O que tem por trás da histórica capa da Time com a atriz transexual Laverne Cox
   4 de junho de 2014   │     0:00  │  0

Primeiro, é preciso informar que a Time lamentavelmente cometeu uma falha na edição passada ao ignorar e deixar de fora Laverne na tradicional lista das “100 Pessoas mais influentes de 2014”, apesar de ela ter ficado em quinto lugar na votação online e de ter recebido mais de 91,5% de aprovação do público [veja ao lado]. Depois, é necessário refletir sobre como a atriz trabalha a própria visibi

lidade e conquistou a admiração dos espectadores – pois é, mais de 90% – a ponto de gerar uma onda de protestos e motivar a Time a dar uma CAPA como um autêntico e histórico pedido de desculpas. Aceitas, claro.

Mas por qual motivo Laverne se tornou referência, já que não é a primeira vez que pessoas trans ganham a mídia internacional?

Ao contrário de tantas figuras que bombam por aí e que investem no discurso chapa-branca, de preconceito internalizado, de ignorância ou de pura vaidade e competição, Laverne é exemplo por aliar talento dentro de um projeto de sucesso, ter orgulho de ser quem é e, sobretudo, nutrir coragem para se engajar em uma causa social malvista [e não ignorá-la como a maioria]. É evidente que nenhuma pessoa é obrigada a levantar bandeiras – ninguém é obrigado a nada – mas também é óbvio que já passou da hora de termos uma celebridade à lá Angelina Jolie dentro do universo trans. E não estamos falando de lábios carnudos. Uma artista engajada, corajosa, talentosa, bem humorada, influente, com fôlego e consciente de que faz parte de um grupo historicamente marginalizado e que, por esse motivo, necessita investir em um discurso afiado, inédito, desafiador e transformador. Desde que seu nome começou a se tornar conhecido, Laverne passou a utilizar de sua visibilidade para mudar um pouco a maneira como a mídia e como as pessoas cis entendem as pessoas trans. Ela transcendeu o debate e não se sujeitou a ele. E o melhor: para melhor.
E NO BRASIL?Embora a maioria das personalidades trans brasileiras não demonstra se preocupar realmente com a causa e a mídia não dê o real merecimento, é preciso destacar artistas que, como Claudia Wonder [1955-2011], são importantes nas artes e no processo democrático brasileiro: Maite Schneider, por exemplo, há décadas alia a arte e a militância, bem como Léo Moreira Sá, Laysa Machado, Leonarda Gluck.
Porém, por aqui, o cenário aparenta ser mais delicado. “É curioso esse cenário no Brasil porque a militância não é vista com bons olhos. […]A Angelina Jolie, por exemplo, é reverenciada pelo trabalho de militante, mas aqui ela seria vista como barraqueira. Para mim, essa dificuldade é pior, porque tenho uma vida pública e militante. As pessoas acham que estarei com a Constituição embaixo do braço.”, declarou Maite em recente entrevista ao NLucon.Que o exemplo, discurso e orgulho de Laverne inspirem a imprensa, os leitores e as artistas… Até porque a estratégia de se esconder ou não falar sobre o assunto não é garantia de sucesso, nem de trabalho, nem de importantes mudanças sociais. Só é garantia da histórica perpetuação do preconceito e da falta de oportunidades e visibilidade. Passamos por um PROCESSO histórico. Será que é sonhar muito alto ver Nany People finalmente apresentando um programa de tevê? Que Rogéria tenha muito mais que participações especiais em novelas? Que uma atriz que é trans seja protagonista ou estrele um comercial de pasta de dente?
Por: Neto Lucon – Jornalista

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