Viva uma vez, morra duas
   12 de fevereiro de 2013   │     11:01  │  2

 

 

Por: Álvaro Brandão – Jornalista; ex-dirigente sindical e Prêmio Renildo José dos Santos de Direitos Humanos Especialista em Processos Midiáticos e Novas Formas de Sociabilidade/Ufal

 

Durante muito tempo, o homossexual assumido de Alagoas quando vítima da homofobia morria duas vezes: uma, pela mão/s do/s algoz/es; outra, desta vez uma morte abstrata e não menos danosa, pelas manchetes desrespeitosas dos jornais e sites de notícias, que costumam manchetear títulos assim: “homossexual é encontrado morto”. Isso provocava revolta entre os militantes dos Direitos dos LGBT, que reagiam contra a forma discriminatória com a qual a imprensa local tratava a causa.

Mas, as “manchetes” por mais discriminatórias que fossem, por outro lado, eram o único medidor da violência contra os homossexuais, já que os inquéritos policiais muitas vezes nem eram abertos e quando o eram não seguiam adiante. Portanto, as manchetes dos meios de comunicação tornaram-se a fonte mais fidedigna de contar e catalogar anualmente os registros de violência e os fatos mortais.

Há cinco anos, Alagoas figurava entre os três primeiros estados brasileiros mais violentos para os homossexuais, ficando atrás de Pernambuco e da Bahia respectivamente. Em 2009, (eu, um então militante sindical), um grupo de jornalistas, do qual fazia parte, constituiu no Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas um coletivo para tratar as questões relativas às práticas discriminatórias contra os LGBT, sobretudo, no ambiente de trabalho – o Coletivo de Jornalistas pela Diversidade Sexual(Cojds).

Coincidências a parte, neste mesmo ano a Prefeitura de Maceió regulamenta, por meio de Decreto (nº 7.034/2009) a Lei nº 4.667/1997. Grosso modo, o Decreto normatiza e prevê sanções as práticas discriminatórias à livre orientação sexual, com foco nos estabelecimentos comerciais e públicos. Inicialmente, a garantia da livre expressão da orientação sexual e do direito e ir e vir dos indivíduos homossexuais. Um grande avanço nas conquistas, se considerar que antes não havia nada.

De forma surpreendente, tal como as boas ideias acontecem, o Cojds viu no fato uma boa oportunidade para entrar em ação. A ideia final era elaborar uma agenda de visitas às redações dos principais veículos de comunicação (com ênfase nas dos jornais e sites de notícias) de maneira a convencer aos colegas de profissão a fazer a sua parte; ou seja, evitar as manchetes apelativas para minimizar e/ou reduzir as práticas discriminatórias, uma vez que a imprensa é o grande (e principal) formador de opinião e de comportamento da sociedade contemporânea.

As coisas são assim: quando tudo está dando certo, parece que o cosmo conspira a favor. Nesse mesmo ano, a Associação Brasileira de Gay, Lésbicas, Travestis e Transexuais lançou o Manual de Comunicação LGBT; que segundo a apresentação da própria ABGLT trata-se de uma “ferramenta capaz de auxiliar a cobertura jornalística com relação às temáticas LGBT”. A proposta do documento era a de reduzir nos meios de comunicação a terminologia imprópria e preconceituosa que afetavam a cidadania e a dignidade dos milhões de homossexuais no país.

O Cojds articulou aqui e dali e estabeleceu parceria com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos, Segurança Comunitária e Cidadania(Semdisc). Elaborou uma agenda de visitas e deu início ao projeto de conscientização através da informação.

 

Parecia que tudo corria bem. Parecia. Mas, quem trabalha com ativismo político sabe que qualquer movimento realizado em prol dos Direitos Humanos se resume em duas palavras: beleza e paciência. Se deu certo, beleza. Se não, paciência. Neste nosso caso especificamente, a resposta foi o silêncio absoluto. Nossos colegas de profissão, em vez de se adaptar aos novos tempos, decidiram, como medo do “politicamente correto”, parar de veicular as ocorrências.

O resultado do descaso de como a imprensa trata as questões dos LGBT em Alagoas repercutiu nos últimos dados sobre a violência contra os homossexuais no Brasil divulgado no final de 2012 pelo Grupo Gay da Bahia. Alagoas saltou do terceiro para o primeiro lugar no ranque nacional.

A pergunta é: nós do Cojds fizemos a coisa certa? Sim. Os resultados foram os de acordo com o planejado? Não. Daí os números que não nos deixam mentir. E o que fazer agora? Não sei. Só sei que o que deve ser feito precisa de mais envolvimento da sociedade civil organizada, porque além dos homossexuais assumidos, estamos perdendo também nossas crianças, nossos adolescentes, homens e mulheres pelas mãos do ódio e da intolerância que por aqui se instalou e, pelo o que tudo indica, não tem dia nem hora para nos deixar.

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COMENTÁRIOS
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  1. carlos ivo

    muito bom, mas infelizmente um dos grandes fatores para que a discriminação se propague ( e é uma luta contar mare)são as interpretações de um livro obsoleto chamado bíblia e igrejas, católicas e evangélicas que jugam as pessoas do sec. XXI com as de 2000 anos atrás.

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  2. carlos ivo

    muito bom, mas infelizmente um dos grandes fatores para que a discriminação se propague ( e é uma luta contar mare)são as interpretações de um livro obsoleto chamado bíblia e igrejas, católicas e evangélicas que jugam as pessoas do sec. XXI com as de 2000 anos atrás.

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