Saí do armário depois dos 40
   1 de junho de 2022   │     12:38  │  0

Por: André Bueno – Profissional de Marketing e Comunicação, com extensa experiência em geração de demanda e aceleração dos negócios. Voluntário em projetos relacionados à Diversidade e Inclusão e causas LGBT+.

Criada em 1988 pelo psicólogo gay, Robert Eichberg e por Jean O´Leary, ativista lésbica, o Dia de Sair do Armário, celebrado em 11 de outubro, tornou-se uma data internacional para aumentar a conscientização sobre a importância de sair do armário e abordar temas sobre sexualidade LGBT. A data foi escolhida por ser o dia do Marco Nacional de Washington para Direitos de Gays e Lésbicas.

Para abordar esse tema, O Blog EternamenteSou conversou com Ricardo Alves da Silva, 53, professor, nascido e criado na cidade de São Paulo. Ricardo divide conosco sua experiência de vida, como foi sua decisão de sair do armário e fala sobre o impacto dessa escolha na sua vida.

Ricardo foi criado com 8 irmãos. Suas primeiras experiências homossexuais aconteceram ainda na infância, durante as brincadeiras de rua com amigos, os conhecidos “troca-trocas”. Sua primeira vez também foi com um rapaz, aos 15 anos. Entretanto, suas relações amorosas na maior parte de sua vida, antes de se assumir, foram com mulheres. Ele afirma que nunca se sentiu realizado nas relações com suas companheiras. Em uma dessas relações, manteve uma “amizade colorida” com um rapaz durante 5 anos às escondidas. O medo de assumir sua homossexualidade falava mais alto.

“Sentia pavor de ser rejeitado pelos meus pais, pelos membros da igreja católica, na qual eu frequentava. Temia o julgamento das pessoas na ruas, não queria ser apontado ou xingado pelos outros e tinha medo da violência que poderia sofrer. Na infância e adolescência sofri o que hoje chamam de bullying pelos colegas de uma gráfica onde trabalhei, mas quase não passei por isso com os meus colegas do bairro, da escola ou mesmo em casa porque jogava futebol. A bola me poupou”, revela Ricardo.

Ricardo chegou a estudar num seminário, pois, na juventude, sentiu que sua vocação era ser padre, mas permaneceu por pouco tempo. Entendeu que não era esse o seu destino. Buscou outros caminhos profissionais e formou-se em filosofia, história e psicologia e dedicou sua carreira como professor dessas disciplinas.

Ele conta que sempre foi um homem politizado e, desde muito jovem, participava de manifestações políticas, greves, apoiava causas em prol da educação. No entanto, a questão de assumir sua sexualidade foi um tabu para ele mesmo durante a maior parte de sua vida. Ele diz que lhe faltou coragem.

Ricardo revela que se assumiu homossexual há 10 anos, aos 43 anos. Admite que perdeu oportunidades de engatar relacionamentos amorosos com homens por quem se apaixonou. Um ex-namorado chegou a pressioná-lo, mas ele não cedeu. Dois amigos o incentivaram muito, mas essa influência não foi o suficiente para ele se assumir perante à sociedade.

“Sentia que não seria aceito no meu ciclo social, pela sociedade em geral e dois amigos mais chegados me chamavam de “mureteiro” para que eu me assumisse homossexual. Sofria pressão dos dois lados. Eu não tinha coragem de viver minha sexualidade”, ele conta.

Foi ao conhecer um ex-namorado que Ricardo finalmente sentiu motivação para sair do armário e se viu, pela primeira vez, protagonista da sua vida. Ele nos detalha como foi este momento:

“Tudo tem o seu tempo e eu tive o meu. Com base na minha experiência, teve um momento em que eu não quis mais viver uma relação escondida. Quis estar inteiro e me senti pronto pra isso. Reuni os amigos mais próximos e contei sobre ele e que iríamos morar juntos. Fui acolhido pela turma. Como é bom me sentir livre, ser autêntico e dar menos importância para o julgamento dos outros.”

Há dois anos ele reencontrou uma ex-aluna que participava da ONG EternamenteSou. Ela o convidou para um dos evento Café & Memórias da ONG, no qual  teve a oportunidade de conhecer outros LGBTs da sua geração, alguns com histórias de vida similares, outros com um histórico diferentes e que essa troca tem sido um processo de constante aprendizado. Veja o que Ricardo fala sobre como tem sido esta experiência:

“Sinto-me muito à vontade na EternamenteSou. Participar deste grupo foi um divisor de águas na minha vida, pois foi e está sendo um processo de cura. Para quem ainda não saiu do armário, eu diria que cada um tem o seu momento, não importa a idade. É importante respeitar o tempo de cada um. Vejo que é muito saudável assumir o que somos. O ganho emocional é maravilhoso. É libertador!”

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