Violência contra mulheres: estupros, normas e cabrestos ao gênero feminino
   3 de janeiro de 2013   │     20:00  │  3

Artigo

Luciano Freitas Filho

 

Por: Luciano Freitas Filho – Assessor Pedagógico da Secretaria de Educação de Pernambuco, formou-se e fez mestrado em educação na Universidade Federal de Pernambuco.

 

O estupro coletivo, no estilo “Gang Rape”, cometido contra uma garota de 23 anos, em Nova Deli /Índia, traz diversas reflexões e põe em xeque o crescimento e desenvolvimento das cidades , em todo o Globo.

 

Desde o ocorrido, os discursos e/ou opiniões emitidas por algumas pessoas giram em torno do procurar entender quais as razões que levaram a garota a embarcar naquele ônibus, levando o aconselhamento para que muitas garotas não facilitem tais violências, não “atentem ou agucem os homens”. Ora, o que provoca o estupro não são as atitudes impensadas, as mini-saias, os decotes das blusas ou dos vestidos. Quem causa e provoca estupro é o estuprador. O estuprador é o único culpado e causador do estupro, logo não consideremos culpabilizar ou pôr em xeque as atitudes de uma mulher ou a sensualidade e a eroticidade do seu corpo. O corpo feminino é dotado de sensualidade, de erotismo, é parte de uma sexualidade que não deve ser velada. O direito da mulher de ser mulher, da forma que bem entender, deve ser legitimado. O corpo delas não pode ser higienizado e satanizado.

 

Em decorrência do referido fato, da tragédia ocorrida, discussões sobre punições severas aos estupradores tomam cada vez mais corpo. Não entendemos a prática de castração química , em um estilo afinado com a “Lei do Talião”, como algo que resolve e inibe estupros. Essas são soluções que podem saciar a ira e a indignação das pessoas, entretanto elas ocorreriam apenas para punir algo ocorrido , em outras palavras, é um paliativo que não traz de volta as vítimas mortas ou a dignidade das mesmas, quando elas sobrevivem. O desafio à sociedade é evitar que estupros ocorram e não a punição para eles. Isso implica em “castrar” o mal pela raiz, na formação das mentes, na ruptura e desconstrução do machismo que está tanto no Oriente, quanto no Ocidente.

 

O machismo ainda é (in) conscientemente elemento constitutivo do que somos enquanto sujeitos numa sociedade capitalista. Os estupros ocorrem impulsionados pelo machismo, pelo olhar criminoso e/ou doentio do sujeito genuinamente machista. Frutos do machismo, citemos , igualmente , o estupro coletivo contra  às mulheres lésbicas em países da África ou do Oriente, numa perspectiva “pedagógica” e/ou corretiva .

 

Quando as mulheres são violentadas, o estupro em si macula mais que seus corpos, esses estupros maculam e comprometem a integridade da subjetividade feminina, o direito a ser mulher nas diversas formas de ser mulher, sem que o machismo imponha regras ou submeta o corpo da mulher a violações.

Essa violência ocorrida lá, em muito nos comove e revolta cá. Entretanto, não apontemos o dedo e joguemos pedras na Índia e nas políticas Indianas para mulheres ( ou na ausência delas) . Que atire a primeira pedra aquele país que não apresenta índices de violência contra a mulher e que não careça de políticas mais efetivas contra tais violações do gênero feminino. No Brasil, embora apresentemos avanços significativos no tocante às políticas afirmativas para a Igualdade de gênero, garantindo a criação de Leis, a implementação de ações efetivas de Política de Estado para a emancipação da Mulher, ainda carecemos de um olhar mais substancial aos Direitos delas, principalmente na perspectiva de Direitos Sexuais e Reprodutivos.

 

Que a morte dessa Indiana sirva para reflexão. Os estudiosos do Direito e da Defesa Social, policiais, políticos e sociedade civil precisam entender que a violência contra a mulher, oriunda do machismo, é real e mata. O estupro, o crime passional e o latrocínio muitas vezes são apenas meios para destruir o corpo, contudo, é o machismo que destrói a subjetividade, as sujeitas de gênero , as sujeitas da sexualidade. É o machismo que muitas vezes gera tais ocorrências ou atos criminosos.

Revisemos os discursos e saberes das Leis . Revisemos os conteúdos escolares e suas expectativas de aprendizagem. Revisemos os currículos, os projetos pedagógicos das escolas e da Educação Superior. Reflitamos sobre os valores difundidos em espaços de Educação informal e não-formal, ocorrida em Igrejas, Partidos Políticos e Setores Civis Organizados.

COMENTÁRIOS
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  1. SERGIO RICARDO

    REALMENTE CONCORDO, ISSO É MUITO ANIMAL E VIOLENTO, PORÉM NÃO SE ESQUEÇA DE QUE HOMENS TAMBÉM SOFREM ESTUPROS, EM MENOR ESCALA, É CLARO, QUANDO CRIANÇA OU ADOLESCENTE, POR AQUELAS PESSOAS QUE A FAMÍLIA MAIS CONFIAVA COMO: PAIS, PADRES, PROFESSORES, ETC, AÍ DEPOIS ALEGAM QUE ENTRARAM NA HOMOSSEXUALIDADE POR ISSO, E EU PARTICULARMENTE NÃO ACREDITO, MUITO EMBORA SAIBAMOS QUE TAMBÉM É UMA OPÇÃO PESSOAL,ENTRE OUTROS FATORES, AGORA NINGUÉM ESCOLHE SER MULHER(FÊMEA) JÁ NASSE COM ESSE CROMOSSOMO, PORTANTO SE ANDAR COM UM PALMO DE SAIA NUMA GROTA ESQUISITA DA PERIFERIA TÁ QUERENDO O QUÊ? VAI TERMINAR ENCONTRANDO UM TARADO MANÍACO, FATALMENTE. DEVEMOS FUGIR DA PRESENÇA DO MAL É O QUE O SENHOR NOSSO PAI NOS ORIENTA.

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    1. Luciano Freitas

      Sérgio,

      Sim, é verdade. Homens/garotos hoje também estão sendo vítimas de estupro ou abusos sexuais. Contudo não esqueça, eles sofrem abusos e estupros primordialmente por parte de homens. O Machismo é também sofrido por homens, quando os mesmos , na condição de sua sexualidade, estão ou se tornam vulneráveis..o machismo se vê forte e tira proveito exatamente de alguma vulnerabilidade em termos de sexualidade ou gênero .

      No tocante às vestimentas discordo de você. Usar uma saia curta não é pedir para ser estuprada. Quem estupra é criminoso, tem essa pratica inerente, tem essa potencialidade naturalmente. Se a mulher quer se provocante, se sentir desejada isso é natural..mas o sexo deve ser consentido , ela faz com quem quiser…

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  2. Patty

    As vestimentas provocam os estupros? Ora me poupem de comentários mais machistas e ridículos. Se fosse assim, mulheres de burca não sofreriam violência sexual. E o que me dizem dos estupros contras crianças de 4, 5, 6 anos? Provocação ao homem? Então, está na hora dos homens aprenderem a controlar seus instintos, ou não são capazes? E como sempre precisam encontrar bodes expiatórios para justificarem suas incompetências, em controlar a si, mesmo como a própria bíblia fez, colocando Eva como a culpada pela saída do paraíso. Eu quero dar os parabéns ao autor do texto, eu gostei. Tenho o direito de ser mulher!

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