Novo estudo pode mudar a vida de adolescentes transgêneros
   18 de dezembro de 2014   │     12:00  │  0

Com a visibilidade transexual em ascensão, o estigma está lenta, mas seguramente, diminuindo. Agora, o foco mudou de “será que crianças transexuais existem?” – já que elas certamente existem – para quais os tipos de ações são adequadas para essas crianças.

Esta pesquisa fornece uma nova janela para a compreensão da extensão em que o estigma e discriminação contra pessoas LGBT afeta a economia de um país

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Uma das linhas de ação mais populares e recomendadas envolve medicamentos para retardar a puberdade, comumente conhecidos como “bloqueadores de puberdade”. Essas drogas inibem o início da puberdade, proporcionando aos adolescentes transgêneros o tempo e capacidade de avaliar se devem ou não se submeter à terapia de reposição hormonal completa, em que seus corpos se desenvolvem de acordo com seu verdadeiro sexo, em oposição ao que lhes foi atribuído no momento do nascimento.

Enquanto alguns têm ridicularizado a prática da prescrição destes medicamentos, um estudo recente publicado no “Journal of Pediatrics” sugere que as crianças transexuais que receberam bloqueadores de puberdade tiveram benefícios de longo prazo. “Como a supressão da puberdade é uma intervenção médica totalmente reversível, ela fornece aos adolescentes e suas famílias tempo para explorar seus sentimentos disfóricos de gênero, e [para] fazer uma decisão mais definitiva sobre os primeiros passos do tratamento real da mudança de sexo em uma idade mais avançada”, explica a principal autora do estudo, Annelou de Vries.

Enquanto alguns sugerem que as crianças deveriam simplesmente passar pela puberdade natural do seu corpo e reavaliar o modo como gostariam de prosseguir depois de atingida a idade adulta, há muitos aspectos da puberdade que vêm com efeitos irreversíveis. Por exemplo, se alguém com o sexo masculino sofre a puberdade natural do seu corpo, vai ficar preso a vários atributos corporais, muitos irreversíveis, como barba, voz mais grossa e uma estrutura óssea mais masculina.

Se essa pessoa é transexual, há pouco que podemos fazer para reverter esses efeitos. Enquanto eletrólise e depilação a laser podem reduzir ou eliminar pelos faciais, sua estrutura óssea está definida para toda a vida. E, enquanto a terapia de reposição hormonal, quando iniciada após a conclusão de sua puberdade natural, possa ter um impacto sobre a redistribuição da gordura corporal, o crescimento da mama e outras características, a outra opção é renunciar a uma primeira puberdade para não ser forçado a lutar contra o resultados irreversíveis que o corpo tenha acumulado.

O estudo recente mostra que os adolescentes transexuais que receberam bloqueadores de puberdade tinham tendência a alcançar a idade adulta com níveis de ansiedade, estresse emocional e dificuldade de lidar com a imagem corporal igual à da população em geral – nem maiores, nem menores.

Além disso, essas crianças apresentaram um aumento da qualidade de vida à medida que descobriram que os sintomas de disforia de gênero diminuíram ao longo do tempo.

Já os transexuais que não passaram pelo mesmo tratamento na adolescência tiveram que lidar com taxas bem mais altas de ansiedade, estresse emocional e dificuldade de lidar com a imagem corporal. Além disso, esses indivíduos foram vítimas de discriminação com mais frequência no emprego, habitação e acomodações públicas.

É importante notar que este estudo é muito pequeno, contando com apenas 55 participantes, e que os pesquisadores insistem que mais trabalho precisa ser feito para realmente chegar a conclusões sólidas. O próprio tratamento de puberdade atrasada é relativamente novo – só tem sido utilizado nos últimos 15 anos -, de modo que seus efeitos a longo prazo ainda estão sendo avaliados. Porém, é encorajador que os pesquisadores estejam se concentrando nas questões que os jovens transgêneros enfrentam e que as pessoas estejam prestando atenção quando descobertas científicas são estabelecidas.

Para muitas crianças trans, atravessar a puberdade natural do seu corpo é um dos momentos mais angustiantes de sua vida. Em um mundo onde quase metade de todas as pessoas trans tentam o suicídio em algum momento de suas vidas, é alentador ouvir notícias de que um tratamento pode ajudar algumas delas a experimentar uma vida mais satisfatória e mais feliz.

Fonte: Jéssica Maes – Jornalista

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