A construção do papel do homossexual a partir da relação de poder entre os gêneros
   29 de dezembro de 2014   │     0:00  │  0

Para se entender melhor a construção de papéis atrelados ao homossexual foi necessário buscar compreender as relações de poder entre os gêneros masculinos e femininos.

A contrução do gênero é algo que se inicia antes mesmo do nascimento de uma pessoa, quando, por exemplo, lhe é dado um nome e são criadas expectativas em relação ao seu comportamento. Assim, criação da idéia de gênero, que possibilita a diferenciação entre masculino e feminino pode ser um elemento importante na diferenciação de tratamento entre os sexos.

Algumas autoras feministas como a historiadora Joan Scott (apud FONSECA, 1996) consideram o gênero como “forma primária de dar significado às relações de poder”, revelando – se como elemento constitutivo das relações sociais. Sua posição diante da construção de gênero dialoga com a de Heilborn (apud FONSECA, 1996) que considera que a categoria de gênero aponta para uma forma simbólica de hierarquizar e ordenar o universo em termos de um princípio de valor.

Os valores atribuídos ao gênero podem não ser atribuídos ao sexo do indivíduo. No decorrer da história existem fatos que apontam as relações sociais de pessoas que, independentes da orientação sexual, se identificavam com o gênero oposto ao que a maioria das pessoas de sua anatomia. Grémaux (1995) afirma que, desde a metade do séc XIX até o início do séc XX, algumas mulheres eram consideradas masculinizadas na comunidade dos Bálcãs por se vestirem e realizarem trabalhos atribuídos aos homens. Essas mulheres eram reconhecidas publicamente como homens. Entretanto, muitas delas não possuíam relações amorosas com mulheres.

O modelo binário imposto pela construção dos gêneros acaba limitando as possibilidades que qualquer pessoa teria de expressar sua sexualidade e se relacionar com outras pessoas. Assim, a homossexualidade parece ser uma barreira na construção de papéis que se enquadram nesse modelo binário: ou se é homem ou mulher. Na homossexualidade, apesar de uma possível desconstrução de um papel característico de um gênero heterossexista, que impossibilitaria a sua relação com outra pessoa do mesmo sexo e a reconstrução de um novo papel, o gênero a qual pertence vai estar subjacente a essas questões, limitando suas possibilidades de ser, principalmente, homossexual.

Ainda hoje, o passivo sexual, seja homem ou mulher ainda é vítima de estigma social. Segundo Misse (1981) o passivo sexual apresenta-se em situação de desvantagem e inferioridade em relação ao ativo sexual, já que a mulher e o homem passivos são estigmatizados com atributos “negativos”, como pessoa que não reage, quieto, “viado”, fraco, covarde e outros. Já os atributos do ativo sexual se relacionam com pessoas que possuem iniciativas, dominador, viril, corajoso, forte e outros. Assim a identificação do “viado” é o que possui complacências passivas com outro homem. O que penetra não é considerado necessariamente homossexual já que não “trai” tanto o seu papel sexual original, sua “condição natural”. (MISSE, 1981). Assim, podemos perceber que o estigma de passivo sexual se confunde com o próprio estigma de homossexual.

Misse (1981) relata ainda que o estereótipo de passivo sexual é construído sobre a associação entre a função bissexual feminina (que o autor denominou de ‘receptor do pênis’) com um conjunto de atributos desacreditadores e outros. Entretanto, o autor relata que ‘estigma’ se relaciona mais como um papel existente do que como atributos desacreditadores.

Como citado nos parágrafos anteriores, principalmente no que tange o passivo sexual, na instituição homossexualidade existe uma série de estereótipos e crenças que são aparentemente rígidas, inflexíveis e naturalizadas. A partir dessa visão, podemos dizer que isso ocorre como se todos homossexuais devessem ter muitos papéis em comum, não sendo a relação com um outro homem ou com uma outra mulher suficiente para designar sua homossexualidade. O que determina ser ou não homossexual vai além da relação física, muito além da relação sexual. Pode-se deixar uma questão para refletir. O que é ser homossexual? É praticar relações homoeróticas ou se auto-afirmar homossexual, e assumir essa identidade?

Papéis sociais de gênero relacionam-se com o conjunto de comportamentos associados à masculinidade e feminilidade. Desta maneira, a idéia da homossexualidade refere-se não apenas a uma condição, mas sim á um papel social.

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