quantas cirurgias fez ou deixou de fazer a mulher trans, ela continua sendo mulher trans.

 Não importa quantas cirurgias fez ou deixou de fazer a travesti, ela continua sendo travesti.

 E quem é capaz de dizer com muita propriedade quem é travesti e quem é mulher trans? Ora, a própria pessoa. Só a própria pessoa está legitimada a se identificar com bastante propriedade.

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