Espero que esta moda pegue “Grife Brasaimara entra na luta contra homofobia”
   17 de outubro de 2012   │     12:00  │  0

Em uma tarde ensolarada de Primavera, os cariocas que estavam na Praia de Ipanema, na altura da Rua Farme de Amoedo, foram surpreendidos por uma ação promovida por um empresário italiano cansado de ver em suas passagens pelo nosso país o preconceito ainda existente contra negros, homossexuais, pobres… enfim, as chamadas minorias (não curto esta palavra, mas tive de usá-la aqui). Ele é Gabriele Benedetti, dono da grife Brasaimara, que vem ao Brasil desde sempre, e que acaba de reatar o noivado com Ariadna Arantes, transexual que participou do reality show BBB, da TV Globo.

Depois de muitos croquis e cortes de tecido feitos, a Brasaimara, de Gabriele, foi oficialmente apresentada ao mundo no início do ano. A marca, que já desfilou em Milão e, por aqui, fez seu début na Trend House’12, semana de moda de Maceió, está aprendendo a caminhar no mercado fashion, mas com passos fortes e marcantes, apoiados na coleção que une o estilo europeu de sucesso à alma brasileira. O recado que a marca quer passar? ‘Agora, o Brasil está na moda’, com peças coloridas como o nosso país tropical e cheias de paetês, como nos desfiles da Marquês de Sapucaí.

Mas, Gabriele quer levantar também uma bandeira bacana em Terra Brasilis. O mix de moda e ação social contra o racismo e toda forma de preconceito. Para isso, ele criou as famosas pulseiras de silicone, que têm escrito “Brasaimara vc racismo Freedom”, e camisetas com frases fortes. O dinheiro arrecadado com as T-shirts será destinado a ajudar um hospital para crianças vítimas do câncer. Nos seus planos, consta ainda a criação de uma ONG para incentivo à educação de crianças. “Ao vir muitas vezes ao Brasil, eu fiquei impressionado ao constatar que, em 2012, o país ainda tenha palavras como racismo, preconceito, homofobia não só no dicionário. Elas existem nas ruas, nas casas, entre as pessoas que esbarramos dia-a-dia. Isso é muito sério”, afirma.

Ao desembarcar domingo, no Aeroporto Internacional do Rio, procedente da Itália, Gabriele trouxe na mala cinco vestidos (longos e curtos) confeccionados em seda, rendas e com aplicações de cristais Swarovski. “A minha intenção era que a modelo que usasse tal vestido brilhasse muito e mostrasse que sua pele é linda, independentemente da cor”, comentou Gabriele. Acrescentando que optou por looks em rosé com preto e também estampados. “Se a onda da Brasaimara é ter uma pitada de Brasil, é claro que eu tinha que brincar com a vivacidade das cores e dos desenhos”, disse.

E Gabriele convocou a noiva, Ariadna, a apresentadora do TV do TV Fama, Adriana Bombom, a ex-BBB Diana Balsini, e as modelos Hanna Ribeiro e Isabel Correa, segundo lugar em dois concursos de Miss Rio de Janeiro (2008 e 2012, respectivamente) para a caminhada pelas calçadas da orla de Ipanema. Todas com sandálias de saltos altíssimos, pulseiras criadas a partir de garrafas PET e brincos de ossos de boi. Além é claro, de ostentarem, no pulso, as pulseiras de silicone da causa contra o racismo. Todas elas nos contaram histórias de preconceito. Só para vocês terem uma ideia: ontem, Isabel Correa, que saiu de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, onde mora com os pais, em direção a Ipanema, Zona Sul, para se encontrar com Gabriele e cia para ação, teve que ouvir gracinhas dentro do ônibus e nas ruas por onde caminhou. “Tem vezes que eu me aborreço muito com o que os homens dizem. Sempre falam da minha cor. Hoje até pegaram mais leve. Me chamaram de Naomi Campbell. Mas, isso todo o dia me incomoda”. Isabel acrescenta que, em Belford Roxo, sofre menos preconceito do que na Zona Sul do Rio. Triste realidade em um dos locais onde o acesso à educação é muito maior do que na Baixada Fluminense. “Outro dia, fui a um restaurante na Zona Sul com o namorado. Todos me olhavam de forma estranha. É como eu pudesse ler o pensamento das pessoas: ‘Olha lá, a prostituta com o gringo'”, relembra.

Durante a caminhada pela orla, Gabriele e as modelos distribuíram as pulseiras de silicone para quem fazia uma caminhada ou jogging ou voltava da praia. Ipanema se rendeu ao grito anti-racismo. Que seja uma realidade do nosso cotidiano.

 

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