Fundamentalismo religioso: pecado e crime
   18 de novembro de 2014   │     0:00  │  0

Ponto de Vista

Por: Luiz Mott – Formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP) e possui doutorado em Antropologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nos anos 70, recebeu o título de Cidadão Honorário de Salvador. Já em 2006, recebeu o título de cidadão baiano pela Assembleia Legislativa do Estado da BahiaFundador do Grupo Gay da Bahia (GGB) e decano do movimento LGBT no Brasil, o antropólogo Luiz Mott é o único homossexual brasileiro, a aparecer na lista dos gays mais influentes do planeta pela revista holandesa ‘Wink’ e por sua versão internacional, ‘Mate’.

Fundamentalismo engloba todos os movimentos religiosos de cunho ultra conservador e intolerante, que consideram  fundamental a interpretação literal das escrituras sagradas e obediência cega às leis divinas. Enquanto os fundamentalistas evangélicos crescem vertiginosamente na América Latina, o fundamentalismo islâmico tem cada vez mais adeptos fanáticos no Oriente e África. O crente fundamentalista brasileiro acredita cegamente na Bíblia, como se Javé tivesse escrito cada versículo com sua própria mão, embora siga seletivamente aquelas passagens que mais adéquam a sua ideologia. Por exemplo, o filho de Deus mandou oferecer a outra face quando agredido, mas tal ditame não é seguido à risca, sendo interpretado como alegoria, parábola. Mas como ovelhas acríticas, condenam cegamente o amor entre pessoas do mesmo sexo e o divórcio. Não há lógica, nem na teologia nem na ética, para usar mitologias contraditórias para justificar discriminações – sobretudo quando o Mestre do divino amor deu repetidos exemplos de tolerância à diversidade de gênero, sexual, racial, de classe.

O fundamentalista, ao usar textos que considera sagrados, como justificativa para condenar condutas humanas com as quais não concorda, é duplamente culpado: comete pecado cabeludo e grave crime. Pecado porque usa o santo nome de Deus em vão, já que os mais competentes doutores em teologia e exegese garantem que basear-se em alguns versículos bíblicos para condenar a homoafetividade é tão irracional e injusto como a suposta condenação de Noé à raça negra, ambos preconceitos propagados pelo deputado e pastor Feliciano. Fundamentalistas cristãos se tornam criminosos quando invadem terreiros de candomblé, destroem imagens em igrejas católicas ou estimulam com suas pregações a violência homofóbica. Ou quando o mais votado deputado baiano, ex-gay e hoje pastor corifeu da homofobia, diz que a seca de São Paulo é castigo divino à parada gay: impeachment contra o autor de blasfêmia tão maluca e  criminosa!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *