Seis mitos sobre a homossexualidade que muita gente ainda acredita
   16 de novembro de 2014   │     12:56  │  0

Apenas meio século atrás, a homossexualidade era o segredo mais mal guardado da sociedade. Era aquela coisa: todos sabiam que existia, mas falar essa palavra era quase tão proibido quanto falar o nome do Voldemort na saga Harry Potter. Só alguns corajosos rompiam essa barreira absurda. Não se viam gays na televisão ou nas tramas dos filmes, não se podia assumir tal sexualidade.

Por conta de um comportamento descabido como esse, de jogar o debate e o conhecimento para debaixo do tapete, surgiram uma série de mitos que beiram o ridículo a respeito da homossexualidade. Hoje em dia, felizmente, não podemos mais contar com essa desculpa.

No entanto, os equívocos persistem. Por exemplo.

6º Mito: Nós sabemos quantos gays existem no mundo

Vivemos em um mundo que funciona em repartições demográficas detalhadas. Sabemos número de pessoas que saíram da miséria, quantas pessoas têm smartphones, quantas pessoas têm acesso à educação de base… Mas, não. Nós não temos nem ideia de quantos gays existem no Brasil ou no mundo. É normal a gente ouvir por aí estimativas de que cerca de 10% da população mundial é gay – mas pode ser até menos que 2%. Ou maior de 20%. Ninguém sabe.

Pesquisas continuam sendo realizadas e a única coisa de que temos certeza até agora é que esse dado não existe.

O porquê disso é bastante óbvio: estamos confiando em métodos de pesquisa que eram aplicados em uma era em que ser gay era praticamente um crime.

Então, nessas pesquisas, os gays conseguiam esconder sua orientação sexual ao recusarem-se a responder à pergunta, ou simplesmente por não saber a resposta. Afinal, ser homossexual não é como ser asiático, ou alto, ou ter cabelos castanhos, ou receber X reais de salário por ano.

Assim, mesmo que os pesquisadores e cientistas passassem o ano todo à espreita atrás da moita, observando de perto os relacionamentos amorosos de todos os seres humanos, eles ainda não teriam como descobrir essa resposta.

Então, os cientistas passaram a apenas propor estimativas. Mas esses valores não têm validação empírica.

5º Mito: Bissexuais são apenas gays indecisos

Para um monte de gente (até mesmo para um monte de gays), ser bissexual é apenas não se comprometer com a sua opção sexual. É algo como ficar ali em cima do muro entre ser gay ou hétero. Mas não é nada disso. Bissexuais existem, e essa orientação sexual foi cientificamente confirmada com estudos que mediram a excitação sexual e outras variáveis que vamos deixar por conta da sua imaginação.

Esses estudos têm demonstrado que pessoas heterossexuais (principalmente homens) são três vezes mais dispostas a serem bissexuais.

Ainda bem que eles podem sempre encontrar refúgio entre o resto dos grupos LGBT, certo? Não. Para muitos gays, bissexuais são considerados gays que ainda estão em fase de negação sobre sua sexualidade – e isso é encarado como trair a causa. Complicado. Então eles continuam varrendo essa questão para debaixo do tapete, seja por discriminação ou por suas próprias tentativas de se fazerem aceitos. Esse “movimento” é conhecido como “apagamento bissexual”, que soa como uma banda cover estilo anos 80, mas é ainda mais mané.

4º Mito: Todos os relacionamentos gays têm um “menino” e uma “menina”

Nós já sabemos que isso não é bem assim há muito tempo. Lá no começo dos anos 1970, um estudo encontrou que apenas 7% dos casais homossexuais têm um relacionamento tradicional em que um é o homem e outro é a mulher. O que faz sentido, se considerarmos outro mito, baseado no pressuposto de que, no fundo, gays ainda são realmente atraídos pelo sexo “oposto”.

Só que tudo isso é baseado na incapacidade dos heterossexuais de pensar a respeito dessa questão.

Os estudos mostram que casais gays tendem a enfrentar as coisas mais ou menos como casais modernos encaram as tarefas domésticas: dividindo as funções igualmente, ao invés de segregá-las por gênero. Isso realmente leva a um menor ressentimento entre os parceiros (já que ninguém está deixando de cumprir a obrigação de alguma tradição).

Os seres humanos são criaturas complicadas, e verifica-se que declarar que um dos parceiros tem de ser obrigatoriamente dominante e o outro obrigatoriamente submisso não leva automaticamente a uma relação tranquila. Independente de qual seja a natureza da relação, tudo é uma questão de encontrar o equilíbrio entre os envolvidos.

E, enquanto tudo isso parece óbvio quando explicitado (especialmente nesse momento em que vivemos, quando é OK ser uma mãe que trabalha ou um pai que fica em casa), as pessoas ainda veem um casal gay e tentam adivinhar quem é quem na relação. Vai entender.

3º Mito: homossexuais não são religiosos

Ao assistir aos noticiários, você pode ter a sensação de que questões como o casamento gay são uma grande batalha que se resume no embate entre gays e cristãos conservadores. Por isso, seria fácil supor que um homossexual não seja grande fã da Bíblia, ou qualquer texto sagrado. Afinal, todas as três principais religiões do mundo basicamente ignoram os gays em seus respectivos livros de regras. Até mesmo Dalai Lama disse que um budista gay estaria cometendo uma “má conduta sexual” – isso porque o cara é fisicamente incapaz de odiar qualquer coisa.

Se a gente acrescentar que existe um bom número de grupos religiosos culpando os gays para absolutamente todos os problemas do mundo, de atentados terroristas ao agravamento do aquecimento global passando pela destruição da sociedade, é natural supor que se a religião odeia tanto os gays, o sentimento é definitivamente mútuo.

Mas felizmente não é assim que as coisas funcionam. Em 2009, uma organização cristã fez uma pesquisa e concluiu que 60% dos gays e lésbicas considera a religião uma grande parte de suas vidas.

E o mais legal de tudo é que a gente nem precisa procurar muito para encontrar bons exemplos de que isso é de fato verdade. Como Tome Imam Daayiee Abdullah, que fez uma cerimônia funerária a uma vítima muçulmana de AIDS. Ou o rabino Steven Greenberg, que não é apenas o primeiro rabino abertamente gay no judaísmo, como também é o primeiro a fazer um casamento judaico do mesmo sexo.

Enquanto isso, organizações como a Igreja Evangélica Luterana, a Igreja Presbiteriana e a Igreja Unida de Cristo estão aceitando até 46 ministros homossexuais ao mesmo tempo.

Ou seja: uma coisa não exclui a outra.

2º Mito: gays ganham salários melhores

Além de ter relações com pessoas do mesmo sexo, as principais características de identificação de personagens gays em programas de TV são:

(1) se vestir de IMPECAVELMENTE bem;
(2) viver em apartamentos SENSACIONAIS;
(3) serem incríveis no geral.

Duas dessas três coisas custam uma certa quantidade de dinheiro, o que nos leva a crer que a mensagem é a de que ser gay é apenas para aqueles que podem pagar – o que faria um certo sentido, porque São Francisco e Nova York, duas das maiores sedes gays do mundo, também são dois dos lugares mais caros para se viver.

Mas como foi difundida a ideia de que gays são ricos? Temos que voltar em 1996 para explicar.

Depois de não conseguir convencer o resto do Supremo Tribunal Federal que a população gay do Colorado, nos Estados Unidos, não precisa ser protegida contra a discriminação, o juiz Antonin Scalia escreveu em sua dissidência oficial que “aqueles que se envolvem em relações homossexuais tendem a ter alto rendimento disponível”. Como se imediatamente depois de sair do armário, as pessoas caíssem acidentalmente em uma piscina cheia de dinheiro.

Bom se fosse assim. Aliás, eu seria capaz de apostar que se essa de fato fosse a lógica, teríamos muito “convertidos” pipocando por aí.

Em 2013, o Instituto Williams da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles, Estados Unidos) divulgou um relatório mostrando que homens e mulheres gays nos EUA eram muito mais propensos a serem vítimas da pobreza durante a recessão do que os heterossexuais. E isso se justifica pelo fato de que a maioria dos estados ainda demite empregados por conta do que eles fazem em suas próprias camas, entre 4 paredes.

Como resultado, cerca de uma em cada cinco pessoas homossexuais entre as idades de 18 e 44 anos tinha que se submeter a viver a base de cupons de descontos – um sistema que é bastante popular nos Estados Unidos (ainda bem).

1º Mito: você sempre vai ser permanentemente gay ou hétero

Levou décadas de progresso, mudanças sociais e músicas de Lady Gaga, mas as pessoas estão finalmente se ligando para o fato de que não há um interruptor que pode acender ou apagar a homossexualidade nas pessoas.

Sempre que um político casado tem um caso homossexual com o garotão que limpa sua piscina, assumimos que ele deve ter sido secretamente gay o tempo todo. É ou não é?

Na realidade, a ciência oficialmente diz que você pode se transformar em totalmente gay ou virar hétero mesmo tendo vontades diferentes antes. Mas não, isso não significa que você pode controlar essa vontade, ou que os “jovens” gays podem ser “curados” se você ficar mostrando GIFs suficientes da Scarlett Johansson sensualizando.

Nos últimos anos, os cientistas têm estudado a tendência crescente de “recém-lésbicas”, ou mulheres heterossexuais na faixa dos 30 ou 40 anos que de repente percebem que querem outra coisa.

Mais uma vez, você vai ser tentado a pensar que essas pessoas estão apenas passando por uma fase (ou pior, fazendo isso “para chamar a atenção”), mas vários estudos dizem o contrário. Os cientistas acompanharam um determinado grupo de mulheres por ano e mediram as formas como elas encontram a satisfação sexual. E o caminho até o topo dessa montanha pode mudar absolutamente com o tempo.

São situações como estas que trazem credibilidade ao conceito de “pansexualidade” – que diz respeito a sentir atração por pessoas, e não por gêneros. Isso nos livraria de rótulos como homossexuais, heterossexuais e bissexuais. E talvez seja para onde a sociedade esteja caminhando. E digo mais: quem sabe, talvez, a sociedade seja muito mais feliz assim.

Era isso. Você conhece mais algum mito que as pessoas acreditam sobre esse tema? Conta pra gente nos comentários.

Eu também conto com a sua ajuda para fomentar esse debate e acabar com esses mitos que mostramos aqui. Compartilhe esse post no seu mural, ou mande discretamente para alguns amigos, não importa. O que importa é que a gente forme um corrente do bem para uma sociedade mais esclarecida. Talvez esse seja o caminho mais sábio para vivermos em um mundo que aceite as diferenças e saiba conviver em harmonia.

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