Monthly Archives: março 2014

Abandono e preconceito em asilos obrigam idosos gays a voltarem para o armário
   26 de março de 2014   │     0:00  │  0

Artigo:

Por: Neto Lucon – Jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário pela ABJL, trabalhou em grandes revistas, jornais e sites. Profissional dinâmico, pró-ativo, com habilidade em entrevistas, reportagens densas e com ótimo relacionamento interpessoal. É formado pela PUC-Campinas, trabalhou e escreveu para diversificados veículos de comunicação, tais como os sites Caras Online, E+ (Estadão), Virgula, Yahoo!, Metropole Cultural, Mix Brasil, na revista Junior e no jornal O Regional. Além de freelas para publicações como ACapa.

 

“No asilo não tem nenhum gay, querido. É só velho, mesmo”. “Não, não trabalhamos com homossexuais”. “São senhoras muito religiosas, nenhuma lésbica, muito menos bissexual”. “Se tem algum gay aqui, ninguém nunca falou nada”. “Homossexual? Não temos, ok? Tchau”.
Foram mais de 100 ligações telefônicas e doze visitas a 40 asilos, casas de apoio, repouso, albergues e abrigos de São Paulo na busca por um gay idoso, foco desta reportagem. Apenas um abrigo declarou que um gay morava lá. Outro disse que um homossexual morador precisou voltar ao armário por sofrer preconceito de outros moradores.
Muitas atendentes, secretárias e responsáveis por serviços assistenciais, durante o contato, deram a entender que a procura era avaliada com desconforto, trote e até chacota. Como se idosos não pudessem ser gays. Como se gays não ficassem velhos. E como se idosos não sentissem desejo sexual. Puro preconceito.

AO ARMÁRIO AGAIN

Nascemos, nos descobrimos, vivemos e gozamos da juventude. Corpos rígidos, olhos atentos, raciocínio rápido e  hormônios a flor da pele. Com o tempo, os braços e pernas tornam-se flácidos, as rugas se espalham como raízes pelo rosto, as atividades inevitavelmente mudam e a experiência pode ser interpretada como ponto forte. Não adianta nem tentar escapar: todo mundo fica velho.

A nova geração é de fato mais assumida e com consciência de seus direitos, graças ao relaxamento das tensões e respeito das diferenças sexuais, conquistado ao longo dos anos. Mas por onde andam os homossexuais que se assumiram há 40, 50, 60 anos?

Uma reportagem do “New York Times”, escrita por Janet Gross e Dan Frosch, revela que, para alguns deles, o tão perturbador armário volta a ser um dilema na terceira idade. Dentro de asilos, eles são obrigados a esconder a orientação sexual por medo da homofobia de seus companheiros de quarto, sala e fisioterapia.

A experiência de Glória Donadello, 81 anos, que participava do centro de vida assistida em Santa Fé, Novo México, diz por si o panorama dos idosos gays. Durante uma reunião, ela se incomodou com comentários homofóbicos e pediu para seus amigos pararem. “Por favor, não façam isso, porque sou gay”, disse. Depois da indagação, cheia de sinceridade,  “todos olharam horrorizados”, relembra ela.

Desde então, Glória não foi mais bem-vinda nas conversas, refeições e caiu em depressão. Porsorte, conseguiu sobreviver quando se mudou para uma comunidade próxima, que atendia especialmente gays e lésbicas. “Foi uma questão de vida ou morte”, dispara.

Outro caso mais trágico, também abordado na reportagem, aconteceu com um senhor gay de 79 anos, que freqüentava o asilo da Costa Leste estadunidense. Ele foi transferido de seu andar por conta de protestos de moradores que não aceitavam sua orientação sexual. Bastante triste com a reação, o senhor não resistiu a pressão e se enforcou.

No Brasil, a situação não é diferente. Pior: por aqui não existe nenhum asilo voltado para LGBTs. A coordenadora do Albergue Esperança, Alice Aparecida de Alencar, reconhece o problema: “Idosos homossexuais sofrem muito preconceito de outros idosos. É por isso que não se assumem. Quando revelam, surgem vários problemas”.

Um deles aconteceu com Claudio, homossexual de 66 anos, que não admitia que fizessem piadas sobre sua sexualidade.

“Quando fazia, ele pulava, agarrava o órgão sexual de outro morador e não soltava mais. Chegava a tirar sangue”, conta ela. Problemas relacionados ao banheiro também eram constantes. “Quando os héteros tomavam banho, ninguém admitia que ele entrasse no banheiro. Ele ficava bastante nervoso e era aquela confusão”, salienta.
Atualmente , Claudio não integra mais o albergue. Os motivos são óbvios.
AVERSÃO DE QUEM CUIDA
Ao contrário de Berlim, Argentina, Lisboa e Boston, não existem  serviços voltados a idosos gays no Brasil. O estilista Ronaldo Ésper, que tem 65 anos, contou que planeja criar a primeira “casa aberta” para atender esse público. “Não dá para o homossexual ficar em asilo. Além dele se sentir deslocado, sentir vergonha de falar que é gay, ele pode movimentar muito o lugar”, defende.

E, diante do crítico quadro, gays idosos assumidos são quase nulos em asilos e serviços assistenciais. “É tão difícil quanto encontrar orientais que necessitem desses cuidados”, compara Nanci Paulino Bernardo, gestora do “Pró + Vida”, instituto que atende senhores de risco e exclusão. “Confesso que nunca ouvi falar de um gay que estivesse por aqui. Talvez eles vivam no armário pelo medo de serem tratados com preconceito”, diz.

A educadora social Amanda de Oliveira Posanello afirma que é mais comum idosos revelarem  tranquilamente a orientação sexual quando conquistam sua aposentadoria e levam uma vida independente. “É que, daí, eles não têm mais nada a perder, nem a quem dar explicações. Vivem plenamente uma vida assumida. Mas quando necessitam de abrigos, eles sentem medo do preconceito até dos funcionários”.
Amanda diz que o receio dos gays tem fundamento, uma vez que já conheceu enfermeiros que não gostavam de atender homossexuais idosos. “Muita gente ainda não está preparada. Já cheguei a trabalhar em um lugar em que enfermeiros e outros profissionais não aceitavam homossexuais, onde o próprio funcionário alegava que não sabia lidar. Então, preferiam evitar o contato”, frisa.
A CHACOTA QUE INTIMIDA

Seu Antonio, 65 anos, integra uma instituição que ampara pessoas sujeitas à vulnerabilidade social. Magro, pequeno, tímido e de cabelos brancos, ele não gosta de falar que é gay, muito menos publicamente. Quando foi abordado por mim, ele desconversou e se retirou. Tanto que um dia após ter sido convidado para participar desta reportagem, ao contrário de sua rotina, ele saiu do abrigo bem cedo, mesmo com dificuldades para caminhar, com a finalidade de evitar novas declarações..

.
Funcionários dizem que no início do atendimento Seu Antônio não era tão fechado assim. Ao contrário, era considerado alegre e até flertava outros homens tranquilamente. Foi depois de ouvirconstantes piadinhas e ser alvo de comentários homofóbicos de outros morados que ele começou a se entristecer.
“Hoje ele vive silencioso e prefere a companhia apenas dos funcionários. São raras as vezes em que ele é visto conversando com outros moradores, a não ser para serviços. Devido à habilidade de lavar e passar roupas, ele consegue ter uma renda”, diz um funcionário.
Pela manhã, Antônio lava e passa as peças. Pela tarde, consegue fazer outro bico em uma casa de família. “Todo mundo gosta do trabalho dele, que é uma tarefa feminina, né? Mas ninguém faz mais piadas. Todos sabem de sua sexualidade, mas ela não é mais motivo de gozação”, diz a educadora social Amanda.
Mesmo assim, quando é flagrado olhando para outros homens, seu semblante é bastante diferente: abaixa a cabeça e se envergonha. Seu passado, possíveis namoros e casamentos ainda são uma incógnita para todos. Estão muito bem guardados. Talvez leve consigo para sempre.
MEU NOME É XUXA

O estereotipo da solidão, armário e tristeza, porém, não é uma regra. Ernani Pereira Candido ou, como ele prefere ser chamado, Xuxa, é um senhor gay extremamente assumido, aceito e feliz. 
Segundo ele, a convivência com funcionários e moradores do Albergue Boracea e da Casa Geração, ao lado do Parque da Luz, em São Paulo, é de muita conversa, cumplicidade e brincadeiras.
Em uma tarde de quinta-feira, Xuxa me aguardava com seus encantadores olhos azuis esverdeados. Ao lado de dois amigos, ele participava da comemoração de aniversário de um garotinho de 10 anos. O clima era de descontração e brincadeiras: “Não adianta vir com entrevista. Aqui não tem homossexual”, soltou um morador. Até que Xuxa retrucou: “Não sou homossexual, mesmo, meu amor. Sou hermafrodita”, arrancando gargalhada de todos.
A boa convivência com o grupo predominantemente heterossexual é explicada pela espontaneidade e jogo de cintura de Xuxa. “Sou muito carismático, brincalhão e procuro conversar com todo mundo – de igual para igual, sem crise. Por isso nunca tive problemas”, diz.
Comendo bolo de chocolate e guaraná, ele afirma nunca ter sofrido preconceito no abrigo e nem na casa de apoio. “Aqui todo mundo é igual. Todos, inclusive os fundadores e funcionários, sentam no mesmo espaço, conversam, interagem, sem fazer distinção. Nunca sofri preconceito de ninguém. E, se sofri, nunca percebi nada”, defendeu.
.
Ele explica sua rotina: “Temos o momento de oração às 8h. Depois, participo das oficinas que vai até às 16h30. Todos os dias”. Enquanto ele explica suas atividades, me puxa pelo braço e me apresenta um quadro que pintou. “É um cometa, cheio de raios de luz. Tem uma estrela na ponta, olha. E tem o rabo bem luminoso aqui”, descreve orgulhoso pela obra estar exposta no espaço. .
Xuxa começa a arrumar seus materiais e diz que não se sente velho, muito menos acha que já viveu tudo na vida. “Desfruto cada segundo do meu dia, pois a cada momento algo novo surge.Para mim, cada dia é uma vida diferente. Hoje estou aqui com você. Amanhã você vai estar com outra pessoa e, depois, não sabemos. É por isso que devemos viver com intensidade, aproveitar ao máximo o outro, como se fosse o último momento”.
.
Vindo de uma família circense, Ernani diz que foi criado por outra família, após a separação dos pais biológicos, aos 4 anos. E diz que sempre teve medo de assumir a homossexualidade: “Os tempos eram outros e eu amava muito a minha mãe de criação. Tinha medo de que ela se machucasse por saber de mim. Até que um dia ela chegou e perguntou. Eu me assumi e, para minha surpresa, ela disse que me amaria ainda mais, pois eu precisaria desse amor. Neste dia saiu um peso das minhas costas”, confessa.
.
Em um período difícil, Xuxa perdeu o pouco que tinha e, sem os pais e emprego fixo, se viu obrigado ir para as ruas. “Já passei por muita coisa no passado, experiências que você nem imagina. Já pedi dinheiro, já comi alimento do lixo, já dormi na rua. O mais difícil deles? Ah, é enfrentar as primeiras fomes, a primeira vez que precisei pedir dinheiro. A primeira vez sempre marca, né, depois você se acostuma”.
.
Hoje, necessitando de serviços assistenciais, ele não reclama da vida que leva: “Um prato de arroz é um banquete, para mim. Quem passou fome sabe disso: nem precisa de mistura”, frisa ele, que jáse casou com um homem do albergue. “Conheci um rapaz de olhos negros lindos. Ele vinha sempre bater na minha perna durante a noite”, conta. “Namoramos, nos casamos e ele foi a grande paixão da minha vida”, lembra com os olhos marejados. Ele evita falar sobre o término.
.
Enquanto volta ao abrigo Boracea, na Barra Funda, o senhor diz que nunca pensou em voltar para o armário, como outros idosos homossexuais, os quais me referi no início da reportagem:“Esconder de novo? Para quê? Não tenho vergonha de nada, nada. Temos que ser o que somos, independente da idade e do lugar. Minha vida sexual é muito ativa, te garanto, e tenho muito orgulho da minha história. Jamais mudaria meu jeito por alguém”, defendeu.
.
“Mas não quero mais relembrar o passado. A vida passa, os ponteiros não param e eu ainda tenho muito o que viver, a cada dia, entendeu?”.

Entendi. // Que todos tenham um pouquinho da consciência e do jogo de cintura de Xuxa, mas que principalmente tenham o direito de envelhecer e gozar de sua sexualidade com liberdade, dignidade e respeito.

Modelos transexuais fazem sucesso no Brasil
   25 de março de 2014   │     0:00  │  0

Carol Marra, 26 anos, é uma das modelos bastante requisitadas e se tornou uma estrela. Já fez duas minisséries para a TV, criou sua própria linha de lingerie, é a primeira transexual a desfilar na Fashion Rio.

Quando era menino no interior do Brasil, Carol Marra observava seus pais corrigirem educadamente os estranhos que diziam quão bonita era a filha deles. Na adolescência, ela cobiçava os namorados de suas colegas de classe e usava roupas andróginas, trocando-as por roupas de homem no carro antes de voltar para casa.

Agora uma das favoritas entre a crescente classe de modelos transexuais do Brasil, Carol Marra, 26 anos, se tornou uma estrela. Ela participou de duas minisséries em grandes canais de televisão brasileiros, está lançando uma linha de lingerie e foi a primeira modelo transexual a desfilar no Fashion Rio –considerado um importante evento de moda nacional–, e também a primeira a posar para a revista “Trip”, uma revista brasileira de cultura que exibe mulheres nuas.

A popularidade dela aponta para os avanços notáveis, mesmo que precários, na cultura popular brasileira para Carol Marra e seu pequeno número de pares. Em um país que celebra publicamente sua mistura racial e herança multicultural, capitais cosmopolitas do Brasil como São Paulo e Rio de Janeiro se tornaram lugares onde atravessar as linhas de gênero é cada vez mais aceito. Mesmo assim, modelos transexuais dizem que o Brasil também é de muitas formas um país profundamente conservador, com fortes forças religiosas que criam um ambiente hostil para sua população gay e transexual.

“Dizem que o Brasil é um país liberal e progressista, mas não é bem assim”, disse Carol Marra, enquanto um cabeleireiro ondulava seu longo cabelo tingido de loiro no bairro nobre dos Jardins, em São Paulo, antes de uma gravação para a televisão.

A própria Carol Marra se transformou em uma história de sucesso para um crescente número de modelos transexuais que, como ela, migraram de regiões mais remotas para São Paulo, considerada o centro mais importante de moda da América do Sul.

“Quando cheguei, eu senti imediatamente a diferença”, disse Melissa Paixão, 22 anos, que veio para cá com 19 anos. Ela nasceu Robson Paixão, em Belo Horizonte, uma cidade mais tradicional no interior do Brasil. Na adolescência, ela ganhava um dinheiro extra posando como Marilyn Monroe e Audrey Hepburn em uma loja de lá e, ela disse, atraía olhares na rua, que ela atribui menos ao preconceito e mais por ser uma mulher de 1,80 metro.

Relativamente recém-chegadas como Melissa Paixão, Camila Ribeiro e Felipa Tavares têm conseguido trabalho nas passarelas e em catálogos no mercado de moda nacional. Camila Ribeiro desfilou na Fashion Rio pela Santa Ephigênia, uma grife de moda feminina de luxo. Melissa Paixão estará no futuro catálogo de Walério Araújo, estilista brasileiro conhecido por suas criações extravagantes e que já vestiu celebridades brasileiras como as cantoras Preta Gil e Maria Rita.

As modelos transexuais dizem que suas experiências apoiam a ideia de que o progresso para a obtenção da aceitação social é irregular, apesar da imagem de vale-tudo que o país projeta. Os movimentos gay e transexual do país foram retardados durante a ditadura militar que guiou o país de 1964 a 1985, anos em que movimentos semelhantes se enraizaram em outros países, dizem estudiosos dos direitos dos gays daqui.

A mudança de gênero tem uma longa história no Brasil: travestir-se em público atinge o pico a cada ano na celebração do Carnaval. A participação de homens em roupas de mulher e maquiagem rudimentar é uma tradição tanto quanto as competições de samba.

Apresentações drag por artistas transexuais e gays foram moda nas boates do Rio nos anos 50 e 60, e nas décadas subsequentes algumas mulheres transexuais começaram a usar tratamento hormonal e silicone para feminilizar seus corpos, segundo James N. Green, historiador e autor de “Beyond Carnival: Male Homosexuality in Twentieth-Century Brazil” [Além do Carnaval: homossexualidade masculina no Brasil do século 20].

O Brasil também tem dado cada vez mais apoio aos direitos dos gays. São Paulo promove uma das maiores paradas do orgulho gay do mundo e, desde 2010, a Justiça brasileira tem apoiado os direitos dos casais gays em uniões civis, adoções e casamento. Mas, uma proposta do governo de distribuir kits antidiscriminação nas escolas públicas foi derrotada depois que membros da bancada evangélica do Congresso se queixaram de seu conteúdo sexual.

E a violência e o preconceito contra os gays e transexuais continuam altos. O proeminente Grupo Gay da Bahia, de direitos dos gays, relatou 338 assassinatos, em todo o país, de gays, lésbicas e transexuais em 2012. Não é possível verificar os motivos de cada crime, mas muitas vítimas mostram sinais de tortura e múltiplos ferimentos, o que leva o grupo a acreditar que as mortes são com frequência resultado de crimes de ódio, disse Luiz Mott, antropólogo e historiador que fundou o grupo.

Enquanto modelos transexuais ganham proeminência, Green, o historiador, argumenta que o sucesso delas em beleza e moda –apesar de positivo para esses indivíduos– tem pouco valor político.

“Eu acho que significa que homens que se parecem com mulheres, desde que sejam submissos aos homens e se concentrem em beleza e moda, não ameaçam nada”, ele disse. “Isso se encaixa na fantasia dos homens.”

Algumas modelos se consideram altamente politizadas, enquanto outras dizem apenas querer serem aceitas como uma mulher, como qualquer outra.

Roberta Close, que posou para a revista “Playboy” em 1984, é considerada a primeira modelo transexual do Brasil e cultivou fãs dedicados do sexo masculino com sua estética de menina. A atriz Rogéria, nascida Astolfo Barroso Pinto, se tornou famosa após anos aparecendo na TV Globo.

Mesmo assim, a proporção de modelos transexuais é minúscula se considerado quão vasto é o setor de moda aqui.

A modelo transexual do Brasil com maior renome internacional –Lea T, nascida Leandro Cerezo e filha de um ex-astro do futebol, Toninho Cerezo– posou para uma campanha internacional da Givenchy em 2010. Ela também desfilou na São Paulo Fashion Week ao lado das supermodelos Gisele Bündchen e Alessandra Ambrosio, que são conhecidas por seu trabalho para a Victoria’s Secret.

Débora Souza, agente de modelos que representa Carol Marra, disse: “Uma modelo transexual é interessante porque pode atingir dois públicos: tanto o feminino quanto o gay, que formam o grupo principal no mundo da moda”.

Mas, assim que se aventuram além do mundo da moda, as modelos têm menos sucesso. Camila Ribeiro, 24 anos, que vem da cidade de Manaus, no Amazonas, posou para a “Candy”, que chama a si mesma de “a primeira revista transversal”. Mas, ela disse que, apesar de serem bem-vindas pelas revistas de moda e artísticas, experimentais ou de vanguarda, as modelos transexuais têm dificuldade para penetrar nas revistas populares de consumo, nos catálogos, feiras setoriais e em propagandas para produtos de apelo mais amplo. Carol Marra também disse que seu renome no mundo da moda não se transferiu para outros setores. Ela disse que recebe uma enxurrada de mensagens vulgares de homens na sua página no Facebook, frequentemente perguntando quanto ela cobra por noite.

“Eu nunca quis ser ativista de uma causa”, disse Carol Marra. “Eu achava que era uma mulher como qualquer outra.”

Mas, ela tem se manifestado mais após receber mensagens de transexuais de cantos mais remotos do país, como uma prostituta em Manaus que a viu na televisão e pediu orientação.

Carol Marra também se queixou de não receber tratamento justo na formação de elencos, dizendo que só lhe dão papeis de mulheres transexuais.

“A maioria dos atores é gay e pode interpretar o galã”, Carol Marra disse ao seu diretor na gravação de uma minissérie. “Por que não posso interpretar uma criada, uma secretária, uma árvore?”

Violência aumentou com fim da lei contra a homofobia, dizem especialistas
   24 de março de 2014   │     0:00  │  0

Rio de Janeiro – A derrubada da Lei Estadual 3.406/2000, que define penalidades a estabelecimentos que discriminem pessoas por causa da orientação sexual, pode estar relacionada ao aumento da violência sofrida por lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros. O tema foi discutido em audiência pública na última quinta-feira (20), promovida pela Comissão de Combate às Discriminações e aos Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).

De acordo com o presidente da comissão, deputado Carlos Minc, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro revogou a lei em outubro de 2012 por vício de iniciativa, depois de ela “funcionar muito bem” por 12 anos.

“A lei [definia] discriminação [e estabelecia] que agentes públicos que se omitissem [sobre o assunto] seriam punidos. Houve recurso por vício de iniciativa, porque deputado não pode legislar sobre funcionário público. O Tribunal de Justiça acatou a representação, mas não anulou só o artigo que falava de funcionário público. Aproveitaram um pouco de desinformação, e também conservadorismo da nossa Justiça, e passaram o cerol [mistura de cola com vidro moído que é aplicado em linhas de papagaios ou pipas] em toda a lei”.

O superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Claudio Nascimento, que também coordena o Programa Rio sem Homofobia, lembra que no ano passado houve 20 casos de assassinatos de pessoas vítimas de preconceito sexual no estado, e neste ano já houve sete.

“Temos uma situação concreta de discriminação e preconceito. Tem um sistema ideológico muito estrutur

Meu primeiro abraço gay: o que acontece quando um homofóbico abraça um gay
   23 de março de 2014   │     0:00  │  0

Mais um daqueles vídeos emocionantes para viralizar nas redes sociais. “Meu primeiro abraço gay” parodia o vídeo “First Kiss”, onde 10 casais de estranhos se viam pela primeira vez e se beijavam. O mote do vídeo é o mesmo: 10 pessoas de diferentes origens e etnias se abraçam. Cinco delas são homossexuais; as outras cinco, são homofóbicas, conforme mostra essa reportagem do jornal USA Today

Os diálogos são fortes e comoventes: “Porque você acha pecado ser gay?”, pergunta um rapaz para uma velhinha. “Porque assim está escrito na Bíblia”, responde a senhora. Ela diz ter reconhecido de cara que o rapaz era gay: “Você é muito bonito e bem-vestido”, elogia a idosa. O rapaz agradece e ri. A conversa termina num abraço e com o rapaz beijando os cabelos brancos da mulher.

“Como você consegue beijar outro homem?”, questiona um dos homofóbicos a um rapaz. A resposta vem simples: “Do mesmo jeito que você tem prazer em beijar uma garota”. A criação do Gay Women no YouTube parte de algo corriqueiro, um abraço. Mas mostra como um gesto pode desarmar as pessoas, estabelecer uma ponte e abrir caminho para acabar com a violência. (dica do Paulo Henrique Moura).

Para assistir o vídeo “Meu primeiro abraço gay” Click aqui

Fonte: Yahoo Noticia

Foto: YouTube

RJ criará Fórum permanente para acompanhar os casos de violência contra lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros (LGBT)
   22 de março de 2014   │     0:00  │  0

A Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) vai criar um fórum permanente para acompanhar os casos de violência contra lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros (LGBT). O anúncio foi feito hoje (20), em audiência pública que debateu crimes cometidos contra pessoas e grupos LGBT.

De acordo com o presidente da comissão, deputado Carlos Minc (PT), a discussão e acompanhamento serão feitos em parceria com entidades governamentais e da sociedade civil. “Vamos criar aqui um fórum permanente para acompanhar todos esses casos de assassinato, de humilhação, de violência, vamos botar um placar, nome por nome, o que avançou, passo a passo cada uma dessas investigações. Não vai ser uma audiência, nem duas – vão ser várias, a cada mês ou a cada dois meses. Vamos criar um placar de acompanhamento contra a impunidade”, adiantou Minc.
A sugestão foi feita pelo superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Claudio Nascimento, que coordena o Programa Rio Sem Homofobia. Na audiência, Nascimento apresentou dados sobre o aumento da violência homofóbica ocorrida este ano, no qual já foram registrados sete assassinatos.
“Em 2013, tivemos quase 4 mil atendimentos, 40% dos quais envolvendo discriminação e homofobia. Desses, tivemos 20 assassinatos no ano passado, todos eles com requintes de crueldade, mostrando uma situação de extrema violência do agressor contra a vítima, de ódio. Isso nos traz uma preocupação muito grande, porque, este ano, em três meses, o número de homicídios já é alto, o que nos deixa  em alerta com a questão”, acrescentou Nascimento.
Participaram da audiência ativistas, vítimas de violência e parentes de homossexuais assassinados. Uma delas foi Leidiane Carvalho. Ela contou que, há um mês, foi atacada por dois homens, quando saía de um bloco de carnaval, ao lado de sua mulher, Vanessa Holanda. “Arrastaram Vanessa pela calçada de pedra portuguesa, puxando-a pelas roupas, ela ficou nua na rua, completamente ensanguentada.”
Segundo Leidiane, muita gente presenciou a cena, mas apenas um rapaz se prontificou a ajudar e conseguiu fazer com que os agressores soltassem a moça. Ela disse que se sentiu impotente, ao ver que Vanessa podia ser levada pelos agressores e lembrou que havia muita gente no local, mas nada foi feito. “É a sutileza de como a violência ocorre conosco no dia a dia. São ‘microviolências’ diariamente. A violência é sutil, mas existe”, ressaltou.
Miguel Macedo, presidente do Grupo Diversidade Niterói, contou que a organização teve a sede foi invadida, destruída e furtada em fevereiro. De acordo com Macedo, os invasores deixaram pichações homofóbicas nas paredes. Angélica Ivo lembrou o caso do filho, Alexandre, de 14 anos, que foi mantido em cárcere privado durante três horas e assassinado em 2010, após um churrasco durante a Copa do Mundo. Dois casos ocorridos no ano passado foram lembrados na reunião: o de Maurício Inácio, assassinado na Barra da Tijuca no ano passado, quando saía de casa para trabalhar, e o de Luiz Antônio da Silva, que foi espancado em uma boate na zona oeste do Rio e morreu dois dias depois.
O presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous, ressaltou que é preciso ensinar direitos humanos nas escolas, para combater o preconceito e a discriminação desde a infância, já que hoje está havendo “recrudescimento da intolerância e da violência”. Quanto à questão LGBT, Damous sugeriu a criação de uma delegacia especializada. “A agressão LGBT é específica. Pessoas foram agredidas, outras assassinadas, ou tiveram a casa depredada pelo fato de serem LGBT. Isso é específico, isso tem que ser tratado. Talvez já seja o caso de se pensar em delegacias especializadas neste tipo de crime”, disse o representante da OAB.
Diante de relatos de problemas na apuração das responsabilidades no caso desse tipo de crime, o delegado Wellington Pereira Vieira, da Divisão de Homicídios de Niterói, na região metropolitana do Rio, informou que o chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Fernando da Silva Veloso, orientou que todos os que se sintam prejudicados no andamento das investigações que procurem a corporação para que o processo seja revisto.
Fonte: Assessoria de comunicação da Assembleia Legislativa do RJ – ALERJ