A difícil decisão de se assumir gay
   28 de julho de 2013   │     0:00  │  0

Em Amor à Vida, Félix (Mateus Solano) esconde a orientação sexual do pai César (Antonio Fagundes)
Foto: TV Globo / Divulgação

Por: Rosângela Monteiro

Se o desejo do juiz federal Roger Raupp Rio já fosse realidade, é possível que o “papi soberano” César (Antonio Fagundes), de Amor à Vida, não discriminasse tanto o filho, Félix (Mateus Solano), ao confirmar as suas suspeitas de que ele é gay. As cenas vão ao ar na próxima quarta-feira, quando Edith (Bárbara Paz) fizer a revelação para a família Khoury.

Autor dos livros Em Defesa Dos Direitos Sexuais e Direito da Antidiscriminação, além de professor do mestrado em direitos humanos da UniRitter, Roger defende a criminalização da homofobia. E, se fosse assim, César poderia ser preso por discriminar tanto o filho gay.

Para acabar com tanto sofrimento para os homossexuais, o juiz ressalta que é preciso combater o preconceito e dá o recado:

– A pessoa tem direito a ser respeitada na sua liberdade sexual, não discriminada!

Em Amor à Vida, César jogará na cara do filho a vergonha que sente por Félix ser gay, embora não admita isto.

– Eu não tenho preconceito, mas homem que faz o que você faz, pra mim, não é homem! Outros pais te botariam pra fora de casa – dirá o médico.

Bradando valores de uma família tradicional, César ainda chantageia o filho para ele reaproximar-se da ex-mulher. Mais uma vez, Félix vai trancar a porta do armário.

Sérgio Malavolta, 59 anos, tem uma história que lembra a da novela. Ele foi casado com uma mulher, mas sentia que não estava completo.

– Sufoquei os meus sentimentos por 11 anos, por causa da família e da profissão (bancário). Até que não consegui mais e fui embora de casa – revela o radialista, que atende pelo nome de Sylvinha Brasil quando se traveste para fazer shows em boate.

Seu companheiro é o também radialista Claudiomiro Lemos, 42 anos. Ele teve mais dificuldade para sair do armário.

– Assumi que era gay quando o meu então companheiro, que era um ex-padre, cometeu suicídio porque não se aceitava. Com o meu sofrimento, todo mundo viu que éramos um casal – recorda, emocionado.

Hoje, Sérgio e Claudiomiro têm o apoio das duas famílias.

– A gente só quer levar uma vida normal – afirma Sérgio, que também torce pela criminalização da homofobia.

Uma conquista: união registrada em cartório

Em maio, uma resolução do Conselho Nacional de Justiça determinou que os cartórios de todo o país devem aceitar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo – no Rio Grande do Sul, isso já existe desde 2011. A decisão assegura os mesmos direitos que casais heterossexuais têm com o documento, mas só valerá a partir da publicação no Diário de Justiça Eletrônico, o que ainda não ocorreu.

Isso abre brecha para que algum cartório se negue a fazer o registro. Ainda assim, somente no cartório de registro civil da 4ª Zona da Capital, neste ano, já foram realizados 20 casamentos entre homossexuais.

Psicóloga e colaboradora da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia, Priscila Pavan Detoni ressalta que, pior do que viver dentro do armário, é não sair dele por medo da violência.

Cresce mais de 100% a violência contra gays

– Ao mesmo tempo que há redes de apoio aos gays, tem muita gente preconceituosa. Eu fiquei apavorada com os números recentes de denúncias! – alerta a psicóloga Priscila.

Ela refere-se aos dados da Secretaria de Direitos Humanos: em 2012, foram 3.084 denúncias relativas à população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). No ano anterior, foram 1.159, um aumento de mais de 160% da violência homofóbica no Brasil!

Projeto de lei da criminalização da homofobia

Tão pedida pela população LGBT e pelos defensores dos direitos humanos, a aprovação do projeto de lei da Câmara (PLC) 122, que trata da criminalização da homofobia, deve ser votado no mês que vem, no Senado. Presidente do Conselho Nacional LGBT e coordenador do grupo LGBT da Secretaria de Direitos Humanos, Gustavo Bernardes explica o que precisa ser feito para ter validade:

– Esta lei foi apresentada pela deputada Iara Bernardes (PT-SP), em 2005, na Câmara Federal. Aprovada, foi para o Senado e, atualmente, está na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado. O senador Paulo Paim (PT-RS), relator do PLC, elaborou um substitutivo (emenda no projeto original), e o documento ainda não está pronto, mas agrega sugestões. Entre elas, passa a chamá-la de “lei de enfrentamento de crimes de ódio e delitos de intolerância”. Acredito que a pessoa será punida como no racismo, com cadeia.

Se for aprovado no Senado, o PLC volta para a Câmara e só entra em vigor se for aprovado de novo.

– Dos 310 homicídios no ano passado de LGBT, no país, mais de 50% eram travestis. – Apesar de ser a região com menor número, o Sul teve 29 homicídios de LGBT em 2012.

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