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Por: Neto Lucon – Jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário pela ABJL, trabalhou em grandes revistas, jornais e sites. Profissional dinâmico, pró-ativo, com habilidade em entrevistas, reportagens densas e com ótimo relacionamento interpessoal. É formado pela PUC-Campinas, trabalhou e escreveu para diversificados veículos de comunicação, tais como os sites Caras Online, E+ (Estadão), Virgula, Yahoo!, Metropole Cultural, Mix Brasil, na revista Junior e no jornal O Regional. Além de freelas para publicações como ACapa.
AO ARMÁRIO AGAIN
Nascemos, nos descobrimos, vivemos e gozamos da juventude. Corpos rígidos, olhos atentos, raciocínio rápido e hormônios a flor da pele. Com o tempo, os braços e pernas tornam-se flácidos, as rugas se espalham como raízes pelo rosto, as atividades inevitavelmente mudam e a experiência pode ser interpretada como ponto forte. Não adianta nem tentar escapar: todo mundo fica velho.
Uma reportagem do “New York Times”, escrita por Janet Gross e Dan Frosch, revela que, para alguns deles, o tão perturbador armário volta a ser um dilema na terceira idade. Dentro de asilos, eles são obrigados a esconder a orientação sexual por medo da homofobia de seus companheiros de quarto, sala e fisioterapia.
A experiência de Glória Donadello, 81 anos, que participava do centro de vida assistida em Santa Fé, Novo México, diz por si o panorama dos idosos gays. Durante uma reunião, ela se incomodou com comentários homofóbicos e pediu para seus amigos pararem. “Por favor, não façam isso, porque sou gay”, disse. Depois da indagação, cheia de sinceridade, “todos olharam horrorizados”, relembra ela.
Desde então, Glória não foi mais bem-vinda nas conversas, refeições e caiu em depressão. Porsorte, conseguiu sobreviver quando se mudou para uma comunidade próxima, que atendia especialmente gays e lésbicas. “Foi uma questão de vida ou morte”, dispara.
Outro caso mais trágico, também abordado na reportagem, aconteceu com um senhor gay de 79 anos, que freqüentava o asilo da Costa Leste estadunidense. Ele foi transferido de seu andar por conta de protestos de moradores que não aceitavam sua orientação sexual. Bastante triste com a reação, o senhor não resistiu a pressão e se enforcou.
Um deles aconteceu com Claudio, homossexual de 66 anos, que não admitia que fizessem piadas sobre sua sexualidade.
E, diante do crítico quadro, gays idosos assumidos são quase nulos em asilos e serviços assistenciais. “É tão difícil quanto encontrar orientais que necessitem desses cuidados”, compara Nanci Paulino Bernardo, gestora do “Pró + Vida”, instituto que atende senhores de risco e exclusão. “Confesso que nunca ouvi falar de um gay que estivesse por aqui. Talvez eles vivam no armário pelo medo de serem tratados com preconceito”, diz.
Funcionários dizem que no início do atendimento Seu Antônio não era tão fechado assim. Ao contrário, era considerado alegre e até flertava outros homens tranquilamente. Foi depois de ouvirconstantes piadinhas e ser alvo de comentários homofóbicos de outros morados que ele começou a se entristecer.
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Ele explica sua rotina: “Temos o momento de oração às 8h. Depois, participo das oficinas que vai até às 16h30. Todos os dias”. Enquanto ele explica suas atividades, me puxa pelo braço e me apresenta um quadro que pintou. “É um cometa, cheio de raios de luz. Tem uma estrela na ponta, olha. E tem o rabo bem luminoso aqui”, descreve orgulhoso pela obra estar exposta no espaço. .
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Vindo de uma família circense, Ernani diz que foi criado por outra família, após a separação dos pais biológicos, aos 4 anos. E diz que sempre teve medo de assumir a homossexualidade: “Os tempos eram outros e eu amava muito a minha mãe de criação. Tinha medo de que ela se machucasse por saber de mim. Até que um dia ela chegou e perguntou. Eu me assumi e, para minha surpresa, ela disse que me amaria ainda mais, pois eu precisaria desse amor. Neste dia saiu um peso das minhas costas”, confessa.
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Em um período difícil, Xuxa perdeu o pouco que tinha e, sem os pais e emprego fixo, se viu obrigado ir para as ruas. “Já passei por muita coisa no passado, experiências que você nem imagina. Já pedi dinheiro, já comi alimento do lixo, já dormi na rua. O mais difícil deles? Ah, é enfrentar as primeiras fomes, a primeira vez que precisei pedir dinheiro. A primeira vez sempre marca, né, depois você se acostuma”.
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Hoje, necessitando de serviços assistenciais, ele não reclama da vida que leva: “Um prato de arroz é um banquete, para mim. Quem passou fome sabe disso: nem precisa de mistura”, frisa ele, que jáse casou com um homem do albergue. “Conheci um rapaz de olhos negros lindos. Ele vinha sempre bater na minha perna durante a noite”, conta. “Namoramos, nos casamos e ele foi a grande paixão da minha vida”, lembra com os olhos marejados. Ele evita falar sobre o término.
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Enquanto volta ao abrigo Boracea, na Barra Funda, o senhor diz que nunca pensou em voltar para o armário, como outros idosos homossexuais, os quais me referi no início da reportagem:“Esconder de novo? Para quê? Não tenho vergonha de nada, nada. Temos que ser o que somos, independente da idade e do lugar. Minha vida sexual é muito ativa, te garanto, e tenho muito orgulho da minha história. Jamais mudaria meu jeito por alguém”, defendeu.
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“Mas não quero mais relembrar o passado. A vida passa, os ponteiros não param e eu ainda tenho muito o que viver, a cada dia, entendeu?”.
Entendi. // Que todos tenham um pouquinho da consciência e do jogo de cintura de Xuxa, mas que principalmente tenham o direito de envelhecer e gozar de sua sexualidade com liberdade, dignidade e respeito.