Homossexualidade na terceira idade: como ela é e quais os desafios?
   11 de junho de 2022   │     15:21  │  0

Artigo

Por: Toni Reis – Graduado em Letras e Pedagogia, Especialista em Sexualidade Humana, Especialista em Dinâmica dos Grupos, Mestre em Filosofia, na área de ética e sexualidade, Doutor e Pós-doutor em Educação, LGBTIfobia na educação, Diretor Presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Integrante do Comitê Executivo da Rede GayLatino e Diretor Executivo do Grupo Dignidade

Ter uma boa qualidade de vida na terceira idade no Brasil é uma meta nem sempre alcançada. Problemas como a violência, a falta de acesso à saúde, educação ou mobilidade são alguns exemplos da ausência de políticas públicas efetivas. E a homossexualidade na terceira idade? Para a população idosa homossexual, reforça-se ainda mais o preconceito da sociedade.

Uma pesquisa realizada pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) denuncia que um LGBTQI+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, travestis, queer e intersexuais) é agredido no Brasil a cada duas horas e, a cada 19 horas, um é assassinado.

Toni Reis*, Diretor Presidente da Aliança Nacional LGBTI+, afirma que apesar dos avanços e conquistas da comunidade, ainda há desafios a serem vencidos. “Em 1990, nós tínhamos apoio de 5% da população. Hoje, nós chegamos à 67% de apoio no Brasil. As principais barreiras são as interpretações fundamentalistas da Bíblia e a heteronormatividade”.

Quanto à homossexualidade na terceira idade, Toni alerta que a população idosa sofre duplo preconceito no Brasil, e responde a questões relacionadas ao tema.

São muitos os desafios da população LGBTQI+ no Brasil. Você poderia apontar quais barreiras socioculturais impedem o avanço dessas pautas?

Enfrentamos o preconceito, o estigma, a discriminação e a violência contra nossa comunidade. Na idade média, nós éramos considerados doentes ou éramos considerados pecadores. Muitos de nós fomos queimados na fogueira. Depois colocaram a gente como criminosos. Inclusive, ainda há 70 países no mundo onde é crime ser homossexual. Éramos considerados doentes até dia 17/05/1990, quando a Organização Mundial da Saúde retirou código 302.0. Então há esse tipo de preconceito. As pessoas acham que nós somos pecadores ou fora da norma. Existe uma norma em que o correto e normal é ser heterossexual. Essas são as duas grandes barreiras, a heteronormatividade e as questões do fundamentalismo religioso.

Quanto à homossexualidade na terceira idade, a discriminação é maior?

Sim. Infelizmente a nossa cultura promove muito a juventude e a saúde, diferententemente da cultura japonesa ou chinesa, em que os mais idosos são muito respeitados. Então, há um duplo preconceito em relação às pessoas idosas. Inclusive, acabam não saindo. Ficam mais em casa por causa dessa desvalorização da pessoa homossexual com mais idade.

Quais são os principais problemas enfrentados pela população idosa homossexual?

Como a pessoa não casa, apesar de agora já estar melhorando, tem muita gente que não tem filhos e acaba muitas vezes indo para um abrigo ou uma casa de repouso onde tem que “voltar para o armário”.  A pessoa viveu a vida inteira abertamente com sua sexualidade e, quando vai para essas casas de abrigos, muitas vezes ligados a questões religiosas, é obrigada a “voltar para o armário”. Talvez esse seja um dos principais problemas da nossa comunidade no que diz respeito à homossexualidade na terceira idade.

Há exemplos de outros países que poderíamos adotar em relação à população idosa homossexual?

Sim. Nós já temos casas de repouso na Holanda e na Espanha específicas para a comunidade LGBT. Pessoalmente, eu acho que é um gueto e talvez uma solução muito simplória. Creio que é muito importante, quando se trata da homossexualidade na terceira idade, que as pessoas possam ir para as casas de repouso onde todos respeitem a identidade de gênero e também a sua orientação sexual.

 

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